Eu li e reli a mensagem de Luiz umas dez vezes, não sabia o que responder, estava magoada pela sua atitude, e sentia a minha coluna doer pelo impacto da queda, assim como meus pulsos tomavam um tom arroxeados, e isso me impedia de esquecer a agressividade do meu namorado. 

Conheci Luiz no primeiro ano do ensino médio, ele sempre foi o príncipe da escola, o cara popular que todas corriam atrás, era gentil e educado, o aluno número. Nós fizemos dupla para um seminário de física e desde aquele dia acabamos nos apaixonando um pelo outro, e seis meses depois iniciamos um namoro. O casal perfeito... Era o que todos diziam, mas sinceramente somente ele era perfeito, e fazia questão de me atormentar quando suas notas eram máximas e as minhas na média, e com isso surgiu o primeiro defeito que eu odeio nele. Luiz agia como se fosse superior a mim.

No começo ele fazia comentários sutis que pareciam fofos, mas com o passar do tempo o pudor foi sumindo e as humilhações foram ficando mais explícitas, como por exemplo: O dia do jantar na casa dos seus pais. Eu iria usar um vestido com um decote um pouco mais aberto do que já usei, o moreno riu dizendo na minha cara que aquilo não era para mim, talvez se fosse igual a Mariane eu deveria usar o vestido. Me senti mal, mas sorri fingindo entrar em sua brincadeira, mas aquilo magoou. Em alguns jantares importantes Luiz fazia questão de escolher minhas roupas e no começo eu achava romântico, ele dizia que gostava de me ver bonita e falava que aquelas roupas realçava meus olhos, cabelos... Eram desculpas fajutas, e eu sempre caia. 

Me lembro das suas crises de ciúmes, como com o rapaz do táxi por exemplo, ou quando me impedia de ir a algum lugar, me impedia de comprar certas roupas pelo cumprimento e controlava até minha alimentação.

Suspirei bloqueando a tela do celular e caminhei até o banheiro do meu quarto, a fim de tomar um banho e deixar a água levar as memórias de hoje cedo. Por mais controlador, ciumento e egoísta que Luiz fosse, ele nunca havia me machucado, pude ver o medo em seus olhos quando ele me pediu desculpas, vi o arrependimento, mas mesmo assim a ideia de que ele pudesse repetir o ato me assustava. 

No meu quarto pus uma blusa de frio branca e um shorts. Calcei minhas pantufas e fui até a sala ver televisão. Por mais que eu quisesse estudar, sabia que nada ficaria em minha cabeça hoje, portanto decidi procrastinar. Sentei no sofá com o controle em mãos e fiquei pulando os canais em busca de algo realmente bom para assistir.

Ouvi a campainha tocar, me levantei indo abrir a porta, Mariane segurava uma sacola enquanto mexia no celular distraidamente. A morena vestia uma calça de moletom e regata, seus cabelos estavam presos em um rabo de cavalo alto e usava chinelos, seu rosto estava abatido e parecia ter chorado por horas. Dei espaço para minha amiga entrar, e ela nem me cumprimentou, apenas foi se jogando no sofá e desabando. 

—  Samuel terminou comigo. — ela despejou sem ao menos me dizer um “Oi”.

Arregalei os olhos pondo as mãos na boca tentando esconder minha surpresa. Mariane e Samuel namoravam a anos, eu poderia até titulá-los de casal perfeito, porém não acredito que o casal perfeito realmente exista, afinal eu e Luiz éramos perfeitos aos olhos da sociedade, e só eu sabia tudo o que enfrentávamos. Olhei para minha amiga que começou a chorar baixinho no sofá, Mariane estava muito abalada, me sentei ao seu lado a abraçando, e a morena soluçava enquanto estava perdida em seu próprio mundo de memórias, e eu fiquei em silêncio ouvindo sua dor sair através das lágrimas. 

Eu sabia que em certos momentos, ficar quieta é mais acolhedor do que falar mil palavras de consolo, e sabia que Mari compreenderia meu silêncio.

— Foi tão derrepente — ela falou após longos minutos em silêncio — Ele simplesmente me ligou dizendo que precisava conversar sério comigo — Suspirou perdida em seus próprios pensamentos e eu somente lhe dei total atenção — Eu nunca ouvi o Samuel falar naquele tom, não comigo entende Hele? — balancei a cabeça em "sim"

— Eu entendo — fiz cafuné em seu cabelo enquanto ela suspirava tentando não chorar novamente

— Ele simplesmente disse que não dava mais para ficarmos juntos, que precisava de espaço, que pretendia conhecer outras pessoas e países — ela fungou secando uma lágrima — Ele falou tudo isso amiga, porém deu para perceber que ele só estava saturado do nosso relacionamento — riu sem humor — Saturado de mim, na verdade.

— Mari...— Procurei por palavras, mas eu não sabia o que dizer. Eu pouco conhecia o Samuel, mas ele sempre me pareceu um homem perdidamente apaixonado pela Mari. 

— Eu sei que você não sabe o que falar — ela interrompeu qualquer fala seguinte minha — E acho melhor assim, eu e o Samuel estávamos juntos a anos, é difícil terminar assim do nada, mas vou esquecer isso, só preciso de um tempo — Assenti a abraçando forte.

Ficamos abraçadas por alguns minutos, que pareceu horas. Porém foi tempo o suficiente para Mariane pensar. Ela ficou um tempo olhando para o nada até inspirar fundo e pegar os doces que ela mesma havia trazido, escolhemos uma série qualquer para assistirmos enquanto comíamos em completo silêncio, hora ou outra eu olhava para minha amiga que derramava lágrimas silenciosas e logo as limpava. 

Eu imaginava o quanto estava sendo difícil para ela, lembro-me do quanto os seus olhos brilhavam por estar com o ex namorado, ela o conheceu quando foi fazer um ensaio de fotos para uma loja de grife, Samuel era o fotógrafo e foi amor à primeira vista e depois de meses finalmente o rapaz conseguiu conquistá-la, ainda lembro quando o mesmo pediu a minha ajuda para o pedido de namoro.

O som da campainha nos chamou a atenção, olho para Mariane com uma expressão de indagação e ela dá de ombros negando. Estranho o fato do porteiro não ter anunciado, talvez fosse o Luiz. Caminho até a porta tentando manter a calma na frente da minha amiga. Ao abrir a porta me deparo com um buquê enorme de tulipas coloridas e um rapaz com o uniforme da floricultura segurando-as. 

— Senhorita Helena? — ele perguntou, concordei positivo com a cabeça. — São para a senhorita, assine aqui por favor. — me entregou as flores, me passou sua prancheta para que eu assinasse meu nome, ao lado vejo o nome da pessoa que enviou, “ Luiz Müller”

— Obrigada. — agradeci ao rapaz e entrei com as flores recebendo um olhar de puro tédio que Mariane me lança ao notar as flores.

— Ele está a quase seis anos com você e ainda não sabe o quanto você odeia tulipas? — coloco o buquê com as flores sob o centro da mesa e suspiro sentindo o aroma das flores que me traziam péssimas recordações. 

— Deve ter se esquecido. — falei desviando o olhar das tulipas.

— Meu Deus Helena, menos né quem em sã consciência esqueceria as flores que a namorada tem pavor? — ela fala levantando e pegando as flores. Logo ela se dirige até a lata de lixo que havia na cozinha, para que pudesse jogá-las sem o menor ressentimento. 

— As pobres flores Mari. — protestei ao ver elas serem jogadas de uma forma tão rude pela morena, senti o toque quente da minha amiga em meu ombro e encarei seus olhos claros. 

— Helena, eu sei que as flores não tem culpa… Mas elas te trazem lembranças ruins — a Medeiros suspirou me olhando —  Além do fato de que, se ele tivesse mandado rosas, nem assim eu deixaria passar. Ele já te fez mal o suficiente. — revira os olhos e o brilho costumeiro deles somem — Que merda é isso? — senti a manga da minha camisa ser empurrada para cima com delicadeza e tento baixá-la a todo custo. 

— Mariane por favor não… — fechei os olhos enquanto minha amiga soltava meu braço, quando voltei a olhar para ela me encarava séria, mais com um misto de tristeza. — Foi minha culpa… Eu. — minha voz saiu afobada tentando me explicar. — Eu o irritei e ele perdeu o controle mas foi só isso, agora está tudo bem. Sério está tudo bem e por favor não fale nada — ela balançou a cabeça em sinal de cansaço.

— É sempre assim “A culpa é minha” “ Eu o irritei” , você não tem culpa de nada Helena — ela foi para a sala e eu a segui, Mariane estava com raiva e por isso fazia gestos em minha direção enquanto andava alterada pela sala. — Você está vivendo em um relacionamento tóxico. Abusivo, que pelo que estou vendo está se tornando agressivo — Ela aliviou suas expressões ao me ver fragilizada e encolhida. — Eu me sinto imponente ao te ver sofrendo dessa maneira sem poder fazer nada. Você é a pessoa mais doce e gentil que eu já conheci. Você precisa pôr um fim nisso antes que seja tarde demais. 

— Eu não sei se posso fazer isso Marianne. — Sentei no sofá deixando as lágrimas rolarem fazendo um rastro quente por onde passava por meu rosto, ela estava certa mas eu não tinha coragem de deixar Luiz, ele sempre esteve comigo quando eu precisei, sem ele eu estaria sozinha. Eu era fraca demais para perceber que eu poderia viver sem ele. 

Marianne não disse muito ao se sentar ao meu lado, ela apenas me abraçou e me consolidou como a boa amiga que ela é. Ela tinha tanto a me oferecer, e eu sempre tão quebrada nada tinha a retribuir. Marianne é uma das poucas pessoas que eu ainda não afastei dessa minha vida. Eu tenho medo de perdê-la, de ficar sozinha.

[...] 

Já passava das onze da noite, eu ainda estava deitada sobre o colo de Marianne, ouvindo-a ressonar em um sonho tranquilo. Enquanto a mim, não consegui dormir em nem um momento, pensando muito sobre o ocorrido de hoje e por mais que a atitude de Luiz tenha sido má, eu decidi que iria perdoá-lo pelo simples fato de que eu não queria ficar sozinha. Luiz esteve comigo em momentos cruciais da minha vida, e como ele sempre dizia: Sem ele eu não teria ninguém. E eu seria uma tola se o largasse.

Cautelosamente eu saí do colo de Marianne e a deixei dormir confortavelmente no sofá da sala, a minha ausência faria com que ela entendesse, sem que eu precisasse verbalizar, que eu havia escolhido ficar com Luiz. Sei que irei decepcionar minha amiga com aquela escolha, mas eu não tenho como abrir mão dele nesse momento, eu precisava dele.

Segui em direção ao meu quarto onde me tranquei, eu precisava de algo para me distrair dos meus pensamentos conflitantes. Sem muito ânimo, abri o youtube e vi um vídeo aleatório onde Rodrigo D'Ávila comentava sobre algum jogo aleatório que eu sequer conhecia, mas gostava de ouvi-lo falando e fazendo piadas com assuntos que só ele e seus inscritos entendiam. 

— Se inscrevam no canal e cliquem em gostei se você gostou e ative as de notificações para assim receber os vídeos novos — Rodrigo falava em um tom desanimado, que era bem seu estilo, mas em seguida sorriu suspirando fundo — E esse foi o vídeo merda de hoje, espero que tenham gostado e até o próximo. 

Sorri ao finalizar e marquei que gostei, mesmo não entendendo nada dito no vídeo, e acabei também deixando um comentário com um emoji, apenas para ajudar no engajamento. Mesmo que o Youtuber não pedisse nada do tipo, eu me sentia feliz em contribuir com pelo menos um comentário ou like. E essa era mais uma coisa que eu gostava no Rodrigo, ele não fazia nada por like e nem por views apenas se divertia com seu conteúdo, e isso era maravilhoso e encantador. 

Ouvi o barulho da porta se fechando e logo constatei que Marianne havia ido embora, novamente naquela noite eu estava sozinha. Mas isso não durou muito, logo o trinco da porta da frente soou, fiquei em alerta já imaginando ser Luiz, afinal ele tinha as chaves. Peguei meu celular constatando haver uma mensagem dele informando que dormiria aqui hoje, a mensagem havia sido mandada a horas atrás e eu só visualizei agora. A porta do meu quarto foi aberta revelando um Luiz com cara de poucos amigos enquanto segurava vários papéis.

— A fatura do seu cartão de créditos veio alta esse mês. — ele comentou enquanto lia o meu histórico de compras. — Espera, o que são essas compras no youtube? — ele me encarou sério com seus olhos claros me analisando, e suspirei tentando me acalmar.

— Bom… Eu acabei me tornando membro de um canal que achei interessante. — falei me pondo de pé e tomando o papel de sua mão analisando meus gastos que não eram tantos assim.

— Posso saber, qual canal? — ele indagou divertido e me olhou curioso enquanto caminhava até minha cama e se jogava ali. Mordi meu lábio inferior me perguntando se diria a Luiz que estava acompanhando o canal de um homem, ou se mentiria e manteria a paz daquele momento. 

Porém antes que eu pudesse responder ele puxou meu notebook onde a tela jazia aberta em um outro vídeo de Rodrigo D’Ávila

—  E-Geek — sussurrou enquanto movia os dedos no touch do meu notebook, verificando o histórico de vídeos vistos, vídeos que eu havia comentado e marcado como “gostei”, a cada segundo seu rosto tomava uma coloração ainda mais vermelha. 

Suspirei fundo percebendo que não daria mais para esconder.

— Descobri esse canal recentemente e achei maravilhoso... — confessei enquanto sorri de lado, sentindo minhas bochechas esquentarem, era impossível não ruborizar ao pensar em Rodrigo e em seu jeitinho fofo e debochado, e pude ver Luiz assistir uma parte do vídeo que eu via antes. 

— Você achou essa porcaria maravilhosa? — Ele se pôs de pé apontando para o meu notebook indignado e me encarando de cima, pela diferença de tamanho, e eu o olhei assustada — Cancele a inscrição nesse canal idiota, agora! — pude ver o ciúmes pairando em seus olhos e seu rosto estava vermelho, ele realmente estava bravo. 

— Luiz, não é para tanto — falei baixo tentando acalmá-lo — Ele é só um youtuber que mora em outro estado, e eu apenas me divirto vendo os vídeos dele. — suspirei olhando para o rosto do DÁvila pela tela do notebook. 

— Olha como você fica quando fala dele, toda bob — ele fechou a tela do aparelho com certa força, arregalei os olhos pondo as mãos nos lábios assustada — Você não fica assim quando fala de mim — Dramatizou e eu revirei os olhos

— Você está imaginando coisas — Falei tranquila e dei um passo a frente para acalmá-lo, porém ele me empurrou com certa força e senti minhas costas baterem contra minha escrivaninha e o ar faltar em meus pulmões devido ao impacto. Abaixei a cabeça sentindo os fios loiros cobrir meu rosto e apertei as mãos em punho fortemente sentindo minhas unhas machucarem a pele e respirei fundo. Ele havia feito novamente. 

"— Esse vestido está feio em você Helena, você está gorda — Luiz falou quando cheguei na sala com um vestido verde mais justo no meu corpo – troca, põe aquele bege que eu gosto." As lembranças ruins me atingiam como um tsunami. Tudo que eu evitei enxergar durante anos, estava vindo em ondas gigantescas e dolorosas, e estavam me inundando. 

— Helena, amor me desculpa — Luiz falou pondo  suas mãos em meus ombros — Eu não queria fazer isso, mas você me tira do sério com essas atitudes idiotas — Falou afobado gesticulando em minha frente e eu o encarei.

“É sempre assim Hele, você diz ‘A culpa é minha’, 'Eu o irritei’.Mas você não tem culpa de nada! Você precisa pôr um fim nisso antes que seja tarde demais”

Tarde demais...

Tarde demais...

As palavras de Mariane reverberam em minha mente como um alerta. Eu sei que já havia decidido por manter Luiz em minha vida, mas já chega, meu corpo gritava que estava em seu limite, minha mente não aguentava mais. Já chega. Gritei para mim mesma. 

— Saia do meu apartamento — falei em um fio de voz segurando as lágrimas. Senti as mãos de Luiz ficarem frias, sua postura mudou por cinco segundos e pude ver a confusão em seu olhar, mas não recuei. 

— O que? — sua voz falhou e ele gaguejou, mas em seguida pigarreou disfarçando, tentando manter uma calma que eu sabia que ele não possuía. 

A verdade veio quando ele apertou meus braços com força, ameaçando deixar sua ira dominar e me agredir - talvez? Contudo eu o empurrei fazendo-o me largar e bambear para trás. Não sei de onde surgiu essa minha força, eu não pude feri-lo, mas consegui afastá-lo de mim. Constatei que a ficha estava caindo, ao ver seus olhos arregalados, Luiz estava assustado com minha atitude, e eu não o culpava, sempre fui dócil demais, passiva demais, manipulável demais. Mas agora eu havia aberto os olhos, e percebi quem era aquele que eu dizia amar, e por Deus, eu não o suportava mais!

— Saia do meu apartamento! — falei novamente para que ele entendesse, só que dessa vez minha voz saiu com mais segurança e certeza — Eu lhe dei uma segunda chance com medo de ficar sozinha — desabafei enquanto levava minhas mãos a minha cabeça, de forma involuntária lembrando do quanto eu tinha medo de ficar sozinha — ...Achava que você não iria mais m****r em mim ou me menosprezar, nem me agredir — ri sem humor em meio às lágrimas que insistiram em cair — Mas você fez tudo isso novamente, e o pior, em menos de um dia! — Gritei — Você prometeu não fazer mais — Sussurrei — Entende que não posso confiar em você? — Indaguei olhando nos olhos claros, buscando alguma reação.

Sua expressão estava enigmática, por um momento temi que o mesmo pudesse me fazer algo, porém ele fez o que eu menos esperava. Colocou as mãos no bolso e puxou as chaves do meu apartamento, as jogou na minha cama e saiu, me dando um último olhar que me fez tremer.

Quando ouvi o barulho da porta fechando e tive certeza que ele foi embora, então finalmente soltei o ar que parecia estar preso por horas, e uma sensação de alívio tomou conta de mim, mas junto do alívio vieram as lágrimas e o medo de ficar sozinha. Estávamos juntos a tanto tempo que eu não conseguia mais ver um futuro sem o Luiz ao meu lado. Me recriminando por fazer sempre o errado, e me julgando por mínimas coisas que fossem. 

Me joguei na minha cama abraçando uma almofada, e então chorei até não aguentar mais me manter acordada. 

[...]

No dia seguinte acordei com a luz solar entrando pela janela do meu quarto, eu não tinha nenhuma vontade de levantar da cama, as imagens da noite anterior vieram à minha mente então novamente chorei e solucei enquanto tentava esquecer tudo, mas eram tentativas falhas, nada me fazia esquecer, e quando eu pensava em outra coisa, a dor da pancada contra a escrivaninha me fazia relembrar aquele pesadelo que foi a noite anterior, e novamente eu caia em lágrimas, e em um terrível estado de ausência profunda.

Era como se eu houvesse perdido uma parte importante do meu corpo, eu sentia que a qualquer momento tudo iria ruir e eu talvez voltasse atrás. Ligaria para Luiz e pediria perdão, totalmente arrependida. Mas eu pedia a mim mesma para que fosse forte e suportasse a ausência, suportasse a dor e a solidão. Nenhuma dor duraria para sempre, e eu sabia que em breve, Luiz seria uma mera lembrança.

 02:45 am

Já era tarde quando levantei sentindo minhas pernas falharem, mas caminhei até a cozinha tomando dois calmantes e ingerindo um copo d'água, liguei para o porteiro avisando que a partir de hoje Luiz só subiria com minha autorização, e o mesmo assentiu sem mais perguntas, e dei aquele assunto por encerrado. Não é fácil sair de um relacionamento de tanto tempo e por mais difícil que fosse ser daqui para frente eu iria conseguir. Ou pelo menos tentar. 

Amanhã seria um novo dia, mas por enquanto iria deixar a tristeza dominar meu hoje.