Capítulo IV

Helena Luz

A mudança foi algo que eu adorei, vez ou outra me encontrava parada em frente ao espelho, olhando meus cabelos com um sorriso bobo pintado nos lábios. Nunca imaginei que a cura para a minha depressão pós término, seria uma simples manhã no salão, e realmente aquilo havia me feito muito bem, tanto que eu já podia sentir as diferenças no meu humor. e eu já havia postado várias fotos nas minhas redes sociais, e havia também recebido likes de pessoas que eu sequer sabia que me seguiam, isso de fato era animador, mas intrigante ao mesmo tempo. Porém, mesmo estando momentâneamente bem, algumas situações ainda me deixavam incomodada, como o fato de Luiz ter parado de me seguir e estar aparentemente seguindo bem sua vida, e fazendo questão de compartilhá-la nas redes sociais. 

Eu tentava ignorar isso, afinal não estávamos mais juntos e ele podia fazer o que bem entendesse de sua vida, pois eu não fazia mais parte dela. Até mesmo a própria solidão fora se tornando mais atrativa com o tempo, ela me parecia mais convidativa que as noites ao lado de Luiz, que os encontros e as conversas, e eu podia dizer com franqueza, após uma semana sem vê-lo, a dor já estava amenizando, e eu conseguia enfim enxergar com clareza todo o mal que ele me fez em seis anos. 

[...]

Faltavam dois dias para o evento e o clima resolveu fechar justo no dia que Rodrigo postou no Twitter que estaria saindo para conhecer a cidade. Eu até iria tentar achá-lo em algum dos pontos turísticos, se não fosse pela tempestade que caía lá fora, me fazendo perder toda a vontade de sair do meu lindo, quentinho e aconchegante apartamento. 

Pedi pizza e calcei minhas pantufas quentinhas e confortáveis, enquanto me deitava no sofá comendo uma enorme fatia da minha pizza favorita e pulava os canais em busca de algo atrativo. E então, em um súbito momento de fraqueza, pensei: "Minha vida poderia ser melhor" - Ficar trancada dentro do apartamento enquanto comia e assistia tv não era algo produtivo. Eu precisava encontrar sentido para viver, agora que não tenho Luiz, no máximo o que me restava eram os estudos para um possível vestibular. Porém após o término, eu não sentia a mínima vontade de estudar, e até tentei me convencer que aquilo era uma fase, e que logo eu estaria de volta trancafiada no quarto estudando, mas algo dentro de mim gritava que não, e eu me deixava levar por aquela depressão momentânea. 

 Senti as lágrimas se acumularem nos meus olhos ao pensar nas palavras de Luiz. "Você vai ficar sozinha." Talvez ele tivesse razão - Suspirei abrindo meu i*******m e havia storys de Rodrigo, e sem o mesmo ânimo de sempre, assisti os mesmos:

— Saímos para conhecer a cidade e do nada começou a chover — ele falava ofegante e todo molhado, ao lado dele estava Melissa e Otávio Marini, ambos no mesmo estado que Rodrigo, que parecia chateado, mas não parava de rir — Você havia dito que não ia chover  — O moreno falou para Melissa, que tentava a todo custo arrumar seus cabelos enquanto dizia que não tinha culpa, já Otávio xingava por ter molhado seu celular. 

Ri da situação, mas uma pontinha de preocupação bateu ao ver os três completamente molhados andando no shopping, que possuía o ar condicionado ligado. Havia outros Stories e era de Rodrigo, já no quarto do hotel, ele estava vestindo suas costumeiras roupas pretas, enquanto secava o cabelo com uma toalha e ouvia uma música da banda Metallica, que eu não conhecia bem. Eu tinha que admitir que ele era extremamente lindo, e às vezes me pegava olhando-o demais, e me sentia extremamente envergonhada por isso. 

  — Ok, pare já com isso Helena! — Me repreendi e voltei a procurar um filme na netflix. 

[•••]

Acordei sentindo minha coluna doer, só então notei que eu havia dormido no sofá na noite anterior. A luz do sol entrava pelos janelões e batia fortemente em meu rosto, me fazendo resmungar. Me levantei andando igual uma velhinha de noventa anos, num corpo de adolescente. Minha barriga roncava alto me fazendo revirar os olhos, pois eu havia comido pizza ontem. 

— Isso mesmo, ontem Helena! — Bati na minha testa enquanto procurava algo para comer. Achei algumas torradas e me servi com um belo copo d'água, porque estava com preguiça de fazer suco ou café. 

Abri o i*******m e pude ver que Rodrigo estava em live, sem pressa esperei a mesma carregar, afinal havia muitos acessos e por isso demorou um pouco, mas logo vi o moreno condutor daquela live, deitado na cama do hotel e com uma pura expressão cansada além das bochechas e nariz rosados.

… E esse foi o resultado da chuva de ontem ele espirrou e tinha a voz fanha, e muitas pessoas comentavam que ele estava fofo, e eu concordava, se não visse o quão mal ele aparentava estar. 

Rodrigo larga esse celular e vai descansarEra a voz de Melissa no fundo, o moreno olhou para ela e virou o celular, a ruiva também parecia cansada, porém estava impecável como sempreNão acredito que está em live! — Ralhou —Você precisa dormir para a febre baixar  — Ela revirou os olhos enquanto tomava o celular das mãos do moreno Gente desculpa, mas a live vai ter que acabar aqui — Falou brevemente finalizando a live.

Fiquei meio triste em saber que o Rodrigo estava doente, isso poderia interferir em sua aparição no evento, mas o desejei melhoras, afinal eu havia comprado o ingresso só para vê-lo. Suspirei voltando a comer. quando meu celular vibrou, e abri a mensagem de Mari, com um convite que eu não saberia como recusar, afinal mesmo que eu dissesse “não”, a morena viria aqui e me arrastaria, usando meus próprios argumentos sobre toda aquela falação de querer mudar de vida. 

 "Hele, vamos correr?"

Derrotada por minha própria razão, digitei um “ok” e já estava me sentindo arrependida. 

  • ••

Eu corria com Mariane em um dos únicos parques ambientais da cidade, e isso obviamente havia sido ideia dela, pois se dependesse de mim, daríamos duas voltas na pracinha em frente ao nosso prédio e estaria perfeito, mas a morena recusou e me arrastou em seu carro até o parque, e cá estamos há trinta minutos. Começamos com o aquecimento, depois ajustei meus fones no ouvido e verifiquei se meu cabelo estava bem preso num rabo de cavalo, e após isso, iniciei minha corrida num ritmo lento, afinal eu não era acostumada, portanto não podia exagerar. 

Busquei Mariane com os olhos. Ela corria mais a frente, afinal já estava acostumada com atividades físicas. Após concluir minha segunda volta, me sentei no banco de madeira branca totalmente derrotada e exausta, enquanto transpirava de tanto calor e cansaço, e o clima nem estava tão quente. 

  — Desisto! — Tomei um gole d'água e vi Mariane se aproximar 

 — Helena levanta, você precisa parar de ser sedentária — Falou de braços cruzados me olhando séria, mas eu sabia que ela estava segurando uma risada.

— Eu não aguento mais Mari, me deixa descansar pelo menos dez minutos e eu volto a correr, certo? — A morena suspirou. 

— Tudo bem amiga, vou completar minhas duas últimas voltas e depois podemos ir embora, certo? — Ela indagou e eu concordei com um menear de cabeça, enquanto a via arrumar seus fones e então se preparar para correr.

A acompanhei com os olhos, ela estava tão concentrada que não viu os cadarços desamarrados de seu sapato, e isso resultaria em uma bela queda. Peguei meu celular e a garrafa d'água do banco, e corri para alcançá-la e tentar evitar um desastre, mas parei quando Mari percebeu, e então suspirei aliviada pronta para voltar ao meu lugar, mas o desastre que eu tentei evitar aconteceu, quando outra pessoa correndo distraída, não viu Mariane abaixada e tropeçou nela, os levando ao chão. Segurando uma gargalhada, e totalmente preocupada, corri até os dois vendo, Mariane xingá-lo enquanto tentava se levantar, mas o peso do rapaz a impedia. 

 — Vocês estão bem? — Perguntei vendo que alguns corredores também pararam para olhar a cena cômica, se não fosse tão trágica. 

— Hele, acho que quebrei minha coluna — Ela dramatizou e eu ri ainda mais, vendo que enfim o rapaz loiro deu sinal de vida, saindo de cima da morena. Então ajudei Mari a levantar enquanto via o rapaz de costas falando ao telefone, irritado — Você não vai pedir desculpas? — Minha amiga indagou irritada, olhando incrédula para o homem que ainda discutia no celular, e por algum motivo aquela voz me era familiar. 

— Me desculpe — O loiro virou guardando o celular no bolso. E então eu o reconheci, era Otávio Marini, ele gravava alguns vídeos com o Rodrigo — Eu estava distraído e não a vi, está machucada? Posso fazer algo por você — Indagou preocupado olhando para Mariane, que estava vermelha de raiva. 

Acho que ela não tinha o reconhecido, afinal eu a fiz ver poucos vídeos do Otávio, diferente de algumas pessoas que antes corria, e agora faziam de tudo para tirar uma foto do loiro, e estavam até se espremendo em uma pequena roda que se formou ao nosso redor

— Não, não machucou — Mariane fechou os olhos e respirou fundo, antes de olhar mortalmente para Otávio — Só tenha mais cuidado da próxima vez — Ele concordou meio desconcertado — Vamos Helena, minha vontade de correr sumiu, depois disso — ela pegou meu braço me puxando para longe de Otávio Marini. Eu estava em transe por vê-lo, poderia até pedir uma foto, mas a morena havia me arrancado de lá.

  • ••

Suspirei enquanto limpava a testa de Mariane que sangrava, um corte médio havia se formado ali, devido a queda, então entendi o porquê da mesma me tirar tão rápido de lá. O machucado estava um pouco feio, e fiz um curativo simples que foi tapado pela franja da morena que analisava seus cotovelos e joelhos, também com pequenos arranhões. 

— Aquele loiro é amigo do Youtuber que você assiste não é? — Assenti jogando o algodão no lixo, e ela analisou o curativo — Você vai ser uma ótima médica, sabia? — Indagou, e eu sorri de lado arrumando uma mecha do meu cabelo, pensando se explicaria a ela que os médicos normalmente não fazem curativos, mas com toda certeza ela iria me olhar com desinteresse e falar um típico “ah sim, desculpa”

— Não tenho certeza, Mari — falei massageando as têmporas, deixando aquele assunto para depois  — Eu não quero passar o resto da minha vida, salvando outras vidas, é meio egoísta dizer isso? Ou dizer que apenas quero pensar em mim? — Indaguei temerosa e a vi suspirar. 

— Hele, eu não te acho egoísta por pensar assim, está tudo bem pensar em si mesma um pouco, e sinceramente? Estou orgulhosa em ver que está respeitando suas próprias escolhas — Ela sorriu e eu a olhei agradecida — Bom, vamos escolher sua roupa para o evento de amanhã? — A morena sugeriu mudando o assunto e eu assenti animada, enquanto caminhávamos para o meu quarto. 

Quando Mariane foi embora, quase duas horas depois, decidi fazer uma faxina no meu apartamento e me livrar de uma vez por todas das coisas de Luiz, que ainda estavam guardadas em vários locais. Liguei o som em uma playlist do Spotify enquanto me remexia limpando todo o apartamento e guardando as coisas dele em uma caixa. Finalizei horas depois, empacotei a caixa e a deixei próxima a porta, em seguida tomei um rápido banho enquanto listava mentalmente o que deveria fazer com o resto do meu dia, após isso, caminhei com dificuldade tentando levar aquela caixa extremamente pesada até a portaria, onde chamei um uber com a localização da casa de Luiz e pedi para o mesmo fazer a entrega. 

Voltei para meu apartamento sentindo a paz interior de ver tudo limpo e sem nada que me lembrasse Luiz. Tirei os chinelos andando com cuidado para não sujar nada, graças a minha mania de desastre, olhei as horas no meu relógio e eram sete da noite. Me surpreendi por ter perdido tanto tempo limpando meu apartamento e planejando a entrega das coisas do meu ex.

Me deitei no sofá olhando para o teto, eu estava ansiosa para o dia de amanhã, teria a chance de conhecer  Rodrigo pessoalmente, e talvez até tirar uma foto com ele. De alguma forma, pensar na possibilidade de encontrá-lo me aquecia o peito, afinal eu devia muito a ele, pois mesmo sem nem me conhecer, ele havia me dado a coragem que eu precisava para ser livre.

 Rodrigo D’Ávila

Por causa da forte chuva que eu, Otávio e Melissa tomamos ontem, acabei gripado e tive uma febre alta de brinde. Eu estava deitado na cama ouvindo Otávio reclamar do quanto Elisa pegava no pé dele, mas se eu falasse "termine com ela logo" ele simplesmente ficaria bravo comigo. Então fico apenas ouvindo ele descarregar tudo e depois falar "mas eu amo tanto ela, que devo dar mais uma chance para nós dois." Um verdadeiro trouxa, eu diria. 

— Hoje eu atropelei uma garota — Ele falou naturalmente enquanto jogava em seu celular, deitando do meu lado e juro que se eu não estivesse tão cansado, iria voar na cara do loiro, como ele me falava isso com tanta calma? O olhei abismado, pronto para o xingar — Relaxa, não atropelei nesse sentido — Ele suspirou — Em resumo; eu estava brigando com a Elisa no celular enquanto corria, e a mulher estava amarrando o cadarço, não a vi e caímos. 

— Poxa Otávio, às vezes você é mais sem noção do que imagino — revirei os olhos — E a garota ficou bem? — Perguntei preocupado

— Ela disse que sim, mas eu vi que estava machucada, porém havia tanta gente que sequer pude fazer algo quando, e ela fugiu de mim — deu de ombros e eu ri imaginando a cena, afinal era a primeira vez que eu ouvia Otávio dizer que uma garota fugiu dele — Cara, às vezes a Elisa pega muito no meu pé. Em plena oito horas da manhã e ela me ligando para reclamar do story que você fez ontem. 

— Essa sua namorada é maluca, já te falei — Resmunguei pegando meu celular e rolando o feed do i*******m, já que não iria conseguir dormir com Otávio tagarelando do meu lado — não sei como você ainda aguenta esses surtos.

 — Eu amo ela Rodrigo — Falou finalizando a partida e eu o olhei cansado.

— Otávio, eu não duvido que você a ame, e sinceramente? Eu quero te ver bem, e desde que vocês dois começaram a namorar, você tem cada dia mais afundado em um mar de estresse, pois ela não te dá paz nem mesmo quando dorme — Falei bloqueando a tela do meu celular — Ainda lembro da semana passada, onde ela te acordou quatro da madrugada, dizendo que sonhou que você estava a traindo com a Melissa, sua que é irmã cara! — Senti a revolta novamente, ao lembrar da Melissa me ligando assustada ao receber mensagens de puro ódio da Elisa. 

Otávio ficou em silêncio, como esperado, e eu vi o seu celular vibrar compulsivamente, na tela, treze mensagens de Elisa brilhavam. Aquela garota era maluca, e a cada dia mais ferrava com o psicológico do meu amigo, o que me deixava irritado, já que ele não nos deixava ajudá-lo. Quando Otávio foi embora, tomei mais um remédio para aliviar a gripe e tentei dormir, afinal precisaria estar bem para amanhã, mas sabia que não iria conseguir dormir. 

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo