Derek
As noites curiosamente pareciam mais longas. A insônia também começara a fazer parte de minha rotina noturna.
Como conseguir dormir tranquilamente sabendo que a mulher que você tantou amou e acreditou estar morta, estava ali, literalmente, no quarto ao lado, mais viva do que nunca?
Sentei-me na cama atormentado com as perguntas sem resposta que rondavam minha mente. Respirei fundo e esforcei-me para não acordar Amanda que, diferente de mim, parecia dormir de maneira suave e tranquila.
Fixei meus olhos nela.
Então, como num filme de recordações, muitos de nossos momentos juntos, especialmente a primeira vez que pusemos os olhos um no outro, exibiram-se em minha cabeça.
Lembrei-me com exatidão de quando descobri estar apaixonado por ela. Aquilo me deixou profundamente surpreso. Quem diria que eu poderia me apaixonar novamente?
Mas eu estava apaixonado. Perdidamente apaixonado.
Não, mais que isso. Eu a amava.
E me considerava o cara mais sortudo do mundo por amar e saber que este sentimento era recíproco.
— Você está acordado há muito tempo?
Despertei-me de meus próprios devaneios ao escutar a voz sonolenta de minha mulher.
— Não, faz só uns minutos.
Ela mordeu os lábios e assentiu.
Continuou na mesma posição confortável em que estava.
Depois, apanhando-me de repentino, saltou da camas, sentando-se bem à minha frente.
— Você quer conversar?
Sim, definitivamente eu queria conversar com Amanda. Porque ela é a mulher que amo. Dividir meus tormentos com ela era tudo que eu queria. Mas esse, também, era justamente o maior problema: dividir meus tormentos com Amanda, fazia-me pensar que, talvez, só talvez, dizer-lhe o que me assombrava tanto, porventura a assombrasse também. E eu não queria vê-la obsessa às custas de meu infortúnio.
— Conversar sobre o que? — devolvi, forçando um sorriso.
— Não sei, me diz você. — ela deu de ombros. — Você está esquisito, Derek.
— Eu só estou...
— É a Monnie, não é? Você ainda não decidiu o que fazer quanto à ela, certo?
Suspirei profundamente.
— Eu conversei com o Peter, Ama. — rolei os olhos. — ele acredita que afastar a Monnie agora pode ser extremamente prejudicial para a saúde mental dela. Se ela está mesmo sofrendo com a perda de memória e até agora lembrou-se de mim, isso significa que eu sou sua memória mais importante. Não posso, você sabe, simplesmente mandá-la embora...
Amanda cerrou os olhos em mim.
— O que está dizendo?
— Eu preciso que você seja compreensível e paciente, Amanda, porque a pessoa que eu mais preciso que esteja ao meu lado é você, e...
— Você não está dizendo que... você quer que eu aceite sua ex-mulher morando conosco, Derek?
— É só por um tempo, Amanda...
— Como pode me pedir para ser compreensível quanto a isso? — Amanda alterou-se. — E paciente? — ela riu nervosa. — você está mesmo falando sério?
— Eu amo você, Amanda. — Disse, e segurei firme suas mãos. — eu preciso que confie em mim.
— Desculpe, Derek, mas se você realmente me amasse, não me pediria isso.
Irritada, Amanda desatrelou suas mãos das minhas.
— Ei, aonde está indo? — ergui a voz.
Amanda vestiu seu roupão e aderiu uma postura séria.
— Que eu me lembre, só te deveria satisfações se ainda tivéssemos vivendo o que estava escrito naquele contrato, lembra? — ela ergueu o cenho. — e nós não estamos... ou estamos?
Amanda crispou a testa e fez questão de exalar seu deboche.
E, depois, bateu a porta do quarto, deixando-me para trás levemente irritado.
Bufei irritado, cerrando o punho fortemente contra a cama.
Amanda não voltou para a cama durante todo o restante da noite.
O sol já estava raiando, quando eu decidi, depois de muito ponderar, ir atrás dela.
Levantei-me da cama, fui até o berço de Lexie e a observei por alguns segundos.
Ela estava dormindo feito um anjo. Como se nada no mundo fosse complicado. E nem deveria. Não para ela que ainda era tão pequenina e não tinha noção do mundo nocivo em que estava vivendo.
Depois, saí do quarto no intuito de encontrar Amanda. Queria encontrá-la, lhe pedir desculpas - pelo quê, não sei - mas eu não queria vê-la magoada comigo. Isso acabava comigo.
Para meu espanto, no entanto, avistei o último quarto do corredor com a porta entreaberta.
Tomado pela minha curiosidade, andei em direção ao cômodo da casa que eu já não visitava há meses.
Quando abri a porta, a pessoa que estava nele me surpreendeu.
Era Monnie.
Ela estava sentada sob a cadeira de sua antiga penteadeira. Seus olhos logo foram de encontro aos meus.
— O que está fazendo aqui?
Ela ergueu-se da cadeira e veio em minha direção.
— Eu lembro desse quarto. Lembro da penteadeira. Tudo aqui me soa... familiar.
Seus olhos estavam cheios de lágrimas.
— Este era...?
— Sim. — apressei-me em dizer.
— Nosso quarto. — ela fungou alto. — Eu queria poder lembrar...
— Talvez você consiga, sabe... com o tempo. — forcei um sorriso.
— Talvez. — ela repetiu.
— Mas, me diz, o que faz acordada há essa hora? Ainda é cedo, deveria estar dormindo...
— Eu não tenho dormido bem. — ela suspirou. — Mas, e você? Não deveria estar dormindo também?
Eu assenti, coçando a nuca.
— Eu também não tenho dormido muito bem... — rolei os olhos.
— É por minha causa, não é?
Franzi a testa, fixando meus olhos em Monnie.
— Eu já estou ciente de tudo que está acontecendo em sua vida. A propósito, me desculpe por arruínar seu casamento, eu não tive a intenção.
Mordi os lábios.
— Está tudo bem. Você não tem culpa.
— Eu quero que saiba, Derek, eu não pretendo interferir a sua vida. Eu voltei porque... porque eu lembrei de você. Infelizmente eu não cogitei a hipótese de que talvez, — ela riu nervosa. — só talvez, você tivesse seguido sua vida. Afinal, foram dois anos, não é?
Assenti.
— Eu achei que estivesse morta. — disse, num fio de voz.
— Eu achei que fosse morrer. — ela riu novamente, dessa vez de maneira fraca. — mas eu estou viva. Infelizmente.
— Infelizmente?
Monnie assentiu, seu rosto cabisbaixo.
— Eu não sei muito sobre quem eu era, Derek. Eu não sei quase nada, para ser sincera. E tudo que eu lembro, as poucas coisas de que me lembro... são coisas que, na verdade, eu deveria não lembrar.
— Por quê?
— Você tem sua vida agora. Eu faço parte do seu passado. Tudo o que eu me lembro... é sobre você. Sobre o quanto nos amamos... ou melhor, o quanto nos amávamos...
Aproximei-me de Monnie e segurei firme em suas mãos, que estavam gélidas.
— Eu não vou te deixar sozinha. Apesar dos pesares, você pode contar comigo. Eu quero te ajudar no que for preciso.
— Eu não quero atrapalhar, eu posso ir embora e então você poderá voltar a viver como era antes...
— O que está esperando?
A voz de Amanda soou, fazendo com que automaticamente eu largasse as mãos de Monnie.
— Estou atrapalhando? — ela disse, a voz carregada de ironia.
Derek— Então, estou atrapalhando?Amanda repetiu, dessa vez parecia mais irritada do que sarcástica.— Não, é até bom que esteja aqui...Respondi-lhe, andando em sua direção. Entretanto, Amanda deu dois passos para trás, me fazendo entender que ela não queria que eu me aproximasse. Depois, ela apenas rolou seus olhos e os fixou em Monnie.E seu olhar não me parecia nem um pouco amigável.— Eu estava falando que, bem... você sabe, Monnie pode contar conosco! — disse, rígido.— Conosco? — ela crispou a testa.— É. — cerrei os olhos em Amanda. — Ela vai ficar aqui o tempo que for necessário.
AmandaEstava no jardim, caminhando com Lexie e recebendo a brisa fria do vento de fim de tarde.Derek me ignorou durante as poucas vezes que tivemos o desprazer de nos cruzar.Mas ele não era o único, afinal de contas, eu também fiz questão de ignorá-lo.Flashes da noite anterior se passaram en minha mente:— Eu vou embora! — Gritei, sentindo-me completamente menosprezada.— Embora? — ele repetiu, a testa franzida.— É isso mesmo que ouviu. Eu vou embora.— Está se comportando como uma criança mimada, Amanda.Eu ri, com escárnio.— E você está se comportando como um idiota.
AmandaDerek continuou me encarando, seu olhar frio e distante me afrontava com raiva.Semicerrei meus olhos nele, não deixando transparecer minhas pernas trêmulas.Eu não podia vacilar. Não agora.— Derek, eu sei que quer me ajudar, mas...— Mas nada. Eu disse que você fica, não disse?Monnie balançou a cabeça positivamente.— Pois bem. Assunto encerrado. —ele revirou os olhos e, como se tivesse terminado seu "serviço", saiu andando desajeitadamente, ignorando minha existência.— Não acredito que vai me ignorar! Você &e
DerekAmanda e eu estávamos de pé desde as seis da manhã, visto que hoje nossa pequena Lexie teria de submeter-se à alguns exames e uma consulta sua pediátra.Por coincidência, o consultório de Melanie, a atual pediátra de Lexie, ficava no hospital, cujo Peter também atuava.Unindo o útil ao agradável, determinei que aquela era a oportunidade perfeita para apresentar Amanda e Lexie ao meu velho amigo de faculdade.— Eu quero que conheça alguém antes de irmos, Ama.Amanda assentiu, sorrindo de lado.Mas ela estava entretida demais com Lexie, que hoje — especialmente — estava mais hiperativa que o comum e, vez ou outra,
AmandaAntes mesmo de entrarmos em casa, podia-se ouvir perfeitamente um sonido de gargalhadas escandalosas. Eu não sabia exatamente o que viria pela frente, mas já suspeitava.Susan Sant deixou bem claro seu desprazer em me conhecer desde a primeira vez que nos vimos. Certamente isso não havia mudado com o tempo.Mas eu estava disposta a enfrentá-la. Eu mostraria a ela, a qualquer custo, que eu era uma boa pessoa. Que eu amava Derek, e não estava interessada em seu dinheiro. Isso soava tão ilógico. Por que eu tinha de provar algo para alguém que só procura os filhos com segundas intenções?Estava pronta e realmente determinada a entrar em casa, mas não pude fazê-lo, tendo em vista que Derek estava inerte, impossibilitado de
AmandaEstava recostada na poltrona que ficava ao lado do berço de Lexie.Minhas pálpebras pesavam de maneira impertinente. O que ainda me mantinha acordada era o som irritante do móbile musical que ficava pendurado acima do berço de Lex. Mesmo sonolenta, percebi a presença de Derek no quarto. Ele estava parado, reclinado à porta, um sorriso largo nos lábios.— Ela acabou de dormir. — murmurei baixinho, ainda apreensiva pelo medo de Lexie estar apenas nos enganando.Pode parecer loucura, mas nossa garotinha de quase oito meses é extremamente esperta. Ela finge que pega no sono e quando a colocamos em seu berço — que ela abomina, a propósito — a menina se manifesta chorando para ap
AmandaO dia de hoje, diferente dos outros, amanheceu mais vibrante. Especialmente para Derek. Ele estava completamente eufórico e ansioso para receber Damen. Seu irmão chegaria para ficar alguns dias conosco e essa notícia não poderia tê-lo deixado mais animado.O entusiasmo de Derek apenas salientava o quanto ele amava o irmão. Quando Damen nos informou que chegaria pela manhã, Derek fez questão de deixar a empresa nas mãos de seus sócios, somente para certificar-se de que tudo estaria impecável em sua "recepção."Vê-lo tão feliz assim me deixava mais leve. Há dias não o via desta forma, tão alegre, espontâneo e despreocupado.Sua felicidade era tão grande que me fazia pensar duas vezes em tocar no assunto de mandar Monnie embora.Eu apenas que
DerekSou o irmão mais velho.Não por escolha. Não porque eu quis. Ser o irmão mais velho, carregar todo esse peso nas costas, não é, nem de longe, facil. É terrível. Você se sente na obrigação de ser o melhor que puder. Você sente que deve se esforçar até esgotar todas as suas forças. Porque, como irmão mais velho, você deve ser um modelo a se seguir. É seu dever mostrar aos outros o certo e o errado; mostrar que nem sempre devemos nos satisfazer apenas com bom, não quando temos como possibilidade o melhor e o excelente.Desde que meu pai se foi, ele consignou à mim sua confiança. Não só isso, ele deixou comigo o encargo de minorar sua ausência para Damen e Sabrina. Me sinto na obrigaç&