Amanda repetiu, dessa vez parecia mais irritada do que sarcástica.
— Não, é até bom que esteja aqui...
Respondi-lhe, andando em sua direção. Entretanto, Amanda deu dois passos para trás, me fazendo entender que ela não queria que eu me aproximasse. Depois, ela apenas rolou seus olhos e os fixou em Monnie.
E seu olhar não me parecia nem um pouco amigável.
— Eu estava falando que, bem... você sabe, Monnie pode contar conosco! — disse, rígido.
— Conosco? — ela crispou a testa.
— É. — cerrei os olhos em Amanda. — Ela vai ficar aqui o tempo que for necessário.
— O tempo que for necessário...Você pode ser mais específico, Derek?
Suspirei fundo, inquieto e impaciente.
— Eu não quero atrapalhar... — Monnie murmurou baixinho.
— Se não quisesse, nem teria aparecido. — Amanda disse curta e grossa.
Olhei-a de lado e a reprovei com o olhar.
— Monnie está precisando de cuidados médicos, é meu dever...
— Seu dever? — Ela riu, afetada. — Ela não é nada sua, Derek! Essa maluca estava morta! Quer dizer... ela esteve longe por anos, por que acha que é seu dever cuidar dela?
— Por favor...
— Não, Derek! Você é um idiota! — Amanda berrou baixinho. — Ela estragou nosso casamento... — os olhos de Amanda encheram-se de lágrimas.
— Não! Não faça isso! Não entre na defensiva! — foi minha vez de elevar o tom de voz. — Mesmo quando ela apareceu, eu insisti para nos casarmos, mas você disse não! Então, por favor, não coloque a culpa apenas nela! Nós poderíamos ter nos casado, nós realmente poderíamos... você disse não.
— Você é completamente... arg! — Amanda bufou alto. — É claro que eu disse não! A sua ex-mulher, a mulher que você acreditava estar morta, reapareceu do além no dia do nosso casamento e você queria que nos casássemos? Em que mundo você vive, Derek Sant?— Amanda... — sussurrei baixinho, não sentindo mais forças para levar aquela discussão adiante. — A Monnie precisa de nós... de mim!
— Não, Derek. — Monnie disse, encarando-me visivelmente assustada. — Eu realmente posso ir embora...
— Talvez se você realmente quisesse. — alfinetou Amanda.
— Já chega! — Bufei.
Amanda saltou para trás, completamente desnorteada.
Eu sabia que havia estrapolado. Mas Amanda também era culpada por minha alteração.
— Olha, eu realmente não quero atrapalhar vocês. Com licença.
Monnie sussurrou baixinho e saiu praticamente correndo, deixando-me a sós com Amanda.
Caminhei de um lado para o outro, sentindo uma raiva súbita me invadir por completo.
— Precisava de tudo isso? — disse, tentando recuperar minha sanidade.
— Você gritou comigo, Derek! Gritou!
— Você provocou...
— Eu não admito que grite comigo! Eu não admito, ouviu bem?
Revirei os olhos, irritado.
— Eu só estou tentando te fazer entender...
— Não perca seu tempo. — ela me cortou. — Nem se eu me esforçasse para te entender, eu conseguiria. Você é incompreensível.
— Eu... me desculpe, tá legal?
Sussurrei baixinho, me aproximando de Amanda.
— Desculpe? — ela riu em meio ao choro. — É tudo que tem a me dizer?
— O quer que eu diga, afinal?
Amanda balançou a cabeça, em negação.
— Nada. — disse simplesmente. — Vou ver a Lexie.
Ela disse e saiu do quarto sem olhar para trás.
E eu não estava disposto a impedi-la. Pelo contrário, precisávamos daquele distanciamento momentâneo.
Nossos nervos estavam à flor da pele.
Sem forças para me manter de pé, sentei-me sob a cama e fechei os olhos, respirando profundamente.
De repente, flashes daquele momento que eu tanto abominava, resolveram atazanar minha mente.
Eu estava de olhos fechados, mas em meu subconsciente, reconheci o barulho das sirenes. Não era apenas uma ambulância. O som denunciava a presença de mais de uma naquele local que ainda me era desconhecido.
Esforcei-me com toda a energia que ainda sobrara em meu corpo para, de alguma forma, abrir meus olhos. Precisava ver onde estava e o que estava, de fato, acontecendo.
Tudo que vejo, em primeiro momento, é o céu azulado. Concluí que estava estendido em uma maca, o corpo virado para cima. Tudo que eu conseguia enxergar era o Céu e sua beleza imensurável.
Em questão de segundos minha visão foi preenchida por muitos rostos desconhecidos e, só então, dei-me conta da variedade de vozes que ecoavam ao redor.
— A mulher encontra-se em estado crítico. Ela está grávida também.
Uma voz feminina, em especial, destacou-se das outras. A mulher de quem ela falava, era a minha.
Minha Monnie.
— Aqui está estável, Bayors. Alguns ferimentos leves no rosto, braço e perna. Encaminharemos para o hospital agora mesmo.
Mordo os lábios, e sinto-me tonto.
— O homem está lúcido! Tragam a máscara de oxigênio, rápido! — Um deles me olha nos olhos, assustado.
Logo surgem várias pessoas me rondando.
Nunca pensei que tivesse de me esforçar tanto para balbuciar apenas algumas palavras.
A cada esforço que eu fazia para falar, sentia meu corpo travar de tanta dor.
— Eu... Eu... — Vamos, Derek, fale alguma coisa. Tento me encorajar. — Monnie... Monnie. Onde está Monnie?
A mesma mulher que falava de forma agitada, estava ali, me monitorando. Não podia ter a visão completa de sua face porque parte dela estava coberta por uma máscara verde, o que a deixava levemente assustadora aos meus olhos.
— Ouça, vai ficar tudo bem, ok? Sua esposa está sendo tratada em outra ambulância, mas faremos de tudo para que ela fique bem.
— Ela... Ela está grávida. Vamos ter uma criança, vocês... Céus! — Mordo os lábios com força. Sinto dor e quase não consigo omitir. — Ela... Salvem-os, por favor...
— Faremos de tudo, senhor. Vamos aplicar um sedativo.. Portanto, é normal que sinta um breve escurecimento na vista e que, gradativamente, caia no sono. Quando acordar, tudo estará dentro dos conformes.
Ela diz, na medida em que aplica o medicamento em mim.
Tento olhar novamente para o Céu vasto, é como se ele estivesse tão próximo que, se me esforçasse um pouco mais, poderia tocá-lo.
— Salvem a minha mulher. Ela está... Está grávida. Nós somos uma... — Minha visão fica turva tão rapidamente que isso me deixa surpreso. —...uma família.
Depois, o céu azul é tomado por uma zona de escuridão sem fim.
— Derek! Derek?
Acordei do meu transe e avistei Sabrina parada bem à minha frente.
— Oi?
— Você estava em outro mundo... — ela revirou os olhos. — O que está fazendo aqui?
— Estou só... — rolei os olhos. — Estou pensando um pouco.
— Pensando? — ela franziu a testa.
— É, é o que as pessoas costumam fazer de vez em quando, Sabrina.
Ela semicerrou seus olhos em mim e fez uma careta.
— Tão afetuoso!
— O que é que você quer? Não deveria estar na sua casa?
— Nossa, Derek! Quanta indelicadeza. Algum bicho te mordeu?
Foi minha vez de revirar os olhos.
— Eu estou bem.
— Posso ver o quanto. — disse cheia de ironia. — Posso saber o que falou para que Amanda ficasse tão aborrecida?
Cerrei meus olhos em Sabrina.
— Por que acha que eu tenho relação com seu mau humor?
— Porque sim. Você causa isso nas pessoas, irmãozinho.
Ergui-me cama já irritado pelo rumo que a conversa com Sabrina estava tomando.
— Mas que droga, eu não fiz nada, tudo bem? Amanda só está fazendo drama...
— Tem certeza?
— Tenho! — rosnei.
— Tá, tudo bem. Fique calmo, eu só estou tentando entender...
— Tentando entender?
— Você está diferente nesses últimos dias. Mais irritado e grosso que o comum. Você tinha mudado, mas está parecendo o mesmo ogro de alguns meses atrás.
Gargalhei fraco, afetado.
— Fico realmente abismado com sua forma de demonstrar carinho por mim. Obrigado.
— Disponha. — deu de ombros. — Quer um conselho?
Antes que eu pudesse negar, Sabrina apressou-se em fazê-lo.
— Eu sei que está confuso e atordoado, mas não desconte nela suas angústias. Ela também está tão confusa e atordoada quanto você. Então... — Sabrina cerrou os olhos em mim, passando-me sinceridade. — Não seja um idiota com ela. Não seja um idiota com alguém que esteve lá por você nos piores momentos. E não esqueça que você a ama, Derek. Você a ama.
— Hey, Amanda... eu sei que está ai, será que eu posso entrar?
Eu estava parado em frente ao nosso quarto, esperando a boa vontade de Amanda em me deixar entrar para, só então, tentar ter uma conversa amigável com ela.
O silêncio permaneceu instalado.
— Por favor, me deixa entrar! Eu só quero conversar!
— Essa é a questão, — finalmente sua voz soou, ainda que meio distante. — Eu não quero conversar.
— Ah, não? Prefere ficar agindo feito uma adolescente? — encostei a testa na porta e sussurrei baixo. — Nós já passamos dessa, não é?
— Derek, por favor, eu quero ficar sozinha...
— Que droga, Ama! Por favor, me escuta! Eu só quero... só quero que tudo fique bem entre nós. Por favor...
Desencostei-me da porta e respirei fundo, desnorteado com seu silêncio.
Para minha surpresa, a porta do quarto se abriu.
Amanda estava com o rosto vermelho, parecia ter chorado.
Você é um merda, Derek Sant! Meu subconsciente me condenou.
Eu sabia que, se Amanda realmente tivesse chorado, o único culpado era eu.
— Me desculpe. — falei baixinho, envergonhado por ser tão idiota. — Me desculpe por ser um idiota. Por ter tantos problemas e mais, por te envolver neles, mesmo você não tendo relação alguma com eles.
Amanda permaneceu calada.
— Eu só queria que... droga, Ama. Será que você não pode me entender? Eu estou sofrendo com tudo isso... estou fazendo o possível e o impossível...
— É simples, Derek, — ela finalmente disse. — Mande ela embora.
— O que...?
— Nós estamos apenas começando, Derek. Temos uma filha, e nós iríamos nos casar, mas... mas essa mulher... essa mulher arruínou tudo. Quer ajudá-la? Tudo bem, eu até acho justo que a ajude, no entanto, permitir que ela fique aqui, em nossa casa, eu realmente não posso aceitar isso. Se ponha no meu lugar, Derek! Isso é demais para qualquer pessoa, até para mim.
Suspirei fundo.
— Quer que fiquemos bem? Deixe-a ir.
Amanda deu alguns passos em minha direção e me olhou nos olhos.
— Então... o que me diz?
— Me desculpe, mas não posso.
— Não... pode... como assim?
— Eu fiz uma promessa e eu pretendo não quebrá-la. — disse, irredutível. — Ela vai ficar até que realmente esteja saudável para partir.
— Essa é sua última palavra? — ela disse, séria.
— É minha última palavra.
AmandaEstava no jardim, caminhando com Lexie e recebendo a brisa fria do vento de fim de tarde.Derek me ignorou durante as poucas vezes que tivemos o desprazer de nos cruzar.Mas ele não era o único, afinal de contas, eu também fiz questão de ignorá-lo.Flashes da noite anterior se passaram en minha mente:— Eu vou embora! — Gritei, sentindo-me completamente menosprezada.— Embora? — ele repetiu, a testa franzida.— É isso mesmo que ouviu. Eu vou embora.— Está se comportando como uma criança mimada, Amanda.Eu ri, com escárnio.— E você está se comportando como um idiota.
AmandaDerek continuou me encarando, seu olhar frio e distante me afrontava com raiva.Semicerrei meus olhos nele, não deixando transparecer minhas pernas trêmulas.Eu não podia vacilar. Não agora.— Derek, eu sei que quer me ajudar, mas...— Mas nada. Eu disse que você fica, não disse?Monnie balançou a cabeça positivamente.— Pois bem. Assunto encerrado. —ele revirou os olhos e, como se tivesse terminado seu "serviço", saiu andando desajeitadamente, ignorando minha existência.— Não acredito que vai me ignorar! Você &e
DerekAmanda e eu estávamos de pé desde as seis da manhã, visto que hoje nossa pequena Lexie teria de submeter-se à alguns exames e uma consulta sua pediátra.Por coincidência, o consultório de Melanie, a atual pediátra de Lexie, ficava no hospital, cujo Peter também atuava.Unindo o útil ao agradável, determinei que aquela era a oportunidade perfeita para apresentar Amanda e Lexie ao meu velho amigo de faculdade.— Eu quero que conheça alguém antes de irmos, Ama.Amanda assentiu, sorrindo de lado.Mas ela estava entretida demais com Lexie, que hoje — especialmente — estava mais hiperativa que o comum e, vez ou outra,
AmandaAntes mesmo de entrarmos em casa, podia-se ouvir perfeitamente um sonido de gargalhadas escandalosas. Eu não sabia exatamente o que viria pela frente, mas já suspeitava.Susan Sant deixou bem claro seu desprazer em me conhecer desde a primeira vez que nos vimos. Certamente isso não havia mudado com o tempo.Mas eu estava disposta a enfrentá-la. Eu mostraria a ela, a qualquer custo, que eu era uma boa pessoa. Que eu amava Derek, e não estava interessada em seu dinheiro. Isso soava tão ilógico. Por que eu tinha de provar algo para alguém que só procura os filhos com segundas intenções?Estava pronta e realmente determinada a entrar em casa, mas não pude fazê-lo, tendo em vista que Derek estava inerte, impossibilitado de
AmandaEstava recostada na poltrona que ficava ao lado do berço de Lexie.Minhas pálpebras pesavam de maneira impertinente. O que ainda me mantinha acordada era o som irritante do móbile musical que ficava pendurado acima do berço de Lex. Mesmo sonolenta, percebi a presença de Derek no quarto. Ele estava parado, reclinado à porta, um sorriso largo nos lábios.— Ela acabou de dormir. — murmurei baixinho, ainda apreensiva pelo medo de Lexie estar apenas nos enganando.Pode parecer loucura, mas nossa garotinha de quase oito meses é extremamente esperta. Ela finge que pega no sono e quando a colocamos em seu berço — que ela abomina, a propósito — a menina se manifesta chorando para ap
AmandaO dia de hoje, diferente dos outros, amanheceu mais vibrante. Especialmente para Derek. Ele estava completamente eufórico e ansioso para receber Damen. Seu irmão chegaria para ficar alguns dias conosco e essa notícia não poderia tê-lo deixado mais animado.O entusiasmo de Derek apenas salientava o quanto ele amava o irmão. Quando Damen nos informou que chegaria pela manhã, Derek fez questão de deixar a empresa nas mãos de seus sócios, somente para certificar-se de que tudo estaria impecável em sua "recepção."Vê-lo tão feliz assim me deixava mais leve. Há dias não o via desta forma, tão alegre, espontâneo e despreocupado.Sua felicidade era tão grande que me fazia pensar duas vezes em tocar no assunto de mandar Monnie embora.Eu apenas que
DerekSou o irmão mais velho.Não por escolha. Não porque eu quis. Ser o irmão mais velho, carregar todo esse peso nas costas, não é, nem de longe, facil. É terrível. Você se sente na obrigação de ser o melhor que puder. Você sente que deve se esforçar até esgotar todas as suas forças. Porque, como irmão mais velho, você deve ser um modelo a se seguir. É seu dever mostrar aos outros o certo e o errado; mostrar que nem sempre devemos nos satisfazer apenas com bom, não quando temos como possibilidade o melhor e o excelente.Desde que meu pai se foi, ele consignou à mim sua confiança. Não só isso, ele deixou comigo o encargo de minorar sua ausência para Damen e Sabrina. Me sinto na obrigaç&
Derek— Fiquei feliz por ter aceito o convite de jantar conosco, Peter. De verdade. Muito obrigado.Finalmente, após muito insistir, Peter aceitou o convite para jantar conosco.Abro a porta e dou espaço para que ele entre. Somos recebidos por Sabrina que parece ocupada demais cantarolando para Lexie.Eu pigarreio, fazendo ela desviar sua atenção para mim. Seu sorriso se dissipa quando ela coloca os olhos em Peter. Ela me encara, aparentemente furiosa.— Mas que merda é essa?— Sabrina... — rolo meus olhos. — Eu não sabia que estaria aqui...— Eu sou sua irmã