Derek
Sentei-me alinhadamente sob a confortável cadeira aveludada do consultório de meu velho amigo Peter, esperando seu retorno, na medida em que fitava atentamente o quadro abstrato que tomava conta do meu campo de visão.
Logo que Peter entrou na sala, rolei meus olhos para encará-lo. Ele forçou um sorriso e movimentou-se rapidamente até seu assento.
— Me desculpe pela demora, Derek. As coisas estão uma loucura ultimamente.
Sorri, talvez deixando transparecer minha ansiedade em ouvi-lo. Aquilo estava me matando lentamente.
— Como me pediu, eu analisei o caso com bastante atenção e, Derek, acredito estar correto em afirmar que nós estamos falando de um caso de Amnésia retrógada. Tudo pode ter sido ocasionado depois do acidente. Ou seja, tudo que se passou antes do fatídico acontecimento é apenas um borrão para Monnie. O que não a impede, é claro, de lembrar-se de memórias que antecedem o acidente. — Peter respirou fundo, se endireitou e deu continuidade: — Se há um vínculo emocional grande com determinada memória, acontecimento ou pessoa, as lembranças podem ser mais facilmente recordadas.
— Isso significa...?
— Que você é o vínculo emocional mais importante de Monnie.
— Então...
Olhei para Peter meio desnorteado, aquilo era difícil de ser digerido.
— Você quer ouvir um conselho?
Suspirei fundo, indeciso. Mas assenti, depois de ponderar por alguns segundos.
— Vá com calma, amigo. Para Monnie, tudo está sendo um tanto quanto inusitado. Ela está passando por uma situação complicada, talvez você seja a única pessoa capaz de ajudá-la a lembrar-se de quem ela é verdadeiramente. Por isso, se eu fosse você... — Peter cerrou os olhos em mim. — Eu não a desampararia agora. Não enquanto eu não tivesse certeza de que ela iria ficar bem sozinha, entende?
— Eu... — mas uma vez as palavras me faltaram.
— Não a force a recordar de nada, Derek. Deixe que as memórias voltem com naturalidade, gradativamente. Vai ser melhor não só para ela, se quer saber. — Peter soltou o ar de seus pulmões e sorriu de maneira mais leve. — Você é um bom cara. Vai conseguir lidar com essa.
Foi minha vez de sorrir cheio de gratidão.
— Meu velho amigo, como posso te agradecer, afinal?
— Amigos são para esse tipo de coisa, Sant.
Peter sorriu e retirou seu jaleco branco arquétipo.
— Mas, conte-me, como anda a vida?
— Fora isso tudo que tem acontecido? — ri de maneira nervosa. — A vida tem sido uma caixinha de surpresas, Peter. Coisas tem acontecido, coisas que eu não tenho lidado da melhor forma, mas... Há duas coisas que me motivam a continuar firme. — meus pensamentos viajaram para longe por uma fração de segundos. Eu estava ali, mas ao mesmo não estava. Porque só conseguia pensar em Amanda e Lexie. Minhas duas meninas. — Minhas meninas, Peter. São elas que me motivam a permanecer firme, sempre confiante.
— Eu imagino. Adoraria conhecer sua família, amigão.
— Você sabe que pode aparecer em minha casa quando quiser, certo? — Ergui o cenho. — Amanda, Lexie e eu o receberemos da melhor forma possível.
Peter assentiu.
— Pode deixar. Deixe-me apenas arranjar alguém para fazer companhia. Você sabe... do nosso antigo grupo de amigos da escola, eu sou o único que ainda não se casou.
Gargalhei fraco.
— Você não virar um solteirão, vai?
— Só porque não me casei, não significa que eu viva na seca sempre, meu bom amigo.
Peter riu.
— Você teve sua chance com a Sabrina.
— Por falar nela... soube que se casou, não é? Realmente lamentável que não tenha sido comigo...
— Não acho que ela sinta muito afeto por você depois da turbulenta história de amor adolescente de vocês dois. — brinquei.
— Sabrina sempre foi uma mulher bonita e atraente, Derek, é realmente uma pena não ter dado certo entre nós...
Torci a boca.
— Só para lembrar... você está falando da minha irmã, que, aliás, está bem casada.
Peter riu e assentiu freneticamente com a cabeça.
— Bom... eu tenho que ir agora, Peter. Mas o convite está de pé. Quando quiser nos visitar...
— Pode deixar. — assegurou-me cheio de marra. — Eu irei sim, quero conhecer a mulher que fisgou seu coração e sua mais nova herdeira.
— Vai ser um prazer.
Quando, cautelosamente, cruzei a porta da sala, um silêncio que há muito não se instalava em casa, tomou conta de todo o vasto cômodo.
Eu estava levemente assustado com todo aquele silêncio. Era quase como se não houvesse ninguém em casa.
Onde estavam todos, afinal?
Depositei as chaves do carro no centro de vidro localizado no meão da sala.
Subi as escadas com um cuidado quase evidente.
Olhei para o primeiro quarto do corredor, o quarto em que Monnie se apossara nesses últimos dias.
Estava silencioso e pacato. Não iria incomodá-la.
Segui para o meu quarto.
Quando abri a porta, uma escuridão absoluta tomou conta do meu campo de visão.
Mas, numa simples fração de segundos, uma luz fraca num tom alaranjado acendeu-se.
Rolei os olhos e, reencostada à parede, deparei-me com Amanda.
Ela estava vestida numa lingerie preta extremamente sexy. Um sorriso malicioso surgiu em seus lábios, bem como nos meus.
Ela caminhou lentamente e sensualmente em minha direção, puxando-me pela gravata desfrouxada.
— Posso saber o que...
Ela colocou o dedo indicador sob meus lábios, impedindo-me de concluir o que tinha a dizer.
— Não fala nada, tudo bem? Temos coisas mais interessantes para fazer.
Sem contestar, eu apenas segurei firme em sua cintura, trazendo-a para mais perto de mim.
— Mas... e a Lexie?
— Sabrina tem se mostrado uma ótima tia-babá.
Ela riu de lado.
De um jeito extremamente sexy.
De um jeito que me deixava entorpecido.
Eu precisava daquela mulher. Eu não só precisava, mas a queria mais que tudo e todas as coisas.
— Somos só eu e você, Derek.
— Só eu e você?
Ela assentiu, mordendo os lábios em seguida.
Num ato astucioso, coloquei Amanda em meus braços e, em seguida, joguei-a cuidadosamente na cama.
Imediatamente ela ajoelhou-se e arrastou-se até mim, desabotoando minha camisa.
— Você é incrível, sabia?
Ela sorriu.
— Sim, eu sei. É por isso que você me ama.
— É, eu te amo.
Estava completamente hipnotizado em Amanda. Seu rosto, seu corpo, seu cheiro, sua voz.
Tudo era viciante naquela mulher que eu tinha orgulho em chamar de minha.
Amanda puxou-me com brutalidade e colou nossos corpos ardendo em chama.
Ela selou seus lábios nos meus de maneira compulsiva, como se precisasse daquilo para sobreviver.
E eu precisava do seu beijo para viver.
— Eu te amo. — ela sussurrou baixinho.
Eu sorri entre o nosso beijo.
— Eu te amo. — devolvi.
— Te amo, Derek. — repetiu.
Sorri tomado pelo prazer que suas carícias me provocavam.
Fechei meus olhos e esforcei-me em desfrutar-me da sensação que os beijos que ela espalhava pelo meu corpo me causavam.
— Eu voltei para você.
Abri os olhos de maneira imediata, e o que vi não podia ser real.
Não era mais Amanda ali, e sim Monnie. Seus olhos azuis encaravam-me cheios de paixão.
— Viu? Eu voltei para você, agora podemos ser felizes, Derek.
— Não! — murmurei fraco, ainda paralisado pelo medo do que estava vendo. — Eu não amo mais você. — e saltei da cama, assustado e irredutível.
— O que disse?
Pisquei os olhos atordoado e, de repente, tornei a realidade. Focalizei Amanda. Ela parecia confusa, mas estou certo de que não tanto quanto eu.
O que diabos estava acontecendo comigo?
— Eu... — cocei a nuca, atordoado. — me desculpe.
— Derek, o que houve? Você está bem?
— Eu... eu preciso de um banho.
— Você quer que eu vá com você?
Sim, eu queria.
Mas estava completamente assombrado.
Neguei com a cabeça.
— Não precisa. Eu... eu só vou tomar um banho e já volto.
— Tinha que ser agora? — Amanda adotou um sorriso frustrado.
— Me desculpe, amor. — forcei um sorriso.
Ela assentiu, tristonha.
— Está mesmo tudo bem, certo?
Eu sorri - tentando parecer bem o bastante.
— Está. — aproximei-me de Amanda e depositei um beijo estalado em sua testa. — Volto em um segundo, certo?
Ela assentiu.
Quanto à mim, eu só queria uma ducha fria, daquelas que limpam até a alma. Mas, mais que isso: uma ducha fria daquelas que te acordavam e te traziam de volta para a realidade, longe dos malditos pesadelos insistentes.DerekAs noites curiosamente pareciam mais longas. A insônia também começara a fazer parte de minha rotina noturna.Como conseguir dormir tranquilamente sabendo que a mulher que você tantou amou e acreditou estar morta, estava ali, literalmente, no quarto ao lado, mais viva do que nunca?Sentei-me na cama atormentado com as perguntas sem resposta que rondavam minha mente. Respirei fundo e esforcei-me para não acordar Amanda que, diferente de mim, parecia dormir de maneira suave e tranquila.Fixei meus olhos nela.Então, como num filme de recordações, muitos de nossos momentos juntos, especialmente a primeira vez que pusemos os olhos um no outro, exibiram-se em minha cabeça.Lembrei-me com exatidão de quando descobri estar apa
Derek— Então, estou atrapalhando?Amanda repetiu, dessa vez parecia mais irritada do que sarcástica.— Não, é até bom que esteja aqui...Respondi-lhe, andando em sua direção. Entretanto, Amanda deu dois passos para trás, me fazendo entender que ela não queria que eu me aproximasse. Depois, ela apenas rolou seus olhos e os fixou em Monnie.E seu olhar não me parecia nem um pouco amigável.— Eu estava falando que, bem... você sabe, Monnie pode contar conosco! — disse, rígido.— Conosco? — ela crispou a testa.— É. — cerrei os olhos em Amanda. — Ela vai ficar aqui o tempo que for necessário.
AmandaEstava no jardim, caminhando com Lexie e recebendo a brisa fria do vento de fim de tarde.Derek me ignorou durante as poucas vezes que tivemos o desprazer de nos cruzar.Mas ele não era o único, afinal de contas, eu também fiz questão de ignorá-lo.Flashes da noite anterior se passaram en minha mente:— Eu vou embora! — Gritei, sentindo-me completamente menosprezada.— Embora? — ele repetiu, a testa franzida.— É isso mesmo que ouviu. Eu vou embora.— Está se comportando como uma criança mimada, Amanda.Eu ri, com escárnio.— E você está se comportando como um idiota.
AmandaDerek continuou me encarando, seu olhar frio e distante me afrontava com raiva.Semicerrei meus olhos nele, não deixando transparecer minhas pernas trêmulas.Eu não podia vacilar. Não agora.— Derek, eu sei que quer me ajudar, mas...— Mas nada. Eu disse que você fica, não disse?Monnie balançou a cabeça positivamente.— Pois bem. Assunto encerrado. —ele revirou os olhos e, como se tivesse terminado seu "serviço", saiu andando desajeitadamente, ignorando minha existência.— Não acredito que vai me ignorar! Você &e
DerekAmanda e eu estávamos de pé desde as seis da manhã, visto que hoje nossa pequena Lexie teria de submeter-se à alguns exames e uma consulta sua pediátra.Por coincidência, o consultório de Melanie, a atual pediátra de Lexie, ficava no hospital, cujo Peter também atuava.Unindo o útil ao agradável, determinei que aquela era a oportunidade perfeita para apresentar Amanda e Lexie ao meu velho amigo de faculdade.— Eu quero que conheça alguém antes de irmos, Ama.Amanda assentiu, sorrindo de lado.Mas ela estava entretida demais com Lexie, que hoje — especialmente — estava mais hiperativa que o comum e, vez ou outra,
AmandaAntes mesmo de entrarmos em casa, podia-se ouvir perfeitamente um sonido de gargalhadas escandalosas. Eu não sabia exatamente o que viria pela frente, mas já suspeitava.Susan Sant deixou bem claro seu desprazer em me conhecer desde a primeira vez que nos vimos. Certamente isso não havia mudado com o tempo.Mas eu estava disposta a enfrentá-la. Eu mostraria a ela, a qualquer custo, que eu era uma boa pessoa. Que eu amava Derek, e não estava interessada em seu dinheiro. Isso soava tão ilógico. Por que eu tinha de provar algo para alguém que só procura os filhos com segundas intenções?Estava pronta e realmente determinada a entrar em casa, mas não pude fazê-lo, tendo em vista que Derek estava inerte, impossibilitado de
AmandaEstava recostada na poltrona que ficava ao lado do berço de Lexie.Minhas pálpebras pesavam de maneira impertinente. O que ainda me mantinha acordada era o som irritante do móbile musical que ficava pendurado acima do berço de Lex. Mesmo sonolenta, percebi a presença de Derek no quarto. Ele estava parado, reclinado à porta, um sorriso largo nos lábios.— Ela acabou de dormir. — murmurei baixinho, ainda apreensiva pelo medo de Lexie estar apenas nos enganando.Pode parecer loucura, mas nossa garotinha de quase oito meses é extremamente esperta. Ela finge que pega no sono e quando a colocamos em seu berço — que ela abomina, a propósito — a menina se manifesta chorando para ap
AmandaO dia de hoje, diferente dos outros, amanheceu mais vibrante. Especialmente para Derek. Ele estava completamente eufórico e ansioso para receber Damen. Seu irmão chegaria para ficar alguns dias conosco e essa notícia não poderia tê-lo deixado mais animado.O entusiasmo de Derek apenas salientava o quanto ele amava o irmão. Quando Damen nos informou que chegaria pela manhã, Derek fez questão de deixar a empresa nas mãos de seus sócios, somente para certificar-se de que tudo estaria impecável em sua "recepção."Vê-lo tão feliz assim me deixava mais leve. Há dias não o via desta forma, tão alegre, espontâneo e despreocupado.Sua felicidade era tão grande que me fazia pensar duas vezes em tocar no assunto de mandar Monnie embora.Eu apenas que