LetíciaKaren, Camila e eu estamos almoçando como de costume. No entanto, naquela tarde, Karen trouxe à tona um assunto delicado.— E quando será a sua próxima consulta de pré-natal? — perguntou Karen, após uma mordida na salada.— Amanhã — respondi, sorrindo ligeiramente.Karen sorriu em resposta, mas senti que havia mais por trás de seu interesse. Após um breve silêncio, ela finalmente perguntou o que realmente a incomodava.— Letícia, você já falou com Colin sobre a consulta?Senti um aperto no peito.— Não, não falei.Camila, que até então estava quieta, não pôde conter seu comentário.— Letícia, você deveria convidar o pai do seu bebê a estar junto. Colin deixou claro que quer acompanhar todo o processo, especialmente agora que se mudou para Curitiba.Olhei para Camila, surpresa com sua firmeza. — Eu não acho que seja necessário — rebati, tentando manter a calma. — Ele não estava presente no começo e...— Mas ele quer estar presente agora, Letícia — Camila me interrompeu. — E se
ColinReceber a mensagem de Letícia me convidando para a consulta de pré-natal foi um momento de pura felicidade. Era um pequeno passo, mas significativo, e meu coração se encheu de esperança. Passei a manhã inteiro ansioso, mal conseguindo me concentrar no trabalho. Quando o relógio finalmente marcou a hora de sair, peguei as chaves do carro e saí bem antes do horário combinado, determinado a não me atrasar.No entanto, a cidade parecia conspirar contra mim. A alguns quarteirões da clínica, deparei-me com um acidente de trânsito. Os minutos passavam lentamente enquanto eu observava os carros à minha frente, preso em um engarrafamento que parecia interminável. A ansiedade começou a me consumir, o suor escorrendo pela testa, mesmo com o ar-condicionado ligado."Não posso falhar, não hoje", pensei, batucando os dedos no volante.Finalmente, após o que pareceu uma eternidade, o trânsito começou a fluir novamente. Dirigi nervosamente pelas ruas de Curitiba, cada semáforo vermelho aumentan
LetíciaEu ainda não estava completamente confortável com a ideia de ir ao apartamento de Colin, mas, de alguma forma, acabei aceitando o convite. Após o exame de ultrassom, onde pudemos ver nosso bebê, parecia um passo natural, mas a verdade é que minha curiosidade foi maior do que meu bom senso.Saber que Colin havia se mudado de vez para Curitiba, causou um misto de surpresa e curiosidade. Ele estava mesmo disposto a se aproximar, a ser presente? Essa era a pergunta que não saía da minha cabeça enquanto subíamos até o apartamento.Ao entrar, fui recebida por um ambiente acolhedor e bem decorado, de muito bom gosto. As paredes em tons neutros, a mobília moderna, tudo parecia cuidadosamente escolhido. Passei os olhos ao redor, tentando captar qualquer detalhe que revelasse mais sobre o homem que era Colin.Enquanto ele desaparecia na cozinha, continuei minha inspeção silenciosa. Havia alguns livros empilhados em uma mesa lateral, uma foto de paisagem emoldurada na parede, e um sofá c
ValquíriaO silêncio da cela era sufocante, mas eu já estava acostumada. Os dias passavam em um ritmo lento e constante, e a monotonia era quebrada apenas pelas raras visitas ou pelo ocasional barulho nos corredores. Estava absorta em meus pensamentos quando um guarda apareceu na porta, anunciando uma visita do meu advogado. Levantei-me, surpresa. Afinal, o advogado contratado por minha mãe havia desistido do meu caso.Enquanto caminhava pelos corredores, minha mente voltou ao doutor Fonseca. A imagem dele, um velho moralista e amigo de longa data da minha mãe e padrasto, surgiu com clareza. Ele nunca perdeu uma oportunidade de me dar sermões nas visitas, tentando me convencer do quanto minha atitude era horrenda. Não fiquei surpresa quando ele abandonou o caso, mas o vazio das duas últimas semanas sem visitas me deixou inquieta. Meus pais claramente não estavam empenhados em encontrar outro advogado, e Bárbara nem se deu ao trabalho de aparecer. Relembrei o quanto ela ficou furiosa
ColinApós a visita de Letícia ao meu apartamento, a inquietação me consumia. Precisava de um escape, algo para acalmar a mente. Decidi convidar Othon e Noah para alguns drinques e uma partida de cartas. Eles chegaram com o entusiasmo habitual, trazendo um pouco de leveza ao ambiente pesado dos meus pensamentos.Enquanto as cartas passavam de mão em mão, comecei a falar sobre os últimos acontecimentos. Contei como tinha sido especial acompanhar o ultrassom e ver minha filha no ventre de Letícia. A felicidade daquele momento foi algo marcante e eu precisava compartilhar isso com meus amigos.— Então, você realmente foi ao ultrassom? — Noah brincou, com um sorriso de orelha a orelha. — Quem diria que Colin, o eterno farrista, estaria agora ansioso para ser pai de família!Othon riu e concordou com Noah, mas havia um tom de sinceridade em sua voz quando disse:— É verdade, Colin. Você mudou muito, mas foi uma boa mudança. Estou feliz por você.Noah continuou a brincar, seu humor habitual
LetíciaOs últimos dias foram exaustivos no hospital. Uma forte onda de frio havia atingido Curitiba, levando várias crianças ao pronto-socorro com sintomas de resfriado, gripe e outras complicações respiratórias. Como pediatra, eu me vi sobrecarregada com a demanda, cuidando dos pequenos pacientes e tentando garantir que cada um recebesse a atenção necessária.Naquela sexta-feira, eu estava completamente esgotada. Comentei sobre isso com minha mãe durante o jantar. Rita sabia do aumento na demanda de pacientes no hospital, mas ainda assim, demonstrou grande preocupação, chegando a sugerir que talvez fosse necessário procurar o meu obstetra. — Não é necessário, mãe. Estou realmente cansada. — Respondi veementemente, mas suas palavras continuam rondando minha mente muito depois que fui para a cama.Na manhã seguinte, acordei sentindo-me ainda mais cansada. A noite mal dormida definitivamente não ajudou. Demorei mais do que o costume para levantar, sentindo o peso da exaustão em cada m
ColinQuando Letícia não respondeu à minha mensagem, fiquei profundamente chateado. Eu realmente queria que meus pais conhecessem a mulher que carregava minha filha. Não imaginava o quanto sentia falta de uma família até o momento em que meus pais vieram ao meu apartamento e sugeriram conhecer Letícia. Agora, esse encontro se tornou algo que eu ansiava desesperadamente, e a falta de retorno de Letícia me deixou inquieto.Enquanto o tempo passava sem nenhuma resposta, minha mente começou a se encher de preocupações. Será que ela estava bem? Será que algo havia acontecido? Não queria que Letícia se sentisse pressionada, mas precisava falar com ela. Após mais de uma hora sem resposta, decidi ligar.Quando ela finalmente atendeu, o tom de sua voz me atingiu como um soco no estômago. Algo estava errado, muito errado. Não perdi tempo em perguntar detalhes. Apenas peguei minhas chaves e saí o mais rápido possível, meu coração acelerado de ansiedade e medo.A preocupação por seu estado e a ne
LetíciaFechei os olhos, tentando me conter. Estava prestes a desabar em lágrimas, mas não queria fazer isso na presença de Colin. Não queria que ele soubesse o quanto estava fragilizada naquele momento, nem que se sentisse na obrigação de estar ao meu lado. Se ele continuasse no hospital, queria que fosse por desejo próprio, e não por qualquer pressão da minha parte.Quando Colin sugeriu fazer as ligações que eu precisava, quase suspirei de alívio. Não conseguia falar com ninguém naquele momento, mas desejava que minha mãe e minhas melhores amigas soubessem o que estava acontecendo. Colin também precisava saber que eu não estava sozinha, que haviam pessoas que poderiam estar ao meu lado naquele momento, o que talvez o deixasse menos pressionado.Mas tão logo ele saiu do quarto, não consegui mais conter o pranto e desabei em lágrimas. O medo era esmagador, um pavor de algo terrível acontecer com minha filha. Enquanto chorava copiosamente, segurei minha barriga de maneira protetora, co