Eduardo,A coordenadora volta com o celular no ouvido, já ligando para a polícia. Anne começa a ficar desesperada, e eu tento acalmá-la.— Calma, vamos achar ela.— A polícia está vindo. Enquanto isso, vou verificar as câmeras de segurança. — Eu digo que vou também e entramos na escola, indo até a parte da guarita, onde ficam as filmagens.Ela pede para o segurança olhar e vimos a parte em que a Sophia passa pelo corredor para ir ao banheiro. Depois entra uma funcionária de limpeza no banheiro, e somente ela sai com o carrinho. Dali, a Sophia sumiu.— Tem janela ou algo que ela possa ter passado?— Não, as janelas são quadradinhos pequenos, o máximo que passa por ali seria a mão dela.— Po...pode puxar o rosto da faxineira, por favor. — Anne pede soluçando, e quando ele puxa, até fecho os meus olhos. Foi a mãe dela.A diretora começa a se desculpar, pois as meninas da limpeza são terceirizadas da prefeitura, elas não sabem quem vem ou quem sai. A polícia chega, e mostramos a filmagem
Anne,Depois que o Eduardo sai com os policiais, me sento com ela para conversarmos.— Desculpa, eu não sei como você se chama.— Eu sou Anne, e você...— Pode me chamar de Linda, meu nome é típico de uma mãe maluca que queria colocar o nome de toda a família nele. — Sorrio e abaixo a cabeça.— Me conta a história dela, por favor.— Bom, conheci a Meg a muitos anos. Era uma mulher direita, mas se perdeu ao conhecer o pai da Sophia. Eles tiveram um... como posso chamar? Um lance, porque não era namoro, e eles ficavam sempre que ele queria. Ela era apaixonada por ele, mas ele só usava ela. Ele dizia que não queria se casar, ter família, nada disso, mas ela achou que poderia prendê-lo. Foi onde ela resolveu engravidar, furando a camisinha.Meu Deus, já até imagino como essa história vai acabar, pois o futuro dela eu estou vivenciando com a Sophia, que só sofreu em sua vida.— Ela engravidou, e ele a rejeitou. Não queria ela mais, nem pintada de ouro e deixou claro que era para ela se vir
Anne,O monitor apita, aquele som que me faz perder o chão. O coração dele parou.— Saiam! — grito, empurrando os médicos para longe. Respiro fundo, tento manter a calma para que eu possa trazer ele de volta. Minhas mãos tremem, mas sei o que fazer. Preciso manter o foco.— Uma ampola de drenalina, rápido! — minha voz sai meio rouca, mais pela urgência do que pela certeza. Seguro o desfibrilador, tentando não pensar que quem está ali, parado, sem vida, imaginando ser outra pessoa, e não o amor da minha vida. O primeiro choque. Nada. Um silêncio que faz a minha espinha gelar .— De novo! — não reconheço minha própria voz. Minhas mãos começam a suar, mas não posso perder o controle agora. — Afastam — O segundo choque. Ainda nada. Meus olhos enchem de lágrimas, mas eu as ignoro. Ele precisa de mim. Só mais uma tentativa.— Vai! De novo, anda! — grito, quase num pedido desesperado.O terceiro choque faz seu corpo sacudir de novo, e dessa vez, o bip volta, fraco, mas está lá. Ele voltou.
Anne,De repente, vejo a porta da sala de cirurgia se abrir, e o médico sai. Meu coração praticamente pula no peito. Eu levanto num impulso, quase tropeçando nos próprios pés de tão nervosa. Ele anda na minha direção e, por um segundo, parece que o mundo inteiro para.Ele chega perto, e eu prendo a respiração. Minhas mãos começam a suar mais do que antes. Ele abre a boca, e eu já estou pronta pra ouvir o pior, mas, quando ele diz "Ele está bem", parece que o chão volta pro lugar. Quase caio de alívio, mas minhas pernas ainda seguram.— A cirurgia deu certo — ele continua, com aquela voz calma que eu queria ter agora. — Ele ainda está sedado, mas vai se recuperar.Minha cabeça começa a girar com a notícia. Sinto as lágrimas caindo sem controle, mas dessa vez, não são de medo. Quero perguntar mil coisas, mas nenhuma palavra sai. Só consigo balançar a cabeça, como se isso fosse o suficiente pra expressar tudo que eu estou sentindo.— Ele vai ficar bem mesmo? — finalmente consigo falar, a
Tudo começa a voltar aos poucos, como se eu estivesse emergindo debaixo d'água. Primeiro, o som de um bip insistente. Depois, uma dor surda nas costas, que vem e vai. Tento abrir os olhos, mas tudo tá meio embaçado, pesado demais. Não sei onde tô, só sei que não tô mais naquele hotel, e algo tá errado com meu corpo, como se não fosse meu.Aos poucos, sinto meus dedos mexendo, mas é como se eu estivesse longe de mim mesmo. Ouço uma voz familiar, suave, meio desesperada, mas não consigo focar. Tento abrir os olhos de novo, e dessa vez consigo um pouco. A luz é mais fraca agora, não é aquela luz forte da sala. Eu vejo uma figura perto de mim.Minha voz sai tão fraca que nem parece minha, quase um sussurro rouco. Minha cabeça tá rodando, tentando juntar os pedaços do que aconteceu. Tudo parece um borrão.Ela tá ali, de verdade. Ela responde rápido, tá segurando minha mão, dizendo que tá comigo. Minha mente ainda tá confusa, tudo girando.Ela me explica, mas a voz dela parece longe. Eu fui
Anne,Nos primeiros dias em casa, eu não desgrudo do Eduardo nem por um segundo. Sei que ele tá melhorando, mas ainda tá fraco, e eu fico de olho em cada movimento, cada suspiro, só pra garantir que ele tá bem. Sempre levo e busco a Sophia na escola, e conto com ajuda dela na recuperação do Eduardo, ela ajuda muito.Preparo a comida dele, ajeito os travesseiros no sofá, trago remédios nos horários certos, faço questão de cuidar de tudo. Ele tenta se mexer sozinho, mas logo percebo que ainda sente dor e, mesmo sem reclamar, eu sei.— Não precisa ficar me mimando tanto, Anne — ele diz, meio rindo, tentando esconder o incômodo.— Preciso sim, quem mandou me dar esse susto? — respondo, jogando uma almofada leve nele, mas com um sorriso. No fundo, gosto de cuidar dele assim, me sinto útil, me sinto mais perto, principalmente porque se não fosse ele, aquela doida poderia ter machucado a nossa filha.Mas, conforme os dias passam, o hospital me chama de volta. As mensagens começam a chegar e,
Anne,Entro na sala de cirurgia com o coração pesado, mas tentando manter o foco. O chefe interino já tá de luvas, máscara, e a equipe toda a postos. Fico do lado, observando tudo de perto, mesmo com a raiva fervendo dentro de mim. Queria estar ali, conduzindo a cirurgia, mas ele me tirou essa chance. Agora, só posso assistir e esperar o melhor.A cirurgia começa, e logo de cara dá pra ver que a situação é pior do que pensávamos. O sangramento tá descontrolado. O chefe tenta estancar, mas a cada segundo que passa, parece que as coisas pioram. O monitor apita mais rápido, os sinais do menino ficam instáveis, e o desespero começa a tomar conta da equipe.— Precisamos mais compressas, agora! — ele ordena, a voz ficando tensa. — Coloca mais uma bolsa de sangue também, andam! — Eu vejo a correria ao redor, mas não posso fazer nada além de assistir. Minhas mãos coçam pra ajudar, pra fazer alguma coisa, mas tô travada, impotente.De repente, o bip contínuo que eu tanto temia. O monitor mostr
Anne,Alguém bate na porta e eu mando entrar. A Helen se senta com um olhar preocupado comigo, vendo o meu estado.— Oh, Anne, me conta o que está acontecendo com você, minha amiga?— Como pode tudo mudar de repente? Antes eu trabalhava todas as noites, uma noite como enfermeira, outra como socorrista. Mesmo ficando todos os meses a beira do vermelho, eu tinha paz, tinha sossego, ninguém tentava contra a minha vida e nem contra mim.Pondero um pouco, respirando fundo e soltando o ar com tranquilidade, tentando me acalmar por dentro.— Mas aí, conheci o Eduardo e tudo virou de ponta cabeça. Ganhei ele, ganhei a Sophia, ganhei até um bebezinho, mas o perdi. Como uma vida pode mudar tanto, Helen? Me diga.— Eu não sei, amiga. — Ela puxa a cadeira e se senta do meu lado. — Mas de uma coisa eu sei: você é forte, é lutadora, nada te derruba e quando tentam, você passa a rasteira antes. Pode ser que tenha acontecido isso tudo com você, ou até mais, mas quem está aqui agora é você. Se tiver q