Eduardo,Depois de uma noite exaustiva, enfim o dia amanhece e o meu plantão acaba. Passo em alguns leitos para ver se o medicamento está fazendo o efeito esperado, e fico contente com o resultado. Quando estou saindo do último quarto, a enfermeira barra em mim e eu a seguro para não cair.Me lembro que aconteceu a mesma coisa com a Anne, e eu só a seguro por causa do reflexo. A coloco no lugar, e ela me agradece sorrindo. Olho para trás e vejo a Helen de braços cruzados com a cara feia. Ergo as mãos e saio de perto dela para ir me trocar e voltar para minha casa, onde a minha esposa me espera.Tomo um banho aqui mesmo para não levar essa virose para casa, troco de roupa, e vou para casa. Um dia concluído, mas não com sucesso, pois como eu já tinha dito, é um saco sem a Anne aqui.(...)Chego em casa e a Sophia corre para os meus braços. É incrível, ela está acordada uma hora dessa. Olho para a Anne que parece que não dormiu nada. Dou um beijo na cabeça da Sophia, e ela volta a brinca
Anne,A água caía quente sobre minhas costas, mas eu não conseguia sentir nada além da dor que começou a subir pela barriga. Era uma pontada aguda, diferente de qualquer outra que eu já tinha sentido. Eu tentei ignorar, respirar fundo, mas a dor vinha em ondas, cada vez mais forte. Me apoiei na parede do chuveiro, tentando ficar de pé, mas meus joelhos começaram a fraquejar.— Não... não, por favor... — Eu sussurrei para mim mesma, como se pudesse controlar o que estava acontecendo.A cada segundo que passava, eu sentia algo errado. Uma pressão, uma angústia que não era só física. O medo tomou conta de mim, e minhas mãos tremiam enquanto eu tentava alcançar a torneira para desligar o chuveiro. Mas antes que eu conseguisse, senti algo escorrer por minhas pernas. Olhei para baixo e o pânico me atingiu como um soco no estômago. Sangue.Meu coração acelerou, e o mundo parecia desmoronar ao meu redor. — Não... não... por favor, não... — Eu comecei a gritar, mas minha voz saiu fraca, quase
Anne,Eu não queria estar aqui. O cheiro de hospital me deixava nervosa, principalmente quando eu sou a paciente, e a cada segundo que passava, parecia que meu coração batia mais forte. Eduardo segura minha mão com força, tentando me dar apoio, mas eu sabia que ele também estava quebrado por dentro. Era o nosso bebê, nosso filho, o início da nossa vida.A porta se abriu, e a médica entrou com um sorriso discreto. — Oi, Anne... Eduardo. Como vocês estão? — Ela disse, com aquele tom de voz suave que as pessoas usam quando sabem que nada está bem. Olhei para ela, tentando não desmoronar. — Acho que estamos sobrevivendo. — respondi, minha voz um pouco falha. Ela acena com a cabeça, compreensiva.— Eu sei que deve ser difícil. Hoje vamos fazer alguns exames para saber o que aconteceu, tudo bem? Só pra garantir que seu corpo expeliu todo o bebê.— Expeliu, eu vi. Não vou precisar fazer a curetagem. — Queremos saber se está tudo certo com ela, e se ela vai poder engravidar de novo. Não qu
Eduardo,Fico mais tranquilo em saber que ela não tem nenhum problema para engravidar, pode ter sido só o emocional. Ela ficou muito ansiosa para a chegada da Sophia, e está muito tensa para que nada dê errado e o juiz tire ela de nós.Eu preciso arrumar um jeito dela ficar mais calma, menos tensa e com menos medo, mas até a guarda definitiva vir para nossas mãos, eu não sei o que fazer. Não sei se a Sophia sabe do que aconteceu, mas as palavras dela dentro do carro animaram muito a Anne.Chegamos em casa, e Anne a leva direto para o banho e eu vou para o nosso quarto. Com alguns minutos, ela entra no quarto me chamando para irmos jantar. Me levanto, e pego em sua mão. Está gelada. Anne sempre teve as mãos quentes, e isso é estranho para mim.Durante o jantar, ela sempre olha para Sophia e para mim sorrindo, mas é um sorriso falso, como se ela não quisesse demonstrar fraqueza. Após o jantar, ela leva a Sophia para a cama, e quase uma hora depois ela vem para o nosso quarto.— Está tud
Anne,Assim que o Eduardo sai para buscar a Sophia, peço para a nova cozinheira fazer um café, como a nova babá não toma, ela pede um copo de suco. As outras são muito mecânicas, e esse ame pareceu mais mãe do que um robô.Levo ela até a sala e ficamos conversando, sobre coisas de crianças, até perco a noção do tempo entre as nossas conversas. Descobri que ela tem um passado, mas ela sempre fala por alto dele, nunca fala o certo, a única coisa que eu sei mesmo, é que ela tem uma filha que estava morando com a avó.A porta se abre a Sophia entra correndo, mas quando ela olha para a babá, ela arregala os olhos e sorrir gritando.— Mamãe... — Ela abraça a mulher e eu não me contenho em lágrimas, agora eu vou perder até a filha que eu tenho de coração. Ouço a voz do Eduardo, mais eu não estou aqui, estou imaginando a Sophia indo embora e me deixando sozinha também. Até sentir os braços dele sobre o meu ombro, me fazendo olhar para ele.— O que está acontecendo?— Eu não sabia, senhora, p
Anne,— Então, depois de me drogar até não poder mais, ele me denunciou, e eu nem pude me defender, porque eu estava drogada. Perdi a guarda da Sophia para a mãe dele, pois eu mesma, drogada, consegui falar que ele era violento. Como não tinha meus pais, a guarda foi passada para a mãe dele, e eu fui transferida para uma clínica de reabilitação. Com a ajuda dos médicos, eu consegui me livrar da abstinência da droga, e eles me deram o certificado e eu voltei a morar com a minha amiga, que me deixou ciente de tudo que aconteceu. Só não sabia quem tinha adotado a Sophia. Eu juro por tudo que é mais sagrado, minha intenção era trabalhar, juntar dinheiro para procurar pela minha filha.Me levanto do sofá e vou até o banheiro, e o Eduardo vem atrás de mim. Eu coloco minhas mãos sobre a pia e começo a chorar. Ela não largou a filha, não abandonou, não deixou a filha para trás para ir usar drogas. O que eu vou fazer?— Anne, você não precisa aceitar ela se não quiser. A lei está a nosso favor
Anne,Na manhã do dia seguinte, Eduardo sai para resolver algumas pendências e eu fico observando cada movimento dela. Cada vez que ela ajeita o cabelo da minha filha. Sim, minha filha, que fique bem claro. Meu coração acelera de uma forma estranha. Ela sorri pra menina e, por um segundo, a cena parece... natural demais. Eu não gosto disso.– Você tem certeza que ela tomou o escovou os dentes direitinho? – eu pergunto, fingindo estar distraída, mas meu olhar fixo diz tudo. Sei que ela escovou, eu mesma ajudei ela, mas preciso me saber se ela está atenta.A babá, ou melhor, a mãe biológica, sorri com aquele jeito calmo e balança a cabeça concordando e faz a Sophia abrir a boca para mostrar os dentes. Fecho os meus olhos para me acalmar, lembrando que ela não pode tirar a Sophia de mim. Eu observo a forma como ela pega a boneca preferida da minha filha, como se conhecesse cada detalhe, cada gosto, como se ela conhecesse a Sophia mais do que eu, o que não é mentira. Sophia tem dias na m
Eduardo,Vim no centro da cidade para comprar algumas coisas que estou precisando. Quando estou quase terminando as compras, Anne me liga. Fico sem reação de primeiro com as suas palavras, pois foi ela mesma que aceitou a babá.— O que aconteceu?— Eu... Eu tenho medo, eu não posso perder ela também, não vou suportar. Eu passei o dia preocupada com ela perto da Sophia e de ter o carinho dela todo para ela. Tenho medo que ela convença a Sophia de ir embora... Aí, Eduardo, são tantas coisas.— Já estou entrando no carro, e estou indo para aí. Me espera que vamos dar um passeio e vamos conversar melhor, está bem?Ela diz sim e desliga o telefone. Anne está perdendo a sua essência depois da perda do nosso filho, e o pior que eu não sei o que fazer para ela voltar a ser o que era antes. Alguns minutos depois chego na escola, vim praticamente voando para ela não ficar muito tempo esperando.Paro o meu carro na frente do dela, e ligo para que ela me siga. Ela vem e eu a levo até uma sorveter