Carolina
A fúria latente queimando qualquer resquício da minha consciência comandando todos os meus passos em direção a sandice obscura em mal tratar-lhe a carne, preciso ver com os próprios olhos sua imoralidade se tornando uma culpa apesar de duvidar que o demônio possa sentir algo diante do próprio pecado. Orei, a todos os deuses, implorei a cada um dos arcanjos ditos divinos pela bíblia para que esses sentimentos fossem expurgados da minha alma, excomungados do meu coração e repudiados pela minha moral.
Descobri de maneira tardia que sou prisioneira dos meus pecados, cada passo nesse corredor escuro é como um passo no caminho para luz, apesar de estar indo na direção do inferno em busca do gerador dos meus tormentos. A madeira que reveste a lâmina pesada da faca chef, transforma a garota em uma mulher vingativa, rancorosa e ciumenta.
Observo a inabitual luz escapando pelo espaço da porta aberta, atraindo-me para o lar da besta, o silêncio da mansão em nada se compara as vozes enlouquecidas da minha mente gritando, brigando, disputando um lugar sem saber como falar ou como agir, deixando apenas o imoral tomar conta e guiar os meus passos. Meus pés descalços tocam o carpete, atravesso o beiral da porta sem quebrar o silêncio, a pouca luz que ilumina vem do closet e da lua que invade pela varanda aberta, as pesadas cortinas nem ao menos se movem com o vento frio.
Já o alvo do meu desassossego respira profundamente deitado no meio da cama entre os lençóis de seda no tom marfim, o painel combinando com o estrado de madeira rústica trabalhados formando ondas que levam ao brasão esculpido no painel logo acima da cabeça dele. Seu corpo divino desnudo, exposto, coberto apenas pela calça de moletom deixando as tatuagens traçadas em cada uma das curvas do peitoral os piercings nos mamilos brilhando e a barriga plana, os pelos escuros abaixo do umbigo levando ao cós da calça. As mãos enfeitadas pelos anéis de prata o maxilar marcado e o brinco de diamante na orelha direita.
Sim, o epitome da minha fraqueza, destruidor de cada um dos meus sonhos de princesa, aquele que derrubou o castelo do que imaginei ser o mundo ou a esperança em viver dias melhores. Ao seu lado, sou apenas mais uma, apenas uma mortal desgarrada do rebanho corrompida diante da beleza ilusória que reveste a maldade crua desse homem.
Outra onda de vento enche o quarto, acordando-me das minhas lamurias, trazendo de volta a fúria, o ódio, a insanidade, em passos rápidos corto a distância e estou em cima do seu quadril na cama imobilizando parte de seu corpo com a ponta da faca contra o lado direito do peito dele, pois até nisso o diabo foi amaldiçoado nascendo com o coração no lado contrário. Os orbes verdes analisam a minha face, talvez a surpresa mas não, nada é capaz de surpreende-lo.
— Faça o que veio fazer Carolina. — Não é um pedido mas uma ordem e isso me revolta de uma maneira incontrolável.
Com a ponta da faca cravo fundo em seu peito, rasgando a carne de uma maneira desleixada, fazendo o formato que desejo, seus grunhidos contidos por entre os dentes não passam despercebido pela maníaca que deseja ver sua agonia. Sinto os batimentos contra os meus ouvidos completamente perdida para o sangue que verte da pele tatuada, deixando uma marca minha da única maneira com a qual ele pode se lembrar de mim, em uma cicatriz cheia de ódio e ciúmes. A letra do meu nome sob seu maldito coração de pedra, quando finalmente termino de esculpir ergo o olhar para os seus orbes, o olhar de um demônio sua mão enorme recobre meu pulso apertando com força fazendo a faca cair em cima dos lençóis.
— Não deseja me matar Carol? — Sua pergunta é um teste a minha sanidade, mas acima de tudo uma questão sobre a quão perdida estou.
— Não.
—Então veio aqui para fazer um C no meu peito. — Ergue a sobrancelha— Tsc tsc achei que seria mais criativa amore mio.
— E fui... — Abro um sorriso que provavelmente causará a minha morte. — Enquanto estava conversando com o seu irmão.
No mesmo instante seu semblante se transforma, de um belo anjo questionador para o verdadeiro demônio que consome cada uma das minhas energias, aquele que quebrou a minha inocência. Em um movimento rápido os fios dos meus cabelos ficam envolvidos nos seus dedos deixando meu pescoço exposto para a língua traiçoeira que percorre a artéria com maestria atiçando a devassidão para brincar.
Envolvida pelos lábios quentes e fogosos tomando tudo da minha boca incendiando meu corpo com prazer, o sangue se tornando seco entre nós fazendo parecer que nada tão grave havia acontecido, um lapso meu pensar isso, pois o clique metálico foi alto o suficiente para cortar a onda de luxuria.
Separamos nossas bocas sem fôlego ao mesmo tempo que tentei puxar ele de volta ficou presa, percebendo o metal em volta do meu pescoço. Incrédula tentei outra vez, seu olhar em nenhum momento desviou do meu, frio, quente, punitivo, raivoso. Estava tão ocupada em senti-lo envolvida no seu manto de pecado que não percebi seus movimentos calculados.
—Te avisei para não falar com nenhum homem, essa é a sua punição. — A declaração da voz firme e fria.
O lugar nem é mais desconhecido de tantas vezes que acabei vindo parar aqui nos últimos meses, mas não é o suficiente para aplacar a fúria.
—Eu sou a porra da sua esposa e não um cão — Grito completamente irritada por seguirmos nesse ciclo vicioso.
O homem se movimenta como um animal prestes a atacar a presa e no caso, sou a porra da presa que se sente doente de desejo por ele. Necessitando novamente dos seus toques, querendo continuar de onde paramos, mas magoada demais para demonstrar algum arrependimento contra as suas ordens.
—Você é minha, sua voz tem que soar para os meus ouvidos e não para qualquer merda.
—Nicklaus… - suspirei - Não me deixe presa aqui.
Senti as lágrimas se formando para implorar as engoli ciente de que tudo entre nós sempre se dará entre pagamentos infelizes de mesma proporção, nosso amor é doentio, nosso ódio é vicioso. Por isso deixei que se fosse saindo pelas escadas provavelmente em busca de descontar sua fúria em um inocente que pagara pelos meus pecados, assim, aceitei a sua punição sem relutar. O sangue seco nas minhas mãos manchando a minha pele não é apenas dele, desde que percebi o quanto estava presa sob essa escuridão passei a compartilhar do sangue derramado pelas mãos daquele diabo. Infelizes são os que cruzam o seu caminho, pois não saíram vivos ou intactos, sou a prova viva da condenação.
Trinquei os dentes porque a realidade é que a enorme letra traçada em seu peitoral antes imaculado e agora manchado pelo sangue com um formato distorcido é a mais clara evidência de que sim… sou tão doente quanto ele. E o pior de tudo é que dentro desse inferno que vivo sou completamente apaixonada pelo dono dele.
Nicklaus MikhailExiste uma lei dentro da máfia que impera sobre todas as outras, um certo clichê sobre manter os inimigos por perto e deixar claro para os amigos que suas traições não serão perdoadas, o motivo? Quando demonstramos ao outro clemência um terceiro vê esse gesto como fraqueza e incita aos demais a traição.Por isso gosto de pensar que sigo o lema de Maquiavel ao ser aquele que elege os inimigos, observo com certa necessidade o rosto pálido e incapaz de um desses tolos embaixo do meu mocassim, o sangue escorrendo pelo nariz, hematomas marcando cada pedaço da sua pele enquanto falta oxigênio em seus pulmões. Trago o cigarro bebendo da nicotina a calma que preciso para as duvidas que enchem a minha mente.— Sabe Carlo, sempre imaginei que fosse mais inteligente. — Falo cortando o silêncio, abaixando-me sobre o homem e apagando o cigarro em sua bochecha.O gemido de dor é tudo o que me excita, ademais o espetáculo em mostrar a todos como um traidor morre nunca deixa de ser p
CarolinaCertos dias deveria ter a noção de que sair de casa não é uma opção, entretanto, para uma órfã isso é impossível, principalmente quando depende de dois empregos para conseguir se manter sem precisar recorrer a venda de drogas ou prostituição, algo do qual vi muitas colegas durante o ensino médio buscarem. Hoje, mais uma vez precisei aguentar os desaforos da madame Mikhail, todos sabem com o que seu marido trabalha e mesmo que minha vontade fosse puxar seus fios um a um jamais faria algo assim.Entretanto quando o primeiro disparo soou, fui incapaz de manter o olhar no chão, no meio da testa do soldado havia uma marca de bala fazendo o sangue escorrer para a ponte do nariz, seu corpo grande e pesado caindo no chão com um baque pesado. Soltei o ar com força pensando em sobreviver a mais um dia de trabalho para poder ir a universidade pela noite, nenhuma das minhas dividas estudantis vai se pagar por milagre.Juntei forças e orei, acredito que orei pela primeira vez nos últimos
NicklausPosso sentir seus batimentos descompassados, posso sentir o cheiro do medo se misturando ao cheiro da excitação, posso estar perdendo o último resquício de lucidez que tenho ao estar segurando essa mulher desconhecida entre meus braços na frente da minha casa. Não a mansão que comprei para Mikaela, mas a minha casa da qual cresci e mantenho, Dimitri ainda mora aqui, passo mais tempo nesse lugar do que em qualquer outro. Deveria estar dando respostas aos capos sobre a morte da minha esposa, mas deixei tudo isso para que meu irmão lide enquanto estou fazendo só Deus sabe o que com essa mulher.Acabo passando o nariz pelos fios do cabelo escuro descendo lentamente para o lóbulo pequeno sem nenhum brinco observando os pelos que se arrepiam enquanto mantenho o aperto firme em volta da cintura fina.— Pelo visto você é o poço da insensatez. — A necessidade em provoca-la fala mais alto.A afasto o suficiente para mirar a confusão dentro dos seus olhos, o tom de rosa que sobe pelo se
CarolinaPrecisei segurar a respiração diante do corpo musculoso, as tatuagens feitas em tinta preta cobrindo cada pedaço da pele branca, os mamilos presos por duas pequenas argolas de aço. As mãos grandes e fortes apoiadas contra a madeira da porta, senti cada uma das batidas do meu coração retumbando contra os ouvidos admirando pelo canto do olho o maxilar trincado sem reações enquanto a agulha cortava a carne atravessando o fio finalizando um ponto, repetindo o processo mais sete vezes. Segui os conselhos dos professores sobre manter a expressão neutra a todo momento, buscando de alguma forma não transparecer o quanto estava afetada por ele. Quase gritei de alegria quando as portas foram abertas e após declarar que havia terminado, fui liberada, mesmo que para esperar do lado de fora. Respirar um pouco fora da órbita dele para clarear a mente, estava pronta para buscar alguma maneira
Carolina De alguma maneira distorcida queria poder dizer que nada disso faz sentido, mas ao beliscar a perna pela milésima vez em menos de dez minutos sentindo a dor percorrendo a carne nem ao menos consigo entender como sai da rotina costumeira em receber insultos e humilhações daquelas mulheres para estar dentro da sala de aula pensando em uma forma de driblar os homens estranhos. Aquela conversa estranha retornando a minha mente a todo momento junto com o beijo quente. As janelas e as vidraçarias deixam exposto todo o gramado da entrada em uma visão de época, a fonte no meio junto do portão de ferro fundido trabalhado no que parece ser o brasão da família. Ao redor árvores altas porem podadas o jardim bem cuidado, parecendo um palácio bem no meio do inverno. “As pessoas devem admirar essa mansão” — Acabo falando sem querer “Apenas um suicida se atreveria a vir tão longe sem autorização.” A senhora apenas apontou com a cabeça a direção do banheiro, quando sai em cima da cama t
Carolina Sinto- me uma tola por ter ao menos acreditado que poderia fugir desse pesadelo. Tantas coisas na minha vida já deram errado, ainda sinto falta dos meus pais e a vida naquele orfanato… suspiro afastando as lembranças. Preciso manter a esperança mesmo sendo difícil. Ergo a cabeça decidida a sair desse carro e ir embora, então meus olhos batem na figura misturada as sombras saindo da escuridão mesmo que sua forma fique envolta por ela. Os olhos verdes fixos na janela pela qual o observo tenho a sensação de que mesmo pro vidro escuro ele consegue saber que o observo. A face bonita fechada em uma expressão sem emoções, um movimento, um olhar e os homens ao seu redor atendem as suas ordens. Usando uma camisa de malha escura sem sentir o peso do vento frio.Os no fortes contraídos e o ar de poder deixando ele ainda mais bonito se é que é possível a crueldade se transformar em beleza. Seguro a respiração durante todo o momento, ergo as pernas para o banco de couro abraçando os jo
Shouldn't let you torture me so sweetlyNow I can't let go of this dreamI can't breathe but I feel Good enoughI feel good enoughFor you Drink up sweet decadenceI can't say no to you - Good Enough - EvanescenceCarolinaNenhuma palavra foi dita durante o restante do percurso, o silêncio se tornou incomodo, mas é a fúria impregnada nele ao sair do carro que parece simplesmente atrair o próprio rancor, passar fome, fugir de um orfanato para não ser molestada, viver nas ruas buscando abrigo das noites frias observando as pessoas ignorarem todos os meus pedidos de ajuda.Quantas vezes alguém passou e chutou o pequeno pedaço de papelão a única coisa da qual poderia usar para dormir, as mulheres revirando o rosto os homens oferecendo dinheiro como se um pedaço de papel valesse a minha dignidade.São esses pensamentos que cegam a minha consciência para a situação na qual estou, saio correndo de dentro do carro e entrando dentro da enorme mansão atrás dele, avançando contra as costas musc
Nicklaus MikhaillGrudo as costas contra a porta do quarto que mandei preparar no momento em que recebi a ligação, recordo de todas as mulheres usadas por meu pai que ficaram aprisionadas nesse lugar. Um bastardo como eu não poderia ter caído tão distante da fruta podre.Ergo as mãos observando o sangue seco, retorço os lábios em desgosto por esse inferno de dia, solto o ar e vou para o quarto nada como um bom banho para amenizar a minha raiva, embaixo do chuveiro sentindo a água gelada batendo nas costas a imagem da garota de joelhos no chão assustada volta de uma maneira excitante.O seu medo tão palpável diante da minha crueldade chega a ser excitante.Mas de alguma maneira distorcida sou tomado pela fúria cega recordando do medo presente na face tão pequena contra o chão sendo espancada, sempre adorei ver todas as faces do medo em qualquer pessoa. É como uma droga tão viciante quando endorfina, queremos sempre mais e mais.Então, porque quando Carolina sente medo de outras pessoas