Dono do meu inferno
Dono do meu inferno
Por: Julie LIon
Insanos

Carolina

A fúria latente queimando qualquer resquício da minha consciência comandando todos os meus passos em direção a sandice obscura em mal tratar-lhe a carne, preciso ver com os próprios olhos sua imoralidade se tornando uma culpa apesar de duvidar que o demônio possa sentir algo diante do próprio pecado. Orei, a todos os deuses, implorei a cada um dos arcanjos ditos divinos pela bíblia para que esses sentimentos fossem expurgados da minha alma, excomungados do meu coração e repudiados pela minha moral.

Descobri de maneira tardia que sou prisioneira dos meus pecados, cada passo nesse corredor escuro é como um passo no caminho para luz, apesar de estar indo na direção do inferno em busca do gerador dos meus tormentos. A madeira que reveste a lâmina pesada da faca chef, transforma a garota em uma mulher vingativa, rancorosa e ciumenta.

Observo a inabitual luz escapando pelo espaço da porta aberta, atraindo-me para o lar da besta, o silêncio da mansão em nada se compara as vozes enlouquecidas da minha mente gritando, brigando, disputando um lugar sem saber como falar ou como agir, deixando apenas o imoral tomar conta e guiar os meus passos. Meus pés descalços tocam o carpete, atravesso o beiral da porta sem quebrar o silêncio, a pouca luz que ilumina vem do closet e da lua que invade pela varanda aberta, as pesadas cortinas nem ao menos se movem com o vento frio.

Já o alvo do meu desassossego respira profundamente deitado no meio da cama entre os lençóis de seda no tom marfim, o painel combinando com o estrado de madeira rústica trabalhados formando ondas que levam ao brasão esculpido no painel logo acima da cabeça dele. Seu corpo divino desnudo, exposto, coberto apenas pela calça de moletom deixando as tatuagens traçadas em cada uma das curvas do peitoral os piercings nos mamilos brilhando e a barriga plana, os pelos escuros abaixo do umbigo levando ao cós da calça. As mãos enfeitadas pelos anéis de prata o maxilar marcado e o brinco de diamante na orelha direita.

Sim, o epitome da minha fraqueza, destruidor de cada um dos meus sonhos de princesa, aquele que derrubou o castelo do que imaginei ser o mundo ou a esperança em viver dias melhores. Ao seu lado, sou apenas mais uma, apenas uma mortal desgarrada do rebanho corrompida diante da beleza ilusória que reveste a maldade crua desse homem.

Outra onda de vento enche o quarto, acordando-me das minhas lamurias, trazendo de volta a fúria, o ódio, a insanidade, em passos rápidos corto a distância e estou em cima do seu quadril na cama imobilizando parte de seu corpo com a ponta da faca contra o lado direito do peito dele, pois até nisso o diabo foi amaldiçoado nascendo com o coração no lado contrário. Os orbes verdes analisam a minha face, talvez a surpresa mas não, nada é capaz de surpreende-lo.

— Faça o que veio fazer Carolina. — Não é um pedido mas uma ordem e isso me revolta de uma maneira incontrolável.

Com a ponta da faca cravo fundo em seu peito, rasgando a carne de uma maneira desleixada, fazendo o formato que desejo, seus grunhidos contidos por entre os dentes não passam despercebido pela maníaca que deseja ver sua agonia. Sinto os batimentos contra os meus ouvidos completamente perdida para o sangue que verte da pele tatuada, deixando uma marca minha da única maneira com a qual ele pode se lembrar de mim, em uma cicatriz cheia de ódio e ciúmes. A letra do meu nome sob seu maldito coração de pedra, quando finalmente termino de esculpir ergo o olhar para os seus orbes, o olhar de um demônio sua mão enorme recobre meu pulso apertando com força fazendo a faca cair em cima dos lençóis.

— Não deseja me matar Carol? — Sua pergunta é um teste a minha sanidade, mas acima de tudo uma questão sobre a quão perdida estou.

— Não.

—Então veio aqui para fazer um C no meu peito. — Ergue a sobrancelha— Tsc tsc achei que seria mais criativa amore mio.

— E fui... — Abro um sorriso que provavelmente causará a minha morte. — Enquanto estava conversando com o seu irmão.

No mesmo instante seu semblante se transforma, de um belo anjo questionador para o verdadeiro demônio que consome cada uma das minhas energias, aquele que quebrou a minha inocência. Em um movimento rápido os fios dos meus cabelos ficam envolvidos nos seus dedos deixando meu pescoço exposto para a língua traiçoeira que percorre a artéria com maestria atiçando a devassidão para brincar.

Envolvida pelos lábios quentes e fogosos tomando tudo da minha boca incendiando meu corpo com prazer, o sangue se tornando seco entre nós fazendo parecer que nada tão grave havia acontecido, um lapso meu pensar isso, pois o clique metálico foi alto o suficiente para cortar a onda de luxuria.

Separamos nossas bocas sem fôlego ao mesmo tempo que tentei puxar ele de volta ficou presa, percebendo o metal em volta do meu pescoço. Incrédula tentei outra vez, seu olhar em nenhum momento desviou do meu, frio, quente, punitivo, raivoso. Estava tão ocupada em senti-lo envolvida no seu manto de pecado que não percebi seus movimentos calculados.

—Te avisei para não falar com nenhum homem, essa é a sua punição. — A declaração da voz firme e fria.

O lugar nem é mais desconhecido de tantas vezes que acabei vindo parar aqui nos últimos meses, mas não é o suficiente para aplacar a fúria.

—Eu sou a porra da sua esposa e não um cão — Grito completamente irritada por seguirmos nesse ciclo vicioso.

O homem se movimenta como um animal prestes a atacar a presa e no caso, sou a porra da presa que se sente doente de desejo por ele. Necessitando novamente dos seus toques, querendo continuar de onde paramos, mas magoada demais para demonstrar algum arrependimento contra as suas ordens.

—Você é minha, sua voz tem que soar para os meus ouvidos e não para qualquer merda.

—Nicklaus… - suspirei - Não me deixe presa aqui.

Senti as lágrimas se formando para implorar as engoli ciente de que tudo entre nós sempre se dará entre pagamentos infelizes de mesma proporção, nosso amor é doentio, nosso ódio é vicioso. Por isso deixei que se fosse saindo pelas escadas provavelmente em busca de descontar sua fúria em um inocente que pagara pelos meus pecados, assim, aceitei a sua punição sem relutar. O sangue seco nas minhas mãos manchando a minha pele não é apenas dele, desde que percebi o quanto estava presa sob essa escuridão passei a compartilhar do sangue derramado pelas mãos daquele diabo. Infelizes são os que cruzam o seu caminho, pois não saíram vivos ou intactos, sou a prova viva da condenação.

Trinquei os dentes porque a realidade é que a enorme letra traçada em seu peitoral antes imaculado e agora manchado pelo sangue com um formato distorcido é a mais clara evidência de que sim… sou tão doente quanto ele. E o pior de tudo é que dentro desse inferno que vivo sou completamente apaixonada pelo dono dele.

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