Capítulo 47 - AngelaEu ainda estava com ódio de Marco e de mim por minha estupidez, não havia sequer conseguido dormir e antes mesmo que o sol raiasse eu tinha saído de casa com Enrico e Alessia, os levando para o próximo destino de suas vidas longe de mim.Levei apenas dois soldados, tinha treinado com esses homens e sabia muito bem que eles os protegeriam com suas vidas se necessário.Me despedir deles foi a coisa mais difícil que já fiz e no momento mais difícil da minha vida. Eram tempos sombrios e mesmo que não estivéssemos em guerra ou esperando um ataque, eu sentia como se não pudesse confiar em mais ninguém.Melissa tinha sido a minha confidente desde o começo, a única que foi sincera comigo e eu a perdi, perdi para a maldita mulher cega que foi minha mãe. E Marco havia quebrado mais um pouco o meu coração, me mostrando que eu não podia acreditar mais nele.Todo o meu chão havia sido arrancado de mim em uma única noite, me deixando arrependida de tê-lo escolhido, foi o que e
Eu estava vivendo o meu maior pesadelo e tive a certeza quando bati meu celular contra a mesa com força depois do vídeo que Filippo havia acabado de enviar. Vê-la pendurada por correntes, com seu corpo machucado e sangue cobrindo sua pele, tinha me revirado o estômago.— Por que caralhos não o acharam ainda, porra? — gritei com meus homens e vi até mesmo Frank se contorcer no canto.Ele deveria estar em casa, ou em qualquer outro lugar, lidando com o próprio luto, mas se prontificou a ajudar com a desculpa de que precisava manter a mente ocupada.— Não deveria ficar olhando isso, ele só quer mexer com sua cabeça…— Deveria ser eu no lugar dela, Angela não deveria estar passando por nada disso. — Gritei, interrompendo meu irmão. — Isso é meu castigo, é a minha punição por afastá-la de mim.— Não se culpe tanto, ela sabia dos riscos em sair sozinha.— Ela estava com raiva de mim e por isso agiu assim, eu parti seu coração na noite passada, queria fazê-la sofrer como eu estava sofrendo n
Todo meu corpo doía, mesmo com todas as enfermeiras jurando que estavam me dando o máximo de morfina que podiam. Frank, Nero e ele, não haviam me deixado nem por um instante desde que acordei, fui levada a todos os lugares daquele hospital para exames, testes e suturas.— Boa noite. — O doutor de confiança da família entrou olhando para os homens e depois para a prancheta em suas mãos, sem ter a coragem de me olhar. — Você está com algumas costelas quebradas, algumas feridas no canal vaginal e anal, assim como no colo do útero, mas todas serão tratadas e logo estará completamente recuperada. Mais para frente poderemos pensar em uma forma de reconstituir a parte do dedo que perdeu, no momento eu aconselho a descansar. Você teve sorte…— Sorte? — o demônio agarrou o doutor pelo colarinho, o empurrando contra a parede. — Como pode dizer que ela teve sorte?— Em… em não estar mor… morta, senhor.— Por que está agindo assim? — questionei, ganhando a atenção de todos no quarto, pois desde o
Ela estava de pé, finalmente e conversando com alguém, mesmo que fosse apenas com Nero. Os cinco dias em que Angela ficou no hospital, eu não consegui evitar ir até lá e ficar do lado de fora do seu quarto. Parte era culpa, eu sabia, e outra parte, preocupação do que viria a seguir.As lembranças de minha mãe pedindo para morrer não saíram da minha mente e eu temia que Angela fizesse o mesmo.Na primeira noite em que seus gritos ecoaram daquela por trás daquela porta, eu a abri no mesmo instante e corri até ela, só para ver meu doce e inocente anjo gritando e se debatendo enquanto dormia. Saber que a única forma que ela conseguia descansar era sendo sedada acabava comigo.Mas eu estava feliz que ela havia decidido deixar o hospital, era o primeiro dia dela longe daquele lugar e de volta a nossa casa, eu queria que tudo saísse perfeito.“Ela viu você e reconheceu seu perfume.” A mensagem de Nero chegou ao meu celular segundos depois que o carro deixou o estacionamento do hospital. Foi
Eu não brinquei quando disse que se Marco quisesse me ajudar deveria me levar até Filippo, em meus pesadelos ele estava solto para me torturar, andando livremente em minha mente e plantando o medo em todos os lugares possíveis.Aquele pedaço de merda havia conseguido me destruir de dentro para fora, me afetando de formas que eu nunca pensei ser capaz. Depois da minha mãe eu havia jurado que não seria manipulada por mais ninguém, mas ali estava eu, sendo manipulada por meus medos. Vê-lo acorrentado e sofrendo me ajudaria a enfrentar meus próprios pensamentos.— Vamos para casa! — Marco ordenou, como eu já imaginava fugindo do que eu tanto queria. Eu não pensei que ele aceitaria tão rapidamente, teria que fazer isso sozinha mais tarde.Não conseguia sequer olhar para Marco sem sentir vergonha e nojo de mim mesma, assim como sentir medo dele e pavor de seu toque. Em minha mente a voz de Filippo gritava que ele ia descobrir tudo o que haviam feito comigo e o quão quebrada eu estava quando
Eu ainda estava desacreditado com tudo o que Angela tinha feito aquele homem, sempre soube que ela se tornaria como eu, sanguinária e selvagem, deixando toda esse lado sombrio aflorar. Só não tinha imaginado que isso aconteceria tao de repente.Mas não podia negar a expressão de alívio que tomava seu rosto a cada corte, cada grito que ela provocava. Angel estava tendo sua vingança e eu pude ver a expressão mais leve tomar seu rosto quando se deu conta de que o desgraçado estava morto.Infelizmente o pouco de alegria não durou, quando Filippo abriu a boca imunda ela parou na escada por um instante, antes de seguir fingindo que nada havia acontecido.— Como fiz Marco assistir tudo o que fizemos com você? Tenho certeza de que ele apreciou o show.— Me diga que não viu? — foi a primeira coisa que saiu de sua boca quando alcançamos a sala de treinamento. — Diga que não assistiu os vídeos que ele mandou.O olhar dela estava concentrado em meu rosto esperando uma resposta. Eu tinha aguardado
Tudo o que me restou era aquela sala de tortura e a de treinamento. Eu conseguia me distrair ajudando com algumas coisas do casamento que aconteceria assim que Marco voltasse, mas não era suficiente, não importava o quanto eu me cansasse durante o dia, a noite meu sono parecia não chegar.— Já está com calos nas mãos? — a voz de Frank soou atrás de mim e eu me virei bem a tempo de vê-lo entrado na sala de treinamento.— Talvez. — murmurei, sentindo meu punho doer de tantas batidas repetidas contra o saco de areia. — Mas é tudo o que eu tenho já que os soldados estavam me evitando.— Eles estão com medo da sua… brutalidade. Estão dizendo por aí que você matou três dos bastardos no dia que Marco viajou.— Isso não tem nada ver com eles, eu não os machucaria assim. — respondi voltando a focar nos socos, mas Frank apareceu na minha frente e segurou o saco de areia que pendia do teto.— Você quebrou dois dedos socando um dos vermes e não parou. — ele fez questão de me lembrar.— O doutor c
Foram as quatro semanas mais longas da minha vida, eu teria voltado antes se os confrontos lá não estivessem tão intensos, os japoneses estavam se aliando ao cartel rival, querendo ver se conseguiriam tomar o México ou parte do território de Mendoza, toda aquela confusão estava adiando a entrega da nossa droga e não podíamos deixar que continuasse por mais nenhum dia. Mas quando as notícias sobre Angela chegavam eu queria deixar aquele lugar no mesmo instante, tudo o que eu ouvia me dava a certeza de que ela estava se perdendo em sua própria dor e se tornando algo que nem mesmo ela entendia.Porém, agora eu estava de volta e isso ia ser resolvido!Assim que entrei em casa e a procurei com os olhos, percebi o quanto estava sentindo sua falta mais do que qualquer coisa. Segui o som das conversas que vinham da sala de jantar e assim que parei na entrada, meus olhos encontraram com ela, sentada à cabeceira da mesa, comendo com um curativo na testa que não estava ali quando saí.— Irmão, a