Todo meu corpo doía, mesmo com todas as enfermeiras jurando que estavam me dando o máximo de morfina que podiam. Frank, Nero e ele, não haviam me deixado nem por um instante desde que acordei, fui levada a todos os lugares daquele hospital para exames, testes e suturas.— Boa noite. — O doutor de confiança da família entrou olhando para os homens e depois para a prancheta em suas mãos, sem ter a coragem de me olhar. — Você está com algumas costelas quebradas, algumas feridas no canal vaginal e anal, assim como no colo do útero, mas todas serão tratadas e logo estará completamente recuperada. Mais para frente poderemos pensar em uma forma de reconstituir a parte do dedo que perdeu, no momento eu aconselho a descansar. Você teve sorte…— Sorte? — o demônio agarrou o doutor pelo colarinho, o empurrando contra a parede. — Como pode dizer que ela teve sorte?— Em… em não estar mor… morta, senhor.— Por que está agindo assim? — questionei, ganhando a atenção de todos no quarto, pois desde o
Ela estava de pé, finalmente e conversando com alguém, mesmo que fosse apenas com Nero. Os cinco dias em que Angela ficou no hospital, eu não consegui evitar ir até lá e ficar do lado de fora do seu quarto. Parte era culpa, eu sabia, e outra parte, preocupação do que viria a seguir.As lembranças de minha mãe pedindo para morrer não saíram da minha mente e eu temia que Angela fizesse o mesmo.Na primeira noite em que seus gritos ecoaram daquela por trás daquela porta, eu a abri no mesmo instante e corri até ela, só para ver meu doce e inocente anjo gritando e se debatendo enquanto dormia. Saber que a única forma que ela conseguia descansar era sendo sedada acabava comigo.Mas eu estava feliz que ela havia decidido deixar o hospital, era o primeiro dia dela longe daquele lugar e de volta a nossa casa, eu queria que tudo saísse perfeito.“Ela viu você e reconheceu seu perfume.” A mensagem de Nero chegou ao meu celular segundos depois que o carro deixou o estacionamento do hospital. Foi
Eu não brinquei quando disse que se Marco quisesse me ajudar deveria me levar até Filippo, em meus pesadelos ele estava solto para me torturar, andando livremente em minha mente e plantando o medo em todos os lugares possíveis.Aquele pedaço de merda havia conseguido me destruir de dentro para fora, me afetando de formas que eu nunca pensei ser capaz. Depois da minha mãe eu havia jurado que não seria manipulada por mais ninguém, mas ali estava eu, sendo manipulada por meus medos. Vê-lo acorrentado e sofrendo me ajudaria a enfrentar meus próprios pensamentos.— Vamos para casa! — Marco ordenou, como eu já imaginava fugindo do que eu tanto queria. Eu não pensei que ele aceitaria tão rapidamente, teria que fazer isso sozinha mais tarde.Não conseguia sequer olhar para Marco sem sentir vergonha e nojo de mim mesma, assim como sentir medo dele e pavor de seu toque. Em minha mente a voz de Filippo gritava que ele ia descobrir tudo o que haviam feito comigo e o quão quebrada eu estava quando
Eu ainda estava desacreditado com tudo o que Angela tinha feito aquele homem, sempre soube que ela se tornaria como eu, sanguinária e selvagem, deixando toda esse lado sombrio aflorar. Só não tinha imaginado que isso aconteceria tao de repente.Mas não podia negar a expressão de alívio que tomava seu rosto a cada corte, cada grito que ela provocava. Angel estava tendo sua vingança e eu pude ver a expressão mais leve tomar seu rosto quando se deu conta de que o desgraçado estava morto.Infelizmente o pouco de alegria não durou, quando Filippo abriu a boca imunda ela parou na escada por um instante, antes de seguir fingindo que nada havia acontecido.— Como fiz Marco assistir tudo o que fizemos com você? Tenho certeza de que ele apreciou o show.— Me diga que não viu? — foi a primeira coisa que saiu de sua boca quando alcançamos a sala de treinamento. — Diga que não assistiu os vídeos que ele mandou.O olhar dela estava concentrado em meu rosto esperando uma resposta. Eu tinha aguardado
Tudo o que me restou era aquela sala de tortura e a de treinamento. Eu conseguia me distrair ajudando com algumas coisas do casamento que aconteceria assim que Marco voltasse, mas não era suficiente, não importava o quanto eu me cansasse durante o dia, a noite meu sono parecia não chegar.— Já está com calos nas mãos? — a voz de Frank soou atrás de mim e eu me virei bem a tempo de vê-lo entrado na sala de treinamento.— Talvez. — murmurei, sentindo meu punho doer de tantas batidas repetidas contra o saco de areia. — Mas é tudo o que eu tenho já que os soldados estavam me evitando.— Eles estão com medo da sua… brutalidade. Estão dizendo por aí que você matou três dos bastardos no dia que Marco viajou.— Isso não tem nada ver com eles, eu não os machucaria assim. — respondi voltando a focar nos socos, mas Frank apareceu na minha frente e segurou o saco de areia que pendia do teto.— Você quebrou dois dedos socando um dos vermes e não parou. — ele fez questão de me lembrar.— O doutor c
Foram as quatro semanas mais longas da minha vida, eu teria voltado antes se os confrontos lá não estivessem tão intensos, os japoneses estavam se aliando ao cartel rival, querendo ver se conseguiriam tomar o México ou parte do território de Mendoza, toda aquela confusão estava adiando a entrega da nossa droga e não podíamos deixar que continuasse por mais nenhum dia. Mas quando as notícias sobre Angela chegavam eu queria deixar aquele lugar no mesmo instante, tudo o que eu ouvia me dava a certeza de que ela estava se perdendo em sua própria dor e se tornando algo que nem mesmo ela entendia.Porém, agora eu estava de volta e isso ia ser resolvido!Assim que entrei em casa e a procurei com os olhos, percebi o quanto estava sentindo sua falta mais do que qualquer coisa. Segui o som das conversas que vinham da sala de jantar e assim que parei na entrada, meus olhos encontraram com ela, sentada à cabeceira da mesa, comendo com um curativo na testa que não estava ali quando saí.— Irmão, a
Meu pai me conduziu pelo corredor da igreja e as centenas de convidados divididos dos dois lados do corredor me encaravam, Cosa Nostra de um lado, 'Ndrangheta do outro, os olhares observadores em mim, alguns com pena, outros com cobiça e aqueles que eu não conseguia decifrar, mas todos estavam ali vendo a virgem vestida de branco, sendo entregue ao próximo dono pelo próprio pai.Olhei para o final do corredor, onde Filippo estava em pé. Alto e forte, com um sorriso doentio nos lábios, me esperando como se fosse o momento mais feliz da vida dele.Talvez fosse para ele, mas para mim seria o meu fim.Meu pai me puxou e minhas pernas pareciam me carregar em seu próprio ritmo enquanto meu corpo tremia de nervoso. Pétalas de rosas vermelhas cobriam meu caminho, amaciando meu caminho para um futuro duro e triste.Eu sabia o quanto Filippo era horrível e que jamais me respeitaria, eu seria apenas um pedaço de carne, um corpo onde ele poderia se enterrar, um recipiente para carregar seus filho
Angela me olhava aterrorizada, com as mãos estendidas em frente ao corpo tentando manter alguma distancia entre nossos corpos, mesmo que a um segundo atrás ela estivesse com o corpo aconchegado contra o meu, tão relaxada depois de ter sido salva, que eu conseguia sentir cada curva dela.Não foi difícil encontrar a mulher de branco caída no chao, sendo pisoteada por todos os outros a sua volta. Um minuto antes de entrarmos ali ela era a salvação deles de uma guerra ou da total ruína, Angela estava ali para se casar pela famiglia e eles mostraram quanto valor isso tinha a eles: nenhum!Até mesmo o desgraçado do noivo dela não foi capaz de protegê-la, Filippo a empurrou no chão antes de correr por sua vida e eu vi tudo isso muito claramente.— O que querem? O que vão fazer comigo? — ela perguntou afobada, com a voz quase perdendo o folego enquanto olhava para o meu irmão Nero e Frank no banco ao meu lado. — Tenho certeza que papai pagará qualquer valor para me ter de volta intacta. Por f