Soquei a parede assim que Angela saiu do nosso quarto, com aquele olhar de decepção e mágoa. Mas não pude evitar dizer a verdade, não depois do que aconteceu com Melissa, ela mais do que ninguém merecia apenas o bom desse mundo sujo em que vivíamos, eu fiz de tudo para que ela não passasse por nada de ruim, que não sofresse nenhum trauma como eu e meu irmão sofremos. E no fim das contas tudo o que fiz a levou a ser morta na própria casa.Jamais me perdoaria por isso, ter trazido nossos inimigos para casa foi o que causou a morte da minha irmã. A culpa não era de Angela, era inteiramente minha por ter permitido que a mãe dela continuasse naquela casa.Eu quis machucá-la, quebrar seu coração, deixá-la sem chão assim como me sentia naquele momento, mesmo que não a culpasse eu quis machucá-la por isso disse todas aquelas coisas.O meu tormento parecia não ter fim, quando eu pensava que havia me livrado de um problema acabava arrumando outros dois. Agora enquanto eu lidava com a tomada do
Capítulo 47 - AngelaEu ainda estava com ódio de Marco e de mim por minha estupidez, não havia sequer conseguido dormir e antes mesmo que o sol raiasse eu tinha saído de casa com Enrico e Alessia, os levando para o próximo destino de suas vidas longe de mim.Levei apenas dois soldados, tinha treinado com esses homens e sabia muito bem que eles os protegeriam com suas vidas se necessário.Me despedir deles foi a coisa mais difícil que já fiz e no momento mais difícil da minha vida. Eram tempos sombrios e mesmo que não estivéssemos em guerra ou esperando um ataque, eu sentia como se não pudesse confiar em mais ninguém.Melissa tinha sido a minha confidente desde o começo, a única que foi sincera comigo e eu a perdi, perdi para a maldita mulher cega que foi minha mãe. E Marco havia quebrado mais um pouco o meu coração, me mostrando que eu não podia acreditar mais nele.Todo o meu chão havia sido arrancado de mim em uma única noite, me deixando arrependida de tê-lo escolhido, foi o que e
Meu pai me conduziu pelo corredor da igreja e as centenas de convidados divididos dos dois lados do corredor me encaravam, Cosa Nostra de um lado, 'Ndrangheta do outro, os olhares observadores em mim, alguns com pena, outros com cobiça e aqueles que eu não conseguia decifrar, mas todos estavam ali vendo a virgem vestida de branco, sendo entregue ao próximo dono pelo próprio pai.Olhei para o final do corredor, onde Filippo estava em pé. Alto e forte, com um sorriso doentio nos lábios, me esperando como se fosse o momento mais feliz da vida dele.Talvez fosse para ele, mas para mim seria o meu fim.Meu pai me puxou e minhas pernas pareciam me carregar em seu próprio ritmo enquanto meu corpo tremia de nervoso. Pétalas de rosas vermelhas cobriam meu caminho, amaciando meu caminho para um futuro duro e triste.Eu sabia o quanto Filippo era horrível e que jamais me respeitaria, eu seria apenas um pedaço de carne, um corpo onde ele poderia se enterrar, um recipiente para carregar seus filho
Angela me olhava aterrorizada, com as mãos estendidas em frente ao corpo tentando manter alguma distancia entre nossos corpos, mesmo que a um segundo atrás ela estivesse com o corpo aconchegado contra o meu, tão relaxada depois de ter sido salva, que eu conseguia sentir cada curva dela.Não foi difícil encontrar a mulher de branco caída no chao, sendo pisoteada por todos os outros a sua volta. Um minuto antes de entrarmos ali ela era a salvação deles de uma guerra ou da total ruína, Angela estava ali para se casar pela famiglia e eles mostraram quanto valor isso tinha a eles: nenhum!Até mesmo o desgraçado do noivo dela não foi capaz de protegê-la, Filippo a empurrou no chão antes de correr por sua vida e eu vi tudo isso muito claramente.— O que querem? O que vão fazer comigo? — ela perguntou afobada, com a voz quase perdendo o folego enquanto olhava para o meu irmão Nero e Frank no banco ao meu lado. — Tenho certeza que papai pagará qualquer valor para me ter de volta intacta. Por f
Ficar naquele carro rodeada daqueles homens só me fazia lembrar do meu encontro com Filippo na noite que fomos oficialmente apresentados como noivos. Mesmo que por um segundo eu quase tivesse esquecido de toda a maldade que eles podiam fazer, apenas por ouvir eles falando que uma suposta mulher não era uma submissa completa.Mas era claro que aquilo era só uma distração, uma forma de me deixar cair fácil nas garras da Camorra, e eles terem falado mal do meu pai e de Filippo era uma prova disso, queriam me fazer passar para o lado deles, mas isso não ia acontecer! Por isso quando a porta do carro foi aberta eu corri.Não que eu acreditasse que meu pai e seus aliados prestassem ou fossem boas pessoas, eu sabia bem quem Giovanni Mancini era, ele me vendeu sem nem pensar duas vezes.Duvidava muito que não fossem me confundir com uma prostituta vestida como uma, afinal meu pai tinha me feito usar aquele vestidinho apertado e decotado para mostrar a Filippo o que ele ganharia com o casament
Eu não tinha ideia do que aquelas minhas palavras implicavam, mas estava falando sério, eu queria Angela ao meu lado, se tornando o terror dos nossos inimigos, colocaríamos fogo juntos no mundo se ela quisesse.Mas ela ergueu o corpo, apoiando as mãos em meu peito e se levantando, afastando-se de mim no mesmo instante. Da posição que eu estava consegui ver as longas pernas dela, pareciam tão macias e eu me perguntei se seriam tão macias quanto pareciam.— Deixe de ser indecente! — ela gritou assim que notou meu olhar tratou de empurrar o vestido de volta ao lugar, tentando fazer seu melhor trabalho em se cobrir com o vestido rasgado e amassado.Ela não tinha ideia do que era ser indecente, mas eu ia adorar levá-la na descoberta do mundo da perversidade, ensinar a ela cada coisa promiscua e indecente.— Não acho que seja errado olhar para minha futura esposa. — falei me levantando e batendo todos os cascalhos grudados em meu corpo, vendo o estrago que tinha causado em minha roupa, não
Mêses atrásEu estava diante de Giovanni Mancini, o Capo da Cosa Nostra, muito atento a qualquer movimento dele, afinal sabia que ele era capaz de muitas coisas.A última vez que nossa gente tinha se encontrado foi há dois anos, quando selamos nossa trégua para focarmos nos nossos inimigos em comum, na época meu pai ainda era o Capo da Camorra, agora esse titulo era meu e o assunto é ainda mais urgente.— Os russos estão fazendo alianças, se casando e unindo as organizações. Não podemos ficar apenas os atacando para na próxima semana enviarem mais de seus homens para cá. — falei calmo e direto, meus dedos entrelaçados sobre a mesa, demonstrando uma tranquilidade que eu não sentia, afinal ainda éramos inimigos mesmo em trégua.— Concordo com você. Soube que eles estão fazendo laços com os carteis e estão com planos de se juntar aos japoneses, não podemos deixar isso acontecer ou será uma guerra ainda mais sangrenta.Ao menos ele era sensato, eu sabia que Giovanni era implacável, não se
Quando meu pai me disse que eu ia casar com Filippo para que nós tornássemos aliados e assim pudéssemos ganhar a guerra contra os russos eu não discuti, aquela era a primeira vez que meu pai falava qualquer coisa sobre os assuntos da máfia comigo.Mulheres não deveriam saber dessas coisas, não podíamos aprender a lutar, ou ir para a faculdade. Nossa função era apenas casar, ser uma esposa atenciosa e obediente, submissa a todos as vontades do marido.Era isso que éramos ensinadas desde pequenas. Essa era a forma de garantirem que não nos envolveríamos nos negócios da famiglia, nos portaríamos como bela esposas e mães obedientes.Mas desde que eu tinha encontrado com Marco Falcone algo me impulsionava a fazer as perguntas que estavam em minha cabeça. Pela primeira vez eu não me sentia forçada a guardar meus pensamentos para mim mesma.Ele me desafiava até mesmo com o olhar e as palavras dele não saíam da minha cabeça: Você pode ser a própria Diaba da Camorra ao meu lado. Aquelas palavr