Ai Deus! Péssima hora para esse telefone resolver tocar.
Decidimos que não iamos atender, seria fácil, se o telefone não tivesse ficado tocando sem parar, nos próximos vinte minutos e desconcentrado a gente de qualquer coisa que quisessemos fazer. Desci para atender a contragosto, com Kaue emburrado atrás de mim. Dava para ver a frustração em seu rosto.Pra quem tinha que casar virgem!- Alô. - Disse com raiva evidente na voz.
- Oooô, calma, tá estressada é?- Antony...-Eu estava com saudades...- Tá ligando como?- Do orelhão oras!- Mas... Ah deixa para lá. Como estão as coisas?- Bem. A Iraí me trouxe...- Ah tá, entendi. - Revirei os olhos.- Não revire os olhos para mim.- Que... Como é que...- Quando você fala nesse tom, sei que está revirando os olhos.- Você tem certeza que tem só oito anos, garoto?- Boba. Bom, eu já matei a saudade, a Irai quer falar com você também.Quando eu desliguei o telefone, Marina estava emburrada. Ela veio com um assunto de eu falar o que a gente"quase"fez, mas por sinal, fomos interrompidos duas vezes. Eu não queria ser grosseiro com ela, precisava esfriar a cabeça. Saí de lá, não queria mais ouví-la, mas precisava ficar próximo, eu não queria deixá-la sozinha. Fiquei horas ali, resolvi voltar para dentro para ver como ela estava, mas ela não estava lá.- Marina?Subi as escadas e olhei nos quartos, olhei por todos os lados, o celular dela estava sobre a mesa da cozinha. O telefone fixo estava exatamente na mesma posição que eu havia deixado.- Marina?A essa altura o desespero já tomava conta de mim. Sai correndo pela rua procurando por ela em todos os lados, ruas e vielas. Já estava ficando maluco, quando ouvi gritos.
Galera esse início vai se passar um tempo, mas quero que ao ler vocês imaginem a cena evoluindo da última cena do capitulo anterior.Como se fosse uma continuação. -------------------------------------------------- ---- Quase quatro anos depois ...- Eu, acordei sonolenta e sorri ao notar que Kaue dormia todo enroscado em mim, o que impedia que eu fizesse qualquer movimento.
Qual não foi o desespero de Kaue ao me ver desmaiar. Ele me disse depois que não sabia se ia para cima do Léo, ou se me socorria, lógico que ele não desampararia sua esposa, acertaria as contas com Léo depois. Me colocou dentro do carro de Marcela e fomos a toda velocidade para o hospital. Fui submetida a vários exames, após ser medicada e sedada, ele me disse que pude receber apenas a sua visita. Sonolenta, ouvi a conversa dele com o médico.- Como ela está? -Melhor, mas ela tem que ficar em repouso, pois ela teve um descolamento de placenta e corre serios riscos de perder o bebê. -Não. -Sussurrei.Passei o resto da semana no hospital.Isso já estava ficando chato. No dia da alta, Kaue insistiu que precisava me levar no colo. Novidade!- Eu estou bem, Kaue, posso andar sozinha. - Não pode não. Lembre-se que o médico disse repouso absoluto.- Para quem falava que médicos n
-Aqui está o cheque.- Obrigado, senhor Valverde. - Acompanhamos homem até a porta. - Em quantos dias terei a casa desocupada? Não que eu tenha pressa, mas...- Quinze dias, no máximo. E só o tempo de arrumarmos tudo para irmos.- Ok . Então. Até mais.-Até. - Marina fechou a porta e olhou para mim.- Vendida. Agora podemos ir.Ela havia melhorado muito com a idéia de ir para a aldeia de novo, seus fantasmas estariam sempre com ela, nós sabíamos, mas suponho que lá será bem mais fácil suportá-los. Nós levaríamos apenas nossos pertences pessoais, por isso junto com a casa vendemos também todos os móveis.- Vamos, precisamos arrumar nossas coisas.-A propósito, por que disse para ele que sairiamos em quinze dias?- É que antes de ir preciso fazer uma última coisa.- O que?- Minha mãe sempre sonhou em me ver casar de noiva, e eu também tinha esse sonho...- E não tem mais?- Tenho. Só queria saber se você a
Quando cheguei a aldeia, eu descobri o motivo de querer tanto chegar até lá, quando cheguei, encontrei Antony deitado desajeitadamente em uma rede. Seu rosto estava vermelho e ele parecia delirar. O pagé estava ao seu lado com uma porção de ervas que colocava em sua testa, suponho que para ajudar a febre a ceder. Me aproximei atônita.- O que há com ele?- Antony tá muito doente. - Tá, mas o que ele tem?- Os sintomas são de febre amarela. - Não, nessa região não se tem procedência para febre amarela.Nós estavamos próximos a região da serra da cantareira, por isso eu soube no instante em que ouvi falar os sintomas o que ele tinha.- Dengue, Antony está com dengue. Eu me aproximei de Antony e toquei sua face quente pela febre. - Vai ficar tudo bem, meu amor.
Juro que achei que estava louca, toda aquela coisa de espíritos me arrepiava. Mas agora que se tratava da minha familia, não era tão dificil acreditar. Era provável que eu estivesse impressionada com o rumo dos acontecimentos e estivesse vendo coisas. Mas de qualquer maneira, eu precisava me resolver. Só não sabia ainda. Ou sabia e não tinha me dado conta. Antony, com o passar dos dias foi melhorando, mas se distanciou de mim. Falava pouco comigo e aquilo me machucava. Ele era a única parte que restava da minha familia. Passaram-se quase duas semanas desde o episódio na gruta. Eu comecei a me sentir mal. Cheguei a pensar que estava grávida, mas logo descartei a idéia.Não poderia estar grávida, faz tão pouco tempo.Mas os mal estares só pioravam e Kaue já estava ficando preocupado. O pagé disse mais de uma vez que se tratava de gravidez, mas eu não tinha como estar grávida.- Precisamos descobrir o que eu tenho. - Eu disse limpando a boca apó
Ao contrário do que pensei, os sonhos não foram embora, continuaram. Acho que são algo que faz parte de mim. Mas agora quando sonho, vejo muitas coisas boas, acho que como minha mente está cheia delas, eu só tenho bons sonhos. Já se passaram seis meses desde a festa e agora tem alguns tipos de carne que eu não posso comer, não que eu planejasse comer carne de tamanduá, e tal, mas a gente nunca sabe, e olha só, os remédios passaram a fazer efeito, a partir do momento em que eu deixei de esquecer de tomá-los.Isso mesmo, esquecia, como muitas mulheres.Iraí passou a me trazer todos os dias o chá preparado pelo seu pai. As vezes eu pensava em não tomar, queria ser mãe, mas o medo de passar pela dor de perder outro bebê era maior.-Não vai tomar o chá Marina? - Perguntou Kaue ao vê - lo pousado sobre a mesa já frio.- Vou sim, só estou esperando esfriar.- Ou esquentar?- Como?-Nada, é que antes você tomava quente mesmo.
Eu estava paralisada, os músculos do meu corpo não me respondiam, uma vertigem me pegou desprevenida e fui amparada por mãos que não reconhecia, algo dentro de mim se desvaneceu.Um bebê? Ai meu Deus, e se acontecer de novo? Tinha várias chances para isso, não é? Apaguei e sonhei que eu tinha uma bela garotinha nos braços, ela tinha os olhos verdes como o da mamãe e os cabelos cor de carvão e a pele cor de caramelo de Kaue. Quando acordei Kaue me olhava preocupado.- O que houve? - Perguntei com a voz rouca.- Você se sentiu mal.Aos poucos as lembranças do acontecido foram voltando.- Eu...- Shh, é melhor descansar.- Mas eu...- Kaue é melhor que você vá, sabe que tem responsabilidades. Como pagé, não pode deixar suas obrigações de lado.