Ao contrário do que pensei, os sonhos não foram embora, continuaram. Acho que são algo que faz parte de mim. Mas agora quando sonho, vejo muitas coisas boas, acho que como minha mente está cheia delas, eu só tenho bons sonhos. Já se passaram seis meses desde a festa e agora tem alguns tipos de carne que eu não posso comer, não que eu planejasse comer carne de tamanduá, e tal, mas a gente nunca sabe, e olha só, os remédios passaram a fazer efeito, a partir do momento em que eu deixei de esquecer de tomá-los.
Isso mesmo, esquecia, como muitas mulheres.Iraí passou a me trazer todos os dias o chá preparado pelo seu pai. As vezes eu pensava em não tomar, queria ser mãe, mas o medo de passar pela dor de perder outro bebê era maior.-Não vai tomar o chá Marina? - Perguntou Kaue ao vê - lo pousado sobre a mesa já frio.
- Vou sim, só estou esperando esfriar.
- Ou esquentar?- Como?-Nada, é que antes você tomava quente mesmo.Eu estava paralisada, os músculos do meu corpo não me respondiam, uma vertigem me pegou desprevenida e fui amparada por mãos que não reconhecia, algo dentro de mim se desvaneceu.Um bebê? Ai meu Deus, e se acontecer de novo? Tinha várias chances para isso, não é? Apaguei e sonhei que eu tinha uma bela garotinha nos braços, ela tinha os olhos verdes como o da mamãe e os cabelos cor de carvão e a pele cor de caramelo de Kaue. Quando acordei Kaue me olhava preocupado.- O que houve? - Perguntei com a voz rouca.- Você se sentiu mal.Aos poucos as lembranças do acontecido foram voltando.- Eu...- Shh, é melhor descansar.- Mas eu...- Kaue é melhor que você vá, sabe que tem responsabilidades. Como pagé, não pode deixar suas obrigações de lado.
A mata era muito espessa, árvores imensas para todos os lados, ouvia uma música ao longe, me lembrava as festas da aldeia. Eu procurava por Antony, e não conseguia encontrá-lo, eu sabia que ele estava perto , podia sentir a sua presença.- Antony?Ouvi um barulho de passos e segui na sua direção, vi Antony a poucos passos de mim, atrás de um arbusto. Corri até ele e dei de cara com...- Grades?Eu e Antony estavamos separados por grades. Alguém vinha caminhando em sua direção. Pegou ele, tapando sua boca.-NÃAAAAAAAAAO. Kaue.Cada dia que se passava meu desespero aumentava. Como estaria minha mulher e meu filho? E o meu cunhado? Será que estão juntos? Eram muitas perguntas e nenhuma resposta que rondavam minha mente. Há dias que eu caminhava sem rumo pela mata, meus companheiros
Parece que quando a gente começa a achar que as coisas melhoraram, alguém lança um feitiço e puf, tudo desanda.Eu dormia tranquilamente ao lado dela, a abracei e senti suas mãos me apertando, abri os olhos e sorri, Marina segurava minhas mãos a frente do corpo, não parecia bem, mas preferi não comentar nada.- Como chamaremos o bebê? - Não quero pensar nisso, ainda, primeiro que não sei o que me espera, depois de tantos abortos e segundo que não sabemos se é menino ou menina.- Eu acho que é menina.- Eu também, mas gostaria que fosse um menino, para ser igual a você. - Disse Marina, sorrindo pela primeira vez desde que acordou.- Se fosse uma menina, seria linda, igual a mãe.Marina bocejou e eu acariciei seu rosto.- Estou com sono.- Durma então, amor. Ela se aconchegou em mim e fechou os olhos.- Kaue? - Sussurrou ainda com os olhos fechados.- Sim?- Quero um nome que represe
Acordei com o choro de Kaila, não dormia há dias, mas isso não me importava. Minha filha estava com dois meses e estava linda e forte, peguei - a no colo e ela se calou no mesmo momento. Coloquei o seio em sua boca e olhei para Kaue, que dormia na cama, por mais que gostasse de dormir em uma cama, aquela imagem me parecia hilaria.Uma cama dentro de uma oca...Enfim, não tive coragem de acordá-lo, ele dormia tão sereno, e Deus como ele é bonito. Terminei de amamentar minha filha e coloquei ela não berço que Kaue havia feito para ela. Me sentia estranha, exatamente como me senti no dia do acidente que matou minha familia, mas dessa vez, não achava que era ansiedade, já sabia distinguir quando tinha essa sensação, mas preferia não destinguir, porque era um presságio que algo ruim iria acontecer. Olhei para minha filha que dormia profundamente, acariciei
Por trás daquele sorriso, havia uma amargura, algo que eu não posso explicar. Eu sabia que tudo aquilo se dava pela morte de seu pai, mas parecia ter algo a mais.Ela avançou sobre mim, não me pegou de surpresa como imaginou que seria, eu havia desenvolvido um sexto sentido muito aguçado. Começamos uma luta de socos que mais parecia de dois homens do que de duas mulheres, ela me acertou com um soco no rosto e eu revidei acertando um chute no seu abdômen. Ela caiu no chão e eu subi sobre ela, continuamos com a luta corporal até que ela se desequilibrou, se eu não a segurasse ela teria caido ribanceira a baixo. Eu a segurava pendurada no penhasco e ela tentava se livrar do aperto das minhas mãos.- O que está fazendo? Deixe-me te puxar.- Você não entende. - O que eu não entendo? Deixe-me te puxar e você me explica. Ela assentiu e eu a puxei.- Então? - Ele abusava de mim...- E você matou várias pessoas da mi
A surpresa foi total na aldeia, todos achavam realmente que a proximidade dos dois era apenas amizade.Será que apenas eu vi o óbvio? Erin aos poucos tornou-se uma irmã para mim, mesmo com tudo o que aconteceu, sua devoção pelo meu irmão provava que ela realmente estava arrependida e que acima de tudo fez aquelas coisas porque estava emocionalmente abalada.Caminhávamos juntas na mata, pegavamos lenha e conversávamos sobre assuntos aleatórios, na sua grande maioria relacionados a Antony.- O que você achou realmente do meu namoro com ele?- Eu já imaginava, vocês só viviam juntos e o olhar que vocês trocavam é inconfundível.Erin sorriu.- Eu não imaginei que fosse tão óbvio...- Bom, parece que só eu notei, já que todos ficaram surpresos.- Acho que a questão não é essa. - Disse enquanto se abaixava para pegar um graveto e o colocava na pilha que eu segurava.- Então qual
No hospital, o clima era de tristeza, esperamos que o médico viesse para nos dar uma direção, precisavamos saber qual era o tipo sanguíneo de Erin para que pudéssemos procurar os possíveis doadores. O médico nos entregou uma papelada com todas as informações necessárias. Saimos apressados, não tinhamos muito tempo. Mal sabíamos por onde começar, por isso pedi a ajuda de Marcela.- Acho que podemos procurar por algo na Internet, disse Marcela, após analizar os papéis. - Mas como? - Perguntei.-Nas redes sociais, né Marina.- Boa idéia.Passamos vários dias procurando e nada, colocamos o nome de Erin e apareceu umas redes sociais que ela participava, mas não encontramos nenhum familiar, contactamos todos os amigos que ela tinha nessas redes sociais e dissemos que se pudessem fazer o exame para saber se eram doadores ou não, seria de grande ajuda, boa parte deles concordou em ir, então foram agendados dias para que pudessem ir sem
Eu não quis sair do lado dela um minuto sequer, mal podia acreditar que a garota por quem me apaixonei estava ali, inerte naquela cama. Lembro de quando ela foi morar na aldeia, eu me irritei muito com Marina, não achei que fosse uma atitude sensata da parte dela, já que Erin havia tentado matar a vovó e ela e havia consumado tal ato com Açucena. A primeira vez que ela falou comigo fui o mais hostil que consegui.- Oi.- Oi.- Eu queria...- Queria o que? Você tentou matar a minha irmã e a minha avó, desconfio que eu não tenha assunto algum a tratar com você.Ela saiu contando os passos e se apoiou numa árvore de costas para mim.- Não seja tão duro com ela.- Ela tentou te matar, vovó. - Mas não matou, e de todo jeito, ela se arrependeu.- Eu realmente não consigo acreditar no