-Aqui está o cheque.
- Obrigado, senhor Valverde. - Acompanhamos homem até a porta.- Em quantos dias terei a casa desocupada? Não que eu tenha pressa, mas...- Quinze dias, no máximo. E só o tempo de arrumarmos tudo para irmos.- Ok . Então. Até mais.-Até. - Marina fechou a porta e olhou para mim.- Vendida. Agora podemos ir.Ela havia melhorado muito com a idéia de ir para a aldeia de novo, seus fantasmas estariam sempre com ela, nós sabíamos, mas suponho que lá será bem mais fácil suportá-los. Nós levaríamos apenas nossos pertences pessoais, por isso junto com a casa vendemos também todos os móveis.
- Vamos, precisamos arrumar nossas coisas.
-A propósito, por que disse para ele que sairiamos em quinze dias?- É que antes de ir preciso fazer uma última coisa.- O que?- Minha mãe sempre sonhou em me ver casar de noiva, e eu também tinha esse sonho...- E não tem mais?- Tenho. Só queria saber se você aQuando cheguei a aldeia, eu descobri o motivo de querer tanto chegar até lá, quando cheguei, encontrei Antony deitado desajeitadamente em uma rede. Seu rosto estava vermelho e ele parecia delirar. O pagé estava ao seu lado com uma porção de ervas que colocava em sua testa, suponho que para ajudar a febre a ceder. Me aproximei atônita.- O que há com ele?- Antony tá muito doente. - Tá, mas o que ele tem?- Os sintomas são de febre amarela. - Não, nessa região não se tem procedência para febre amarela.Nós estavamos próximos a região da serra da cantareira, por isso eu soube no instante em que ouvi falar os sintomas o que ele tinha.- Dengue, Antony está com dengue. Eu me aproximei de Antony e toquei sua face quente pela febre. - Vai ficar tudo bem, meu amor.
Juro que achei que estava louca, toda aquela coisa de espíritos me arrepiava. Mas agora que se tratava da minha familia, não era tão dificil acreditar. Era provável que eu estivesse impressionada com o rumo dos acontecimentos e estivesse vendo coisas. Mas de qualquer maneira, eu precisava me resolver. Só não sabia ainda. Ou sabia e não tinha me dado conta. Antony, com o passar dos dias foi melhorando, mas se distanciou de mim. Falava pouco comigo e aquilo me machucava. Ele era a única parte que restava da minha familia. Passaram-se quase duas semanas desde o episódio na gruta. Eu comecei a me sentir mal. Cheguei a pensar que estava grávida, mas logo descartei a idéia.Não poderia estar grávida, faz tão pouco tempo.Mas os mal estares só pioravam e Kaue já estava ficando preocupado. O pagé disse mais de uma vez que se tratava de gravidez, mas eu não tinha como estar grávida.- Precisamos descobrir o que eu tenho. - Eu disse limpando a boca apó
Ao contrário do que pensei, os sonhos não foram embora, continuaram. Acho que são algo que faz parte de mim. Mas agora quando sonho, vejo muitas coisas boas, acho que como minha mente está cheia delas, eu só tenho bons sonhos. Já se passaram seis meses desde a festa e agora tem alguns tipos de carne que eu não posso comer, não que eu planejasse comer carne de tamanduá, e tal, mas a gente nunca sabe, e olha só, os remédios passaram a fazer efeito, a partir do momento em que eu deixei de esquecer de tomá-los.Isso mesmo, esquecia, como muitas mulheres.Iraí passou a me trazer todos os dias o chá preparado pelo seu pai. As vezes eu pensava em não tomar, queria ser mãe, mas o medo de passar pela dor de perder outro bebê era maior.-Não vai tomar o chá Marina? - Perguntou Kaue ao vê - lo pousado sobre a mesa já frio.- Vou sim, só estou esperando esfriar.- Ou esquentar?- Como?-Nada, é que antes você tomava quente mesmo.
Eu estava paralisada, os músculos do meu corpo não me respondiam, uma vertigem me pegou desprevenida e fui amparada por mãos que não reconhecia, algo dentro de mim se desvaneceu.Um bebê? Ai meu Deus, e se acontecer de novo? Tinha várias chances para isso, não é? Apaguei e sonhei que eu tinha uma bela garotinha nos braços, ela tinha os olhos verdes como o da mamãe e os cabelos cor de carvão e a pele cor de caramelo de Kaue. Quando acordei Kaue me olhava preocupado.- O que houve? - Perguntei com a voz rouca.- Você se sentiu mal.Aos poucos as lembranças do acontecido foram voltando.- Eu...- Shh, é melhor descansar.- Mas eu...- Kaue é melhor que você vá, sabe que tem responsabilidades. Como pagé, não pode deixar suas obrigações de lado.
A mata era muito espessa, árvores imensas para todos os lados, ouvia uma música ao longe, me lembrava as festas da aldeia. Eu procurava por Antony, e não conseguia encontrá-lo, eu sabia que ele estava perto , podia sentir a sua presença.- Antony?Ouvi um barulho de passos e segui na sua direção, vi Antony a poucos passos de mim, atrás de um arbusto. Corri até ele e dei de cara com...- Grades?Eu e Antony estavamos separados por grades. Alguém vinha caminhando em sua direção. Pegou ele, tapando sua boca.-NÃAAAAAAAAAO. Kaue.Cada dia que se passava meu desespero aumentava. Como estaria minha mulher e meu filho? E o meu cunhado? Será que estão juntos? Eram muitas perguntas e nenhuma resposta que rondavam minha mente. Há dias que eu caminhava sem rumo pela mata, meus companheiros
Parece que quando a gente começa a achar que as coisas melhoraram, alguém lança um feitiço e puf, tudo desanda.Eu dormia tranquilamente ao lado dela, a abracei e senti suas mãos me apertando, abri os olhos e sorri, Marina segurava minhas mãos a frente do corpo, não parecia bem, mas preferi não comentar nada.- Como chamaremos o bebê? - Não quero pensar nisso, ainda, primeiro que não sei o que me espera, depois de tantos abortos e segundo que não sabemos se é menino ou menina.- Eu acho que é menina.- Eu também, mas gostaria que fosse um menino, para ser igual a você. - Disse Marina, sorrindo pela primeira vez desde que acordou.- Se fosse uma menina, seria linda, igual a mãe.Marina bocejou e eu acariciei seu rosto.- Estou com sono.- Durma então, amor. Ela se aconchegou em mim e fechou os olhos.- Kaue? - Sussurrou ainda com os olhos fechados.- Sim?- Quero um nome que represe
Acordei com o choro de Kaila, não dormia há dias, mas isso não me importava. Minha filha estava com dois meses e estava linda e forte, peguei - a no colo e ela se calou no mesmo momento. Coloquei o seio em sua boca e olhei para Kaue, que dormia na cama, por mais que gostasse de dormir em uma cama, aquela imagem me parecia hilaria.Uma cama dentro de uma oca...Enfim, não tive coragem de acordá-lo, ele dormia tão sereno, e Deus como ele é bonito. Terminei de amamentar minha filha e coloquei ela não berço que Kaue havia feito para ela. Me sentia estranha, exatamente como me senti no dia do acidente que matou minha familia, mas dessa vez, não achava que era ansiedade, já sabia distinguir quando tinha essa sensação, mas preferia não destinguir, porque era um presságio que algo ruim iria acontecer. Olhei para minha filha que dormia profundamente, acariciei
Por trás daquele sorriso, havia uma amargura, algo que eu não posso explicar. Eu sabia que tudo aquilo se dava pela morte de seu pai, mas parecia ter algo a mais.Ela avançou sobre mim, não me pegou de surpresa como imaginou que seria, eu havia desenvolvido um sexto sentido muito aguçado. Começamos uma luta de socos que mais parecia de dois homens do que de duas mulheres, ela me acertou com um soco no rosto e eu revidei acertando um chute no seu abdômen. Ela caiu no chão e eu subi sobre ela, continuamos com a luta corporal até que ela se desequilibrou, se eu não a segurasse ela teria caido ribanceira a baixo. Eu a segurava pendurada no penhasco e ela tentava se livrar do aperto das minhas mãos.- O que está fazendo? Deixe-me te puxar.- Você não entende. - O que eu não entendo? Deixe-me te puxar e você me explica. Ela assentiu e eu a puxei.- Então? - Ele abusava de mim...- E você matou várias pessoas da mi