O casamento se aproximava assim como a relação dos quatro novamente se estreitava. Entre provas de roupas, uma balada, entre experimentação de comes e bebes, um barzinho, entre encontro de madrinhas, um cinema. Em menos de um mês, os dois casais tornaram-se melhores amigos de novo, fazendo quase tudo juntos. Jobson tinha se afastado um pouco de Karina. Sua consciência pesou, mas ele não teve coragem de contar para Dafne. Não iria mudar nada, acreditou ele. Apenas iria magoá-la e transformar a relação dos dois em algo ainda mais mecânico. Decidiu se comprometer com o relacionamento e sabia que isso significava fazer mais programas do mundo de Nicolas e Cristina. E isso realmente deu certo. Pareciam agora até mais íntimos do que alguma vez já estiveram. A moça chegou até a falar em casar. Aparentemente o empreendimento de Dafne estava indo de vento em polpa. Ela come&cce
A semana do casamento chegou e os preparativos estavam a mil. Cristina estava ansiosa, mas com toda certeza, Dafne estava muito mais. Parecia ela a noiva e não a amiga. A tática dela aparentemente tinha dado certo pois Karina não tinha mais entrado em contato com Jobson. Ela, também, percebendo que tinha sido muito omissa com o namorado, na própria opinião, resolveu ficar mais próxima dele. Começou a ajudá-lo a procurar uma casa nova para alugar, mais próxima da região onde ela morava e num caminho bem mais curto para a empresa, também. O local parecia muito bom. Era um apartamento, sonho antigo de sua mãe. - E o mais importante é que tem opções ótimas aqui por perto também se num futuro pensarmos em morar juntos. Você pode deixar sua mãe bem atendida, num preço justo, que você possa ajudar e ainda ter um lugar comigo. Eu
Pessoas que circulavam na rua presenciaram a queda de Jobson. Ninguém viu como ele poderia ter sobrevivido, mas ele chegou a fazer força para se levantar, porém sequer conseguiu se virar. Um socorrista do prédio, que agora contava com uma brigada de incêndio treinada, afastou os curiosos até a chegada dos bombeiros com o resgate. Eles o moveram com muito cuidado, como se fosse um casca frágil, qualquer mínimo movimento em falso poderia matá-lo, o levaram ao hospital, onde ele foi colocado em coma.Jobson tinha lesões graves na coluna, membros, cérebro, tórax e abdômen. Suas costelas, braços e pernas estavam quebrados em múltiplos pedaços. Nenhum órgão vital tinha sido afetado diretamente. Ele passou por várias cirurgias, teve um catéter introduzido na cabeça para reduzir o inchaço cerebral e recebeu mais de 15 litros de sangue em transfusões. Ninguém sabia ao certo como ele havia sobrevivido, nem se sobreviveria a tudo aquilo. Evidentemente que o casamento não aconteceu. Depo
Tiros. Sua audição já identificava bem quando era a violência na rua ou quando eram fogos de artifício. Em outros tempos até tentavam maquiar o barulho das duas coisas, em alguns casos seguravam crimes para hora de jogos. Hoje em dia parecia não existir muito mais esse pudor. A questão já era tão banalizada, agora, que se o tiro não parecesse ser realmente perto o suficiente pro próximo atravessar a janela ou parede, nem importava mais. Estava lavando a louça enquanto espiava se seus irmãos estavam mesmo fazendo o dever de casa. Sua mãe deveria estar pra chegar do trabalho e ele estava com todas as tarefas de casa atrasadas pois ficou lendo um livro que ganhou do Sr. Jonas, quando passou pela sua Banca de Jornal. A Banca do Pracista, nome que já estava apagado e quase não se conseguia ler, parecia mais um Sebo do que uma banca, de tanto livro velho, acumulado, para vender. Seu humilde dono, com certeza com mais idade que a maioria de seus livros, gostava muito de Jobson. Achava
A água não estava tão gelada. Os treinos na piscina fechada do condomínio costumavam ser difíceis porque o Sol iluminava pouco tempo ali e a água não era aquecida. A mãe de Nicolas já tinha até proposto contribuir com um valor maior do que os vizinhos pro sistema de aquecedor, mas a assembleia não concordou por hora, pois eles estavam reformando a quadra de tênis.Nicolas recebeu uma carga nova de treinos, um pouco mais pesada. Quando tinha que treinar em casa, sozinho a vontade de não fazer nada era grande, mas o treinador sabia quando ele não tinha feito as séries corretamente. Às vezes ele acreditava que era observado pelas câmeras de segurança, mas lembrava que era proibido pelas regras do condomínio. Com a influência de seu pai, não seria muito difícil ele conseguir isso, mas acreditava mais na capacidade de seu treinador em perceber a evolução.Ficava triste, nessa solidão da piscina olímpica. Lembrava de quando era menor e su
“Um completo absurdo!” Era o que Viviane pensava sobre aquilo. Quem aquela garota imaginava que era? Na verdade, com quem ela imaginava que estava falando? Será que ela não conseguia imaginar o quão sortuda ela era por estar trabalhando para aquela família? Quantas vizinhas dela deveriam estar morrendo de inveja por ela estar no bairro mais rico da cidade, a maior parte do seu dia, segura, bem alimentada, com bons benefícios. Afinal, sua família era muito boa com seus empregados.Viviane não gostava da ideia de sua governanta cuidar da contratação das empregadas. Afinal, governanta era algo tão provincial, antiquado. Mas, seu finado pai valorizava tanto, não só aquela função, mas a sua ocupante, e havia prometido a si mesma que manteria Aurora enquanto ainda estivesse viva. Mas possivelmente estava gagá, teria que conversar com ela de novo pois as contratações não estavam de acordo. Onde já se viu, logo no começo do dia, já dar uma res
Mais uma noite mal dormida. O médico do posto de saúde já havia dito que ela não podia ficar sem seu calmante e seu remédio da pressão. Mas já faziam 15 dias que ela rigorosamente ia toda manhã saber se já tinha chegado. Eram muito caros para serem comprados, mais do que ela gastava com comida no mês, apesar de menos do que o marido ainda devia com bebida no bar.Então, às 5h da manhã, Maria Aparecida, a Dona Cida já estava em pé, fazendo seu café. As mãos trêmulas já não ajudavam mais como antes e a dificuldade era do tamanho da colher que ela usava para evitar desperdiçar.Não eram só os movimentos. A vista falhava de longe, mas era de perto que dificultava mesmo. Forçava tanto que no final do dia a dor de cabeça só se resolvia com analgésico. Esse pelo menos o posto de saúde ainda tinha.Ligava o rádio e escutava as notícias do seu programa preferido. Uma pena que aquele locutor da sua geração havia falecido, mas o jornalista
A maioria das vezes, Nicolas não se sentia à vontade no colégio. Não era pra menos, afinal existiam câmeras espalhadas por todos os lados. E a grande maioria delas poderia ser acessada pelos pais remotamente. Não que ele acreditasse que seus pais poderiam estar observando-o. Com certeza estariam ocupados demais para tanto. Mas ainda assim, a sensação de ter quase todos os seus passos vigiados lhe era bastante estranha. O lugar parecia uma mistura de shopping center com centro empresarial. Realmente era muito bonito, recém reformado, tinha conquistado, além de pais dispostos a gastar, ou investir como eles costumavam pensar, no futuro dos filhos (ou no próprio), também, empresas investidoras. Eram universidades particulares, eram empresas que prometiam empregar as mentes mais brilhantes, já ali, antes de terminarem os estudos, que nomeavam turmas com suas marcas, fornecendo treinamentos, estruturando.Mas tinha um ar de prisão de primeira classe. Catracas na entrada, portões a
Aquele sinal barulhento, como uma corneta distorcida, estridente que precisava ser arrumado a tanto tempo, indicava a tentativa de trazer alguma ordem para aquela “reunião” social, que qualquer um poderia, de longe, imaginar ser mais uma espécie de “convulsão” social. Jobson ia para a escola ainda, muito mais para incentivar os irmãos e acompanhá-los e porque sua mãe insistia que ele precisava. Mas estudar era uma das poucas coisas que ele conseguia fazer, ali. Preferia fazer a maioria das tarefas, que os poucos professores que ainda se importavam passavam, em casa. Até porque, mesmo que fosse dividindo-se em outras atividades do lar, lá, ele ainda tinha algum sossego. Mas na escola, durante a aula, a bagunça lhe dava dor de cabeça, se tentasse ler. Nas aulas vagas, na ausência de algum professor, tentava se isolar para ler, sem sucesso ou buscava a "pseudo" biblioteca da escola, mas o cheiro de lá não era muito agradável. E ele, por algu