Dois Alphas e Uma Luna - O Erro Fatal
Prólogo - "O Presságio" A noite estava envolta em um véu de sombras profundas, como se o próprio céu tivesse decidido guardar um segredo terrível. A Lua cheia pairava no alto, banhando a floresta em um brilho prateado, mas havia algo errado. O ar estava pesado, denso com uma tensão palpável, como se a natureza segurasse a respiração diante do que estava prestes a acontecer. No coração da floresta, um círculo de pedras antigas se erguia, seus contornos cobertos de musgo e cicatrizes do tempo. Ali, o vento sussurrava histórias esquecidas, e a terra parecia pulsar com energia, uma batida lenta e ameaçadora. Era um lugar onde o tempo não existia, onde o passado, o presente e o futuro se cruzavam em um único momento. Uma figura solitária estava de pé no centro do círculo. Sua respiração saía em nuvens brancas contra o ar frio da noite. A postura era rígida, como se estivesse pronta para enfrentar o mundo inteiro, mas os olhos traíam algo diferente, dúvida. Medo. E uma pergunta que ninguém poderia responder. — Não deveria ser assim. — A voz cortou o silêncio, baixa, rouca, carregada de uma mistura de raiva e desespero. O vento pareceu ouvir. Ele soprou com mais força, arrancando folhas dos galhos altos e fazendo o tecido da capa da figura ondular como uma bandeira de guerra. De repente, a clareira se encheu de um som estranho, um eco profundo que parecia vir de dentro da própria terra. Era um rugido, ou talvez um lamento, algo que fazia o coração disparar e a pele se arrepiar. A figura caiu de joelhos, as mãos pressionando o chão úmido enquanto um grito silencioso ecoava na alma. Foi então que aconteceu. Dois pares de olhos apareceram na escuridão, brilhando com uma intensidade quase sobrenatural. Um era dourado, ardente como o sol no auge de sua força, uma promessa de destruição incontrolável. O outro era azul-acinzentado, frio como o gelo eterno, uma ameaça sutil e mortal. Ambos carregavam o peso de algo que não poderia ser ignorado, o destino. Eles não estavam juntos. Não estavam unidos. Eram forças opostas, opressoras, que colidiam em uma batalha silenciosa enquanto observavam a figura ajoelhada no chão. Mas havia algo errado. A conexão não era natural, não era esperada. Era um erro. Um erro tão grande que o mundo parecia tremer sob seu peso. A figura levantou o rosto, o olhar fixo nas duas presenças. A dor estava lá, misturada com algo mais profundo. Uma determinação sombria, quase desafiante. — Se isso é o que o destino reservou... então ele terá que me enfrentar. As palavras mal haviam sido ditas quando a Lua acima começou a escurecer, uma sombra engolindo sua luz prateada. O vento cessou de repente, e o silêncio voltou, mas desta vez, era absoluto. Um presságio de que algo grande, algo devastador, estava por vir. Na escuridão crescente, o rugido voltou, mais forte e mais próximo. E, naquele instante, o mundo mudou para sempre. Capítulo 1 - "O Erro do Destino" (Narrado por Elira) A noite estava fria, envolta em uma neblina prateada que parecia quase mágica sob a luz da Lua cheia. O bosque ao meu redor estava silencioso, mas não de uma forma reconfortante, era o tipo de silêncio que sussurrava segredos. Eu estava de pé no centro de uma clareira, a terra macia sob os meus pés descalços, o cheiro de pinho e terra molhada preenchendo meus pulmões. Fechei os olhos por um momento, tentando acalmar a tempestade que rugia dentro de mim. Havia algo errado. Algo que eu não conseguia nomear. Minha respiração saiu trêmula, e o som ecoou na noite, como se o mundo estivesse me ouvindo. Minhas mãos tremiam ligeiramente, mas não era de frio. Era a sensação de algo iminente, uma força que eu não podia conter. O chamado da Lua cheia estava em mim. Ele sempre vinha dessa forma, um zumbido no fundo da alma, como se minha essência estivesse sendo puxada em direção a algo maior, algo que eu nunca entendia completamente. Mas, naquela noite, havia algo diferente. Então veio a dor. Começou no fundo do meu peito, espalhando-se como fogo líquido por cada nervo do meu corpo. Soltei um grito, o som bruto e cheio de desespero enquanto caía de joelhos. Minhas unhas rasgaram o chão, e eu senti a grama fria sob minhas palmas. Uma palavra pairou na minha mente. Destino. E, como se as portas de um mundo invisível tivessem se aberto, eu senti. Não era algo que eu pudesse ver ou tocar, mas senti como um raio atingindo minha alma. Duas presenças esmagadoras invadiram minha mente. Elas eram tão intensas que era difícil respirar, como se todo o ar ao meu redor tivesse sido roubado. A primeira era fogo e fúria, como o rugido de uma tempestade devastadora. Sua força queimava, cruel e implacável, me deixando tonta com sua intensidade. A segunda era gelo, cortante e fria, mas não menos mortal. Era uma presença que fazia meu coração acelerar e congelar ao mesmo tempo, como se estivesse diante de um abismo sem fim. Eu soube naquele momento o que aquilo significava. Meu coração afundou. — Não... não pode ser. — Minha voz era apenas um sussurro, mas até mesmo a noite pareceu ouvi-la. Minutos depois, ainda trêmula e tentando processar o que havia acontecido, ouvi vozes ao longe. Elas se aproximavam, cada palavra carregada de autoridade e perigo. Me levantei com dificuldade, limpando a sujeira das mãos, quando eles apareceram na clareira. “Draegon”. Ele era a personificação da ferocidade. Alto, com ombros largos e uma postura que exalava ameaça, seus olhos dourados me fixaram como se eu fosse um incômodo. Havia algo predatório em cada movimento que ele fazia, como se estivesse pronto para atacar a qualquer momento. Seu cabelo escuro caía em ondas bagunçadas, e ele vestia roupas pretas que pareciam absorver a luz ao seu redor. “Thalrik”. Se Draegon era fogo, Thalrik era gelo. Seus olhos azul-acinzentados eram frios e calculistas, como lâminas afiadas. Ele era igualmente alto e intimidador, mas havia algo ainda mais perigoso nele, uma calma mortal que fazia meu coração acelerar de medo. Os dois eram opostos e, ao mesmo tempo, igualmente assustadores. — Então, é ela. — Draegon foi o primeiro a falar, sua voz grave como o trovão. Ele me olhou de cima a baixo, como se eu fosse uma mercadoria defeituosa. — É isso que o destino nos reservou? O desprezo em sua voz era palpável, e eu senti minhas mãos se fecharem em punhos. — Parece que o destino comete erros. — Thalrik disse, sua voz mais controlada, mas não menos cruel. — Uma Luna fraca. Eu podia sentir as lágrimas ameaçando surgir, mas me recusei a deixar que eles vissem qualquer sinal de fraqueza. — Se vocês dois são os Alphas destinados a mim, então o destino é ainda mais idiota do que eu pensava. — As palavras escaparam antes que eu pudesse contê-las. Houve um silêncio mortal na clareira. Draegon arqueou uma sobrancelha, e Thalrik apenas inclinou levemente a cabeça, como se estivesse avaliando uma presa rebelde. — Fraca e insolente. — Draegon deu um passo à frente, e eu instintivamente recuei. — Isso vai ser divertido. — Não estamos aqui para brincar, Draegon. — Thalrik o interrompeu, cruzando os braços. — Estamos aqui para deixar claro que não aceitamos isso. — E eu não aceito vocês. — Retruquei, minha voz firme, apesar do medo. — Então, estamos todos de acordo. — Não se engane, Luna. — Thalrik disse, seus olhos frios cravados nos meus. — Você pode não nos querer, mas isso não muda o fato de que está presa a nós. — Mas não temos que aceitar. — Draegon completou, sua voz cheia de desprezo. Eles se viraram, como se eu não fosse digna de mais atenção, e desapareceram na floresta. Eu fiquei ali, sozinha novamente, mas a sensação de uma força obscura não me abandonou. Algo estava errado. Eu podia sentir. O destino havia cometido um erro, mas parecia que esse erro tinha um propósito. (Enquanto Elira encara a clareira vazia, um par de olhos brilhantes surge entre as árvores. Não são de Draegon ou Thalrik, mas de algo muito mais antigo e perigoso, observando cada movimento dela.)Capítulo 2 - "Dois Reis, Uma Rainha"(Narrado por Draegon) O salão estava silencioso, excepto pelo estalo ocasional do fogo na lareira que iluminava as sombras com um brilho trêmulo, mas, ao mesmo tempo, parecia incapaz de afastá-las por completo. O fogo dançava em tons de laranja e dourado, refletindo nos troféus que adornavam as paredes de pedra negra, armas, presas, crânios de criaturas que eu havia caçado e derrotado. Cada item era uma lembrança de vitórias que haviam consolidado minha posição como o Alpha mais temido deste território. O ar estava denso. O cheiro de madeira queimando misturava-se ao leve aroma de ferro que sempre pairava por aqui. Era um espaço que emanava poder, mas naquele momento parecia sufocante.Eu estava diante da grande janela arqueada do salão, observando a Lua cheia. Sua luz prateada parecia zombar de mim, lançando sombras que pareciam vivas. A frieza que emanava dela era quase insuportável, uma lembrança constante do erro que o destino havia cometido
Capítulo 3 - "A Rejeição"(Narrado por Thalrik) As paredes da minha torre eram tão frias quanto meu coração. O gelo grosso que as formava parecia emanar um brilho fantasmagórico sob a luz da Lua, refletindo o azul profundo de meus pensamentos. O espaço ao meu redor era austero, mapas, planos de guerra e armas cuidadosamente organizadas eram as únicas decorações. Não havia necessidade de luxo ou distrações. Minha vida girava em torno de estratégia, controle e domínio. A torre era alta, permitindo-me uma vista completa dos territórios ao redor. De lá, eu podia ver as florestas densas, os rios sinuosos e as montanhas distantes que separavam os nossos reinos dos humanos. Tudo isso me pertencia, conquistado com sangue e sacrifício. Contudo, essa sensação de poder absoluto era manchada por algo que eu não conseguia ignorar, a imagem de Elira. Fechei os olhos, mas a visão dela se impôs. Seu rosto pálido, seus olhos de tempestade, e aquele ar de desafio que ela carregava mesmo diante da
Capítulo 4 - "As Correntes Invisíveis"(Narrado por Elira) A floresta parecia mais escura naquela noite. As árvores, tão familiares, agora tinham uma presença ameaçadora, com seus galhos estendendo-se como garras contra o céu enevoado. A luz da Lua mal atravessava o dossel espesso, lançando sombras irregulares no chão coberto de folhas e galhos quebrados. Cada passo que eu dava parecia ressoar alto demais, e o vento trazia consigo murmúrios indistintos que me arrepiavam a espinha. Eu estava sozinha. Pelo menos, era o que eu dizia a mim mesma enquanto andava com determinação por entre as árvores, mas o sentimento de ser observada era impossível de ignorar. Meu coração pulsava rápido, e meus sentidos estavam em alerta máximo. O vínculo que me unia aos dois Alphas, Draegon e Thalrik, era uma maldição que eu não conseguia compreender. Algo que eu nunca pedira. A sensação de suas presenças em minha mente era intrusiva e opressora, como correntes invisíveis que me mantinham cativa mesm
Capítulo 5 - "O Primeiro Confronto"(Narrado por Draegon) A noite ainda pairava densa sobre a terra quando retornei à fortaleza. Os corredores de pedra negra, frios como o gelo da montanha, reverberavam o som das minhas botas, mas minha mente estava longe, envolvida nos eventos da floresta. Eu repetia cada detalhe, cada movimento, tentando encontrar justificativas para minhas ações. Eu a salvei porque ela faz parte disso, porque ela está conectada à matilha. Esse vínculo, por mais maldito e absurdo que fosse, a colocava sob a minha proteção. E só por isso. Mas, mesmo enquanto eu tentava convencer a mim mesmo, lembrava-me do calor do corpo dela tão próximo ao meu, o cheiro único de sua pele, doce e intrigante como flores noturnas misturadas à brisa selvagem. Era uma distração, uma fraqueza que eu não podia me permitir. Entrei em meus aposentos e joguei meu manto de couro sobre uma cadeira próxima. A sala era espaçosa, iluminada apenas por tochas bruxuleantes que lançavam sombras
Capítulo 6 - "Fogo e Gelo" (Narrado por Thalrik) A neve caía suavemente sobre o campo de treinamento, cobrindo o solo com uma camada branca e densa que abafava os sons dos passos de minha matilha. O ar estava carregado com o frio cortante que se infiltrava nos ossos, mas nenhum dos lobos hesitava. Eu caminhava entre eles, observando cada movimento, cada golpe, corrigindo falhas com palavras tão afiadas quanto lâminas. — Você chama isso de ataque? — perguntei a um jovem lobo que tentava, sem sucesso, dominar um oponente mais velho. — Se sua força não estiver concentrada, sua fraqueza será sua morte. Ele arregalou os olhos, recuando um passo, mas não ofereceu desculpas. Bom. Pelo menos eles sabiam que desculpas não tinham lugar aqui. Parei ao lado de um círculo de guerreiros que treinavam em combate corpo a corpo. Um deles, um dos mais experientes, hesitou ao me ver. Seu movimento desacelerou por um segundo, e eu aproveitei a oportunidade para corrigir sua postura com um olhar
Capítulo 7 - "O Primeiro Beijo"(Narrado por Elira) A noite estava incrivelmente clara, e a lua cheia reinava absoluta no céu. Cada raio de sua luz prateada escorria pela floresta, transformando as folhas e os galhos em um cenário quase mágico, como se tivessem sido polidos pelo próprio tempo. Eu estava em uma clareira que descobri ao acaso, um lugar onde o som do mundo parecia diminuir, dando espaço apenas ao vento e ao som suave de minha respiração. Minhas botas afundavam levemente no solo macio, coberto de musgo e folhas caídas. Era um lugar tranquilo, ou deveria ser. Mas dentro de mim, a tempestade rugia. Respirei fundo, tentando acalmar os pensamentos que giravam como um redemoinho na minha mente. O duelo com Thalrik ainda estava fresco, tanto na memória quanto no corpo. Minha pele parecia formigar, como se seus olhos frios ainda me observassem, avaliando cada fraqueza. E Draegon... ele sempre estava lá, como uma sombra impossível de ignorar. Por que eles tinham tanto pod
Capítulo 8 - "Segredos Sob a Lua"(Narrado por Thalrik) O som da lareira crepitando era a única coisa que quebrava o silêncio absoluto da sala de estratégias. Eu estava sozinho, como sempre preferia estar nesses momentos. O cômodo era espaçoso, mas de uma frieza que refletia minha própria personalidade. O gelo, incrustado nas paredes e no teto, parecia pulsar com uma energia própria, e cada estante estava repleta de mapas antigos, escrituras, e registros de batalhas há muito esquecidas. Minha mesa estava coberta de pergaminhos e livros, alguns tão velhos que a tinta estava quase apagada. Um deles, em particular, prendia minha atenção. Era uma escritura antiga, escrita em um idioma que quase ninguém mais sabia ler. Eu passara as últimas horas tentando decifrar o que parecia ser um relato sobre os vínculos. Havia algo de errado. Eu sabia disso desde que senti a conexão com Elira pela primeira vez. Era diferente de tudo que eu já experimentara. Havia uma instabilidade no vínculo, a
Capítulo 9 - "A Chama do Desejo"(Narrado por Draegon) O vento cortava a floresta como uma lâmina gelada, mas o frio não me incomodava. Na verdade, nada parecia conseguir me distrair da tempestade que fervia dentro de mim. Meu corpo se movia automaticamente enquanto patrulhava os limites do território, atento a qualquer sinal de perigo. Cada som, o farfalhar das folhas, o estalo de galhos secos sob meus pés, o grito distante de uma coruja, parecia amplificado, como se o próprio mundo estivesse tentando me alertar de algo. Mas, mesmo em meio à quietude da noite e ao foco em minha tarefa, ela estava lá. Elira. Seu nome era uma chama constante em meus pensamentos, queimando com uma intensidade que eu não conseguia apagar. O cheiro dela, doce e amadeirado, parecia perseguir-me, mesmo quando ela não estava por perto. Era como se a própria floresta carregasse sua essência, zombando de minha determinação em ignorá-la. "Controle-se", ordenei a mim mesmo pela milésima vez. Mas era in