Capítulo 5 - "O Primeiro Confronto"
(Narrado por Draegon) A noite ainda pairava densa sobre a terra quando retornei à fortaleza. Os corredores de pedra negra, frios como o gelo da montanha, reverberavam o som das minhas botas, mas minha mente estava longe, envolvida nos eventos da floresta. Eu repetia cada detalhe, cada movimento, tentando encontrar justificativas para minhas ações. Eu a salvei porque ela faz parte disso, porque ela está conectada à matilha. Esse vínculo, por mais maldito e absurdo que fosse, a colocava sob a minha proteção. E só por isso. Mas, mesmo enquanto eu tentava convencer a mim mesmo, lembrava-me do calor do corpo dela tão próximo ao meu, o cheiro único de sua pele, doce e intrigante como flores noturnas misturadas à brisa selvagem. Era uma distração, uma fraqueza que eu não podia me permitir. Entrei em meus aposentos e joguei meu manto de couro sobre uma cadeira próxima. A sala era espaçosa, iluminada apenas por tochas bruxuleantes que lançavam sombras nos móveis rústicos e nas paredes marcadas por runas antigas. Sentei-me em frente à lareira, observando as chamas dançarem. Minha mente não me dava descanso. Eu podia sentir a presença de Thalrik se aproximando antes mesmo de ouvir seus passos pesados ecoarem pelo corredor. Ele sempre teve um dom para fazer sua entrada parecer uma declaração de guerra. A porta se abriu com um estrondo, e lá estava ele, a figura impassível e ameaçadora que todos conheciam. Seus olhos de gelo eram cortantes, e a tensão em sua postura denunciava sua irritação. — Então é verdade — começou ele, sem preâmbulos, sua voz carregada de desdém. — Você salvou a garota. Levantei-me, cruzando os braços enquanto o encarava. — Elira — corrigi, minha voz firme. — E sim, eu a salvei. — Por quê? — Thalrik deu um passo à frente, sua presença quase esmagadora. — Não me diga que está começando a sentir o vínculo. Ri amargamente, sacudindo a cabeça. — Não seja ridículo. Eu a salvei porque, gostemos ou não, ela está conectada a nós. Se algo acontecesse com ela, quem sabe o que isso causaria ao vínculo? — Essa é a desculpa que você dá a si mesmo para justificar sua fraqueza? — retrucou ele, aproximando-se mais. — Ela não é nada além de um erro. Não deveria nem estar aqui. Minha paciência, já curta, estava se esgotando rapidamente. — E o que você sugere, Thalrik? Que a deixemos morrer? Que ignoremos o que está acontecendo? — Talvez seja isso que precisamos. — Sua voz era fria como o gelo, e por um momento, perguntei-me se ele realmente acreditava no que estava dizendo. Antes que a discussão pudesse escalar ainda mais, uma batida firme ecoou na porta. Um dos guardas anunciou que Elira havia chegado, exigindo falar conosco. — Ela? Exigindo? — Thalrik arqueou uma sobrancelha, seu tom carregado de sarcasmo. — Parece que sim. — Passei por ele, abrindo a porta e sinalizando para que deixassem Elira entrar. Ela apareceu poucos segundos depois, seu porte altivo contrastando com a tensão em seus olhos. Vestia roupas simples, mas práticas, adequadas para alguém que não se permitia ser subestimada. O cabelo preso de forma desleixada, algumas mechas soltas caindo sobre o rosto, dava a ela uma aparência feroz e vulnerável ao mesmo tempo. — Vocês dois precisam parar com isso. — Sua voz cortou o silêncio como uma lâmina, surpreendendo-nos com sua determinação. — Ah, ela finalmente resolveu nos dar ordens? — Thalrik cruzou os braços, sua expressão carregada de desdém. — Isso deveria ser interessante. Elira não recuou, enfrentando-o com uma força que parecia muito maior do que seu corpo sugeria. — Eu não sou um erro, Thalrik. Não sou algo que vocês possam simplesmente descartar porque não entendem. Eu podia sentir a tensão no ar, quase palpável. Thalrik estava prestes a responder, mas algo no olhar de Elira o deteve. — Se vocês querem me culpar pelo caos que está acontecendo, fiquem à vontade. Mas saibam disso, eu não vou ficar de braços cruzados esperando que decidam o que fazer comigo. Minha voz finalmente rompeu o silêncio. — Você não entende o que está em jogo aqui, Elira. — Talvez porque ninguém se deu ao trabalho de me explicar. — Seus olhos encontraram os meus, desafiadores. Antes que eu pudesse responder, uma luz intensa surgiu no peito dela, e todos nós fomos tomados por uma visão que nos deixou paralisados. Florestas em chamas, montanhas desmoronando, rios secando até se tornarem poeira. E no centro de tudo, uma figura envolta em sombras, com olhos brilhando como fogo. Quando a visão desapareceu, o silêncio reinou. Ninguém sabia o que dizer. Finalmente, Thalrik quebrou o silêncio, sua voz mais baixa do que eu já ouvira antes. — Isso... não pode ser ignorado. Eu olhei para Elira, que parecia tão perdida quanto eu me sentia. O vínculo entre nós parecia pulsar mais forte do que nunca, e algo me dizia que isso era apenas o começo. A marca em seu peito ainda brilhava fracamente, e as palavras que a sombra havia sussurrado na visão ecoavam em minha mente. Quem era a figura que vimos? E por que parecia tão intimamente ligada a Elira... e a nós?Capítulo 6 - "Fogo e Gelo" (Narrado por Thalrik) A neve caía suavemente sobre o campo de treinamento, cobrindo o solo com uma camada branca e densa que abafava os sons dos passos de minha matilha. O ar estava carregado com o frio cortante que se infiltrava nos ossos, mas nenhum dos lobos hesitava. Eu caminhava entre eles, observando cada movimento, cada golpe, corrigindo falhas com palavras tão afiadas quanto lâminas. — Você chama isso de ataque? — perguntei a um jovem lobo que tentava, sem sucesso, dominar um oponente mais velho. — Se sua força não estiver concentrada, sua fraqueza será sua morte. Ele arregalou os olhos, recuando um passo, mas não ofereceu desculpas. Bom. Pelo menos eles sabiam que desculpas não tinham lugar aqui. Parei ao lado de um círculo de guerreiros que treinavam em combate corpo a corpo. Um deles, um dos mais experientes, hesitou ao me ver. Seu movimento desacelerou por um segundo, e eu aproveitei a oportunidade para corrigir sua postura com um olhar
Capítulo 7 - "O Primeiro Beijo"(Narrado por Elira) A noite estava incrivelmente clara, e a lua cheia reinava absoluta no céu. Cada raio de sua luz prateada escorria pela floresta, transformando as folhas e os galhos em um cenário quase mágico, como se tivessem sido polidos pelo próprio tempo. Eu estava em uma clareira que descobri ao acaso, um lugar onde o som do mundo parecia diminuir, dando espaço apenas ao vento e ao som suave de minha respiração. Minhas botas afundavam levemente no solo macio, coberto de musgo e folhas caídas. Era um lugar tranquilo, ou deveria ser. Mas dentro de mim, a tempestade rugia. Respirei fundo, tentando acalmar os pensamentos que giravam como um redemoinho na minha mente. O duelo com Thalrik ainda estava fresco, tanto na memória quanto no corpo. Minha pele parecia formigar, como se seus olhos frios ainda me observassem, avaliando cada fraqueza. E Draegon... ele sempre estava lá, como uma sombra impossível de ignorar. Por que eles tinham tanto pod
Capítulo 8 - "Segredos Sob a Lua"(Narrado por Thalrik) O som da lareira crepitando era a única coisa que quebrava o silêncio absoluto da sala de estratégias. Eu estava sozinho, como sempre preferia estar nesses momentos. O cômodo era espaçoso, mas de uma frieza que refletia minha própria personalidade. O gelo, incrustado nas paredes e no teto, parecia pulsar com uma energia própria, e cada estante estava repleta de mapas antigos, escrituras, e registros de batalhas há muito esquecidas. Minha mesa estava coberta de pergaminhos e livros, alguns tão velhos que a tinta estava quase apagada. Um deles, em particular, prendia minha atenção. Era uma escritura antiga, escrita em um idioma que quase ninguém mais sabia ler. Eu passara as últimas horas tentando decifrar o que parecia ser um relato sobre os vínculos. Havia algo de errado. Eu sabia disso desde que senti a conexão com Elira pela primeira vez. Era diferente de tudo que eu já experimentara. Havia uma instabilidade no vínculo, a
Capítulo 9 - "A Chama do Desejo"(Narrado por Draegon) O vento cortava a floresta como uma lâmina gelada, mas o frio não me incomodava. Na verdade, nada parecia conseguir me distrair da tempestade que fervia dentro de mim. Meu corpo se movia automaticamente enquanto patrulhava os limites do território, atento a qualquer sinal de perigo. Cada som, o farfalhar das folhas, o estalo de galhos secos sob meus pés, o grito distante de uma coruja, parecia amplificado, como se o próprio mundo estivesse tentando me alertar de algo. Mas, mesmo em meio à quietude da noite e ao foco em minha tarefa, ela estava lá. Elira. Seu nome era uma chama constante em meus pensamentos, queimando com uma intensidade que eu não conseguia apagar. O cheiro dela, doce e amadeirado, parecia perseguir-me, mesmo quando ela não estava por perto. Era como se a própria floresta carregasse sua essência, zombando de minha determinação em ignorá-la. "Controle-se", ordenei a mim mesmo pela milésima vez. Mas era in
Capítulo 10 - "Sombras do Passado"(Narrado por Elira) A escuridão do sonho parecia viva, pulsante, como se respirasse junto comigo. Eu estava em um lugar que não reconhecia, uma planície deserta onde o céu estava dividido entre o negro absoluto e uma luz prateada difusa. A paisagem era tão silenciosa que até mesmo o som do vento parecia abafado. De repente, uma mulher surgiu à minha frente, materializando-se do nada. Seu cabelo prateado caía como uma cascata até a cintura, refletindo a luz de um luar inexistente. Seus olhos, brilhando como duas luas gêmeas, prenderam os meus. Ela não parecia real, havia algo etéreo em sua presença, como se fosse feita de luz e sombra entrelaçadas. — Você deve escolher entre a luz e a escuridão, mas ambos te destruirão se resistir. — Sua voz era um sussurro que reverberava dentro de mim, ecoando como um trovão. — O que isso significa? — perguntei, mas minha voz soou fraca, quase inaudível. Ela deu um passo à frente, sua silhueta tornando-se
Capítulo 11 - "A Caçada dos Alphas"(Narrado por Thalrik) O vínculo com Elira sempre fora uma força pulsante, uma constante que eu odiava tanto quanto precisava. Mas naquela noite, algo havia mudado. Era como um fio de seda que começava a se desgastar, prestes a romper. A dor era silenciosa, insidiosa, invadindo minha mente como veneno. Eu estava na sala de mapas, revisando rotas e estratégias com minha matilha, quando senti o primeiro impacto. Um lampejo de angústia atravessou meu peito, seguido por uma sensação de vazio que me fez soltar o pergaminho que segurava. — Thalrik? — Um dos guerreiros me chamou, preocupado. — Você está bem? Balancei a cabeça, tentando afastar a névoa que parecia envolver minha mente. — Continue sem mim. Preciso de um momento. Saí da sala sem esperar por uma resposta. Assim que cruzei a porta, o ar fresco da noite me atingiu, mas não trouxe alívio. A conexão com Elira estava fraca, mas ainda presente, como um eco distante chamando por mim. Feche
Capítulo 12 - "Entre Fogo e Sombra"(Narrado por Elira) As forças malignas não me davam descanso, e mais uma vez estava em uma situação complicada. As paredes de pedra ao meu redor pareciam vivas, pulsando com uma energia que me deixava nauseada. Cada superfície estava coberta de runas cintilantes, linhas intrincadas que brilhavam com uma luz azul-esverdeada, drenando minha força como um rio escoando para o mar. Tentei mover os braços, mas os grilhões que me prendiam ao chão eram inamovíveis, e cada tentativa de lutar contra eles fazia as runas brilharem mais intensamente, como se zombassem do meu esforço. O cheiro de enxofre era quase sufocante, misturado com o leve aroma metálico de sangue. Não sabia dizer se era meu ou de outra vítima antes de mim. A cela era pequena, apenas um quadrado de pedra fria e úmida, sem janelas. A única fonte de luz vinha das próprias runas, criando sombras dançantes nas paredes. A magia que preenchia o ar era densa, quase tangível, pressionando cont
Capítulo 13 - "Fúria dos Alphas"(Narrado por Draegon) O rugido do dragão ancestral sacudiu as paredes da fortaleza, como um trovão anunciando o caos iminente. Estávamos cercados por sombras aladas que mergulhavam em nossa direção, cada uma com garras afiadas e olhos brilhantes, famintas por sangue. O calor da batalha fervia em meu peito, meu coração pulsando como um tambor de guerra. Ao meu lado, Thalrik movia-se com precisão letal, sua espada gélida dançando no ar, cortando as criaturas como se fossem de papel. Havia uma sincronia involuntária entre nós, um equilíbrio que eu odiava admitir. Onde meu fogo queimava, a frieza dele congelava. O contraste entre nós criava um campo de batalha dinâmico e imprevisível, mas a competição era inevitável. Cada golpe que eu desferia parecia ser uma provocação para ele. — Tente acompanhar o ritmo, Thalrik! — provoquei, enquanto um jato de fogo escapava de minhas mãos e transformava três criaturas em cinzas. Ele respondeu com um sorriso fr