Capítulo 4 - "As Correntes Invisíveis"
(Narrado por Elira) A floresta parecia mais escura naquela noite. As árvores, tão familiares, agora tinham uma presença ameaçadora, com seus galhos estendendo-se como garras contra o céu enevoado. A luz da Lua mal atravessava o dossel espesso, lançando sombras irregulares no chão coberto de folhas e galhos quebrados. Cada passo que eu dava parecia ressoar alto demais, e o vento trazia consigo murmúrios indistintos que me arrepiavam a espinha. Eu estava sozinha. Pelo menos, era o que eu dizia a mim mesma enquanto andava com determinação por entre as árvores, mas o sentimento de ser observada era impossível de ignorar. Meu coração pulsava rápido, e meus sentidos estavam em alerta máximo. O vínculo que me unia aos dois Alphas, Draegon e Thalrik, era uma maldição que eu não conseguia compreender. Algo que eu nunca pedira. A sensação de suas presenças em minha mente era intrusiva e opressora, como correntes invisíveis que me mantinham cativa mesmo quando eu tentava escapar. Parei por um momento, respirando fundo e fechando os olhos. O ar frio da noite carregava um perfume sutil de pinho e terra molhada, mas havia algo mais. Um cheiro metálico, ácido, que me fez abrir os olhos rapidamente. Sangue. Minha respiração ficou mais curta enquanto meus olhos varriam o ambiente. Não havia nada visível, mas meu instinto dizia o contrário. Algo estava errado. Continuei caminhando, tentando ignorar o desconforto crescente. Meus dedos se fecharam ao redor do punhal que eu carregava preso ao cinto. Era uma arma pequena, mas suficientemente afiada para me dar uma chance contra predadores menores. Contudo, a inquietação dentro de mim sugeria que isso não seria suficiente. O vínculo parecia se intensificar enquanto eu avançava. Por mais que eu odiasse admitir, Draegon e Thalrik estavam sempre lá, como uma presença constante na periferia da minha consciência. Não sabia se eles conseguiam sentir o mesmo, mas a ideia de que estivessem observando, ainda que de longe, me enervava. — Deixe-me em paz, — murmurei para mim mesma, como se pudesse afastá-los com palavras. O vento mudou de direção, trazendo um som. Passos. Lentos, deliberados. Meu corpo congelou, e meu coração disparou. Virei-me rapidamente, mas não vi nada. — Quem está aí? — Minha voz soou mais forte do que eu esperava, ecoando entre as árvores. Nenhuma resposta. Então eu vi. Uma sombra disforme emergiu das trevas, movendo-se como uma serpente, sua forma mutável e inquietante. Seus olhos, se é que eram olhos, brilhavam com um vermelho profundo, e sua presença era sufocante. Recuei instintivamente, meu punhal tremendo em minha mão. A criatura avançou lentamente, como se estivesse me estudando. — Fique longe! — gritei, tentando soar corajosa, mas o tremor na minha voz me traiu. A sombra não parou. Ela deslizou pelo chão, suas bordas se movendo como se fossem feitas de fumaça viva. Quando ela chegou perto o suficiente, lançou-se sobre mim com uma velocidade assustadora. Eu rolei para o lado, mal conseguindo escapar de seu ataque. Meu punhal cortou o ar, mas a lâmina passou direto por sua forma etérea. — Droga! O pânico começava a tomar conta de mim, mas não havia tempo para hesitação. A criatura atacava novamente, seus movimentos rápidos e imprevisíveis. Eu consegui desviar de alguns golpes, mas o cansaço começava a me alcançar. Quando achei que não teria forças para continuar, uma presença avassaladora invadiu o espaço. O ar pareceu ficar mais pesado, e um rugido profundo ecoou pela floresta, fazendo a criatura hesitar. Draegon. Ele surgiu das sombras como um predador, seus olhos dourados brilhando com intensidade. Seu corpo irradiava uma energia que parecia encher o ar ao nosso redor, sufocando qualquer outro som. — Afaste-se dela. — Sua voz era um comando, carregada de autoridade. A sombra virou-se para ele, mas antes que pudesse atacar, Draegon avançou. Sua força era devastadora, e o confronto entre os dois foi brutal. Enquanto eu observava, meu corpo ainda tremia de adrenalina. Era difícil dizer o que me assustava mais, a sombra ou Draegon. Quando a criatura finalmente recuou, seus olhos vermelhos fixaram-se em mim por um momento antes de desaparecer na escuridão. Antes de sumir completamente, ela murmurou algo que fez meu sangue gelar. — Elira... Draegon virou-se para mim, seus olhos dourados analisando meu rosto. Ele parecia prestes a dizer algo, mas se conteve. — Você está bem? — perguntou finalmente, sua voz mais baixa agora, quase rouca. Levantei-me com dificuldade, tentando recuperar o fôlego. — O que acha? — retruquei, minha voz carregada de sarcasmo. Ele arqueou uma sobrancelha, mas não respondeu. Em vez disso, aproximou-se, e pude ver um vislumbre de preocupação em seus olhos antes que ele desviasse o olhar. — Isso foi imprudente, mesmo para você. — Não pedi sua ajuda, Draegon. Ele riu, mas não havia humor em seu tom. — Não, mas parece que você precisa dela, quer admita ou não. Estávamos tão próximos agora que eu podia sentir o calor emanando dele. Minha mente estava uma confusão de emoções, raiva, gratidão e algo mais que eu não queria nomear. — O que era aquela coisa? — perguntei, tentando mudar o foco. — Algo antigo. E perigoso. — Sua expressão ficou séria. — Mas isso não importa agora. O que importa é que você está viva. Antes que eu pudesse responder, ele deu um passo para trás, como se tivesse percebido que estava perto demais. — Da próxima vez, Elira, pense antes de agir. Não posso prometer que sempre estarei por perto para salvar você. Ele se virou e começou a se afastar, mas parou por um momento, sem olhar para mim. — Cuidado com as sombras. Elas sabem mais sobre você do que deveriam. E então ele desapareceu, deixando-me sozinha novamente. As palavras da sombra ecoaram em minha mente, misturando-se com o aviso de Draegon. Quem, ou o que, sabia meu nome? E por quê?Capítulo 5 - "O Primeiro Confronto"(Narrado por Draegon) A noite ainda pairava densa sobre a terra quando retornei à fortaleza. Os corredores de pedra negra, frios como o gelo da montanha, reverberavam o som das minhas botas, mas minha mente estava longe, envolvida nos eventos da floresta. Eu repetia cada detalhe, cada movimento, tentando encontrar justificativas para minhas ações. Eu a salvei porque ela faz parte disso, porque ela está conectada à matilha. Esse vínculo, por mais maldito e absurdo que fosse, a colocava sob a minha proteção. E só por isso. Mas, mesmo enquanto eu tentava convencer a mim mesmo, lembrava-me do calor do corpo dela tão próximo ao meu, o cheiro único de sua pele, doce e intrigante como flores noturnas misturadas à brisa selvagem. Era uma distração, uma fraqueza que eu não podia me permitir. Entrei em meus aposentos e joguei meu manto de couro sobre uma cadeira próxima. A sala era espaçosa, iluminada apenas por tochas bruxuleantes que lançavam sombras
Capítulo 6 - "Fogo e Gelo" (Narrado por Thalrik) A neve caía suavemente sobre o campo de treinamento, cobrindo o solo com uma camada branca e densa que abafava os sons dos passos de minha matilha. O ar estava carregado com o frio cortante que se infiltrava nos ossos, mas nenhum dos lobos hesitava. Eu caminhava entre eles, observando cada movimento, cada golpe, corrigindo falhas com palavras tão afiadas quanto lâminas. — Você chama isso de ataque? — perguntei a um jovem lobo que tentava, sem sucesso, dominar um oponente mais velho. — Se sua força não estiver concentrada, sua fraqueza será sua morte. Ele arregalou os olhos, recuando um passo, mas não ofereceu desculpas. Bom. Pelo menos eles sabiam que desculpas não tinham lugar aqui. Parei ao lado de um círculo de guerreiros que treinavam em combate corpo a corpo. Um deles, um dos mais experientes, hesitou ao me ver. Seu movimento desacelerou por um segundo, e eu aproveitei a oportunidade para corrigir sua postura com um olhar
Capítulo 7 - "O Primeiro Beijo"(Narrado por Elira) A noite estava incrivelmente clara, e a lua cheia reinava absoluta no céu. Cada raio de sua luz prateada escorria pela floresta, transformando as folhas e os galhos em um cenário quase mágico, como se tivessem sido polidos pelo próprio tempo. Eu estava em uma clareira que descobri ao acaso, um lugar onde o som do mundo parecia diminuir, dando espaço apenas ao vento e ao som suave de minha respiração. Minhas botas afundavam levemente no solo macio, coberto de musgo e folhas caídas. Era um lugar tranquilo, ou deveria ser. Mas dentro de mim, a tempestade rugia. Respirei fundo, tentando acalmar os pensamentos que giravam como um redemoinho na minha mente. O duelo com Thalrik ainda estava fresco, tanto na memória quanto no corpo. Minha pele parecia formigar, como se seus olhos frios ainda me observassem, avaliando cada fraqueza. E Draegon... ele sempre estava lá, como uma sombra impossível de ignorar. Por que eles tinham tanto pod
Capítulo 8 - "Segredos Sob a Lua"(Narrado por Thalrik) O som da lareira crepitando era a única coisa que quebrava o silêncio absoluto da sala de estratégias. Eu estava sozinho, como sempre preferia estar nesses momentos. O cômodo era espaçoso, mas de uma frieza que refletia minha própria personalidade. O gelo, incrustado nas paredes e no teto, parecia pulsar com uma energia própria, e cada estante estava repleta de mapas antigos, escrituras, e registros de batalhas há muito esquecidas. Minha mesa estava coberta de pergaminhos e livros, alguns tão velhos que a tinta estava quase apagada. Um deles, em particular, prendia minha atenção. Era uma escritura antiga, escrita em um idioma que quase ninguém mais sabia ler. Eu passara as últimas horas tentando decifrar o que parecia ser um relato sobre os vínculos. Havia algo de errado. Eu sabia disso desde que senti a conexão com Elira pela primeira vez. Era diferente de tudo que eu já experimentara. Havia uma instabilidade no vínculo, a
Capítulo 9 - "A Chama do Desejo"(Narrado por Draegon) O vento cortava a floresta como uma lâmina gelada, mas o frio não me incomodava. Na verdade, nada parecia conseguir me distrair da tempestade que fervia dentro de mim. Meu corpo se movia automaticamente enquanto patrulhava os limites do território, atento a qualquer sinal de perigo. Cada som, o farfalhar das folhas, o estalo de galhos secos sob meus pés, o grito distante de uma coruja, parecia amplificado, como se o próprio mundo estivesse tentando me alertar de algo. Mas, mesmo em meio à quietude da noite e ao foco em minha tarefa, ela estava lá. Elira. Seu nome era uma chama constante em meus pensamentos, queimando com uma intensidade que eu não conseguia apagar. O cheiro dela, doce e amadeirado, parecia perseguir-me, mesmo quando ela não estava por perto. Era como se a própria floresta carregasse sua essência, zombando de minha determinação em ignorá-la. "Controle-se", ordenei a mim mesmo pela milésima vez. Mas era in
Capítulo 10 - "Sombras do Passado"(Narrado por Elira) A escuridão do sonho parecia viva, pulsante, como se respirasse junto comigo. Eu estava em um lugar que não reconhecia, uma planície deserta onde o céu estava dividido entre o negro absoluto e uma luz prateada difusa. A paisagem era tão silenciosa que até mesmo o som do vento parecia abafado. De repente, uma mulher surgiu à minha frente, materializando-se do nada. Seu cabelo prateado caía como uma cascata até a cintura, refletindo a luz de um luar inexistente. Seus olhos, brilhando como duas luas gêmeas, prenderam os meus. Ela não parecia real, havia algo etéreo em sua presença, como se fosse feita de luz e sombra entrelaçadas. — Você deve escolher entre a luz e a escuridão, mas ambos te destruirão se resistir. — Sua voz era um sussurro que reverberava dentro de mim, ecoando como um trovão. — O que isso significa? — perguntei, mas minha voz soou fraca, quase inaudível. Ela deu um passo à frente, sua silhueta tornando-se
Capítulo 11 - "A Caçada dos Alphas"(Narrado por Thalrik) O vínculo com Elira sempre fora uma força pulsante, uma constante que eu odiava tanto quanto precisava. Mas naquela noite, algo havia mudado. Era como um fio de seda que começava a se desgastar, prestes a romper. A dor era silenciosa, insidiosa, invadindo minha mente como veneno. Eu estava na sala de mapas, revisando rotas e estratégias com minha matilha, quando senti o primeiro impacto. Um lampejo de angústia atravessou meu peito, seguido por uma sensação de vazio que me fez soltar o pergaminho que segurava. — Thalrik? — Um dos guerreiros me chamou, preocupado. — Você está bem? Balancei a cabeça, tentando afastar a névoa que parecia envolver minha mente. — Continue sem mim. Preciso de um momento. Saí da sala sem esperar por uma resposta. Assim que cruzei a porta, o ar fresco da noite me atingiu, mas não trouxe alívio. A conexão com Elira estava fraca, mas ainda presente, como um eco distante chamando por mim. Feche
Capítulo 12 - "Entre Fogo e Sombra"(Narrado por Elira) As forças malignas não me davam descanso, e mais uma vez estava em uma situação complicada. As paredes de pedra ao meu redor pareciam vivas, pulsando com uma energia que me deixava nauseada. Cada superfície estava coberta de runas cintilantes, linhas intrincadas que brilhavam com uma luz azul-esverdeada, drenando minha força como um rio escoando para o mar. Tentei mover os braços, mas os grilhões que me prendiam ao chão eram inamovíveis, e cada tentativa de lutar contra eles fazia as runas brilharem mais intensamente, como se zombassem do meu esforço. O cheiro de enxofre era quase sufocante, misturado com o leve aroma metálico de sangue. Não sabia dizer se era meu ou de outra vítima antes de mim. A cela era pequena, apenas um quadrado de pedra fria e úmida, sem janelas. A única fonte de luz vinha das próprias runas, criando sombras dançantes nas paredes. A magia que preenchia o ar era densa, quase tangível, pressionando cont