"A Rejeição"

Capítulo 3 - "A Rejeição"

(Narrado por Thalrik)

As paredes da minha torre eram tão frias quanto meu coração. O gelo grosso que as formava parecia emanar um brilho fantasmagórico sob a luz da Lua, refletindo o azul profundo de meus pensamentos. O espaço ao meu redor era austero, mapas, planos de guerra e armas cuidadosamente organizadas eram as únicas decorações. Não havia necessidade de luxo ou distrações. Minha vida girava em torno de estratégia, controle e domínio.

A torre era alta, permitindo-me uma vista completa dos territórios ao redor. De lá, eu podia ver as florestas densas, os rios sinuosos e as montanhas distantes que separavam os nossos reinos dos humanos. Tudo isso me pertencia, conquistado com sangue e sacrifício. Contudo, essa sensação de poder absoluto era manchada por algo que eu não conseguia ignorar, a imagem de Elira.

Fechei os olhos, mas a visão dela se impôs. Seu rosto pálido, seus olhos de tempestade, e aquele ar de desafio que ela carregava mesmo diante da rejeição. Era insuportável. Ela não era nada do que uma Luna deveria ser. Frágil, jovem, inexperiente... Como poderia governar ao lado de um Alpha?

Deixei escapar um suspiro, minha respiração formando uma névoa no ar frio da sala. Eu me recusei a acreditar que o destino, a força que moldava os laços, poderia ter cometido um erro tão grotesco. Draegon e eu estávamos destinados a grandezas que ultrapassavam o entendimento comum. Uma Luna só nos atrasaria, nos enfraqueceria.

— Isso não pode continuar assim — murmurei para mim mesmo, minha voz ecoando pelas paredes de gelo.

Peguei um mapa do território dela. O pergaminho estava gasto nas bordas, mas ainda mostrava com precisão os detalhes das terras que ela chamava de lar. O cheiro das árvores da floresta encantada parecia quase real enquanto eu traçava os dedos pelas marcações. Eu sabia exatamente onde encontrá-la.

Minha decisão estava tomada. Se eu não podia simplesmente ignorar o vínculo, então eu o destruiria. Provaria a todos, e a mim mesmo, que ela era incapaz de ocupar o lugar que o destino lhe havia dado.

A floresta onde Elira estava era um contraste absoluto com minha torre. Havia vida ali, uma energia pulsante que parecia desafiar minha presença. As árvores eram altas, seus troncos grossos cobertos de musgo, e o chão estava forrado de folhas secas que rangiam sob minhas botas.

O ar estava carregado com o cheiro da terra e de flores noturnas. Era um aroma doce, quase enjoativo, que me fez franzir o nariz.

Caminhei em direção à clareira onde sabia que ela estaria. Meus passos eram firmes, e eu carregava comigo a certeza de que essa noite marcaria o início do fim desse erro.

Quando cheguei, lá estava ela.

Elira estava de costas para mim, mas mesmo assim, parecia perceber minha presença. Seu corpo estava tenso, como se soubesse que eu a observava. Ela vestia uma túnica simples de tecido leve, que ondulava suavemente com a brisa. Seus cabelos caíam em cascatas sobre os ombros, brilhando sob o luar como fios de prata.

— Então você veio. — Sua voz cortou o silêncio, firme e cheia de desdém.

Ela se virou lentamente, seus olhos encontrando os meus com uma intensidade que me surpreendeu. Não havia medo ali.

— Pensei que você preferisse ignorar minha existência, Thalrik. O que mudou?

Dei um passo à frente, estreitando os olhos para ela.

— Não se engane, Elira. Não estou aqui por escolha própria.

— Então, o que quer? Veio me insultar como Draegon? Ou será que resolveu assumir seu papel de Alpha?

Suas palavras eram como lâminas afiadas, cortando minha paciência. Eu a estudei por um momento, avaliando-a como faria com qualquer inimigo.

— Quero entender como alguém tão... insignificante... foi escolhido como Luna.

Ela ergueu uma sobrancelha, cruzando os braços sobre o peito.

— Insignificante? Você realmente tem coragem de me chamar assim?

Dei outro passo à frente, agora perto o suficiente para sentir o calor que emanava dela.

— O que você tem de força, Elira? De inteligência? De valor? Quero ver do que você é capaz.

Ela sorriu, mas não era um sorriso amigável. Era um sorriso de desafio, um sorriso que me fez sentir algo que eu não queria nomear.

— Prove-me errado, então, Alpha.

Os minutos seguintes foram um teste de vontades. Eu a forcei a me enfrentar de todas as formas possíveis, provocando-a, pressionando-a. Mas, para minha surpresa, ela não recuou.

Quando eu esperava que ela chorasse, ela riu. Quando eu pensava que ela desistiria, ela lutou. Havia algo nela, uma chama que eu não conseguia apagar, não importava o quanto tentasse.

No final, estava ofegante, mas ela não parecia derrotada.

— Satisfeito? — perguntou, inclinando a cabeça enquanto seus olhos brilhavam com uma mistura de exaustão e triunfo.

Eu a encarei, meu coração batendo mais rápido do que deveria. Não podia negar que ela era diferente. Não podia negar que, por mais que eu quisesse provar que ela era fraca, tudo o que consegui foi provar o contrário.

Ela virou-se para partir, e foi nesse momento que senti.

Uma faísca.

Algo dentro de mim, algo que eu havia enterrado há muito tempo, pareceu despertar.

Mas eu o ignorei.

— Isso não significa nada, Elira. Você ainda não merece ser Luna.

Ela parou, sem olhar para trás.

— Quem decide isso, Thalrik? Você... ou o destino?

Antes que eu pudesse responder, ela desapareceu entre as árvores, deixando-me sozinho na clareira.

A sensação daquela faísca permaneceu, inquietante e impossível de ignorar. Havia algo em Elira, algo que me perturbava mais do que eu estava disposto a admitir. E sabia que isso era apenas o começo.

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