"Dois Reis, Uma Rainha"

Capítulo 2 - "Dois Reis, Uma Rainha"

(Narrado por Draegon)

O salão estava silencioso, excepto pelo estalo ocasional do fogo na lareira que iluminava as sombras com um brilho trêmulo, mas, ao mesmo tempo, parecia incapaz de afastá-las por completo. O fogo dançava em tons de laranja e dourado, refletindo nos troféus que adornavam as paredes de pedra negra, armas, presas, crânios de criaturas que eu havia caçado e derrotado. Cada item era uma lembrança de vitórias que haviam consolidado minha posição como o Alpha mais temido deste território.

O ar estava denso. O cheiro de madeira queimando misturava-se ao leve aroma de ferro que sempre pairava por aqui. Era um espaço que emanava poder, mas naquele momento parecia sufocante.

Eu estava diante da grande janela arqueada do salão, observando a Lua cheia. Sua luz prateada parecia zombar de mim, lançando sombras que pareciam vivas. A frieza que emanava dela era quase insuportável, uma lembrança constante do erro que o destino havia cometido.

Respirei fundo, tentando ignorar a sensação de inquietação que me consumia.

Minha mandíbula estava tensa enquanto apertava o cálice de vinho entre os dedos. O aroma do líquido, forte e levemente amadeirado, não me trazia conforto. O cheiro dela ainda pairava no ar, como um fantasma impossível de afastar. Era doce e envolvente, como flores noturnas molhadas pelo orvalho. M*****a Luna.

— Por que agora? — murmurei, mais para mim mesmo do que para qualquer outra pessoa.

Minha mente vagava para aquela figura frágil e obstinada que ousava desafiar o meu controle. Ela não parecia sentir medo, mesmo quando deveria. Elira. O nome dela era uma espinha cravada na minha carne.

Antes que pudesse afundar mais nos meus pensamentos, o som de passos firmes ecoou no salão. Não precisei olhar para saber quem era. O ar ao meu redor ficou mais gelado, e um cheiro de pinho e ferro preencheu o ambiente.

— Thalrik. — Minha voz saiu como um grunhido, carregada de desprezo.

Ele entrou no salão como sempre fazia, como se o mundo inteiro fosse dele. Thalrik tinha o dom irritante de parecer imperturbável, mesmo quando a tensão no ar era palpável. Ele vestia uma túnica de couro escuro, ajustada o suficiente para exibir sua força, mas com detalhes prateados que demonstravam sua posição. Seu olhar, frio como o gelo de uma montanha, encontrou o meu.

— Draegon. — Sua saudação foi seca, carregada de provocação. — Achei que te encontraria aqui, remoendo sua... frustração.

Minha paciência já era pouca, e ele sabia exatamente como testá-la.

— Diga logo o que veio dizer antes que eu me canse de sua presença. — Virei-me totalmente para encará-lo, o cálice ainda firme na minha mão.

Thalrik inclinou a cabeça, analisando-me como um predador estudando sua presa.

— Você sente, não sente? — Ele deu um passo à frente, sua voz baixa e cortante. — O vínculo. É inegável.

A simples menção ao vínculo foi suficiente para incendiar o meu sangue.

— Não há vínculo! — rosnei, minha voz ecoando pelas paredes do salão. O cálice voou das minhas mãos, colidindo com a parede e espalhando vinho como sangue. — Isso é um erro!

Ele não se moveu, nem sequer piscou. Apenas continuou me encarando, como se minha explosão fosse insignificante.

— É um erro que estamos condenados a carregar, Draegon. — Thalrik cruzou os braços, sua expressão impenetrável. — Você pode negá-lo o quanto quiser, mas não pode fugir.

A raiva fervia em mim, mas suas palavras acertaram um nervo. Eu sabia que ele estava certo. Algo além do meu controle me puxava para ela, uma força tão insidiosa quanto implacável.

— Você acha que quero isso? — Minha voz saiu mais baixa agora, mas cheia de rancor. — Uma Luna que só trará fraqueza à minha alcateia?

— Fraqueza? — Thalrik soltou uma risada curta, sem humor. — Talvez. Ou talvez ela seja a chave para algo maior.

Eu o encarei, tentando decifrar seu significado, mas ele não deu nenhuma pista.

— O que você sabe, Thalrik? — Me aproximei, meu tom ameaçador. — Não me diga que você aceita isso.

Ele me olhou por um momento antes de responder, e por um instante, algo reluziu em seus olhos.

— Eu não aceito. Mas também não fujo. — Suas palavras eram como um desafio.

A tensão entre nós era palpável, o ar quase vibrando com a possibilidade de violência. Meu punho cerrou-se, e por um instante, pensei em atacá-lo. Mas algo me deteve.

Foi quando aconteceu.

Uma dor aguda atravessou minha mente, como se alguém estivesse tentando invadir minha alma. Meus joelhos quase cederam, e uma voz suave, desesperada, ecoou na minha cabeça.

— Draegon... por favor...

Minha respiração ficou presa. Era ela. Elira. Sua voz estava carregada de pavor, como se algo terrível estivesse acontecendo.

Thalrik pareceu sentir algo também. Seus olhos se estreitaram, e ele deu um passo para trás, como se estivesse tentando entender o que estava acontecendo.

— Você ouviu isso? — perguntei, minha voz mais baixa agora.

Ele assentiu, o olhar alarmado.

— Algo está errado.

O salão mergulhou no silêncio, mas meu coração batia como um tambor. Eu não sabia o que estava acontecendo, mas uma coisa era clara, não havia como ignorar.

O destino parecia brincar com mais do que apenas nossos sentimentos.

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