Os dias na fazenda seguiram calmos e ensolarados, com o canto dos pássaros marcando o início de cada manhã e o cheiro doce de grama molhada ao entardecer. Eveline se adaptava à rotina com leveza: visitava os animais, acompanhava Maria na cozinha, explorava cada canto da propriedade com o olhar curioso de quem desejava pertencer. E pertencia.Mas aos poucos, pequenos detalhes começaram a chamar sua atenção.Na primeira vez, foi sutil. Estava saindo do quarto com um vestido claro, de alças finas, quando Marcus a observou com o cenho levemente franzido.— Vai sair assim?— Assim como? — ela respondeu, sem entender.— Esse vestido... é um pouco... leve demais, não acha? O tecido marca muito seu corpo. Os rapazes da fazenda vão olhar.Ela riu, tentando quebrar o clima.— Amor, estamos a trinta e poucos graus. E eu estou grávida. Conforto é o que mais importa agora.— Só estou dizendo pra você se cuidar — respondeu ele, sério. — É minha responsabilidade te proteger. E... ninguém precisa ver
O dia estava quente, e Eveline aproveitava a leveza da manhã para caminhar pelos arredores da casa principal. Usava um vestido florido de tecido leve, com mangas curtas e uma fenda sutil que balançava com o vento. Seus cabelos estavam soltos, os lábios tingidos com um brilho suave, e havia algo no jeito de andar — um equilíbrio entre delicadeza e segurança — que chamava atenção por onde passava.Maria havia pedido alguns ingredientes na cidade, e um dos entregadores da loja da capital chegaria naquela manhã. Como Marcus estava ocupado no escritório, Eveline se ofereceu para receber a encomenda.Quando o caminhão estacionou perto da entrada da casa, ela se dirigiu até o portão com um sorriso cordial.O rapaz que desceu era jovem, simpático, olhos escuros e sorriso fácil. Estava organizando algumas caixas quando a viu se aproximar.— Bom dia, senhora... Eveline, não é? — disse, estendendo a mão. — Eu sou André. Vim da loja do centro. Que bom conhecê-la pessoalmente.— Bom dia, André! Qu
A luz do amanhecer mal começava a tocar as janelas do quarto quando Marcus abriu os olhos com um sorriso satisfeito. Os lençóis ainda guardavam o cheiro do amor da noite anterior — e da mulher que, mais uma vez, o havia desarmado por completo.Espalhadas pelo chão de madeira, entre almofadas caídas e roupas bagunçadas, estavam as peças de lingerie vermelha que Eveline havia escolhido com ousadia e intenção. O conjunto era novo, delicado, provocante. Quando ela surgiu com ele na penumbra do quarto, os cabelos soltos, o olhar incendiado, Marcus quase esqueceu como se respirava.Ela dançou para ele com um sorriso malicioso, lenta, sedutora, os quadris marcando o ritmo de um desejo que crescia como labareda. O sutiã caiu primeiro, arrancado pelos dentes dele. A calcinha? Nem teve tempo de ser retirada com as mãos — Marcus a puxou entre os dentes e se perdeu entre suas coxas.Foi uma noite de prazer intenso, risos abafados, e corpos que se pertenciam em cada investida. Eveline dera um verd
A semana passou como um sopro.Entre preparativos, encaixotamentos e despedidas discretas, Marcus e Eveline organizaram tudo o que precisavam levar para a capital. Marcus tratou pessoalmente dos documentos da fazenda e deixou instruções detalhadas com Mario e Lúcio, que cuidariam de tudo durante sua ausência.Eveline se ocupava com pequenos detalhes, mas a cada passo que dava pela casa, sentia o coração apertar. Aquela fazenda era o lugar onde ela havia sido transformada. Onde aprendera a amar, a ser amada — onde deixara de ser a menina submissa da casa de Júlio Rocha para se tornar mulher de verdade.Na manhã da partida, Maria preparou um café especial. A mesa estava cheia de quitutes: pão de queijo, bolo de milho, frutas frescas, queijo da fazenda — tudo feito com amor.Ela os aguardava de pé, as mãos entrelaçadas diante do avental, o rosto sereno, mas os olhos úmidos.— Maria... — Eveline a abraçou forte. — Eu não sei nem como te agradecer por tudo.— Não precisa agradecer, minha f
A vida na mansão Castelão tinha um ritmo diferente. Pela primeira vez, Eveline sentia o que era ser cuidada — não com rigidez ou imposição, mas com afeto genuíno. Helena a tratava como filha, e tudo parecia ter sido preparado com tanto zelo que Eveline às vezes se pegava emocionada, mesmo nos pequenos detalhes: o jardim florido, a cozinha perfumada, o quarto com enxoval novo.— Essa é sua casa agora — dizia Helena, sorrindo. — E do meu neto também.A primeira consulta do pré-natal, no terceiro dia após a mudança, foi um marco.Helena insistiu em acompanhá-la até a clínica. O obstetra era renomado, o ambiente sofisticado, e o atendimento humano.— Seu bebê está com ótimo desenvolvimento — disse o Dr. Romero, após os exames. — Tudo segue dentro do esperado. Continue cuidando da alimentação, hidratação... e curtam esse início. É mágico.Eveline apertou os papéis nas mãos, emocionada. Helena segurou sua outra mão e, ao saírem da clínica, presenteou-a com um vestido de gestante de tecido l
As semanas passaram com ritmo constante na mansão Castelão. Marcus já havia iniciado os trabalhos ao lado do pai, Eduardo, acompanhando de perto as operações dos escritórios da família. Aos poucos, se adaptava à nova rotina: ternos substituíram as camisas simples da fazenda, e o ambiente urbano, embora incômodo a princípio, começava a fazer parte do seu cotidiano.As datas para as cirurgias reconstrutivas haviam sido marcadas. Três procedimentos, espaçados em intervalos de recuperação, conduzidos pela equipe de Dr. Ayres. Eveline estava ao seu lado em cada consulta, oferecendo força e amor incondicional.Em uma tarde ensolarada, Eveline, que passava os dedos distraidamente pelo catálogo de roupas do bebê, resolveu ligar para sua antiga amiga Clara. As duas não se viam desde que Eveline saíra da casa dos pais.— Clara? É a Eveline! — disse com empolgação. — Estou na capital agora, e queria muito te ver.Marcaram um café em uma cafeteria charmosa no centro da cidade. Antes de sair, Evel
Naquela manhã, o sol mal havia nascido quando Eveline despertou, os olhos ainda inchados pela noite mal dormida. A discussão com Marcus no dia anterior a abalara mais do que gostaria de admitir. Apesar da reconciliação ardente que selou o fim do desentendimento, ela não conseguia deixar de sentir o peso da insegurança do marido sobre seus ombros.Enquanto ele dormia profundamente ao seu lado, com os traços tensos mesmo em repouso, Eveline se levantou em silêncio e foi até a varanda do quarto. Precisava respirar. A brisa fria da manhã acariciou sua pele, e com uma das mãos repousadas sobre a barriga ainda discreta, ela fechou os olhos. O coração de Marcus era seu lugar de abrigo, mas também uma fortaleza cercada por medos antigos.— Amor? — a voz de Marcus soou baixa e rouca, vindo de dentro do quarto. Ele se aproximou, abraçando-a por trás. — Você está bem?Eveline virou-se para ele, pousando a cabeça em seu peito.— Estou. Só... um pouco pensativa. Você sabe que hoje é um grande dia.
Os primeiros dias de recuperação de Marcus foram intensos. O pós-operatório exigia atenção constante, não apenas da equipe médica, mas também da família. Helena e Eduardo revezavam com Eveline no quarto, mas era ela quem não saía do lado do marido, mesmo quando o corpo pedia descanso.As feições de Marcus estavam cobertas por curativos, as dores eram controladas por medicações fortes e o cansaço deixava seu humor oscilante. Ainda assim, quando acordava e via Eveline ali, sentada, penteando os cabelos com delicadeza, murmurando palavras suaves, algo em seus olhos suavizava.— Você não precisa ficar aqui o tempo todo — ele murmurou em uma das tardes. — Vai descansar um pouco. Eu fico bem.Ela sorriu e segurou sua mão com carinho.— Não sei descansar longe de você.Ele fechou os olhos, apertando sua mão com mais força. Havia algo diferente nele. Como se o medo de antes estivesse sendo substituído por algo novo, sutil, mas presente: aceitação.Nos dias seguintes, Eveline passou a se comun