A semana passou como um sopro.Entre preparativos, encaixotamentos e despedidas discretas, Marcus e Eveline organizaram tudo o que precisavam levar para a capital. Marcus tratou pessoalmente dos documentos da fazenda e deixou instruções detalhadas com Mario e Lúcio, que cuidariam de tudo durante sua ausência.Eveline se ocupava com pequenos detalhes, mas a cada passo que dava pela casa, sentia o coração apertar. Aquela fazenda era o lugar onde ela havia sido transformada. Onde aprendera a amar, a ser amada — onde deixara de ser a menina submissa da casa de Júlio Rocha para se tornar mulher de verdade.Na manhã da partida, Maria preparou um café especial. A mesa estava cheia de quitutes: pão de queijo, bolo de milho, frutas frescas, queijo da fazenda — tudo feito com amor.Ela os aguardava de pé, as mãos entrelaçadas diante do avental, o rosto sereno, mas os olhos úmidos.— Maria... — Eveline a abraçou forte. — Eu não sei nem como te agradecer por tudo.— Não precisa agradecer, minha f
A vida na mansão Castelão tinha um ritmo diferente. Pela primeira vez, Eveline sentia o que era ser cuidada — não com rigidez ou imposição, mas com afeto genuíno. Helena a tratava como filha, e tudo parecia ter sido preparado com tanto zelo que Eveline às vezes se pegava emocionada, mesmo nos pequenos detalhes: o jardim florido, a cozinha perfumada, o quarto com enxoval novo.— Essa é sua casa agora — dizia Helena, sorrindo. — E do meu neto também.A primeira consulta do pré-natal, no terceiro dia após a mudança, foi um marco.Helena insistiu em acompanhá-la até a clínica. O obstetra era renomado, o ambiente sofisticado, e o atendimento humano.— Seu bebê está com ótimo desenvolvimento — disse o Dr. Romero, após os exames. — Tudo segue dentro do esperado. Continue cuidando da alimentação, hidratação... e curtam esse início. É mágico.Eveline apertou os papéis nas mãos, emocionada. Helena segurou sua outra mão e, ao saírem da clínica, presenteou-a com um vestido de gestante de tecido l
As semanas passaram com ritmo constante na mansão Castelão. Marcus já havia iniciado os trabalhos ao lado do pai, Eduardo, acompanhando de perto as operações dos escritórios da família. Aos poucos, se adaptava à nova rotina: ternos substituíram as camisas simples da fazenda, e o ambiente urbano, embora incômodo a princípio, começava a fazer parte do seu cotidiano.As datas para as cirurgias reconstrutivas haviam sido marcadas. Três procedimentos, espaçados em intervalos de recuperação, conduzidos pela equipe de Dr. Ayres. Eveline estava ao seu lado em cada consulta, oferecendo força e amor incondicional.Em uma tarde ensolarada, Eveline, que passava os dedos distraidamente pelo catálogo de roupas do bebê, resolveu ligar para sua antiga amiga Clara. As duas não se viam desde que Eveline saíra da casa dos pais.— Clara? É a Eveline! — disse com empolgação. — Estou na capital agora, e queria muito te ver.Marcaram um café em uma cafeteria charmosa no centro da cidade. Antes de sair, Evel
Naquela manhã, o sol mal havia nascido quando Eveline despertou, os olhos ainda inchados pela noite mal dormida. A discussão com Marcus no dia anterior a abalara mais do que gostaria de admitir. Apesar da reconciliação ardente que selou o fim do desentendimento, ela não conseguia deixar de sentir o peso da insegurança do marido sobre seus ombros.Enquanto ele dormia profundamente ao seu lado, com os traços tensos mesmo em repouso, Eveline se levantou em silêncio e foi até a varanda do quarto. Precisava respirar. A brisa fria da manhã acariciou sua pele, e com uma das mãos repousadas sobre a barriga ainda discreta, ela fechou os olhos. O coração de Marcus era seu lugar de abrigo, mas também uma fortaleza cercada por medos antigos.— Amor? — a voz de Marcus soou baixa e rouca, vindo de dentro do quarto. Ele se aproximou, abraçando-a por trás. — Você está bem?Eveline virou-se para ele, pousando a cabeça em seu peito.— Estou. Só... um pouco pensativa. Você sabe que hoje é um grande dia.
Os primeiros dias de recuperação de Marcus foram intensos. O pós-operatório exigia atenção constante, não apenas da equipe médica, mas também da família. Helena e Eduardo revezavam com Eveline no quarto, mas era ela quem não saía do lado do marido, mesmo quando o corpo pedia descanso.As feições de Marcus estavam cobertas por curativos, as dores eram controladas por medicações fortes e o cansaço deixava seu humor oscilante. Ainda assim, quando acordava e via Eveline ali, sentada, penteando os cabelos com delicadeza, murmurando palavras suaves, algo em seus olhos suavizava.— Você não precisa ficar aqui o tempo todo — ele murmurou em uma das tardes. — Vai descansar um pouco. Eu fico bem.Ela sorriu e segurou sua mão com carinho.— Não sei descansar longe de você.Ele fechou os olhos, apertando sua mão com mais força. Havia algo diferente nele. Como se o medo de antes estivesse sendo substituído por algo novo, sutil, mas presente: aceitação.Nos dias seguintes, Eveline passou a se comun
Dois dias se passaram desde a cirurgia, e a recuperação de Marcus começava a mostrar pequenos avanços. As dores ainda eram frequentes, mas controladas, e a equipe médica estava satisfeita com os primeiros resultados. Eveline não desgrudava do marido, mas agora dividia com mais tranquilidade os cuidados com Helena, o que lhe permitia espaços curtos para descansar ou respirar.Naquela manhã, Marcus acordou mais disposto. Os olhos estavam menos pesados, e seu humor, embora ainda sensível, tinha traços de leveza. Quando Eveline entrou no quarto com uma bandeja de café trazida pela enfermagem, ele esboçou um sorriso discreto.— Você parece melhor hoje — ela comentou, ajeitando os travesseiros para que ele se sentasse.— Estou me sentindo menos... destruído — ele brincou, com voz rouca. — Deve ser a sua presença. E esse café com cheiro de amor.Eveline riu, tocando suavemente seu rosto. Era bom vê-lo assim, mesmo que por instantes. Enquanto ele comia, conversaram sobre pequenos assuntos cot
Três dias depois, como previsto, Marcus recebeu alta do hospital. Ainda com os curativos em parte do rosto e orientações médicas rigorosas sobre o repouso, ele foi levado para casa com toda a discrição que a família Castelão sabia manter. Cláudio, o motorista de confiança, conduzia o carro com cautela, enquanto Eveline permanecia ao lado do marido, segurando sua mão e acariciando suavemente seus dedos durante todo o trajeto.Na chegada à mansão na capital, Helena e Eduardo aguardavam na entrada, acompanhados de alguns dos funcionários da casa. A governanta da mansão, Dona Beatriz, estava à frente, organizando os detalhes finais da recepção simples, mas acolhedora. Tudo havia sido preparado com cuidado: flores discretas, o aroma leve de lavanda preenchendo os corredores, e o quarto do casal impecável, com lençóis macios e cortinas abertas para permitir a entrada da luz natural.— Bem-vindo de volta, meu filho — disse Helena, emocionada, abraçando Marcus com carinho.— Estamos felizes q
Uma semana se passou desde que Marcus retornara à mansão na capital. A rotina, apesar de tranquila, estava recheada de cuidados. Eveline seguia com zelo absoluto nas orientações da equipe médica, que agora fazia visitas regulares à casa para acompanhar a evolução da cirurgia.Naquela manhã, dois profissionais compareceram à residência: o enfermeiro-chefe da clínica de reabilitação e a doutora Lorena Viana, uma cirurgiã plástica auxiliar conhecida não apenas pela competência, mas também pela beleza estonteante e jeito desinibido. Alta, de curvas marcantes e um sorriso marcante, Lorena não demorou a se destacar no ambiente.Durante o procedimento de retirada dos primeiros curativos, Eveline observava com atenção cada movimento. Lorena, no entanto, não parecia se importar com a presença da esposa ao lançar olhares longos para Marcus e falar com um tom que beirava a intimidade.— Marcus, você está cicatrizando incrivelmente bem. É um paciente exemplar... e muito forte. Confesso que poucos