Capítulo 5
Acostumado a ver a Camila sempre calma e serena, Lucas ficou surpreso ao vê-la tão nervosa, parecendo um gatinho assustado.

Ele achou a cena interessante e, com um sorriso provocador, disse:

— Você que veio para perto de mim, e não adianta empurrar, você não saía.

O rosto de Camila ficou vermelho:

— Impossível.

O sorriso de Lucas se alargou:

— Da próxima vez, vou gravar com o celular, para você não negar.

Camila ficou ainda mais embaraçada, virou-se rapidamente e pegou uma camisa na mesa de cabeceira, tentando vesti-la.

Na pressa, ela nem percebeu que abotoou errado.

Enquanto observava a figura esguia de Camila se vestindo desajeitadamente, Lucas lembrou-se da noite anterior.

No sono, ela parecia assustada, encolhida em uma pequena bola, tremendo. Ele a abraçou e tentou acalmá-la, mas ela murmurou ‘Pedro...’ de olhos fechados.

Ele não sabia quantas vezes já ouvira isso. Quanto amor seria necessário para alguém se lembrar tão intensamente?

Lucas tinha investigado esse ‘Pedro’ por muito tempo, mas sem sucesso. Quando perguntou a Camila, ela evitou responder. Não dizer nada era um insulto; dizer a verdade, ainda mais.

Com o sorriso desaparecendo, ele colocou o relógio no pulso e disse distraidamente:

— Hoje à noite, provavelmente, vou voltar tarde. Arranje uma explicação para a vovó.

Camila parou de abotoar a camisa.

Sabia que ele ficaria no hospital com Chloe até tarde. Sentiu uma dor profunda e humilhação, quase chorando.

Após um longo silêncio, ela disse:

— Vou tentar convencer a vovó sobre o divórcio. Desculpe por isso.

Lucas olhou para ela com um misto de sentimentos:

— Desculpe por você também.

Depois do café da manhã, o motorista da casa levou Camila até a Antiquário do Tesouro, onde ela trabalhou o dia inteiro.

Ao final do expediente, Camila recebeu uma ligação do motorista:

— Sra. Camila, meu carro foi atingido por um motorista bêbado e preciso esperar pela polícia. Você pode pegar um táxi para voltar?

— Bom. – Respondeu Camila.

Camila saiu da rua das antiguidades.

Ao virar a esquina, dois homens se aproximaram e bloquearam o seu caminho. Um dos homens, alto e magro, disse:

— Você é Camila? Por favor, venha conosco.

Ela os olhou com desconfiança. Eram homens de cerca de 27 ou 28 anos, usando óculos escuros à noite, com um comportamento suspeito e um leve cheiro de terra. Sentindo uma pontada de medo, Camila perguntou:

— Para onde?

O homem alto respondeu:

— Temos uma pintura antiga que precisa de restauração. Não se preocupe, não temos más intenções e vamos pagar o preço de mercado.

Camila relaxou um pouco e disse:

— Tragam a pintura para a loja onde eu trabalho.

O outro homem careca franziu a testa:

— Por que perder tempo falando? Vamos levá-la logo.

Ao ouvir isso, Camila tentou fugir, mas foi agarrada pelo braço e puxada para dentro de um carro preto estacionado à beira da estrada.

O carro começou a se mover. O homem alto pegou o celular dela e disse:

— Ligue para sua família e diga que vai viajar com amigos por alguns dias para que não se preocupem.

Instintivamente, Camila pensou em ligar para Lucas, mas lembrou-se de que ele estava no hospital com Chloe e não teria tempo para ela. Então, decidiu ligar para sua mãe.

O homem alto encontrou o número da mãe dela. Quando a ligação foi atendida, Camila disse:

— Mãe, eu vou sair com amigos por alguns dias. Não se esqueça de tomar seus remédios para diabetes…

Antes que pudesse terminar, o homem alto tirou o telefone dela e o desligou.

Em seguida, ele pegou um pano preto e cobriu os olhos de Camila.

Parecia que o carro estava dirigindo por um longo tempo antes de finalmente parar.

Ela foi levada para um prédio antigo. Subiram até o terceiro andar e abriram uma porta, onde havia uma grande mesa vermelha no centro da sala com um cofre em cima.

O homem alto abriu o cofre e retirou uma pintura.

A pintura tinha cerca de um metro e meio de comprimento, estava bastante desgastada e muitas partes estavam danificadas, precisando de reparos.

Camila examinou a pintura com cuidado.

A arte era melancólica e profunda, com montanhas altas e imponentes, florestas densas e cabanas escondidas entre as árvores.

Ela a reconheceu como uma pintura de paisagem do famoso pintor Nicolas Antoine.

Uma das pinturas mais valiosas de Nicolas havia sido vendida por três bilhões reais em um leilão.

Se esta pintura fosse restaurada, poderia facilmente ser leiloada por dezenas de milhões.

Não é de admirar que esses homens tenham arriscado tanto para levá-la até ali.

Ao não levar a pintura para a loja, ficou claro que ela tinha uma origem questionável, talvez tenha sido roubada ou retirada de um museu.

O homem alto perguntou:

— Sra. Camila, quanto tempo levará para restaurar esta pintura?

— Esta pintura é grande, muito danificada e várias partes precisam ser reconstruídas. Vai levar pelo menos duas semanas. — Respondeu Camila.

— Ok. Escreva uma lista de todas as ferramentas e materiais necessários. Vamos providenciar tudo.

Camila pegou uma caneta e escreveu a lista, entregando-a aos homens.

O homem alto pegou a lista e disse:

— Vamos providenciar os materiais. Descanse enquanto isso.

Ela assentiu. Os dois homens saíram e trancaram a porta atrás deles com um clique.

Camila olhou ao redor. O quarto tinha banheiro, cama, mesa, cadeira e comida, obviamente tudo preparado.

Fora da janela, havia montanhas sem fim, uma paisagem desolada e estranha, com algumas luzes distantes, indicando que estavam longe da cidade.

Seu estômago roncou de fome. Ela pegou uma fatia de pão, deu algumas mordidas e bebeu alguns goles de água.

Após lavar-se, deitou-se na cama. O silêncio ao redor era surpreendente, mas ela não conseguia dormir. Ela havia desaparecido, será que Lucas estaria preocupado?

Provavelmente não. Ele só tinha olhos para Chloe, provavelmente ainda no hospital com ela.

Pensar na urgência com que Lucas correu para o hospital após o suicídio de Chloe fez Camila sentir uma dor aguda, como se pedras pesadas pressionassem seu coração.

Virou-se na cama várias vezes e não conseguiu dormir até o meio da noite.

Levantou-se para ir ao banheiro e, de repente, ouviu barulhos do lado de fora.

Colou o ouvido na porta e ouviu o homem alto perguntar :

— Careca, o que você está fazendo?

O careca respondeu em voz baixa:

— Não consegui dormir, vim ver se a garota estava quieta. Você acha que ela, uma simples garota, consegue restaurar nossa pintura? Esse trabalho vale milhões, não podemos deixá-la estragar tudo, o chefe ficaria furioso.

— O chefe investigou. O avô dela é o ‘mestre da restauração’ José Santos, que a ensinou desde cedo. Dizem que as pinturas restauradas por ele nos últimos anos foram, na verdade, feitas por ela.

— Ora, então estou mais tranquilo. — O careca riu e disse:

— Mas uma garota tão bonita, você não tem nenhum desejo?

O homem alto o repreendeu:

— Guarde seus pensamentos sujos. O importante é restaurar a pintura. Quando vendermos, você não terá dificuldade em encontrar quantas mulheres quiser com o dinheiro.

— Mulheres compradas são para qualquer um, não podem se comparar com ela. Depois que ela terminar de restaurar a pintura, posso me divertir um pouco, certo? Ela é muito bonita, com pele clara e olhos grandes, me deixa louco. – Respondeu o careca.

Após um momento de silêncio, o homem alto e magro disse:

— Tudo bem. Mas antes de terminar o trabalho, não toque nela.

— Entendi.

Camila sentiu-se profundamente enojada. Eram realmente um bando de criminosos desprezíveis!

Ouvindo os dois se afastarem, ela puxou a maçaneta da porta com força. Estava trancada e sem ferramentas para arrombar.

Foi até a janela e olhou para baixo, estavam no terceiro andar, com um pátio de concreto.

Pular não era uma opção, além de um grande cão de guarda no quintal que alertaria qualquer tentativa de fuga.

Ela só podia esperar por ajuda externa.

No dia seguinte, Camila começou a restaurar a pintura meticulosamente. O processo consumiu três dias de seu tempo.

À medida que o dia da conclusão da restauração da pintura se aproximava, Camila ficava cada vez mais ansiosa.

As noites se tornaram inquietas, várias vezes, ela ouviu os passos do careca rondando sua porta no meio da noite.

Na madrugada de um dia desses, ela finalmente conseguiu pegar no sono.

De repente, foi despertada pelo latido dos cães e passos apressados lá fora. Num pulo, levantou-se e começou a vestir suas roupas.

A porta rangeu ao ser empurrada e o homem alto entrou apressado, segurando-a pelo pulso e puxando-a para fora. O careca foi buscar a pintura.

Quando chegaram à porta, uma multidão subiu as escadas apressadamente.

À frente, um homem alto e imponente, com olhos profundos e sérios-era Lucas, seguido por um grupo de policiais bem equipados.

A alegria de Camila foi avassaladora como um macaréu.

Ela mal podia acreditar no que via. Olhando fixamente para o homem, perguntou com a voz trêmula:

— É realmente você, Lucas?

— Sou eu. — Lucas deu grandes passos à frente.

O homem alto agarrou Camila e correu em direção à janela. Antes que ela pudesse reagir, sentiu uma lâmina fria em seu pescoço.

O homem alto, pressionando a faca contra sua pele, gritou para os policiais:

— Abaixem as armas! Recuem! Ou eu a mato!

A lâmina cortou sua pele, fazendo Camila sentir uma dor aguda que a deixou tonta.

Os punhos de Lucas se cerraram imediatamente, os olhos cheios de fúria e preocupação fixos nela.

Ele gritou com os policiais:

— Abaixem as armas! Saiam todos!

Os policiais, trocando um olhar com ele, lentamente abaixaram suas armas e recuaram.

O careca chutou as armas para um canto.

O homem alto empurrou Camila para o parapeito da janela.

— Pule!

Camila segurou-se com força na moldura da janela, sem coragem para pular. Estavam no terceiro andar, se pulasse, poderia morrer ou se machucar gravemente.

— Pule! Você não vai morrer! — O homem alto, perdendo a paciência, puxou-a com força.

Num piscar de olhos, um tiro ecoou pelo ar, seguido por um grito de dor que rompeu o silêncio da noite!
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