Pedro ficou imóvel ao lado da cama, observando Camila por um longo tempo. Não tinha coragem de ir embora. Já eram três da manhã, mas ele não sentia sono. Apenas estar ali, olhando para ela em silêncio, já era suficiente. O celular vibrou de repente. Com medo de acordar Camila, ele atendeu rapidamente e saiu do quarto, fechando a porta com cuidado. Foi para a varanda. A voz clara e firme de sua irmã, Liliane Costa, ecoou do outro lado da linha:— Seu folgado! Eu faço o esforço de voltar ao Brasil, e você não só não vem me buscar no aeroporto, como nem dá as caras. Pedro respondeu em um tom baixo: — Eu estou resolvendo algumas coisas fora. Liliane bufou, contrariada: — Fora da cidade? Isso é ainda pior! Sabia que eu ia chegar e mesmo assim marcou compromissos? Nem parece que sou sua irmã. — É um assunto pessoal. Ela riu, com um tom malicioso:— Tá namorando, né? Tá na casa da sua namorada? Quem é ela? Quero conhecê-la! — Não é isso. Camila bebeu demais, estou aqui cuidan
— Boa noite. — Liliane virou-se e foi para o quarto de hóspedes.Pedro entrou no banheiro, fechou a porta e começou a lavar as roupas, incluindo as de Camila. Depois de tudo limpo, foi até a varanda, colocou as peças na máquina de secar e, em seguida, as pendurou no varal. Ele estava sem camisa, revelando um corpo bem definido, fruto dos anos de treinamento pesado no grupo Equipa Leão. Não era uma musculatura exagerada, mas o suficiente para mostrar força e disciplina. Enquanto alisava a camisa de Camila antes de pendurá-la, Pedro percebeu algo estranho. Seu olhar endureceu ao notar o reflexo de um possível lente longa escondido entre os arbustos, apontado em sua direção. A luz fraca da noite dificultava a visão, mas o instinto de alerta tomou conta. Ele pegou rapidamente uma camiseta do varal, vestiu-a e correu para a porta. Ao chegar ao local, já era tarde demais. O intruso tinha desaparecido. Pedro examinou o chão ao redor, encontrando folhas amassadas e marcas de pegadas. O tam
Possivelmente, era uma questão de personalidade. Camila ficou surpresa com a franqueza de Liliane. Engoliu um gole de leite e esboçou um leve sorriso: — Considero o Sr. Pedro apenas um amigo.— Ah, amigo? — Liliane deu um sorriso enigmático enquanto passava geleia no pão com a habilidade de quem já fez isso mil vezes.Ela simplesmente não conseguia entender o jeito discreto e contido de Camila, muito menos a paixão silenciosa que Pedro sentia por ela, sem nunca declarar seus sentimentos. Para Liliane, era algo inconcebível. Na sua visão, gostar de alguém era correr atrás. Se não desse certo, seguia em frente e procurava outro. Afinal, a Terra continuaria girando com ou sem alguém específico.Depois do café da manhã, Liliane foi embora. Camila, agora sozinha, pegou o celular e se jogou no sofá da sala. Ligou para Lucas. Quem atendeu, no entanto, foi uma voz feminina não muito familiar. Ainda assim, ela reconheceu. Era Tânia. Um incômodo cresceu no peito de Camila, como se sua pe
O médico assentiu:— Ele acordou, foi por volta das seis da tarde. Camila pensou um instante. Naquele momento, ela tinha saído para jantar. Ela apontou para a própria cabeça:— Ele não perdeu a memória, né? O médico soltou uma risada:— Vocês, jovens, assistem novela demais. Não é tão fácil assim perder a memória. Mesmo que ele tivesse perdido, seria algo leve, talvez esqueceria os últimos dias, como quem bebe demais e dá um “branco”. Em poucos dias, tudo volta ao normal. Não se preocupe. Camila soltou um longo suspiro de alívio. Que bom que ele não tinha perdido a memória. O médico e a enfermeira saíram logo em seguida. Camila segurou a alça do recipiente térmico, caminhou até a porta e disse ao segurança:— Por favor, avise ao Sr. Lucas que eu gostaria de vê-lo.O segurança, com o coração um pouco mole ao vê-la esperando o dia todo, respondeu: — Por gentileza, aguarde um momento. Ele abriu a porta e entrou no quarto. Encontrou Lucas encostado na cabeceira da cama, sen
Tânia ficou surpresa:— Sr. Lucas, fiz algo errado? Lucas evitou encará-la. Fitando o nada, respondeu sem emoção:— Entre nós existe apenas uma relação comercial. Se você tem algum interesse que ultrapasse isso, eu me retiro.Tânia suspirou aliviada, colocando o pote térmico sobre o criado-mudo. Ela deu de ombros e sorriu: — Ah, então é por isso? Você está se preocupando à toa. Pra mim, é só negócio mesmo. Sr. Enzo até tentou nos juntar, mas eu te vejo como um camarada. Ganhar dinheiro não é muito melhor? Essas coisas de amor e romance só dão dor de cabeça. Eu sou prática. Lucas ficou em silêncio por alguns instantes antes de dizer: — Estou cansado. Quero descansar. O olhar de Tânia suavizou ao notar o cansaço no rosto dele e a faixa branca no braço ferido: — Ainda está doendo? — Não. Ela riu: — Como não? Você é de carne e osso. Lucas fechou os olhos, sem querer prolongar a conversa. — Então, descanse bem. Não vou mais te incomodar. Lucas apenas murmurou um "hum
André fez a ligação. O número, no entanto, estava desativado.Lucas franziu levemente a testa e ordenou:— Envie alguém até a casa deles. Não importa o que custe, quero que os encontrem. André imediatamente fez outra ligação, organizando uma equipe para ir até a casa de Breno e Igor.Uma hora depois, o celular tocou. Um dos homens da equipe informou: — Breno e Igor tinham apenas um pai, mas ele faleceu no ano passado. A casa está trancada, e os vizinhos disseram que não viram nenhum dos dois por aqui recentemente. Lucas massageou a testa com os dedos, visivelmente irritado:— Vão ao Condomínio Hipicus e analisem as câmeras de segurança. Duas horas mais tarde, André voltou com os vídeos das câmeras. Ele entregou o celular para Lucas, que começou a assistir às imagens.O vídeo mostrava Pedro segurando Camila nos braços. A cada segundo, o semblante de Lucas ficava mais tenso, suas mãos cerrando-se em punhos, os músculos das veias saltando sob a pele enquanto seus nós dos dedos fic
— Certo, Sr. Lucas. — André estava prestes a sair para fazer a ligação. Lucas o chamou de volta:— Breno e Igor desapareceram. Arranje mais dois seguranças para proteger a Camila. Que sejam confiáveis.— Vou providenciar agora mesmo, Sr. Lucas. Quando André saiu, Lucas levou a mão às têmporas, tentando aliviar a dor latejante que se espalhava pela cabeça. A raiva subiu tão intensa que o deixava à beira da explosão. As sequelas da concussão só pioravam as coisas: o enjoo subia à garganta, o peito apertava, e cada respiração parecia um esforço árduo. Porém, nenhuma dor física podia se comparar à pontada aguda que dilacerava seu coração. Jamais teria imaginado que Camila, enquanto ele estava inconsciente, pudesse estar nos braços de Pedro. O fato de Pedro andar livremente pela casa dela, sem camisa, era uma afronta direta, um soco em sua dignidade. Ele se sentia traído, usado, humilhado. E isso era insuportável. Do lado de fora, André já tratava de organizar tudo. Contratou rapida
Pedro ajudou Camila a entrar no carro e garantiu que ela estivesse acompanhada por seguranças. Com tudo resolvido, ele foi até o quarto de Lucas. Ao abrir a porta e se aproximar da cama, estava prestes a falar algo. De repente, Lucas arrancou o cateter, jogou o cobertor de lado e pulou da cama. Em um movimento rápido, agarrou Pedro pela gola da camisa e, sem dizer uma palavra, ergueu o punho, pronto para acertá-lo. Pedro segurou o pulso de Lucas com firmeza, empurrando-o para trás para criar distância. Com um tom sereno, disse: — Quando você estiver recuperado, podemos resolver isso com um confronto justo. Agora, seria injusto lutar com você nessas condições.Lucas apoiou-se na beira da cama, lançando um olhar frio e cortante. Um sorriso carregado de desprezo surgiu em seus lábios. Ele provocou:— Você gosta de dizer que não se aproveita das situações, mas tem feito exatamente isso. No fim das contas, você é tão hipócrita quanto qualquer outro. Pedro respondeu com um sorriso ig