Lucas tinha aquela expressão de quem não queria conversa com ninguém. Bruno vinha logo atrás, carregando a mochila. Quando viu Chloe, soltou um Ó! zombeteiro, mas não disse mais nada. Lucas entrou no elevador. Chloe, rápida como uma sombra, se esgueirou para dentro também. Ficou lá no fundo, silenciosa, com os olhos grudados nas costas dele, encolhida, com uma postura quase servil. Parecia um passarinho assustado, como uma codorna selvagem. Lucas mantinha a postura impecável, ereto, com os olhos fixos nos botões do painel do elevador, o rosto completamente inexpressivo. Bruno, ao perceber o jeito retraído de Chloe, riu baixo:— Srta. Chloe, você tá parecendo uma enguia, entrando em qualquer brecha que encontra. É porque ouviu que o Lucas terminou com a Camila e quer aproveitar a oportunidade, é isso?Chloe arregalou os olhos, como se tivesse levado um choque:— Bruno, o Lucas e a Camila terminaram mesmo?Bruno ia responder, mas Lucas cortou a conversa sem nem olhar para trás:— Ent
Camila desligou o telefone e bloqueou o número de Chloe sem hesitar.Chloe tentou ligar de novo, mas a chamada não completava mais. Estava furiosa, com a raiva entalada na garganta, sem ter como desabafar. Entrou no carro bufando e, sem se dar por vencida, pegou o celular do motorista emprestado. Discou novamente o número de Camila. Assim que ouviu a voz do outro lado, disparou:— Camila, do que você tá rindo, hein? Qual é a graça? Você não foi descartada pelo Lucas do mesmo jeito? Acabei de ver ele no Bar Sereno, procurando companhia feminina. Pra ele, você não é diferente dessas garotas que fazem qualquer coisa por dinheiro.Do outro lado da linha, Camila apertou o celular com força. Sua voz saiu gelada:— Chloe, um dia você ainda vai morrer por causa dessa sua língua venenosa.Ela desligou imediatamente e bloqueou aquele número também."Lucas? Procurando companhia feminina? Como se fosse possível..." Camila sabia que ele era obcecado por limpeza e jamais faria algo assim. Chloe nem
Camila segurava a vela com cuidado, caminhando lentamente em direção à Insígnia do Poder, tentando enxergar melhor. Mas, ao se aproximar, o desenho desaparecia. E ao se afastar, também não era possível vê-lo.Ela tentou várias vezes, indo e voltando, até perceber que, a uma distância exata de cinco metros, o padrão na superfície da parede ficava mais nítido.Camila passou a estudar o desenho com atenção. Era uma montanha que lembrava a cabeça de uma serpente gigante, com uma enorme rocha no topo.Na pedra, era possível distinguir vagamente as palavras: Montanha Serpente.No centro da Insígnia do Poder, uma pedra de jade projetava sua luz exatamente abaixo das duas palavras.Essa técnica de projeção, em tempos modernos, poderia ser facilmente explicada pelo avanço tecnológico. Mas nos tempos coloniais, sem os recursos que temos hoje, era impressionante imaginar como algo assim foi criado.— A sabedoria dos antigos é mesmo de se admirar. — Murmurou Camila, fascinada.Ela pediu que um dos
A reviravolta repentina deixou Camila perplexa.Estavam bem, trocando palavras doces e carinhosas, mas, de repente, ele bebeu demais, desapareceu sem dar explicações na manhã seguinte, ignorou mensagens, recusou ligações e a tratou com frieza. Agora, do nada, Lucas surgia pedindo reconciliação. Essa montanha-russa de emoções era exaustiva. Para lidar com isso, era preciso ter uma força emocional que poucas pessoas possuíam.Depois de um breve silêncio, Camila respondeu:— Acho que também preciso de um tempo para pensar. Vamos nos dar um espaço para refletir melhor.Era sua maneira delicada de recusar.Lucas sentiu o coração afundar:— Sempre fui uma pessoa difícil, sei disso. Minha paciência nunca foi das melhores. Mas você sempre me suportou, sempre me perdoou sem hesitar.Camila esboçou um sorriso leve, quase imperceptível:— Talvez, depois de passar por tantas coisas ruins, a gente mude. A paciência diminui, a capacidade de suportar certas coisas também.O coração dela não endureceu
Ao meio-dia do dia seguinte, enquanto almoçavam, Gustavo comentou:— Vou te levar a um leilão à tarde. Ouvi dizer que tem umas peças bem valiosas por lá.Camila quase pulou de alegria. Adorava leilões. Era uma oportunidade de aprender, de expandir seus horizontes e, quem sabe, adquirir algo realmente especial. Os leilões estrangeiros, em particular, eram fascinantes, com itens que raramente apareciam no Brasil.Assim como algumas mulheres têm uma paixão inata por joias e vestidos de alta costura, Camila sentia um amor visceral por antiguidades. Era algo que vinha de dentro, quase como se estivesse em seu sangue.Ao cair da noite, os dois um senhor e uma jovem chegaram ao leilão acompanhados por seguranças. Não era um evento gigantesco como os organizados pela Christie's ou Sotheby's, mas um leilão exclusivo, só para membros, frequentado unicamente por brasileiros.Camila ficou deslumbrada. Havia peças deslumbrantes por todos os lados, verdadeiros tesouros históricos que superavam qualq
Camila colocou o vaso com o padrão de serpente gigante sobre a mesa e sorriu de leve:— Desde os meus três ou quatro anos, eu já acompanhava meu avô no ofício. Tenho quase vinte anos de experiência. Passei minha vida restaurando pinturas de diferentes épocas.Gustavo, acariciando o queixo com a mão, disse calmamente:— Essa garota, no Brasil, é uma das melhores restauradoras de arte que existem. Aqui, vocês subestimaram. Não olhem as pessoas pela fresta da porta, achando que são menores do que são.Com as palavras dos dois, a impressão dos presentes sobre Camila começou a mudar.Um senhor de sessenta e poucos anos, com olhos atentos, examinou o vaso azul e branco com o padrão de serpente gigante que estava ao lado de Camila. Curioso, perguntou:— Garota, por que você pagou dois milhões por esse vaso de cerâmica?Camila passou os dedos com delicadeza pelo desenho das serpentes no vaso, enquanto respondia em voz baixa:— Este não é um simples vaso com padrão de serpente. As duas serpente
Luís foi direto. Pegou o talão de cheques da bolsa que carregava e, ali mesmo, assinou uma folha, preenchendo o valor em dólares, convertido pela cotação do dia.Camila manteve a expressão serena, como se estivesse tranquila, mas por dentro sorria de orelha a orelha.O vaso com o padrão de serpentes realmente tinha uma história ligada a Dom Pedro II, e as lendas eram verdadeiras. No entanto, sua intenção de manter a peça em sua coleção era pura encenação. Na verdade, ela queria aumentar o preço, deixar que os lances subissem e garantir o maior lucro possível.Para pessoas que gastavam mais de 20 milhões em um cálice usado pela realeza, pagar 10 milhões por um vaso desenhado pelo próprio imperador era como gastar troco.Gustavo tomou um gole de café e, com um sorriso de canto, comentou:— Camila, deixa eu te apresentar. Este é o Sr. Luís, pai do Pedro.Camila ficou surpresa e, ao mesmo tempo, admirada pela astúcia de Gustavo. Ele esperou que ela aceitasse o cheque para só então revelar
A porta do jipe foi aberta com violência. Dois homens enormes, de pele negra e cabelo curto e encaracolado, desceram do veículo. Pareciam tão fortes quanto rinocerontes e carregavam fuzis nas mãos.Eles começaram a golpear os vidros do carro de Camila com o cabo das armas e um martelo, tentando quebrá-los.Camila nunca tinha presenciado algo tão caótico. Era pleno dia, e os homens estavam assaltando no meio da rua, sem o menor pudor. Sempre diziam que aquele lugar era como um paraíso, mas agora ela percebia que o paraíso e o inferno estavam separados apenas por uma fina parede.Enquanto tentava pegar o celular para ligar para a polícia, ouviu um estalo alto. O vidro da janela havia se estilhaçado.Um dos assaltantes enfiou o braço no carro, abriu a porta e arrancou o celular das mãos de Camila. Ele o jogou no chão com brutalidade, quebrando-o, e gritou em inglês, com um tom ameaçador:— Dinheiro!Por questões de preconceito e falta de fiscalização, crimes contra estrangeiros na região