Camila colocou o vaso com o padrão de serpente gigante sobre a mesa e sorriu de leve:— Desde os meus três ou quatro anos, eu já acompanhava meu avô no ofício. Tenho quase vinte anos de experiência. Passei minha vida restaurando pinturas de diferentes épocas.Gustavo, acariciando o queixo com a mão, disse calmamente:— Essa garota, no Brasil, é uma das melhores restauradoras de arte que existem. Aqui, vocês subestimaram. Não olhem as pessoas pela fresta da porta, achando que são menores do que são.Com as palavras dos dois, a impressão dos presentes sobre Camila começou a mudar.Um senhor de sessenta e poucos anos, com olhos atentos, examinou o vaso azul e branco com o padrão de serpente gigante que estava ao lado de Camila. Curioso, perguntou:— Garota, por que você pagou dois milhões por esse vaso de cerâmica?Camila passou os dedos com delicadeza pelo desenho das serpentes no vaso, enquanto respondia em voz baixa:— Este não é um simples vaso com padrão de serpente. As duas serpente
Luís foi direto. Pegou o talão de cheques da bolsa que carregava e, ali mesmo, assinou uma folha, preenchendo o valor em dólares, convertido pela cotação do dia.Camila manteve a expressão serena, como se estivesse tranquila, mas por dentro sorria de orelha a orelha.O vaso com o padrão de serpentes realmente tinha uma história ligada a Dom Pedro II, e as lendas eram verdadeiras. No entanto, sua intenção de manter a peça em sua coleção era pura encenação. Na verdade, ela queria aumentar o preço, deixar que os lances subissem e garantir o maior lucro possível.Para pessoas que gastavam mais de 20 milhões em um cálice usado pela realeza, pagar 10 milhões por um vaso desenhado pelo próprio imperador era como gastar troco.Gustavo tomou um gole de café e, com um sorriso de canto, comentou:— Camila, deixa eu te apresentar. Este é o Sr. Luís, pai do Pedro.Camila ficou surpresa e, ao mesmo tempo, admirada pela astúcia de Gustavo. Ele esperou que ela aceitasse o cheque para só então revelar
A porta do jipe foi aberta com violência. Dois homens enormes, de pele negra e cabelo curto e encaracolado, desceram do veículo. Pareciam tão fortes quanto rinocerontes e carregavam fuzis nas mãos.Eles começaram a golpear os vidros do carro de Camila com o cabo das armas e um martelo, tentando quebrá-los.Camila nunca tinha presenciado algo tão caótico. Era pleno dia, e os homens estavam assaltando no meio da rua, sem o menor pudor. Sempre diziam que aquele lugar era como um paraíso, mas agora ela percebia que o paraíso e o inferno estavam separados apenas por uma fina parede.Enquanto tentava pegar o celular para ligar para a polícia, ouviu um estalo alto. O vidro da janela havia se estilhaçado.Um dos assaltantes enfiou o braço no carro, abriu a porta e arrancou o celular das mãos de Camila. Ele o jogou no chão com brutalidade, quebrando-o, e gritou em inglês, com um tom ameaçador:— Dinheiro!Por questões de preconceito e falta de fiscalização, crimes contra estrangeiros na região
Os tiros anteriores foram disparados por Lucas. No momento mais crítico, ele apareceu, como se tivesse caído do céu.Camila achou que estava sonhando, mas o rosto familiar do homem, com suas feições marcantes e perfeitamente reconhecíveis, provava que aquilo era real.Sem pensar duas vezes, ela correu em direção a Lucas. Seus pés mal tocavam o chão enquanto ela praticamente voava até ele. Parou de repente, agarrando a manga de sua camisa, com os olhos brilhando de alívio e surpresa:— Você está aqui?Em questão de segundos, Camila passou do medo extremo à euforia. Duas emoções completamente opostas, intensas, colidiam em sua mente, deixando-a incapaz de pensar em qualquer outra coisa.Ela estava tão atordoada que nem percebeu que ainda segurava a arma na mão. Para alguém sem experiência, aquilo era extremamente perigoso, pois um simples movimento poderia causar um disparo acidental.Lucas, sempre calmo, pegou a arma de sua mão com firmeza, ativou a trava de segurança e a guardou.— A e
Camila rasgou a camisa e envolveu o braço de Lucas com o tecido, tentando estancar o sangue. Mas ele continuava escorrendo pela ferida, tingindo o tecido de vermelho.Desesperada, ela pegou lenços de papel para limpar o sangue, enquanto o coração apertava de agonia. Virou-se para o motorista e gritou:— Acelera! Mais rápido!— Sim, senhora! — Respondeu o motorista, um homem simples, que imediatamente pisou fundo no acelerador, fazendo o carro quase voar pela estrada.Mas, logo em seguida, Camila falou:— Não tão rápido! É perigoso, tenha cuidado!O motorista ficou confuso. Afinal, era para ir rápido ou devagar?Ao vê-la tão aflita, Lucas relaxou um pouco. A preocupação dela, evidente nos olhos e na voz, o acalmava. Pelo menos, ela ainda se importava com ele. Com a mão que ainda estava boa, ele tocou o rosto pálido dela e disse com suavidade:— Não precisa se preocupar tanto. Não atingiu nenhum lugar vital. É só uma ferida superficial. Vamos ao hospital, eles vão costurar e logo estarei
Chegando ao hospital, Lucas foi levado diretamente para a sala de emergência. Camila ficou do lado de fora, andando de um lado para o outro, ansiosa.Felizmente, o ferimento não havia atingido nenhum osso. A bala só tinha raspado o braço, provocando um corte profundo. Meia hora depois, Lucas saiu da sala com os pontos feitos. Após o período de observação, Camila o acompanhou até o quarto.Ela o ajudou a se deitar na cama, serviu um copo de água morna e, com uma delicadeza quase maternal, usou um canudinho para ajudá-lo a tomar o remédio. Não demorou muito para que uma enfermeira entrasse no quarto, conectando Lucas ao soro. O líquido transparente escorria lentamente pelo tubo, penetrando em seu organismo gota a gota.Camila olhava para o rosto pálido de Lucas, pensativa:— Este ano não parece ser dos melhores para você. Primeiro aquele outro ferimento, agora isso...Lucas, com um sorriso de canto, respondeu com o tom brincalhão de sempre:— Pois é. Você é meu amuleto. Quando está por p
Lucas temia que eles pudessem ferir Camila pelas costas. Assim que André saiu, Lucas foi ao banheiro para se lavar.Ao empurrar a porta, viu que Camila já havia apertado a pasta de dente para ele e até preparado o enxaguante bucal. Ao baixar os olhos e observar o creme azul sobre a escova, Lucas sentiu uma felicidade há muito tempo esquecida.Ela, além de não amá-lo, era quase perfeita. Ele decidiu engolir o fato de ser apenas um substituto, sem reclamar.Com o braço machucado, tomar banho não era uma opção. Após uma higiene básica, Lucas voltou para a cama, deitou-se e virou a cabeça para olhar para Camila.— Estamos reconciliados agora? — Perguntou Lucas.Camila deu uma leve pausa, mas não respondeu.Lucas ergueu a mão e massageou a têmpora:— Não vou te pressionar, nem te obrigar a nada, muito menos forçar você a reatar comigo, mas preciso que me prometa uma coisa: você não pode gostar de outra pessoa.Camila achou graça e sorriu de lado:— Como você é autoritário.— Sempre fui assi
Naquele momento, Lucas saiu do banheiro. Tinha acabado de se barbear, e o leve aroma do pós-barba pairava no ar. Ao ver que era Enzo, seu semblante escureceu um pouco. Sem demonstrar muita emoção, perguntou:— O que você está fazendo aqui?— Ouvi dizer que você se machucou. Coincidentemente, eu estava em New City para uma conferência internacional, então resolvi passar aqui. — Respondeu Enzo, enquanto o analisava de cima a baixo. — Foi grave?Lucas respondeu friamente:— Não foi fatal.Enzo ficou sem reação por um instante, mas continuou:— Ouvi dizer que foi obra de assaltantes? Os de Cidade C parecem bem violentos.— Não. Foi alguém que aproveitou a oportunidade para me atacar.Os olhos de Enzo tremularam levemente, demonstrando surpresa:— Você sabe quem foi?Lucas esboçou um sorriso de canto, observando-o com um olhar carregado de intenções ocultas:— Talvez algum concorrente da empresa, alguém que você transformou em inimigo anos atrás. Ou, quem sabe, o seu filho mais velho.O olh