— Acho que vou virar monge e viver o resto da vida em celibato. — Respondeu Lucas.Camila pensou: "Quando eu for boa o suficiente que até seu pai passe a me admirar, então ele mesmo vai me pedir para voltar e se casar de novo com você. Mas até alcançar esse objetivo, não vou dizer nada. Falar antes seria pura presunção." Camila tentou acalmá-lo:— Se comporta, resolve sozinho. Lucas deixou transparecer nos olhos uma mistura de autocomiseração e sarcasmo:— Você sempre usa essa frase para me despistar. Camila desviou o assunto rapidamente:— Não se esqueça do que eu acabei de dizer. Nada de sair por aí flertando. Lucas respondeu com firmeza:— Pode ficar tranquila.Ele desligou o telefone.Tomás, que jogava golfe com ele, observava a cena com uma expressão de inveja:— Você se dá bem com a sua ex. Parece que, depois do divórcio, as coisas estão até melhores do que antes. Lucas arqueou levemente uma sobrancelha:— Você brigou de novo com a sua mulher, não foi? Era verdade. Tom
A folha de papel, do tamanho de uma palma, era fina como uma asa de cigarra. Parecia ter sido tratada com algum componente especial, pois era incrivelmente resistente. Apesar de todos esses anos, não apresentava danos ou rachaduras. No desenho, traços delicadíssimos formavam uma paisagem com montanhas, um lago e uma floresta de pinheiros altos. No meio das árvores, havia um “X” marcado. Aparentemente, o “X” indicava o local onde o tesouro estava enterrado. Camila fixou os olhos na imagem, analisando-a cuidadosamente. Aquela montanha tinha algo de peculiar; por perto, provavelmente haveria um antigo túmulo. Como a pintura fazia parte da coleção da família Baptista, deduziu que o túmulo deveria ser um mausoléu ancestral da família. Isso significava que o tesouro estava escondido próximo ao túmulo dos antepassados. A forma engenhosa com que o mapa do tesouro fora ocultado, entre a pintura e a folha base, só podia indicar que aquele tesouro representava uma fortuna considerável.
— Falei demais. — Gustavo fechou os olhos por um instante, tentando conter a amargura que lhe subia à garganta. Ele levou a xícara de café aos lábios, tomou um gole e ergueu os olhos para Camila:— Você podia muito bem ter guardado a carta do tesouro para si. Por que não fez isso? Com sua inteligência e contatos, não seria difícil encontrar o tesouro. O olhar de Camila era firme e transparente:— Desde pequena, meu avô me ensinou que devemos ser íntegros e corretos. O que não é nosso, não devemos cobiçar.Gustavo esboçou um sorriso afetuoso:— Boa menina. Não esperava menos de alguém criado por José. Camila sorriu de leve:— Sr. Gustavo, continue tomando seu café. Eu vou voltar ao trabalho. — Certo. Assim que terminar de restaurar o quadro, voltaremos ao Brasil para desenterrar o tesouro.Camila hesitou por um momento:— Eu também vou? — Você é nosso talismã da sorte. — Respondeu Gustavo com um sorriso cheio de malícia. — Foi você quem encontrou o mapa. Para achar o tesouro, é
Após algumas horas de viagem, Camila e Gustavo chegaram, acompanhados por um grupo de seguranças, ao local onde ficava a terra ancestral da família Baptista.Essa propriedade histórica estava localizada nos arredores de Salvador. O antigo patriarca da família havia sido enterrado próximo a uma colina baixa. Vista à distância, a colina era idêntica àquela desenhada no mapa do tesouro. Camila estava certa em sua dedução. Gustavo havia tirado uma foto do mapa com seu celular para facilitar a busca. Ao chegarem à região, encontraram um hotel com boas condições para passar a noite e descansaram. Na manhã seguinte, o grupo se dirigiu à colina. Na frente dela havia um lago. O centro do lago alinhava-se perfeitamente com o topo da colina, como descrito no mapa. O antigo cemitério da família Baptista estava situado na encosta da montanha. Ao chegarem ao cemitério, encontraram um obstáculo inesperado. No mapa, um “X” marcado no centro de um círculo de pinheiros indicava o local exato do te
Apesar de Vasco possuir um porte físico que impunha respeito, sua aura era bem diferente da de Lucas. Enquanto Lucas exalava uma elegância natural e uma postura quase aristocrática, Vasco era pura selvageria, um espírito indomável que deixava claro: não era alguém com quem se podia brincar. Ele carregava nas costas uma enorme mochila preta. Cumprimentou Gustavo com um leve aceno antes de abaixar a mochila e, com movimentos ágeis, começou a retirar uma série de tubos de metal. Em poucos minutos, montou as peças com habilidade, formando uma ferramenta que parecia ser uma sonda para escavação. A estrutura tinha cerca de três metros de comprimento. Camila, observando tudo de longe, deduziu que o equipamento servia para detectar cavidades subterrâneas.Depois de preparar o instrumento, Vasco o deixou de lado e pediu que alguns dos seguranças corressem pelo terreno. Enquanto isso, ele se deitou de lado, pressionando o ouvido contra o solo, escutando atentamente. Naquela profissão, havia uma
Camila passou o número do seu celular e entrou no carro. Eles estavam usando um veículo alugado na região. Vasco, por sua vez, entrou em um Jeep Grand Cherokee preto, um pouco desgastado pelo tempo.O trajeto levou cerca de quarenta minutos até Camila e seus seguranças chegarem a um hotel. Depois de estacionarem o carro, ela desceu, mas, para sua surpresa, Vasco também parou no estacionamento do mesmo hotel.Camila entrou no hotel acompanhada pelos seguranças, e Vasco seguiu logo atrás. Eles subiram pelo elevador até o andar onde haviam reservado um quarto. Com a chave magnética em mãos, Camila abriu a porta. Para sua surpresa, Vasco foi até o quarto ao lado, usou outra chave e entrou. A coincidência parecia tão absurda que dava a impressão de algo planejado.Camila, desconfiada, começou a sentir um leve desconforto em relação à presença de Vasco. Embora ele tivesse ajudado na escavação, ela não conseguia ter uma boa impressão de alguém envolvido nesse tipo de atividade. Com uma expres
Camila reconheceu imediatamente a voz: era Enzo. Em seguida, o som de linha ocupada ecoou pelo telefone.André tinha desligado. A situação, já estranha, deixou Camila ainda mais inquieta. Sua mente estava um caos, como um novelo de lã totalmente emaranhado. Mil pensamentos lhe passaram pela cabeça ao mesmo tempo.Ela vestiu-se rapidamente, pegou a bolsa e abriu a porta. Virou-se para os seguranças que estavam de plantão na entrada e ordenou:— Vamos voltar para Cidade A, agora mesmo! Camila sentia-se sufocada, com o peito apertado e a respiração difícil. Era uma sensação familiar. A última vez que isso aconteceu foi quando sua avó faleceu. Uma premonição inquietante rastejava por seu corpo, como uma serpente gelada subindo pelos pés, deixando-a completamente arrepiada.Sem esperar por passagens de avião, instruiu os dois seguranças a revezarem na direção. A viagem seria longa, mas ela não podia perder tempo.Depois de passarem por três quarteirões, um pensamento lhe ocorreu: Elisa po
Os maços de dinheiro passaram pelo rosto de Enzo, espalhando-se pelo chão como folhas secas ao vento.Enzo, em todos os seus anos de vida, nunca tinha sido humilhado de forma tão direta. Seu rosto ficou vermelho de raiva. Ele passou a mão pela face, com uma expressão de desprezo, e disse:— Não pense que só porque apareceu na televisão algumas vezes e pintou uns quadros, pode sair por aí agindo como se fosse alguém importante. Eu odeio gente como você, que volta atrás na palavra e fica insistindo feito carrapato. Um divórcio que deveria ter sido rápido se arrastou por seis meses! Agora que está feito, que seja definitivo. Que nunca mais tenhamos que cruzar nossos caminhos. Com essa atitude, até eu tenho vergonha de você!Camila abriu a boca para responder, mas foi interrompida por uma voz firme e decidida:— Pai, você ainda tem coragem de criticar os outros? Minha mãe tentou se separar de você há mais de dez anos, e quem foi que ficou enrolando e se recusando a assinar os papéis?Camil