Camila reconheceu imediatamente a voz: era Enzo. Em seguida, o som de linha ocupada ecoou pelo telefone.André tinha desligado. A situação, já estranha, deixou Camila ainda mais inquieta. Sua mente estava um caos, como um novelo de lã totalmente emaranhado. Mil pensamentos lhe passaram pela cabeça ao mesmo tempo.Ela vestiu-se rapidamente, pegou a bolsa e abriu a porta. Virou-se para os seguranças que estavam de plantão na entrada e ordenou:— Vamos voltar para Cidade A, agora mesmo! Camila sentia-se sufocada, com o peito apertado e a respiração difícil. Era uma sensação familiar. A última vez que isso aconteceu foi quando sua avó faleceu. Uma premonição inquietante rastejava por seu corpo, como uma serpente gelada subindo pelos pés, deixando-a completamente arrepiada.Sem esperar por passagens de avião, instruiu os dois seguranças a revezarem na direção. A viagem seria longa, mas ela não podia perder tempo.Depois de passarem por três quarteirões, um pensamento lhe ocorreu: Elisa po
Os maços de dinheiro passaram pelo rosto de Enzo, espalhando-se pelo chão como folhas secas ao vento.Enzo, em todos os seus anos de vida, nunca tinha sido humilhado de forma tão direta. Seu rosto ficou vermelho de raiva. Ele passou a mão pela face, com uma expressão de desprezo, e disse:— Não pense que só porque apareceu na televisão algumas vezes e pintou uns quadros, pode sair por aí agindo como se fosse alguém importante. Eu odeio gente como você, que volta atrás na palavra e fica insistindo feito carrapato. Um divórcio que deveria ter sido rápido se arrastou por seis meses! Agora que está feito, que seja definitivo. Que nunca mais tenhamos que cruzar nossos caminhos. Com essa atitude, até eu tenho vergonha de você!Camila abriu a boca para responder, mas foi interrompida por uma voz firme e decidida:— Pai, você ainda tem coragem de criticar os outros? Minha mãe tentou se separar de você há mais de dez anos, e quem foi que ficou enrolando e se recusando a assinar os papéis?Camil
Elisa soltou uma risada fria:— Não se enxerga mesmo! Espero que você não acabe como a Chloe.Tânia lançou um olhar para Camila, que permaneceu calada, os lábios apertados, sem esboçar nenhuma reação.Com um sorriso falso, Tânia respondeu a Elisa:— Srta. Elisa, é sempre bom deixar uma porta aberta para o futuro. Não vale a pena criar inimizades. Isso nunca termina bem para ninguém.O rosto de Elisa endureceu. Num movimento brusco, ela caminhou até a porta e a abriu.— Saia agora mesmo! — Ordenou Elisa.Tânia, no entanto, não se abalou. Com um tom provocador, respondeu:— Tão jovem e já com esse temperamento explosivo. Não é bom para a saúde, sabia?Dizendo isso, virou-se e saiu do quarto, caminhando devagar, como se tivesse todo o tempo do mundo.Elisa fechou a porta com força, ainda tomada pela raiva.— Você viu isso? — Desabafou para Elisa. — Essas mulheres não têm vergonha na cara. Uma pior que a outra, todas metidas a se acharem muito importantes!Camila, entretanto, não prestava
Camila parou e virou-se. Era Enzo.Com o queixo erguido, ele apontou para um pequeno jardim próximo:— Vamos conversar lá.Camila assentiu silenciosamente e o seguiu.No jardim, Enzo acendeu um cigarro com uma única mão, tragou profundamente e começou a falar:— Não tenho nada pessoal contra você. Para ser justo, você parece uma boa pessoa. Mas, no nosso mundo, não escolhemos esposas por amor ou paixão. Escolhemos parceiras que saibam ser nosso suporte.Camila mordeu os lábios e respondeu, em um tom suave:— Eu posso me tornar boa o suficiente. Não acho que sou inferior à Chloe ou à Tânia.Enzo soltou uma risada seca:— Não é questão de ser inferior. Chloe tem o Grupo Miranda por trás dela, com toda a sua influência. E Tânia? Você acha que valorizo o museu da família dela? Não. Joaquim é um estrategista nato, com investimentos sólidos e várias propriedades. E você? O que você tem? Nós levamos gerações para construir o que temos. Não é questão de esforço individual, é uma diferença estr
Pedro caminhou até Camila, abaixou o olhar e a observou atentamente. O rosto delicado estava com um rubor anormal, os olhos desfocados, claramente sob o efeito do álcool. Ele virou-se para os seguranças e perguntou:— Por que permitiram que ela bebesse tanto? Um dos seguranças, sem entender sobre coquetéis, respondeu:— A senhora pediu um Long Island Iced Coffee. Não imaginávamos que café pudesse deixá-la embriagada.Pedro franziu as sobrancelhas. Ele, claro, sabia que o Long Island Iced Coffee era um coquetel de alto teor alcoólico. Com cuidado, amparou Camila e a levou para perto de uma árvore à beira da calçada. Enquanto dava tapinhas leves nas costas dela, disse:— Se quiser vomitar, não se segure. Vai se sentir melhor.Camila segurou o peito, engasgou várias vezes, mas nada saiu. Pedro, ainda sustentando sua cintura delicada, afirmou com firmeza: — Vamos levá-la para casa. Camila sentia como se sua cabeça estivesse prestes a explodir. O barulho em seus ouvidos era ensurdec
Pedro ficou imóvel ao lado da cama, observando Camila por um longo tempo. Não tinha coragem de ir embora. Já eram três da manhã, mas ele não sentia sono. Apenas estar ali, olhando para ela em silêncio, já era suficiente. O celular vibrou de repente. Com medo de acordar Camila, ele atendeu rapidamente e saiu do quarto, fechando a porta com cuidado. Foi para a varanda. A voz clara e firme de sua irmã, Liliane Costa, ecoou do outro lado da linha:— Seu folgado! Eu faço o esforço de voltar ao Brasil, e você não só não vem me buscar no aeroporto, como nem dá as caras. Pedro respondeu em um tom baixo: — Eu estou resolvendo algumas coisas fora. Liliane bufou, contrariada: — Fora da cidade? Isso é ainda pior! Sabia que eu ia chegar e mesmo assim marcou compromissos? Nem parece que sou sua irmã. — É um assunto pessoal. Ela riu, com um tom malicioso:— Tá namorando, né? Tá na casa da sua namorada? Quem é ela? Quero conhecê-la! — Não é isso. Camila bebeu demais, estou aqui cuidan
— Boa noite. — Liliane virou-se e foi para o quarto de hóspedes.Pedro entrou no banheiro, fechou a porta e começou a lavar as roupas, incluindo as de Camila. Depois de tudo limpo, foi até a varanda, colocou as peças na máquina de secar e, em seguida, as pendurou no varal. Ele estava sem camisa, revelando um corpo bem definido, fruto dos anos de treinamento pesado no grupo Equipa Leão. Não era uma musculatura exagerada, mas o suficiente para mostrar força e disciplina. Enquanto alisava a camisa de Camila antes de pendurá-la, Pedro percebeu algo estranho. Seu olhar endureceu ao notar o reflexo de um possível lente longa escondido entre os arbustos, apontado em sua direção. A luz fraca da noite dificultava a visão, mas o instinto de alerta tomou conta. Ele pegou rapidamente uma camiseta do varal, vestiu-a e correu para a porta. Ao chegar ao local, já era tarde demais. O intruso tinha desaparecido. Pedro examinou o chão ao redor, encontrando folhas amassadas e marcas de pegadas. O tam
Possivelmente, era uma questão de personalidade. Camila ficou surpresa com a franqueza de Liliane. Engoliu um gole de leite e esboçou um leve sorriso: — Considero o Sr. Pedro apenas um amigo.— Ah, amigo? — Liliane deu um sorriso enigmático enquanto passava geleia no pão com a habilidade de quem já fez isso mil vezes.Ela simplesmente não conseguia entender o jeito discreto e contido de Camila, muito menos a paixão silenciosa que Pedro sentia por ela, sem nunca declarar seus sentimentos. Para Liliane, era algo inconcebível. Na sua visão, gostar de alguém era correr atrás. Se não desse certo, seguia em frente e procurava outro. Afinal, a Terra continuaria girando com ou sem alguém específico.Depois do café da manhã, Liliane foi embora. Camila, agora sozinha, pegou o celular e se jogou no sofá da sala. Ligou para Lucas. Quem atendeu, no entanto, foi uma voz feminina não muito familiar. Ainda assim, ela reconheceu. Era Tânia. Um incômodo cresceu no peito de Camila, como se sua pe