<Tempestade de Neve> era um romance do gênero boys love e omegaverso que Luciano lia sempre. Um romance entre um alfa que era cavaleiro do Império Roveaven e um ômega que se descobre filho perdido de um nobre e sofre preconceito da alta sociedade por ter vivido com plebeus.
Como todo romance, o ômega e o alfa passam por dificuldades para finalmente ficarem juntos. E isso ocorre graças ao amor possessivo do primeiro vilão da história, Magnus Grimwood, um ômega que detém o título de Grão-duque.
Luciano adorava ler justamente para ver as cenas em que Magnus Grimwood aparecia. Talvez fosse a sua preferência se interessar pelos vilões das histórias que lê, mas Magnus tinha algo a mais que sempre chamava a sua atenção.
“E então, Maverick baixou os olhos incrédulos para o ômega que segurava em seus braços. Como poderia aquela doce e gentil pessoa estar inconsciente depois de beber um copo de limonada?
Os dedos enluvados de Maverick acariciavam a bochecha pálida de Stephen. Mas foi uma risada maléfica que o fez lembrar que havia uma pessoa capaz de ferir Stephen sem nenhum pudor.
— Magnus!
A fúria do alfa fuzilava o belo Magnus. Os seus olhos vermelhos carmesim brilhavam intensamente em pura malícia. Sentado no estofado e com as pernas cruzadas, Magnus erguia a taça de champanhe como se brindasse o desmaio do seu rival.”
Magnus era um vilão ambicioso, malicioso e arrogante. Pessoas que não eram dignas de sua atenção recebiam a sua indiferença e frieza. E pelo fato da família Grimwood ser cercada de rumores sombrios, a reputação deste ômega tornava tudo ainda mais fascinante para Luciano.
Um vilão bonito, charmoso, descrito como um baita gostoso e de carácter duvidoso… Luciano simplesmente amava aquele personagem.
— Nem guindaste me tirava dele… — Era o comentário que Luciano sempre fazia quando lia as cenas em que Magnus aparecia — Esse Maverick é um idiota por preferir um chato como o Stephen ao invés do Magnus… que desperdício.
Como todo romance, o vilão existia para fazer o leitor preferir o casal principal. O vilão precisava ter comportamentos questionáveis para mexer com o emocional do leitor, e que também seja o estimulador para os protagonistas se desenvolverem além da sua zona de conforto. Magnus fazia Maverick e Stephen lutarem cada vez mais pelo amor deles, ameaçando-os com o seu desejo de roubar o alfa para si.
Mas quando o casal principal supera os seus limites e alcançam o seu final, o que acontece com o vilão?
O personagem odiado tem o final esperado.
— Argh! Que raiva! Esses escrotos do Stephen e do Maverick não prestam nem pra salvar o vilão! Cadê a bondade que tanto falam, seus filhos de uma puta, aaaaaaah!
Luciano sempre ficava irritado quando chegava na cena em que Magnus era morto. Era frustrante ver a morte do seu personagem preferido, e ainda mais frustrante ver os protagonistas não se sentirem mal com a sua morte.
Certo, o Grão-duque Grimwood não era a melhor pessoa do mundo, no entanto, ele era o chefe de uma família poderosa! Pobres coitados dos irmãos de Magnus, que foram descritos em estado de incredulidade no velório do próprio irmão. Até mesmo o primeiro príncipe, que era o melhor amigo de Magnus, ficou abalado com a sua súbita morte.
— Lixo, esse Maverick é um lixo. Pobre Magnus… se eu fosse o protagonista, eu te salvaria sem nem pensar duas vezes.
Depois de ler pela milésima vez, Luciano continuou com a sua rotina: preparar algo para comer, tomar banho e ir dormir, pois, no dia seguinte ele teria que levantar cedo para ir trabalhar. Só que naquela noite ele estava se sentindo extremamente fatigado, os seus olhos pesavam tanto que ele mal conseguia se mantê-los abertos.
A sonolência era tanta que ele confundiu o seu cabideiro cheio de roupas com uma silhueta escondida nas sombras o encarando ao pé da cama. Só que o seu coração acelerou algumas batidas quando ele ouviu uma voz etérea, feminina e delicada, sussurrando uma doce melodia em sua cabeça:
— Graciosa mãe, pedra brilhante que guia os perdidos, guie-me na vasta escuridão até o meu farol e me agracie com a sua sabedoria, que assim seja e assim se faça.
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Pelo menos essas foram as suas últimas lembranças como Luciano. Quando ele abriu os olhos novamente, estava preso naquele corpo e naquele lugar. Já faz um mês que Luciano se tornou o oitavo príncipe do Império Roveaven e, até agora, ele não fazia a menor ideia de como tinha ido parar dentro da sua história predileta.
Até tentou procurar alguma coisa na biblioteca daquele imenso palácio, mas eram poucos livros que fizessem algum sentido.
O problema não era nem esse, tentar descobrir o motivo de sua vinda para dentro da história, mas sim sobreviver dentro dela.
— Você deve saber o motivo de eu tê-lo chamado até aqui, Lucian.
A autoridade de um Imperador causava uma pressão gigantesca, como se o fato de apenas estar em pé na sua frente fosse o suficiente para ser um crime.
Os longos cabelos loiros que caiam sobre os seus ombros e os olhos claros que se assemelhavam a um anjo que abandonou o céu para viver na terra entre os humanos… Tamanha beleza era descrita sobre o Imperador, o pai do oitavo príncipe.
Certamente Lucian estava embasbacado em ver um personagem tão bonito na sua frente, no entanto, ele continuava a tremer perante sua presença. Principalmente porque o Imperador de Roveaven o encarava tão intensamente que chegava a ser desconfortável.
Será que a relação dele com o verdadeiro Lucian era ruim? Não havia tanto detalhe dentro da história original.
— Receio que eu não saiba, Vossa Majestade.
— É sobre o seu casamento. Já está na hora de determinar o seu parceiro, um alfa não deve ficar sem um ômega.
Lucian queria permanecer em silêncio o tempo todo, mas os olhos claros do Imperador o avaliavam intensamente. Na história original, o Imperador não aparecia muitas vezes, o que o tornava alguém misterioso e assustador de se enfrentar pessoalmente.
Quer dizer, até então os personagens daquela história eram fáceis de lidar, já que Lucian tinha informações deles baseados na história. Como Argus, por exemplo, um fiel criado que dá a vida no lugar de Lucian, não havia motivos para desconfiar do pobre beta. Mas com o Imperador, o pai do personagem que ele possuiu, era diferente. Era necessário ter cautela para evitar a sua fúria.
— E com quem a Vossa Majestade deseja me unir?
— Você se casará com o Grão-duque Grimwood.
Lucian não escondeu a surpresa em seu rosto.
Um casamento político. E justo com aquela pessoa.
Lucian não tinha um casamento político na história original, e isso o deixava ansioso. Claro, o seu coração ficou contente só de ter a ideia de ver Magnus Grimwood, no entanto aquele personagem era um vilão que não tinha conexão alguma com Lucian além do trágico final. Os dois eram estranhos.
— Posso saber o porquê de me escolher para ser o esposo do Grimwood?
— Eu pretendia pedir a Cadec para que oficializasse esse noivado, mas o seu irmão parece ter outros planos em mente.
Os olhos claros de Lucian se estreitaram levemente.
Deveria imaginar, Lucian seria o substituto do seu irmão na tentativa de prender os Grimwood à família imperial. Ainda assim, tratava-se de um evento inesperado.
— Farei os preparativos para que vocês dois se encontrem na melhor oportunidade possível. Não me decepcione, Lucian.
O Imperador lhe deu uma ordem como um governante e não como pai, Lucian apenas curvou a cabeça e se retirou da sala do trono. Mesmo que seus punhos cerrados tremessem, ele não poderia fazer nada além de obedecer.
Estava dentro de uma história que leu, e não havia ninguém em quem se apoiar. Luciano havia se tornado outra pessoa que tinha uma corda em seu pescoço e poderia morrer no menor erro cometido.
Por mais que odiasse tal ideia, ele apenas obedeceria pelo bem da sua sobrevivência.
Só precisaria arranjar uma forma de tornar todo aquele enredo favorável a ele.
— Haa… ele é assustador. Pensei que não seria capaz de controlar o meu tremor — Lucian abriu e fechou os dedos em punho, percebendo o leve tremor de medo — Mas agora tenho chance de ficar com o meu vilãozinho, hehe.
— Vossa Alteza? Já terminou a reunião com a Sua Majestade?
Assim que ouviu a reconfortante voz do seu criado, Lucian ergueu os dedos em sinal de vitória.
— Hehe, deveríamos comemorar?
— Recomendo que celebre quando o Grão-duque concordar com isso, Vossa Alteza.
— Não seja chato, Argus. Além disso, eu tenho o direito de estar feliz, certo? Já que poderei ver o meu vilãozinho.
— Haa… Vossa Alteza, você é a única pessoa que conheço que tem tanta afeição pelo Grão-duque.
— Gosto da ideia de ser o único.
Sim, ele seria ganancioso em obter tudo o que ele queria e precisava. Principalmente se isso significaria obter a sua sobrevivência.
Tal como esperado, alguns dias depois os jornais eram espalhados pela capital anunciando o fim da guerra na fronteira. Todos os cidadãos estavam em êxtase pela notícia, principalmente aqueles que eram familiares de soldados que participaram da guerra.O criado saía da loja movimentada estando surpreso com o tanto de pessoas que andavam pelas ruas. Todos pareciam contentes e aliviados, e se o Imperador não anunciasse feriado de três dias para eles comemorarem, então o povo o faria por conta própria.Por conta disso, as lojas já anunciavam promoções e os clientes se aglomeravam em suas portas. Tal como o oitavo príncipe havia dito.— Ele estava certo. A boa notícia realmente veio… — Sussurrava Argus com orgulho — Ah, eu preciso ir contar a ele!Argus estava incrédulo e abobalhados com a coincidência. O seu mestre tem estado muito estranho faz um mês, ou seja, desde que o oitavo príncipe teve um mal súbito que o deixou acamado por dias, mal conseguindo respirar direito. O seu adoecimento
O banquete imperial ocorreu depois da cerimônia em que o Imperador concedeu as honras aos seus cavaleiros que lutaram bravamente no fronte. Vários nomes foram citados, muitos subiram suas posições e ganharam medalhas, e também houve homenagem aos soldados que perderam suas vidas no campo de batalha.Mas Lucian pouco se importava com isso.Na história original, o oitavo príncipe não participou da cerimônia, como sempre fazia. Lugares cheios de gente lhe causavam pânico, principalmente por ser descaradamente rejeitado pela alta nobreza. Então, Lucian optou por seguir o seu personagem e ficar ausente. Até porque seria irritante aguentar os olhares dos demais príncipes e princesas sobre ele.Enquanto isso, Argus caminhava entre os convidados verificando se tudo estava dentro dos conformes. Ele seguiu a programação entregue pelo mordomo chefe do palácio imperial, garantindo que os convidados fossem bem tratados até que a chegada da família imperial fosse anunciada.Durante sua vistoria, Ar
No andar superior havia salas de descanso onde os convidados poderiam usar caso precisassem de um refúgio. Alguns usavam para cuidar de algum convidado que estivesse passando mal, ou para trocar de roupa caso se sujassem. Mas Lucian estava usando como seu pequeno refúgio.Bebendo champanhe, o oitavo príncipe aproveitou o seu descanso. Nunca gostou de participar de festas, e para piorar, naquele mundo a etiqueta nobre era essencial para não sujar o nome de sua família. Lucian poderia até saber uma coisa ou outra, mas duvidava muito que sua língua ficaria quieta se alguém tentasse bancar o engraçadinho com ele.Por isso era melhor evitar a multidão.— Oh, você está aí, irmãozinho!A bela Raven Saint Richmond, irmã de Lucian, trajava um vestido levemente decorado cujo tecido certamente deveria custar caro. A cor clara do tecido realçava o seu cabelo platinado e os olhos de cor de pêssego, colorido como todos os ômegas tinham.Estava espetacularmente linda para alguém que ele deveria ser
Não gostava deles? É… ele não gostava.Contudo, a sensação de ver os personagens do seu livro predileto em carne e osso era muito… assustadora. Quer dizer, havia ali uma pequena ponta de euforia e surpresa, no entanto também existia algo estranho e assustador.Tipo uma pessoa cética se deparando com um fantasma e questionando a própria sanidade. A pessoa sente um frio na barriga, um arrepio na espinha e sente sua alma sair do corpo pelo susto.Como se estivesse lidando com o sobrenatural inconscientemente.Essa era a sensação de ver Maverick de longe. Tal como descrito, ombros largos, corpo forte, cabelos curtos e castanhos claros… pelo menos foi isso o que Lucian conseguiu enxergar de longe. Estava prestes a dar uma olhada nos irmãos mais novos de Magnus, quando Raven puxou o seu braço ao alcançarem o final da escadaria.Dando apenas um aceno para os convidados, o oitavo príncipe acompanhou a sua irmã para o centro do salão que já estava vazio e pronto para dar início à dança. Assim
Depois daquele dia, Lucian não teve notícias de Magnus, o que parecia ser uma boa coisa já que nem mesmo ouviu algo sobre ele rejeitar a proposta de casamento. Provavelmente aquele ômega deve ter ficado surpreso por saber que o oitavo príncipe descobriu a sua conversa com Cadec.Considerando a forma como os irmãos de Magnus contaram a ele sobre a gentileza de Lucian, o príncipe poderia considerar como bem sucedido o seu plano de conseguir o favor de Eugene e Jesse Grimwood. Talvez os irmãos fossem um grande peso para fazer Magnus aceitar a proposta de casamento.— Vossa Alteza, parece que chegamos.Acordando dos seus devaneios, Lucian olhou pela janela da carruagem e percebeu o lugar deprimente em que estava. O bairro dos plebeus parecia movimentado, o que facilitaria eles dois se dispersarem entre a multidão.— Muito bem, vamos lá.Os dois rapazes desceram da carruagem em uma rua deserta, e a partir de então Argus guiou o príncipe pelos becos até chegarem na praça do bairro plebeu. A
Conde Baragnon era um homem parlamentar com boas conexões e todos se compadeciam de sua trágica história do sequestro do seu filho quando criança. Os nobres sabiam da sua incansável busca pelo filho perdido, que perdurou por anos sem titubear.De fato, era uma história emocionante que ganhou um capítulo novo.O filho perdido finalmente foi encontrado e retornou para o seu lar.Aquela festa era justamente para celebrar o seu retorno. Os nobres estavam contentes pelo Conde, mas também estavam curiosos para conhecer pessoalmente a grande estrela das fofocas. Além de que tudo parecia ir bem graças a ajuda de um certo cavaleiro alfa que auxiliou nas buscas e foi responsável por encontrar o rapaz perdido.— Sir Maverick! É uma honra conhecê-lo pessoalmente.O homem alto e corpulento se virou e fez uma mesura respeitosa aos nobres que se aproximavam. A sua presença era intimidadora, mas ele ainda continuava sendo um alfa muito bonito que chamava atenção por onde ia.— Senhores…— O que você
Maverick havia conhecido Stephen em uma missão para proteger um vilarejo próximo das fronteiras. Durante o tempo em que o alfa permaneceu no vilarejo para cumprir sua missão, eles se tornaram cada vez mais próximos até o ponto de Maverick descobrir que Stephen era o filho perdido do Conde Baragnon.Foi após a guerra, no caminho de volta, que Maverick começou a demonstrar mais a sua afeição ao ômega. E como Magnus acompanhava Maverick, ali surgia um triângulo amoroso.Lucian estava ciente de que o seu vilão já estaria dando o primeiro passo à sua vilania. Uma droga que forçaria o cio de Stephen e o faria cair nos braços de um outro alfa, e assim romper a confiança entre o casal principal.O problema era que Lucian iria bagunçar os planos de Magnus.— Algum problema, Vossa Graça? — Perguntava Stephen inocentemente.Magnus piscava aturdido e Lucian só podia engolir o seu sorriso vitorioso.— Não… eu pensei ter visto algo…Ah, ele não iria admitir que tentou drogar o filho do Conde, certo
Ler sobre os instintos dos híbridos fazia parecer que era algo intenso e quente, a luxúria que cobria duas pessoas fazendo-as agir de acordo com os seus desejos. Para um leitor o cio dos híbridos parecia sempre ser apenas uma desculpa para o sexo entre os dois personagens. Algo que nem toda história precisaria, já que a atração entre duas pessoas era algo que qualquer um poderia entender facilmente.Só que agora Lucian percebia que era bem mais fundo do que pensava.Era… incontrolável. Dentro de si havia uma fera que saía do seu esconderijo para possuir um ômega independente se era da vontade do ego ou não. Pouco importaria para aquela fera se o alfa e o ômega se conheciam e se gostavam, o fato de serem híbridos liberando feromônios era o suficiente.Tudo era tão intenso que Lucian se sentia sem ar. O seu corpo movia sozinho, ansiando pelo calor da pele de Magnus. O aroma de vinho era como uma serpente que se enrolava no corpo de Lucian e o seduzia cada vez mais para a luxúria. A líng