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Capítulo 02 - A mando do Imperador

<Tempestade de Neve> era um romance do gênero boys love e omegaverso que Luciano lia sempre. Um romance entre um alfa que era cavaleiro do Império Roveaven e um ômega que se descobre filho perdido de um nobre e sofre preconceito da alta sociedade por ter vivido com plebeus.

Como todo romance, o ômega e o alfa passam por dificuldades para finalmente ficarem juntos. E isso ocorre graças ao amor possessivo do primeiro vilão da história, Magnus Grimwood, um ômega que detém o título de Grão-duque.

Luciano adorava ler justamente para ver as cenas em que Magnus Grimwood aparecia. Talvez fosse a sua preferência se interessar pelos vilões das histórias que lê, mas Magnus tinha algo a mais que sempre chamava a sua atenção.

“E então, Maverick baixou os olhos incrédulos para o ômega que segurava em seus braços. Como poderia aquela doce e gentil pessoa estar inconsciente depois de beber um copo de limonada?

Os dedos enluvados de Maverick acariciavam a bochecha pálida de Stephen. Mas foi uma risada maléfica que o fez lembrar que havia uma pessoa capaz de ferir Stephen sem nenhum pudor.

— Magnus!

A fúria do alfa fuzilava o belo Magnus. Os seus olhos vermelhos carmesim brilhavam intensamente em pura malícia. Sentado no estofado e com as pernas cruzadas, Magnus erguia a taça de champanhe como se brindasse o desmaio do seu rival.”

Magnus era um vilão ambicioso, malicioso e arrogante. Pessoas que não eram dignas de sua atenção recebiam a sua indiferença e frieza. E pelo fato da família Grimwood ser cercada de rumores sombrios, a reputação deste ômega tornava tudo ainda mais fascinante para Luciano.

Um vilão bonito, charmoso, descrito como um baita gostoso e de carácter duvidoso… Luciano simplesmente amava aquele personagem.

— Nem guindaste me tirava dele… — Era o comentário que Luciano sempre fazia quando lia as cenas em que Magnus aparecia — Esse Maverick é um idiota por preferir um chato como o Stephen ao invés do Magnus… que desperdício.

Como todo romance, o vilão existia para fazer o leitor preferir o casal principal. O vilão precisava ter comportamentos questionáveis para mexer com o emocional do leitor, e que também seja o estimulador para os protagonistas se desenvolverem além da sua zona de conforto. Magnus fazia Maverick e Stephen lutarem cada vez mais pelo amor deles, ameaçando-os com o seu desejo de roubar o alfa para si.

Mas quando o casal principal supera os seus limites e alcançam o seu final, o que acontece com o vilão?

O personagem odiado tem o final esperado.

— Argh! Que raiva! Esses escrotos do Stephen e do Maverick não prestam nem pra salvar o vilão! Cadê a bondade que tanto falam, seus filhos de uma puta, aaaaaaah!

Luciano sempre ficava irritado quando chegava na cena em que Magnus era morto. Era frustrante ver a morte do seu personagem preferido, e ainda mais frustrante ver os protagonistas não se sentirem mal com a sua morte.

Certo, o Grão-duque Grimwood não era a melhor pessoa do mundo, no entanto, ele era o chefe de uma família poderosa! Pobres coitados dos irmãos de Magnus, que foram descritos em estado de incredulidade no velório do próprio irmão. Até mesmo o primeiro príncipe, que era o melhor amigo de Magnus, ficou abalado com a sua súbita morte.

— Lixo, esse Maverick é um lixo. Pobre Magnus… se eu fosse o protagonista, eu te salvaria sem nem pensar duas vezes.

Depois de ler pela milésima vez, Luciano continuou com a sua rotina: preparar algo para comer, tomar banho e ir dormir, pois, no dia seguinte ele teria que levantar cedo para ir trabalhar. Só que naquela noite ele estava se sentindo extremamente fatigado, os seus olhos pesavam tanto que ele mal conseguia se mantê-los abertos.

A sonolência era tanta que ele confundiu o seu cabideiro cheio de roupas com uma silhueta escondida nas sombras o encarando ao pé da cama. Só que o seu coração acelerou algumas batidas quando ele ouviu uma voz etérea, feminina e delicada, sussurrando uma doce melodia em sua cabeça:

— Graciosa mãe, pedra brilhante que guia os perdidos, guie-me na vasta escuridão até o meu farol e me agracie com a sua sabedoria, que assim seja e assim se faça.

.

.

.

Pelo menos essas foram as suas últimas lembranças como Luciano. Quando ele abriu os olhos novamente, estava preso naquele corpo e naquele lugar. Já faz um mês que Luciano se tornou o oitavo príncipe do Império Roveaven e, até agora, ele não fazia a menor ideia de como tinha ido parar dentro da sua história predileta.

Até tentou procurar alguma coisa na biblioteca daquele imenso palácio, mas eram poucos livros que fizessem algum sentido.

O problema não era nem esse, tentar descobrir o motivo de sua vinda para dentro da história, mas sim sobreviver dentro dela.

— Você deve saber o motivo de eu tê-lo chamado até aqui, Lucian.

A autoridade de um Imperador causava uma pressão gigantesca, como se o fato de apenas estar em pé na sua frente fosse o suficiente para ser um crime.

Os longos cabelos loiros que caiam sobre os seus ombros e os olhos claros que se assemelhavam a um anjo que abandonou o céu para viver na terra entre os humanos… Tamanha beleza era descrita sobre o Imperador, o pai do oitavo príncipe.

Certamente Lucian estava embasbacado em ver um personagem tão bonito na sua frente, no entanto, ele continuava a tremer perante sua presença. Principalmente porque o Imperador de Roveaven o encarava tão intensamente que chegava a ser desconfortável.

Será que a relação dele com o verdadeiro Lucian era ruim? Não havia tanto detalhe dentro da história original.

— Receio que eu não saiba, Vossa Majestade.

— É sobre o seu casamento. Já está na hora de determinar o seu parceiro, um alfa não deve ficar sem um ômega.

Lucian queria permanecer em silêncio o tempo todo, mas os olhos claros do Imperador o avaliavam intensamente. Na história original, o Imperador não aparecia muitas vezes, o que o tornava alguém misterioso e assustador de se enfrentar pessoalmente.

Quer dizer, até então os personagens daquela história eram fáceis de lidar, já que Lucian tinha informações deles baseados na história. Como Argus, por exemplo, um fiel criado que dá a vida no lugar de Lucian, não havia motivos para desconfiar do pobre beta. Mas com o Imperador, o pai do personagem que ele possuiu, era diferente. Era necessário ter cautela para evitar a sua fúria.

— E com quem a Vossa Majestade deseja me unir?

— Você se casará com o Grão-duque Grimwood.

Lucian não escondeu a surpresa em seu rosto.

Um casamento político. E justo com aquela pessoa.

Lucian não tinha um casamento político na história original, e isso o deixava ansioso. Claro, o seu coração ficou contente só de ter a ideia de ver Magnus Grimwood, no entanto aquele personagem era um vilão que não tinha conexão alguma com Lucian além do trágico final. Os dois eram estranhos.

— Posso saber o porquê de me escolher para ser o esposo do Grimwood?

— Eu pretendia pedir a Cadec para que oficializasse esse noivado, mas o seu irmão parece ter outros planos em mente.

Os olhos claros de Lucian se estreitaram levemente.

Deveria imaginar, Lucian seria o substituto do seu irmão na tentativa de prender os Grimwood à família imperial. Ainda assim, tratava-se de um evento inesperado.

— Farei os preparativos para que vocês dois se encontrem na melhor oportunidade possível. Não me decepcione, Lucian.

O Imperador lhe deu uma ordem como um governante e não como pai, Lucian apenas curvou a cabeça e se retirou da sala do trono. Mesmo que seus punhos cerrados tremessem, ele não poderia fazer nada além de obedecer.

Estava dentro de uma história que leu, e não havia ninguém em quem se apoiar. Luciano havia se tornado outra pessoa que tinha uma corda em seu pescoço e poderia morrer no menor erro cometido.

Por mais que odiasse tal ideia, ele apenas obedeceria pelo bem da sua sobrevivência.

Só precisaria arranjar uma forma de tornar todo aquele enredo favorável a ele.

— Haa… ele é assustador. Pensei que não seria capaz de controlar o meu tremor — Lucian abriu e fechou os dedos em punho, percebendo o leve tremor de medo — Mas agora tenho chance de ficar com o meu vilãozinho, hehe.

— Vossa Alteza? Já terminou a reunião com a Sua Majestade?

Assim que ouviu a reconfortante voz do seu criado, Lucian ergueu os dedos em sinal de vitória.

— Hehe, deveríamos comemorar?

— Recomendo que celebre quando o Grão-duque concordar com isso, Vossa Alteza.

— Não seja chato, Argus. Além disso, eu tenho o direito de estar feliz, certo? Já que poderei ver o meu vilãozinho.

— Haa… Vossa Alteza, você é a única pessoa que conheço que tem tanta afeição pelo Grão-duque.

— Gosto da ideia de ser o único.

Sim, ele seria ganancioso em obter tudo o que ele queria e precisava. Principalmente se isso significaria obter a sua sobrevivência.

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