Tal como esperado, alguns dias depois os jornais eram espalhados pela capital anunciando o fim da guerra na fronteira. Todos os cidadãos estavam em êxtase pela notícia, principalmente aqueles que eram familiares de soldados que participaram da guerra.
O criado saía da loja movimentada estando surpreso com o tanto de pessoas que andavam pelas ruas. Todos pareciam contentes e aliviados, e se o Imperador não anunciasse feriado de três dias para eles comemorarem, então o povo o faria por conta própria.
Por conta disso, as lojas já anunciavam promoções e os clientes se aglomeravam em suas portas. Tal como o oitavo príncipe havia dito.
— Ele estava certo. A boa notícia realmente veio… — Sussurrava Argus com orgulho — Ah, eu preciso ir contar a ele!
Argus estava incrédulo e abobalhados com a coincidência. O seu mestre tem estado muito estranho faz um mês, ou seja, desde que o oitavo príncipe teve um mal súbito que o deixou acamado por dias, mal conseguindo respirar direito. O seu adoecimento foi tão repentino e estranho que Argus realmente pensou que o seu mestre morreria. Ele até mesmo se ajoelhou e rezou para a Deusa Kronasis para curar Lucian.
Quando Lucian acordou novamente, era como se tivesse renascido.
O oitavo príncipe que era melancólico, sombrio, solitário, vivendo no menor palácio por ninguém da família imperial realmente se importar com a sua existência, de repente parecia ter renascido. Renascido como um homem confiante e perspicaz. Toda a sua sombriedade foi substituída por uma elegância misteriosa e charmosa.
Agora, Lucian andava de ombros erguidos, com uma etiqueta impecável e um sorriso fofo no rosto. Havia confiança em sua voz quando ele falava sobre as suas visões, causando arrepios em Argus quando tais visões se concretizam.
O criado realmente estava incrédulo e abobalhado com a coincidência. O seu mestre tem estado estranho no último mês, apesar de ser uma estranheza muito boa.
Chegava a ser misterioso.
Era fascinante!
Assim que Argus voltou para o palácio do oitavo príncipe e o encontrou bebendo chá e lendo jornal silenciosamente, precisou de alguns segundos para poder se recuperar da surpresa em se deparar com tamanha elegância em um homem alfa.
Alfas geralmente eram grosseiros, com corpos fortes para serem guerreiros que lutavam no campo de batalha. Uma figura de guerreiro bárbaro, por assim dizer. No entanto, os dois alfas da família imperial eram o oposto. Lucian era delicado como uma rosa, os seus belos cabelos loiros compridos eram como cortinas de seda, os seus olhos eram claros iguais ao do Imperador, assemelhando-se à jóia mais cara do mundo.
Aliás, Lucian Saint Richmond alguma vez deixou de ser elegante e bonito? Claro, Argus o servia há anos e sabia muito bem que não, mas as pessoas não enxergavam isso. Só que agora seria impossível não notar tamanha beleza.
— Parece com pressa, Argus. Aconteceu algo na cidade?
— H-Ham? Não, senhor. Quero dizer, sim.
— Sim, não… se decida.
— Me perdoa — Argus respirou fundo — A cidade está em euforia, Vossa Alteza. A sua visão se concretizou de novo! Ganhamos a guerra na fronteira!
Lucian inclinou a cabeça levemente e abriu um sorriso enigmático. Levando a mão ao queixo, ele pensou um pouco e então olhou para o seu criado.
A elegância em pessoa! Cada movimento dele era bonito e delicado, digno de um príncipe.
— Parece que fiz certo em te enviar para encomendar a minha roupa.
— Vossa Alteza, mas eu não ouvi nada sobre um banquete celebrando a nossa vitória.
— Ainda, Argus. Ainda.
Lucian apoiava o cotovelo sobre a mesa e ficava imerso em pensamentos novamente.
Tão diferente do seu eu habitual…
Se a notícia do fim da guerra já surpreendeu Argus, o seu queixo quase caiu quando, no dia seguinte, o Imperador declarou três dias de festividades e um banquete celebrando a vitória dali a dois dias.
Tal como o oitavo príncipe havia dito.
Se fossem apenas essas duas coisas, Argus pensaria ser uma coincidência, mas Lucian havia acertado coisas pequenas como as pautas de reuniões políticas, fenômenos meteorológicos e até mesmo o fato de que os soldados se atrasariam por causa de bandidos tentando saquear um pequeno vilarejo.
Ler o jornal e saber as notícias que vinham nem era uma novidade, pois Argus já tinha ouvido sair da boca do seu mestre.
— Argus, como estão os preparativos para o banquete de vitória?
— O banquete será feito depois da cerimônia em que entregará as medalhas de honra aos cavaleiros.
Lucian olhou para o seu criado, que segurava o jornal em completa surpresa.
— O que foi? Alguma notícia ruim?
— Não! Quer dizer, sim… — Percebendo a sobrancelha do príncipe erguer, Argus soube imediatamente o que ele diria — São notícias ruins, mas creio que Vossa Alteza não considere tão surpreendente assim.
— Haha, isso te entristece? Se você pensar um pouco, saberá que são situações fáceis de se prever.
Argus torceu os lábios contrariado. Não era bem assim, como ele poderia apenas raciocinar o momento em que bandidos atacariam todo um vilarejo justo no momento em que o exército imperial passaria por lá?
Não tinha como ele saber.
A menos que…
— Vossa Alteza, seja sincero… você despertou algum tipo de poder sobrenatural?
Lucian soltou um riso baixo e bebeu um gole do seu chá.
— Será? Isso seria bastante assustador, não acha?
— N-Não, senhor. Mudando de assunto, Vossa Alteza, assim como me pediu, verifiquei com os outros criados sobre a lista de convidados. Como você imaginava, o Grão-duque estará presente junto dos seus irmãos.
Um sorriso despontou dos lábios de Lucian.
— Que maravilha! Ah, e por favor, não se esqueça de verificar as duas garrafas de suco de maçã que encomendei.
— Já verifiquei na cozinha e dei instruções para manter o armazenamento de acordo com o seu pedido, Vossa Alteza.
— E também saiba que você é quem deve servir o suco de maçã aos Grimwood, especificamente para o mais novo.
Lucian se levantou da cadeira e se aproximou da cômoda dele, abrindo uma gaveta. Algumas pequenas jóias estavam guardadas ali. O príncipe pegou um broche pequeno prateado e azulado e o ergueu no alto para ver contraluz.
— Muito bem, vamos ver… Ah, perfeito.
— Vossa Alteza?
Virando-se em direção do criado, o príncipe aproximou-se de Argus e entregou o broche.
— Use isso no banquete, e lembre-se que você deve apenas servir a mim e aos Grimwood, certo?
Olhando o broche em mãos, Argus reparava na imagem de um pássaro cujos olhos tinham uma pedra azulada e carregava um galho decorado com cristais. Era caro só de olhar.
— Tudo bem mesmo eu usar o seu broche, Vossa Alteza?
— Confie em mim. Então… vamos nos preparar para o banquete?
Lucian parecia animado demais, estava sorrindo o tempo todo e fazia tantos pedidos. Ele mesmo verificou o seu novo traje que havia encomendado, assim como garantiu vários outros detalhes antes mesmo do banquete ser anunciado.
Claro que isso não era ruim de maneira alguma, afinal sempre esperou pelo dia em que o seu mestre finalmente seria feliz. Só era estranho que a mudança ocorresse tão bruscamente.
— Vossa Alteza, se me permite perguntar… por que está tão animado por esse banquete?
Lucian virou-se sobre o ombro, e um sorriso sombrio surgiu em seu rosto.
— Há alguém que eu quero conhecer pessoalmente.
O banquete imperial ocorreu depois da cerimônia em que o Imperador concedeu as honras aos seus cavaleiros que lutaram bravamente no fronte. Vários nomes foram citados, muitos subiram suas posições e ganharam medalhas, e também houve homenagem aos soldados que perderam suas vidas no campo de batalha.Mas Lucian pouco se importava com isso.Na história original, o oitavo príncipe não participou da cerimônia, como sempre fazia. Lugares cheios de gente lhe causavam pânico, principalmente por ser descaradamente rejeitado pela alta nobreza. Então, Lucian optou por seguir o seu personagem e ficar ausente. Até porque seria irritante aguentar os olhares dos demais príncipes e princesas sobre ele.Enquanto isso, Argus caminhava entre os convidados verificando se tudo estava dentro dos conformes. Ele seguiu a programação entregue pelo mordomo chefe do palácio imperial, garantindo que os convidados fossem bem tratados até que a chegada da família imperial fosse anunciada.Durante sua vistoria, Ar
No andar superior havia salas de descanso onde os convidados poderiam usar caso precisassem de um refúgio. Alguns usavam para cuidar de algum convidado que estivesse passando mal, ou para trocar de roupa caso se sujassem. Mas Lucian estava usando como seu pequeno refúgio.Bebendo champanhe, o oitavo príncipe aproveitou o seu descanso. Nunca gostou de participar de festas, e para piorar, naquele mundo a etiqueta nobre era essencial para não sujar o nome de sua família. Lucian poderia até saber uma coisa ou outra, mas duvidava muito que sua língua ficaria quieta se alguém tentasse bancar o engraçadinho com ele.Por isso era melhor evitar a multidão.— Oh, você está aí, irmãozinho!A bela Raven Saint Richmond, irmã de Lucian, trajava um vestido levemente decorado cujo tecido certamente deveria custar caro. A cor clara do tecido realçava o seu cabelo platinado e os olhos de cor de pêssego, colorido como todos os ômegas tinham.Estava espetacularmente linda para alguém que ele deveria ser
Não gostava deles? É… ele não gostava.Contudo, a sensação de ver os personagens do seu livro predileto em carne e osso era muito… assustadora. Quer dizer, havia ali uma pequena ponta de euforia e surpresa, no entanto também existia algo estranho e assustador.Tipo uma pessoa cética se deparando com um fantasma e questionando a própria sanidade. A pessoa sente um frio na barriga, um arrepio na espinha e sente sua alma sair do corpo pelo susto.Como se estivesse lidando com o sobrenatural inconscientemente.Essa era a sensação de ver Maverick de longe. Tal como descrito, ombros largos, corpo forte, cabelos curtos e castanhos claros… pelo menos foi isso o que Lucian conseguiu enxergar de longe. Estava prestes a dar uma olhada nos irmãos mais novos de Magnus, quando Raven puxou o seu braço ao alcançarem o final da escadaria.Dando apenas um aceno para os convidados, o oitavo príncipe acompanhou a sua irmã para o centro do salão que já estava vazio e pronto para dar início à dança. Assim
Depois daquele dia, Lucian não teve notícias de Magnus, o que parecia ser uma boa coisa já que nem mesmo ouviu algo sobre ele rejeitar a proposta de casamento. Provavelmente aquele ômega deve ter ficado surpreso por saber que o oitavo príncipe descobriu a sua conversa com Cadec.Considerando a forma como os irmãos de Magnus contaram a ele sobre a gentileza de Lucian, o príncipe poderia considerar como bem sucedido o seu plano de conseguir o favor de Eugene e Jesse Grimwood. Talvez os irmãos fossem um grande peso para fazer Magnus aceitar a proposta de casamento.— Vossa Alteza, parece que chegamos.Acordando dos seus devaneios, Lucian olhou pela janela da carruagem e percebeu o lugar deprimente em que estava. O bairro dos plebeus parecia movimentado, o que facilitaria eles dois se dispersarem entre a multidão.— Muito bem, vamos lá.Os dois rapazes desceram da carruagem em uma rua deserta, e a partir de então Argus guiou o príncipe pelos becos até chegarem na praça do bairro plebeu. A
Conde Baragnon era um homem parlamentar com boas conexões e todos se compadeciam de sua trágica história do sequestro do seu filho quando criança. Os nobres sabiam da sua incansável busca pelo filho perdido, que perdurou por anos sem titubear.De fato, era uma história emocionante que ganhou um capítulo novo.O filho perdido finalmente foi encontrado e retornou para o seu lar.Aquela festa era justamente para celebrar o seu retorno. Os nobres estavam contentes pelo Conde, mas também estavam curiosos para conhecer pessoalmente a grande estrela das fofocas. Além de que tudo parecia ir bem graças a ajuda de um certo cavaleiro alfa que auxiliou nas buscas e foi responsável por encontrar o rapaz perdido.— Sir Maverick! É uma honra conhecê-lo pessoalmente.O homem alto e corpulento se virou e fez uma mesura respeitosa aos nobres que se aproximavam. A sua presença era intimidadora, mas ele ainda continuava sendo um alfa muito bonito que chamava atenção por onde ia.— Senhores…— O que você
Maverick havia conhecido Stephen em uma missão para proteger um vilarejo próximo das fronteiras. Durante o tempo em que o alfa permaneceu no vilarejo para cumprir sua missão, eles se tornaram cada vez mais próximos até o ponto de Maverick descobrir que Stephen era o filho perdido do Conde Baragnon.Foi após a guerra, no caminho de volta, que Maverick começou a demonstrar mais a sua afeição ao ômega. E como Magnus acompanhava Maverick, ali surgia um triângulo amoroso.Lucian estava ciente de que o seu vilão já estaria dando o primeiro passo à sua vilania. Uma droga que forçaria o cio de Stephen e o faria cair nos braços de um outro alfa, e assim romper a confiança entre o casal principal.O problema era que Lucian iria bagunçar os planos de Magnus.— Algum problema, Vossa Graça? — Perguntava Stephen inocentemente.Magnus piscava aturdido e Lucian só podia engolir o seu sorriso vitorioso.— Não… eu pensei ter visto algo…Ah, ele não iria admitir que tentou drogar o filho do Conde, certo
Ler sobre os instintos dos híbridos fazia parecer que era algo intenso e quente, a luxúria que cobria duas pessoas fazendo-as agir de acordo com os seus desejos. Para um leitor o cio dos híbridos parecia sempre ser apenas uma desculpa para o sexo entre os dois personagens. Algo que nem toda história precisaria, já que a atração entre duas pessoas era algo que qualquer um poderia entender facilmente.Só que agora Lucian percebia que era bem mais fundo do que pensava.Era… incontrolável. Dentro de si havia uma fera que saía do seu esconderijo para possuir um ômega independente se era da vontade do ego ou não. Pouco importaria para aquela fera se o alfa e o ômega se conheciam e se gostavam, o fato de serem híbridos liberando feromônios era o suficiente.Tudo era tão intenso que Lucian se sentia sem ar. O seu corpo movia sozinho, ansiando pelo calor da pele de Magnus. O aroma de vinho era como uma serpente que se enrolava no corpo de Lucian e o seduzia cada vez mais para a luxúria. A líng
Magnus estava espumando de raiva.Aquele maldito príncipe! Como ele se atreve a emboscá-lo daquela maneira?! Claro que se Lucian não tivesse usado os seus feromônios dentro do quarto, Magnus jamais se deitaria com ele… é tudo culpa dos feromônios e do instinto ômega que anseia por um alfa.Isso mesmo… Imagina se ele iria se sentir atraído por aqueles olhos claros e brilhantes feito diamantes ou se iria sentir cócegas com as pontas daqueles longos cabelos platinados tocando o seu rosto. Ou pior ainda, se ele fosse se sentir arrepiado quando aqueles dedos compridos e finos deslizaram entre as suas coxas.De maneira alguma Magnus iria gostar daquilo e cair naquela armadilha propositalmente… hah.Depois de garantir que suas roupas estavam cobrindo cada marca de chupão em seu corpo e que seu cabelo preto estava penteado para trás sem deixar nenhuma pista do que aconteceu, Magnus saiu do quarto alguns minutos depois de Lucian.Só de ver o oitavo príncipe acompanhando sua irmã com aquele sor