O banquete imperial ocorreu depois da cerimônia em que o Imperador concedeu as honras aos seus cavaleiros que lutaram bravamente no fronte. Vários nomes foram citados, muitos subiram suas posições e ganharam medalhas, e também houve homenagem aos soldados que perderam suas vidas no campo de batalha.
Mas Lucian pouco se importava com isso.
Na história original, o oitavo príncipe não participou da cerimônia, como sempre fazia. Lugares cheios de gente lhe causavam pânico, principalmente por ser descaradamente rejeitado pela alta nobreza. Então, Lucian optou por seguir o seu personagem e ficar ausente. Até porque seria irritante aguentar os olhares dos demais príncipes e princesas sobre ele.
Enquanto isso, Argus caminhava entre os convidados verificando se tudo estava dentro dos conformes. Ele seguiu a programação entregue pelo mordomo chefe do palácio imperial, garantindo que os convidados fossem bem tratados até que a chegada da família imperial fosse anunciada.
Durante sua vistoria, Argus foi pego por um tom de voz um tanto quanto malicioso.
— Ter uma bela companhia para beber uma taça de vinho é prazeroso. Você me daria a honra de me acompanhar, jovem senhor Grimwood?
— Hm? N-Na verdade…
Argus virou-se na direção daquela voz, reconhecendo o traço único que somente aquela família tinha.
Cabelos pretos como carvão.
O rapaz baixinho usando um terno escuro estava de costas para o criado, mas Argus percebeu que ele dava alguns passos para trás na falha tentativa de aumentar o espaço entre ele e o alfa que tentava seduzi-lo.
“É um Grimwood! Será que eu deveria servir o suco agora?”
— Vamos! Será apenas uma taça enquanto conversamos um pouco, certo?
O alfa em questão usava um belo traje formal e caro, além de esbanjar um broche pendurado em seu peito. De ombros erguidos e peito estufado, tal alfa parecia orgulhoso por ter recebido mais cedo uma medalha de honra do próprio imperador. Tudo o que importava a ele era se aproximar do belo Grimwood mais novo que estava na sua frente.
Contudo, nenhum dos dois estavam prontos para a chegada repentina e silenciosa de um criado. A bandeja de prata foi estendida entre eles, e Argus sorria educadamente para o rapaz mais baixo de cabelos pretos.
— Jovem senhor Grimwood, aceita uma taça de suco de maçã?
— Ei, o que você pensa que está fazendo, criado? Por acaso você não sabe o seu lugar?
Argus olhou em direção do alfa, e inclinou a cabeça levemente.
— Estou fazendo o meu trabalho e servindo os convidados.
— Cai fora! Ou melhor, troque esse bendito suco por uma taça de vinho. Acha mesmo que um Grimwood seria tratado como criança e beberia suco? Faça algo que preste e nos traga o melhor vinho, anda!
O criado ignorou o pedido e então voltou-se para o Grimwood, percebendo os olhos rosados brilhantes o encarando esperançosamente.
Estaria ele assustado com a situação?
Argus apenas inclinou a cabeça e sorriu gentilmente.
— Fique a vontade para beber suco de maçã, milorde.
— Mesmo?
— Ei, você não ouviu o que eu disse?
Quando o alfa estava prestes a criar uma confusão com Argus, um segundo homem de cabelos pretos se fez presente. Este parecia ligeiramente mais alto que o outro e seus olhos eram escuros.
— O que pensa que está fazendo com o meu irmão?
O cavaleiro alfa ficou empertigado com a presença repentina do segundo Grimwood mais velho.
— Só o convidei para beber e esse criado está atrapalhando.
— Jesse! — Chamava o Grimwood mais novo, parcialmente escondido atrás do criado.
Jesse Grimwood, o único alfa da família Grimwood e segundo filho do antigo Grão-duque, olhou para Argus de cima a baixo e então suspirou enquanto arrumava os óculos em seu rosto.
— Cavaleiro, você não está brigando com qualquer criado do palácio.
— O que?
Jesse apontou para o peito de Argus, onde estava o broche de um pássaro prateado.
— Esse beta é um criado que serve diretamente ao oitavo príncipe imperial.
O rosto do cavaleiro perdeu toda a cor ao perceber o broche no peito de Argus. O criado, por outro lado, se mantinha calmo o tempo todo apesar de estar ligeiramente surpreso por Jesse Grimwood reconhecer o símbolo do príncipe renegado com tanta facilidade.
Isso o fascinou.
— D-Do oitavo príncipe? Mas quem porra é o oitavo…
— Meça suas palavras, sir — Dizia Argus com um sorriso sombrio — Alguém pode confundi-lo e levá-lo preso por menosprezar um membro da família imperial.
O cavaleiro parecia irritado com a súbita sensação de humilhação, principalmente por estar diante de dois membros da família Grimwood. Sem dizer uma única palavra, ele se retirou a passos pesados e bufadas altas, enquanto xingava baixo.
Estando livre do incômodo, o mais novo dos Grimwood finalmente suspirava de alívio.
— Estou a salvo. Haa… essa foi por pouco.
— Por isso eu pedi que você ficasse por perto, Eugene.
— Me desculpe, irmão.
Jesse apenas suspirou e se virou para Argus.
— O oitavo príncipe parece ter bons criados.
— Muito obrigado, milorde. — Sorria Argus, ainda segurando a bandeja impecavelmente.
— Isso é realmente suco de maçã?
— Isso mesmo, milorde Eugene. Foi o próprio príncipe quem pediu para que deixássemos reservado duas garrafas de suco de maçã para os Grimwood.
Jesse ergueu uma sobrancelha enquanto Eugene parecia contente em ouvir aquilo. Eugene pegou a taça e bebeu um gole, suspirando aliviado pela segunda vez ao sentir o gosto do suco de maçã.
— É doce.
— É uma honra que tenha gostado, milorde.
— Posso saber o motivo do oitavo príncipe ter sido tão cuidadoso conosco?
Argus ergueu os olhos castanhos para Jesse e apenas sorriu orgulhoso.
— É apenas uma cortesia de Sua Alteza.
Sem dizer muito mais, Argus apenas se manteve orgulhoso por seu mestre ter acertado mais uma visão. Afinal, foi ele quem pediu para garantir o suco de maçã, certo? Provavelmente ele sabia que algo aconteceria.
Ah, era tão bom servir o oitavo príncipe depois dele ter despertado o seu dom!
Em meio à conversa, a música foi trocada para que a marcha imperial fosse tocada. Os convidados se viraram para o alto da escadaria, onde um cavaleiro com o uniforme da guarda real estava posicionado.
— Anuncio a entrada da família imperial, Saint Richmond!
O salão foi preenchido com os aplausos, e o alto da escada ficou completamente cheia com alguns membros da família imperial. Além de Lucian, mais três dos seus irmãos estavam ao lado do belo e elegante Imperador Rehael.
Os feromônios relaxantes do Imperador se espalharam pelo salão, causando um efeito significativo em todos os convidados. Não, ninguém ficou alterado, pelo contrário, a figura do Imperador parecia um pai acolhendo os seus filhos e os deixando calmos em seu colo.
Apesar daquilo ser um contraponto à sua expressão rígida e séria, e que ainda assim fazia todos suspirarem pela sua beleza. Ele era como um vinho. Ou melhor… champanhe.
Argus sorriu ao ver o oitavo príncipe ao lado do Imperador.
Que orgulho!
— Sou muito grato por vocês terem aceitado o convite para celebrarmos este banquete. Espero que nesta bela noite, possamos regozijar a nossa vitória e parabenizar a força dos nossos soldados que lutaram bravamente no campo de batalha. — Discursava o imperador, que em seguida pegou uma taça dourada e ergueu — Um brinde ao futuro próspero do nosso império!
Os convidados então responderam alegremente ao brinde, e a música voltou a tocar.
Quando Eugene virou-se para o lado, Argus já não estava mais lá. Virando para o seu irmão, os dois trocaram olhares e então encararam o oitavo príncipe.
— Príncipe Lucian… Acho que o nosso irmão deveria saber disso, não é, Eugene?
— Sim, irmão.
No andar superior havia salas de descanso onde os convidados poderiam usar caso precisassem de um refúgio. Alguns usavam para cuidar de algum convidado que estivesse passando mal, ou para trocar de roupa caso se sujassem. Mas Lucian estava usando como seu pequeno refúgio.Bebendo champanhe, o oitavo príncipe aproveitou o seu descanso. Nunca gostou de participar de festas, e para piorar, naquele mundo a etiqueta nobre era essencial para não sujar o nome de sua família. Lucian poderia até saber uma coisa ou outra, mas duvidava muito que sua língua ficaria quieta se alguém tentasse bancar o engraçadinho com ele.Por isso era melhor evitar a multidão.— Oh, você está aí, irmãozinho!A bela Raven Saint Richmond, irmã de Lucian, trajava um vestido levemente decorado cujo tecido certamente deveria custar caro. A cor clara do tecido realçava o seu cabelo platinado e os olhos de cor de pêssego, colorido como todos os ômegas tinham.Estava espetacularmente linda para alguém que ele deveria ser
Não gostava deles? É… ele não gostava.Contudo, a sensação de ver os personagens do seu livro predileto em carne e osso era muito… assustadora. Quer dizer, havia ali uma pequena ponta de euforia e surpresa, no entanto também existia algo estranho e assustador.Tipo uma pessoa cética se deparando com um fantasma e questionando a própria sanidade. A pessoa sente um frio na barriga, um arrepio na espinha e sente sua alma sair do corpo pelo susto.Como se estivesse lidando com o sobrenatural inconscientemente.Essa era a sensação de ver Maverick de longe. Tal como descrito, ombros largos, corpo forte, cabelos curtos e castanhos claros… pelo menos foi isso o que Lucian conseguiu enxergar de longe. Estava prestes a dar uma olhada nos irmãos mais novos de Magnus, quando Raven puxou o seu braço ao alcançarem o final da escadaria.Dando apenas um aceno para os convidados, o oitavo príncipe acompanhou a sua irmã para o centro do salão que já estava vazio e pronto para dar início à dança. Assim
Depois daquele dia, Lucian não teve notícias de Magnus, o que parecia ser uma boa coisa já que nem mesmo ouviu algo sobre ele rejeitar a proposta de casamento. Provavelmente aquele ômega deve ter ficado surpreso por saber que o oitavo príncipe descobriu a sua conversa com Cadec.Considerando a forma como os irmãos de Magnus contaram a ele sobre a gentileza de Lucian, o príncipe poderia considerar como bem sucedido o seu plano de conseguir o favor de Eugene e Jesse Grimwood. Talvez os irmãos fossem um grande peso para fazer Magnus aceitar a proposta de casamento.— Vossa Alteza, parece que chegamos.Acordando dos seus devaneios, Lucian olhou pela janela da carruagem e percebeu o lugar deprimente em que estava. O bairro dos plebeus parecia movimentado, o que facilitaria eles dois se dispersarem entre a multidão.— Muito bem, vamos lá.Os dois rapazes desceram da carruagem em uma rua deserta, e a partir de então Argus guiou o príncipe pelos becos até chegarem na praça do bairro plebeu. A
Conde Baragnon era um homem parlamentar com boas conexões e todos se compadeciam de sua trágica história do sequestro do seu filho quando criança. Os nobres sabiam da sua incansável busca pelo filho perdido, que perdurou por anos sem titubear.De fato, era uma história emocionante que ganhou um capítulo novo.O filho perdido finalmente foi encontrado e retornou para o seu lar.Aquela festa era justamente para celebrar o seu retorno. Os nobres estavam contentes pelo Conde, mas também estavam curiosos para conhecer pessoalmente a grande estrela das fofocas. Além de que tudo parecia ir bem graças a ajuda de um certo cavaleiro alfa que auxiliou nas buscas e foi responsável por encontrar o rapaz perdido.— Sir Maverick! É uma honra conhecê-lo pessoalmente.O homem alto e corpulento se virou e fez uma mesura respeitosa aos nobres que se aproximavam. A sua presença era intimidadora, mas ele ainda continuava sendo um alfa muito bonito que chamava atenção por onde ia.— Senhores…— O que você
Maverick havia conhecido Stephen em uma missão para proteger um vilarejo próximo das fronteiras. Durante o tempo em que o alfa permaneceu no vilarejo para cumprir sua missão, eles se tornaram cada vez mais próximos até o ponto de Maverick descobrir que Stephen era o filho perdido do Conde Baragnon.Foi após a guerra, no caminho de volta, que Maverick começou a demonstrar mais a sua afeição ao ômega. E como Magnus acompanhava Maverick, ali surgia um triângulo amoroso.Lucian estava ciente de que o seu vilão já estaria dando o primeiro passo à sua vilania. Uma droga que forçaria o cio de Stephen e o faria cair nos braços de um outro alfa, e assim romper a confiança entre o casal principal.O problema era que Lucian iria bagunçar os planos de Magnus.— Algum problema, Vossa Graça? — Perguntava Stephen inocentemente.Magnus piscava aturdido e Lucian só podia engolir o seu sorriso vitorioso.— Não… eu pensei ter visto algo…Ah, ele não iria admitir que tentou drogar o filho do Conde, certo
Ler sobre os instintos dos híbridos fazia parecer que era algo intenso e quente, a luxúria que cobria duas pessoas fazendo-as agir de acordo com os seus desejos. Para um leitor o cio dos híbridos parecia sempre ser apenas uma desculpa para o sexo entre os dois personagens. Algo que nem toda história precisaria, já que a atração entre duas pessoas era algo que qualquer um poderia entender facilmente.Só que agora Lucian percebia que era bem mais fundo do que pensava.Era… incontrolável. Dentro de si havia uma fera que saía do seu esconderijo para possuir um ômega independente se era da vontade do ego ou não. Pouco importaria para aquela fera se o alfa e o ômega se conheciam e se gostavam, o fato de serem híbridos liberando feromônios era o suficiente.Tudo era tão intenso que Lucian se sentia sem ar. O seu corpo movia sozinho, ansiando pelo calor da pele de Magnus. O aroma de vinho era como uma serpente que se enrolava no corpo de Lucian e o seduzia cada vez mais para a luxúria. A líng
Magnus estava espumando de raiva.Aquele maldito príncipe! Como ele se atreve a emboscá-lo daquela maneira?! Claro que se Lucian não tivesse usado os seus feromônios dentro do quarto, Magnus jamais se deitaria com ele… é tudo culpa dos feromônios e do instinto ômega que anseia por um alfa.Isso mesmo… Imagina se ele iria se sentir atraído por aqueles olhos claros e brilhantes feito diamantes ou se iria sentir cócegas com as pontas daqueles longos cabelos platinados tocando o seu rosto. Ou pior ainda, se ele fosse se sentir arrepiado quando aqueles dedos compridos e finos deslizaram entre as suas coxas.De maneira alguma Magnus iria gostar daquilo e cair naquela armadilha propositalmente… hah.Depois de garantir que suas roupas estavam cobrindo cada marca de chupão em seu corpo e que seu cabelo preto estava penteado para trás sem deixar nenhuma pista do que aconteceu, Magnus saiu do quarto alguns minutos depois de Lucian.Só de ver o oitavo príncipe acompanhando sua irmã com aquele sor
Ah, a calmaria. Se havia algo naquele mundo fantástico que Lucian tirava proveito era a calmaria. Sem carros buzinando, vizinhos usando vassouras para bater no teto, contas para pagar e nem chefes irritantes batendo na sua mesa pedindo para refazer relatórios.Lucian podia degustar a xícara de chá e observar a bela paisagem que tinha da sua janela e tudo ficaria bem. Era a paz que ele precisava depois de ter enfrentado um mal estar e tonturas depois da festa do Conde Barangon…Uma paz…Até ele ouvir passos apressados vindo do corredor. Ainda que ouvisse aqueles passos, Lucian se manteve calmo observando a paisagem pela janela e a beber mais um gole do chá medicinal. Mesmo quando a porta do seu quarto foi aberta repentinamente e mostrasse a figura desesperada de Argus, Lucian se mantinha calmo.— Vossa Alteza! E-Ele veio! Ele está aqui.Virando a cabeça lentamente, Lucian ergueu a sobrancelha.— Respire fundo e diga com calma. Quem está aqui?O criado beta respirou fundo três vezes e e