Ivy estava sozinha no quarto, sentada na beira da cama com a pasta pesada em seu colo. A capa de couro estava gasta, mostrando sinais de anos de manuseio, e os papéis lá dentro estavam amarelados, cheios de anotações apressadas e manchas que pareciam lágrimas borradas.Seu coração batia rápido enquanto abria a pasta, as mãos trêmulas. Ela não tinha certeza se queria saber o que estava ali, mas precisava descobrir a verdade.A primeira página continha o relatório da morte de Ethan. O papel oficial descrevia o caso como suicídio, detalhando a cena da masmorra onde ele foi encontrado.Ivy sentiu um nó na garganta ao ler aquelas palavras frias e impessoais. Mas então, algo chamou sua atenção.No canto do relatório, uma anotação à mão. A caligrafia era familiar – forte e angular, definitivamente de Lucian: "Inconsistências na cena. Acessos restritos violados. Medalhão desaparecido."Seu coração quase parou. — Ele sabia. Ele soube desde o início que algo estava errado. — Ivy murmurou em v
O silêncio na sala se tornou insuportável, pesado com todas as palavras não ditas e as verdades que finalmente vieram à tona. Ivy sentia o coração acelerado, a dor da traição ainda queimando em seu peito enquanto encarava Lucian, que permanecia imóvel à sua frente, os ombros curvados sob um peso invisível.Ela apertou a pasta contra o peito, como se aquilo pudesse protegê-la da enxurrada de emoções que ameaçava derrubá-la. As palavras vinham amargas em sua garganta, mas ela as empurrou para fora mesmo assim:— Você sabia... — Sua voz falhou, os olhos ardendo com lágrimas não derramadas. — Você sabia de tudo isso... e nunca me contou.Lucian levantou o olhar, e Ivy foi pega pela dor crua em seus olhos. Não era o olhar frio e calculista do Alfa implacável. Era o olhar de um homem quebrado, carregando uma culpa que o consumia.— No começo... eu não sabia. — ele murmurou, a voz rouca, como se cada palavra lhe custasse um pedaço da alma. — Quando Ethan... quando ele se foi, eu não fazia i
O silêncio dentro da mansão era absoluto, mas dentro de Ivy, o caos rugia. Ela ainda sentia que estava noescritório de Lucian, o lugar que ficou impregnado com o peso das palavras que ele dissera. Ela não queria ouvir. Não queria aceitar. Então fugira dali, como se pudesse escapar da verdade.Ela se refugiou no jardim, no canto mais afastado, onde as sombras das árvores pareciam engolir o mundo. O ar frio daquele fim de tarde, tocava sua pele, mas ela mal sentia. Seu peito subia e descia, o lobo dentro dela inquieto, clamando por algo que ela se recusava a dar nome."Eu te quero, Ivy." Ivy queria responder a Lucian que o ele achava sentir, era porque o vínculo o obrigava. Não porque ela havia tirou o chão dele desde o primeiro dia, como ele havia feito com o dela.Mesmo assim, as palavras de Lucian se repetiam, quebrando as barreiras que ela erguera. O pior era que, no fundo, ela sabia. Sabia que já não podia mais negar o que sentia. Mas aceitar isso significava abrir mão de todas
A noite era deles. Pela primeira vez, sem barreiras, sem medo, sem fugas. Ivy sentia o toque de Lucian como se fosse a única coisa real no mundo, como se estivesse queimando e sendo salva ao mesmo tempo. Os lábios dele eram firmes e famintos contra os seus, e cada gesto, cada suspiro, parecia carregar tudo o que haviam reprimido por tanto tempo.No silêncio da mansão, entre lençóis amassados e respirações entrecortadas, Ivy sentiu que, finalmente, havia encontrado um lugar onde pertencia. Lucian a segurava como se nunca fosse deixá-la ir, sussurrando promessas que ela queria desesperadamente acreditar.— Não há mais volta, Ivy — ele murmurou contra sua pele, os olhos intensos cravados nos dela. — Você sabe disso, certo?Ela soube. E, pela primeira vez, permitiu-se não ter medo.E se seguiu assim a noite inteira.Na manhã seguinte, quando o sol já filtrava-se pelas cortinas, lançando um brilho dourado sobre o quarto, Ivy despertou devagar, sentindo o calor ao seu lado, o corpo de L
O carro cortava a estrada, mas Lucian não conseguia enxergar nada além do próprio reflexo no vidro da janela. Ele deveria estar concentrado no que o aguardava no destino, mas sua mente insistia em voltar para a última conversa com Ivy.Seu peito apertava ao lembrar do olhar dela—da dor camuflada pela frieza, do jeito como ela se virou e saiu, sem olhar para trás. Ele queria chamá-la de volta, queria dizer que não era insegurança o que o impedia, mas sim algo maior, algo que ele não podia explicar. Não agora. Porque aquilo poderia arruinar tudo entre eles, justo quando tudo, finalmente, havia se encaixado.Mas como dizer a ela? Como explicar que seu passado ainda o assombrava, que havia segredos que poderiam destruir tudo? Destruí-la?Lucian fechou os olhos e apoiou a cabeça contra o assento, tentando afastar os pensamentos. O destino daquela viagem não era opcional. Ele precisava estar ali.E, acima de tudo, precisava descobrir se ainda tinha o direito de voltar para Ivy depois diss
Dor.Era tudo que Ivy conseguia sentir.Ela piscou lentamente, tentando entender onde estava. Seu corpo doía em vários pontos, um peso esmagador a mantinha imóvel contra o chão frio e úmido. O cheiro de terra molhada impregnava o ar, e um zumbido incessante preenchia sua mente, como se o próprio ambiente pulsasse ao redor dela.Tentou mexer os dedos. Depois as pernas. Mas era inútil.O desespero começou a se infiltrar, corroendo os limites de sua razão.Então, ela ouviu.Passos.O coração de Ivy disparou.O som ecoava pelo espaço escuro, ritmado, cada vez mais próximo.Não!Seu peito subia e descia em uma respiração acelerada e trêmula. Sua mente gritava que era ela. A pessoa que a observava. Ele estava voltando.O pânico tomou conta de seus sentidos.— Fique longe... — tentou dizer, mas sua voz saiu fraca, um sussurro quebrado.Os passos continuavam. Mais perto. Mais perto.Ivy sentiu lágrimas quentes escorrerem pelo canto de seus olhos, misturando-se à sujeira em seu rosto. Ela qu
Capítulo 93O silêncio da mansão era interrompido apenas pelo som abafado da chuva fina batendo contra as janelas. O relógio marcava um horário indecifrável, e o tempo parecia se arrastar de forma cruel.Lucian chegou como uma tempestade.As portas se abriram com força, e seus passos ecoaram pelo mármore frio. Seu olhar varreu o ambiente até encontrar Grace, que o esperava ao lado da porta do quarto de Ivy.— Onde ela está? — sua voz saiu cortante, carregada de urgência e algo mais sombrio.Grace cruzou os braços, mas havia uma tensão perceptível em seus ombros.— Lá dentro. Está inconsciente. Ainda.Lucian não esperou mais nenhuma palavra. Ele empurrou a porta e entrou.O quarto estava à meia-luz, as cortinas pesadas bloqueando a maior parte da claridade da manhã que tentava invadir o espaço. Ivy jazia sobre a cama, seu corpo encolhido sob os lençóis, os cabelos espalhados pelo travesseiro. O rosto estava pálido demais, os lábios ligeiramente entreabertos como se lutasse para respira
O silêncio que veio depois das palavras de Lucian parecia diferente. Não era mais pesado ou carregado de tudo o que eles evitavam dizer. Era algo novo, um espaço onde a verdade finalmente tinha sido dita.Ivy não desviou o olhar. O peso da confissão dele ainda pulsava entre eles, mas, pela primeira vez, ela não sentiu medo.— E o que você precisa agora, Lucian? — Sua voz saiu baixa, quase um sussurro.Lucian inspirou fundo. Seus dedos ainda seguravam a mão dela, como se não quisesse soltar.— De você.O coração de Ivy bateu forte.Lucian não se afastou. Não desviou o olhar, não recuou como fazia todas as vezes. Ao invés disso, ele trouxe a mão dela para perto e a segurou contra o peito, onde seu coração batia de forma firme, intensa.— Eu passei tempo demais tentando te proteger da minha própria escuridão. Mas agora eu entendo… Você sempre foi a única luz que fez sentido.Ivy não sabia o que dizer. Por tanto tempo, ela esperou que ele parasse de fugir. E agora, ele estava ali, finalme