Respirei fundo e soltei sua mão de repente, como se o contato queimasse. Ethan franziu a testa, confuso, e eu aproveitei a pausa para puxar um pequeno cartão do bolso da minha jaqueta.
Sem dizer nada coloquei na mão dele. Ele piscou, surpreso, e baixou os olhos para o pedaço de papel. — O que é isso? — perguntou, a voz mais cautelosa agora. Cruzei os braços, inclinando a cabeça para o lado enquanto observava sua reação. — Um homem veio até minha loja hoje — comecei, mantendo minha voz controlada. — Um caçador. O corpo de Ethan ficou rígido no mesmo instante. Sua expressão mudou de confusão para puro instinto de sobrevivência. — O quê? — a palavra saiu quase como um rosnado. — Rowan. Esse é o nome dele — continuei, ignorando o pânico que vi passar pelos olhos dele. — Ele sabia o que eu sou. Ethan me encarou como se o chão tivesse desaparecido sob seus pés. — Ele falou alguma coisa sobrO caos não era visível, mas eu podia senti-lo.A floricultura, meu canto de paz, agora parecia diferente. O ar carregado, as sombras mais pesadas, como se soubessem que aquela poderia ser a última vez que eu pisava ali. Mesmo sem ninguém por perto, a sensação de desordem era sufocante, como se tudo estivesse prestes a desmoronar.E no meio daquele cenário, Ethan permanecia imóvel, um pilar de firmeza e urgência. Sua pele morena captava a pouca luz que entrava pelas janelas, destacando o contorno sério de seu rosto. Seu olhar era afiado, a postura rígida. Ele não estava ali para pedir. Ele estava ali para me levar, e não havia espaço para discussão.— Lila, não temos tempo para hesitação. Se Rowan sabe sobre você, ele pode agir a qualquer momento. — Sua voz cortou o ar como uma lâmina.Um arrepio subiu pela minha espinha.Minha avó continuava sentada, os dedos ágeis no tricô, mas seus olhos estavam mais atentos do que antes. Ela nunca demonstrava medo. Mas eu sabi
Ethan se aproximou e abaixou-se ao lado dela, sua presença firme, mas calma.— Senhora Abigail — sua voz saiu baixa e respeitosa. — Eu juro que sua neta e eu só queremos garantir sua segurança. Posso ajudar a senhora a levantar?Ela olhou para ele por um instante, os olhos um pouco desfocados, como se estivesse tentando situá-lo. Então, finalmente, assentiu devagar.— Você é um rapaz educado — murmurou. — Mas não sei para onde estamos indo.— Para um lugar seguro — Ethan respondeu, estendendo a mão.Minha avó hesitou por mais alguns segundos antes de finalmente aceitar a ajuda dele.Eu segurei o suspiro de alívio.— Você sempre tem que dizer algo misterioso, né?Ele arqueou uma sobrancelha.— E você sempre tem que discutir comigo.Cruzei os braços, irritada.— Porque você me irrita.Ele abriu um meio sorriso.— E mesmo assim, você pegou minha mão agora há pouco.Quando me virei, encontrei minha avó ainda sentada na poltrona, di
Ethan abriu a porta do carro para minha avó primeiro, ajudando-a a se acomodar no banco traseiro com um cuidado que me pegou de surpresa. Ela olhou ao redor, confusa, os dedos enrugados apertando a bolsa de tricô contra o peito.— Para onde estamos indo? — ela perguntou, franzindo a testa.— Para um lugar seguro, dona Abigail — Ethan respondeu, com uma paciência que parecia inusitada para ele.Ela assentiu devagar, sem realmente entender, e voltou a atenção para as agulhas de tricô, murmurando algo sobre um cachecol que precisava terminar.Respirei fundo antes de entrar no carro. Ethan fechou a porta atrás de mim e contornou o veículo até o banco do motorista. Dois homens estavam na frente, um no volante e outro no banco do passageiro. Eles usavam ternos escuros e tinham a postura rígida de seguranças experientes.O motor roncou suavemente quando o carro começou a se mover. Cruzei os braços, lançando um olhar para Ethan.— Certo. Agora você pode começar a fal
Ethan abriu a boca para responder, mas, antes que pudesse, senti um movimento ao meu lado. Minha avó tentava abrir a porta do carro.— Vovó! — exclamei, me virando para segurá-la.Mas Ethan foi mais rápido. Com um movimento ágil, ele segurou seu braço com firmeza, mas com gentileza.— Está tudo bem, dona Abigail — disse com uma calma surpreendente. — Estamos indo para um lugar seguro.Ela piscou, confusa, e depois olhou para mim. — Lila… eu quero ir para casa…Meu coração doeu ao vê-la assim. Segurei sua mão e dei um sorriso fraco. — Eu sei, vovó. Mas precisamos ir com Ethan primeiro, tudo bem?Ela hesitou, então olhou para Ethan mais uma vez, parecendo estudá-lo. — Você tem os olhos dele…Ethan sorriu de canto. — Quem, dona Abigail?— George… — ela murmurou, antes de voltar a focar no tricô.Meu peito apertou. Eu sabia que, na mente dela, George era uma lembrança antiga, uma sombra do passado que ela não conseguia abandonar. M
Eu me recostei no sofá, sentindo um peso invisível começar a se instalar sobre meus ombros. Eu estava ali agora. Não tinha mais volta. E, por mais que tentasse me convencer de que era o certo a fazer, uma parte de mim ainda queria correr para a floricultura e fingir que nada disso estava acontecendo.Ethan, como se sentisse minha hesitação, falou baixo ao meu lado.— Você está segura aqui.Enquanto ele falava com o mordomo em voz baixa, minha atenção foi capturada por algo próximo à escada principal: uma grande moldura contendo uma foto de família.Seis pessoas estavam na imagem. Ethan no centro, mais jovem, mas com a mesma expressão severa. Ao redor dele, cinco irmãos. Quatro homens e uma mulher. A irmã tinha cabelos ondulados e olhos afiados como os dele, e se destacava. Sua postura era tão firme quanto a de Ethan, como se estivesse acostumada a comandar.Eu franzi a testa, surpresa. Não sabia que Ethan tinha uma irmã.— Lila.A voz dele me trouxe de vo
Scarlett franziu o cenho, claramente insatisfeita com a resposta vaga, mas, antes que pudesse rebater, seu olhar pousou em minha avó.A minha avó continuava sentada no sofá espaçoso, tricotando como se estivesse em sua própria sala de estar, alheia à tensão ao redor. Seus dedos ágeis entrelaçavam a lã com precisão, o pequeno tricô crescendo em suas mãos sem pressa.Os olhos de Scarlett brilharam com uma curiosidade inesperada.— Ela não parece preocupada — murmurou, inclinando ligeiramente a cabeça.— Minha avó não se preocupa facilmente. — Minha voz saiu mais suave do que eu esperava.Scarlett me avaliou por mais um instante antes de soltar um suspiro baixo.— Se você está aqui, então alguma coisa séria deve estar acontecendo. — Não era exatamente uma aceitação, mas também não era hostilidade.— Está, sim. — Ethan confirmou sem entrar em detalhes.Scarlett apertou os lábios, ponderando, antes de enfim recuar um passo.— Só espero que você saiba o
O frio da madeira contra meu rosto foi a primeira coisa que senti ao acordar com um sobressalto. Meu coração disparou, pulsando forte contra as costelas, e minha respiração veio curta e errática, como se tivesse sido arrancado de um pesadelo profundo e sufocante.Levei alguns segundos para entender onde estava.O escritório. Ainda.A pouca luz do abajur iluminava a mesa de mogno diante de mim, repleta de papéis desalinhados e um copo de uísque esquecido pela metade. O cheiro amadeirado do álcool misturado ao aroma de couro dos móveis me ancorou à realidade. Pisquei algumas vezes, tentando dissipar a névoa pesada do sono. Meus músculos protestaram ao menor movimento, tensos e exaustos, como se correntes invisíveis me mantivessem preso àquela cadeira.O pesadelo ainda ecoava em minha mente, como um sussurro persistente no fundo da consciência. Fragmentos dispersos de algo que eu não queria lembrar.Então, a porta se abriu.— Senhor Ethan?A voz de meu mordo
Depois de alguns toques, a imagem do meu irmão apareceu, os cabelos desgrenhados e os óculos tortos no rosto. Ele piscou algumas vezes, claramente saindo de um transe, e soltou um bocejo preguiçoso. — O que foi agora? — murmurou, a voz arrastada de sono. — Tava no meio de algo importante. Revirei os olhos, já esperando alguma desculpa dramática. — Você sempre tá no meio de algo. Alec estreitou os olhos para mim, claramente já pronto para retrucar, mas antes que pudesse abrir a boca, eu me inclinei um pouco mais para a tela e estreitei os olhos. — Você tá de óculos de leitura? Alec congelou por um segundo, depois disfarçou rápido, tirando os óculos com um movimento exageradamente casual e jogando-os de lado. — Claro que não. Antes que eu pudesse continuar, ele franziu o cenho e apontou para a tela. — Peraí… Você tá bebendo uísque de novo no escritório? Soltei um suspiro, passando a mão