Apertei os lábios. Talvez eu devesse esquecê-lo. Fingir que ele nunca esteve aqui, que nunca despertou minha curiosidade ou bagunçou minha rotina. Mas a verdade é que ele esteve. E eu não consigo fingir que sua ausência não me afeta. O sino da porta tilintou, e meu coração saltou antes mesmo que eu percebesse o que estava fazendo. Por um momento, só um momento, pensei que fosse ele. Me virei rápido demais, a expectativa crescendo dentro de mim—mas o rosto que encontrei não era o de Ethan. Era um cliente qualquer, um homem de meia-idade com expressão neutra, olhando ao redor como se estivesse decidindo se realmente queria comprar algo. O vazio em meu peito se intensificou. Claro que não era Ethan. Ele simplesmente sumiu, como se nunca tivesse estado aqui. Como se eu não significasse nada. Então respirei fundo e forjei
A vassoura deslizava pelo chão de madeira da floricultura, reunindo folhas secas e pétalas caídas da noite anterior. O cheiro de terra úmida, lavanda e rosas sempre teve um efeito calmante sobre mim, mas naquela manhã nada parecia conseguir me acalmar.Desde que Ethan desapareceu, algo dentro de mim parecia deslocado. Um vazio estranho, incômodo, que se recusava a ir embora.Eu não deveria sentir falta dele. Não deveria me importar com a ausência de alguém que nunca prometeu ficar. Mas, de alguma forma, a presença dele se tornou parte do meu cotidiano—e agora que ele não estava mais aqui, tudo parecia silencioso demais.Encostei a vassoura no ombro e suspirei.— Lila? — A voz suave da minha avó me fez erguer os olhos.Ela andava devagar pela loja, os dedos enrugados roçando as folhas das flores, como se estivesse conferindo cada uma, como fazia anos atrás, antes da doença. Seu olhar vago varreu a prateleira de samambaias antes de se voltar para mim.— Por que
Dessa vez, não forcei um sorriso. Ainda estava distraída pelo cliente anterior e pelo turbilhão de pensamentos sobre Ethan. Mas, assim que levantei os olhos para o recém-chegado, um arrepio percorreu minha espinha. O homem que entrara não parecia o tipo que compraria flores. Seus olhos frios e calculistas vagaram pelo ambiente de maneira meticulosa, como se analisasse cada detalhe. Ele usava um casaco escuro, pesado demais para a estação, e botas gastas de quem estava acostumado a longas caminhadas. Suas feições eram marcadas, a mandíbula rígida, e havia algo na forma como se movia — controlado, letal — que me fez instintivamente querer dar um passo para trás. Mas não o fiz. Em vez disso, segurei firme a borda do balcão e esperei. O estranho não respondeu de imediato. Apenas caminhou lentamente pelo espaço, os dedos deslizando de forma quase desinteressada sobre as folhas de uma samambaia pendurada. Seus movimentos eram calmos, quase
De repente, ele estava perto demais. Perto o bastante para que eu sentisse o cheiro leve de couro e algo metálico, como sangue seco. Meus instintos gritaram. Dei um passo involuntário para trás, mas bati contra o balcão. Rowan avançou outro centímetro e meu corpo reagiu antes que eu pudesse controlar. Deixei escapar um gritinho sufocado. Os olhos dele brilharam com satisfação. Então, como se isso fosse um jogo para ele, Rowan soltou uma risada baixa e se afastou, como um lobo satisfeito por ver sua presa estremecer. — Você é esperta, Lila. — Ele disse, ainda sorrindo. — Mas cuidado. Pessoas inteligentes demais acabam chamando atenção errada. Com um movimento quase preguiçoso, ele enfiou a mão no bolso do casaco e puxou algo. Antes que eu pudesse reagir, ele jogou um pequeno cartão sobre o balcão. Um cartão de apresentação. Como se ele fosse algum executivo,
Minha avó estava sentada na poltrona perto da vitrine, os dedos magros trabalhando no tricô. O novelo de lã azul descansava em seu colo, e ela murmurava baixinho para si mesma, concentrada nos pontos que tecia com a paciência de quem fazia aquilo há décadas.— George! — A voz da minha avó me tirou do transe.Meu coração deu um salto, e um arrepio subiu pela minha espinha. Levei um segundo para perceber que ela não estava falando sozinha. Ela estava olhando para a porta. Para alguém parado ali.Eu me virei tão rápido que quase caí para trás.Ethan.Ele estava encostado no batente da porta, braços cruzados, a expressão impassível. O mesmo Ethan de sempre, com os cabelos bagunçados, a postura relaxada demais para alguém que havia sumido por tempo o suficiente para me fazer acreditar que talvez nunca mais voltasse. Ele piscou devagar, como se meu choque não fosse minimamente surpreendente para ele.Meus músculos reagiram antes da minha mente. Sem pensar, agarrei
Ele não deveria estar aqui. Não depois de tanto tempo. Não depois de tudo.E, ainda assim, lá estava ele.— Eu ia te procurar — soltei, sentindo a irritação borbulhar no meu peito. — Mesmo que você tenha me abandonado, eu ainda ia te procurar. Você não me deu escolha.Ethan suspirou, desviando o olhar por um instante.— Eu não abandonei você, Lila. Não foi assim.Ele passou a mão pelos cabelos e respirou fundo, como se estivesse tentando encontrar as palavras certas.— É só que... as coisas ficaram mais complicadas.Dei uma risada sem humor.— Ah, claro. Porque tudo sempre é complicado com você, não é? Nunca pode ser simples. Você nunca pode simplesmente dizer a verdade, nunca pode simplesmente confiar em mim.Ele apertou os lábios, os olhos escurecendo com algo que eu não consegui decifrar.— Não é sobre confiar.— Então me diz o que é! — explodi, dando um passo à frente. — Me dá uma maldita explicação, Ethan! Porque, do jeito que eu vejo
Ele respirou fundo, os dedos contraindo em volta dos meus antes de soltá-los de repente, como se o toque queimasse. Como se eu queimasse.— Lila, eu...Eu senti antes mesmo de ouvir. A hesitação, a culpa. Ele ia fugir da pergunta. Ia me dizer algo que não queria dizer.— Não minta para mim. Não agora.Meus olhos ardiam, mas eu me recusei a piscar. Se uma lágrima caísse, seria como perder essa batalha.O silêncio entre nós era tão denso que eu podia senti-lo pressionando meu peito, sufocante. Ethan estava parado à minha frente, tenso, os olhos fixos nos meus como se procurasse algo — talvez perdão, talvez compreensão. Mas eu não sabia se ainda tinha alguma dessas coisas para oferecer a ele.Eu esperava sua resposta, o coração martelando contra as costelas. Ele passou a língua pelos lábios, um gesto nervoso, e soltou um suspiro pesado. Parecia frustrado, dividido, tão perdido quanto eu me sentia.E então, finalmente, ele falou.— Você é tudo para mim.
Respirei fundo e soltei sua mão de repente, como se o contato queimasse. Ethan franziu a testa, confuso, e eu aproveitei a pausa para puxar um pequeno cartão do bolso da minha jaqueta. Sem dizer nada coloquei na mão dele. Ele piscou, surpreso, e baixou os olhos para o pedaço de papel. — O que é isso? — perguntou, a voz mais cautelosa agora. Cruzei os braços, inclinando a cabeça para o lado enquanto observava sua reação. — Um homem veio até minha loja hoje — comecei, mantendo minha voz controlada. — Um caçador. O corpo de Ethan ficou rígido no mesmo instante. Sua expressão mudou de confusão para puro instinto de sobrevivência. — O quê? — a palavra saiu quase como um rosnado. — Rowan. Esse é o nome dele — continuei, ignorando o pânico que vi passar pelos olhos dele. — Ele sabia o que eu sou. Ethan me encarou como se o chão tivesse desaparecido sob seus pés. — Ele falou alguma coisa sobr