Foi quando o médico, sem rodeios, soltou:
— Scarlett, você está grávida.O choque nos olhos dela foi quase palpável.Ela congelou. E então, devagar, como se cada movimento exigisse um esforço imenso, seus lábios se curvaram em um sorriso hesitante.— Eu estou?O médico assentiu e logo se apressou em sair, deixando todos atônitos no quarto.Alec desviou o olhar.Ela piscou algumas vezes antes de assentir.— Que inesperado...— Isso é uma grande notícia. — Minha voz soou mais rouca do que eu esperava.Grande notícia.Eu não sabia exatamente o que sentir. Não agora. Mas algo dentro de mim começava a se formar, uma nova responsabilidade, um propósito diferente de qualquer outro que já tive. Um bebê. Meu bebê.E talvez isso fosse o começo de algo novo entre mim e Scarlett.Talvez isso nos unisse de verdade.Eu ainda tentava organizar tudo na minha cabeça quando um detalhe me fez desviar o olhar.Alec.Ele continuava parado pA mansão de Colin estava cheia, como sempre.Os corredores ainda carregavam aquele cheiro amadeirado misturado ao uísque caro que Colin gostava de manter por perto, mas havia algo mais. Algo denso no ar, como se a própria estrutura da casa estivesse sustentando o peso de uma tempestade prestes a desabar.Enquanto caminhava pelo hall de entrada, dei de cara com o mordomo, um homem de idade avançada e postura impecável, que sempre parecia saber de tudo antes mesmo que qualquer um dissesse uma palavra.— Senhor Ethan. — Ele inclinou a cabeça em um cumprimento formal, mas a forma como seus olhos me analisaram me fez franzir o cenho.—Onde estão os outros?A pergunta saiu naturalmente. Sempre que Colin convocava uma reunião, era comum encontrá-los espalhados pela sala de estar primeiro, bebendo e jogando conversa fora antes de se reunirem oficialmente. Mas a mansão estava silenciosa demais.O mordomo hesitou por um instante antes de responder.— Todos já estão
Alec, que até então se mantinha afastado, descruzou os braços e finalmente demonstrou interesse na conversa.— O que você quer fazer? — ele perguntou, a voz baixa, mas carregada de tensão.Colin respirou fundo, seus olhos percorrendo cada um de nós antes de responder:— Precisamos decidir nosso próximo movimento antes que ele tome a próxima jogada.Eu apertei os punhos, sentindo uma onda de frustração subir pela minha garganta.— Eu disse desde o começo que deveríamos ter acabado com ele. Você insistiu que deveríamos esperar, que ainda não era o momento. Mas Rowan não vai parar até destruir tudo. Agora estamos aqui, e você finalmente percebe que eu estava certo.Colin virou os olhos, impaciente.— Não começa com isso agora, Ethan.— Por que não? Você sabe que eu sou um dos melhores lutadores daqui. Eu posso acabar com ele.— Não. — O tom de Colin endureceu. Ele me encarou com firmeza, os olhos escuros refletindo sua autoridade. — Você está pr
Alec, como sempre, agindo como se estivesse acima de tudo.— Sabe qual é o seu problema? — disparei, inclinando-me sobre a mesa. — Você nunca se importa com nada de verdade. Sempre sentado aí, bancando o fodão, mas quando a merda bate no ventilador, você é o primeiro a sair de fininho.O meio sorriso desapareceu.Alec pousou o copo na mesa com um baque seco, seu olhar agora afiado como navalha.— Cuidado com o que fala, Ethan.— Ou o quê? — provoquei, batendo no próprio peito. — Vai me bater?Alec se levantou.E eu fiz o mesmo.— Olha, se quiser resolver isso na porrada, estou bem disposto — ele disse, a voz fria, desafiadora.— Eu também — rebati, cerrando os punhos.— Ah, pelo amor de Deus! — Cassia exclamou, revirando os olhos. — Vocês dois são adultos ou filhotes brigando por território?— Filhotes, claramente — Caleb murmurou, mas ninguém deu atenção.Colin bateu as mãos na mesa.— Se vocês quiserem se matar, façam isso depois da reunião.Ignorei o aviso.Alec também.Ele deu um
Apertei os lábios. Talvez eu devesse esquecê-lo. Fingir que ele nunca esteve aqui, que nunca despertou minha curiosidade ou bagunçou minha rotina. Mas a verdade é que ele esteve. E eu não consigo fingir que sua ausência não me afeta. O sino da porta tilintou, e meu coração saltou antes mesmo que eu percebesse o que estava fazendo. Por um momento, só um momento, pensei que fosse ele. Me virei rápido demais, a expectativa crescendo dentro de mim—mas o rosto que encontrei não era o de Ethan. Era um cliente qualquer, um homem de meia-idade com expressão neutra, olhando ao redor como se estivesse decidindo se realmente queria comprar algo. O vazio em meu peito se intensificou. Claro que não era Ethan. Ele simplesmente sumiu, como se nunca tivesse estado aqui. Como se eu não significasse nada. Então respirei fundo e forjei
A vassoura deslizava pelo chão de madeira da floricultura, reunindo folhas secas e pétalas caídas da noite anterior. O cheiro de terra úmida, lavanda e rosas sempre teve um efeito calmante sobre mim, mas naquela manhã nada parecia conseguir me acalmar.Desde que Ethan desapareceu, algo dentro de mim parecia deslocado. Um vazio estranho, incômodo, que se recusava a ir embora.Eu não deveria sentir falta dele. Não deveria me importar com a ausência de alguém que nunca prometeu ficar. Mas, de alguma forma, a presença dele se tornou parte do meu cotidiano—e agora que ele não estava mais aqui, tudo parecia silencioso demais.Encostei a vassoura no ombro e suspirei.— Lila? — A voz suave da minha avó me fez erguer os olhos.Ela andava devagar pela loja, os dedos enrugados roçando as folhas das flores, como se estivesse conferindo cada uma, como fazia anos atrás, antes da doença. Seu olhar vago varreu a prateleira de samambaias antes de se voltar para mim.— Por que
Dessa vez, não forcei um sorriso. Ainda estava distraída pelo cliente anterior e pelo turbilhão de pensamentos sobre Ethan. Mas, assim que levantei os olhos para o recém-chegado, um arrepio percorreu minha espinha. O homem que entrara não parecia o tipo que compraria flores. Seus olhos frios e calculistas vagaram pelo ambiente de maneira meticulosa, como se analisasse cada detalhe. Ele usava um casaco escuro, pesado demais para a estação, e botas gastas de quem estava acostumado a longas caminhadas. Suas feições eram marcadas, a mandíbula rígida, e havia algo na forma como se movia — controlado, letal — que me fez instintivamente querer dar um passo para trás. Mas não o fiz. Em vez disso, segurei firme a borda do balcão e esperei. O estranho não respondeu de imediato. Apenas caminhou lentamente pelo espaço, os dedos deslizando de forma quase desinteressada sobre as folhas de uma samambaia pendurada. Seus movimentos eram calmos, quase
De repente, ele estava perto demais. Perto o bastante para que eu sentisse o cheiro leve de couro e algo metálico, como sangue seco. Meus instintos gritaram. Dei um passo involuntário para trás, mas bati contra o balcão. Rowan avançou outro centímetro e meu corpo reagiu antes que eu pudesse controlar. Deixei escapar um gritinho sufocado. Os olhos dele brilharam com satisfação. Então, como se isso fosse um jogo para ele, Rowan soltou uma risada baixa e se afastou, como um lobo satisfeito por ver sua presa estremecer. — Você é esperta, Lila. — Ele disse, ainda sorrindo. — Mas cuidado. Pessoas inteligentes demais acabam chamando atenção errada. Com um movimento quase preguiçoso, ele enfiou a mão no bolso do casaco e puxou algo. Antes que eu pudesse reagir, ele jogou um pequeno cartão sobre o balcão. Um cartão de apresentação. Como se ele fosse algum executivo,
Minha avó estava sentada na poltrona perto da vitrine, os dedos magros trabalhando no tricô. O novelo de lã azul descansava em seu colo, e ela murmurava baixinho para si mesma, concentrada nos pontos que tecia com a paciência de quem fazia aquilo há décadas.— George! — A voz da minha avó me tirou do transe.Meu coração deu um salto, e um arrepio subiu pela minha espinha. Levei um segundo para perceber que ela não estava falando sozinha. Ela estava olhando para a porta. Para alguém parado ali.Eu me virei tão rápido que quase caí para trás.Ethan.Ele estava encostado no batente da porta, braços cruzados, a expressão impassível. O mesmo Ethan de sempre, com os cabelos bagunçados, a postura relaxada demais para alguém que havia sumido por tempo o suficiente para me fazer acreditar que talvez nunca mais voltasse. Ele piscou devagar, como se meu choque não fosse minimamente surpreendente para ele.Meus músculos reagiram antes da minha mente. Sem pensar, agarrei