Então, aproveitando a distração momentânea da recepcionista, me misturei discretamente entre os funcionários e entrei no elevador com eles.
O espaço ficou apertado quando as portas começaram a se fechar, e foi nesse instante que ouvi a voz da recepcionista se elevar. — Senhorita! — ela chamou, o tom carregado de alerta. Eu a ignorei, forçando um sorriso quando um dos funcionários me olhou de canto de olho. — Qual andar? — ele perguntou educadamente. Pensei rápido. — Ah… o vigésimo terceiro — respondi, escolhendo um andar aleatório. A recepcionista já estava contornando o balcão quando as portas se fecharam, me isolando do saguão. Soltei o ar que nem percebi que estava prendendo. O elevador começou a subir, e eu sabia que tinha apenas alguns segundos antes que alguém tentasse interceptá-lo ou mandasse os seguranças atrás de mim. Me forcei a parecer calma enquanto os funcionários ao meu"Bom. Que continuem procurando."Apertei o grimório contra o peito e caminhei em direção à porta dupla no fim do corredor. Não sabia exatamente onde aquilo ia dar, mas precisava seguir em frente. Com cuidado, girei a maçaneta e espreitei a cabeça para dentro.Um escritório vazio.Respirei aliviada e entrei, fechando a porta atrás de mim sem fazer barulho.O cômodo era moderno e minimalista, com uma enorme mesa de vidro e cadeiras elegantes. O tipo de ambiente que eu nunca imaginaria Ethan frequentando, mas que fazia sentido dentro daquele prédio luxuoso.Atravessei o espaço rapidamente até encontrar outra porta no canto. Se minha intuição estivesse certa, aquilo me levaria a um corredor maior, possivelmente com um acesso ao elevador ou uma nova escada.Girei a maçaneta devagar e saí.O corredor à minha frente era amplo, com um longo tapete escuro e luzes embutidas no teto. Diferente da escadaria claustrofóbica, ali parecia tudo mais calmo.Mas a calma
A primeira coisa que vi foi Ethan, parado atrás de sua mesa de madeira escura, segurando um telefone no ouvido. Ele congelou no momento em que me viu. E, pela primeira vez, eu vi algo raro no rosto dele: Surpresa. A porta atrás de mim foi escancarada com um estrondo, batendo contra a parede. Antes que eu pudesse reagir, senti mãos enormes me agarrando pelos braços e me erguerem do chão como se eu fosse um gato de rua pego no flagra. Meu grimório caiu no chão fazendo um baque surdo. — Ei! — protestei, chutando o ar. — Me solta, seu brutamontes! O segurança me segurava como se eu não passasse de uma pequena inconveniência, e eu me debati o máximo que pude, mas era inútil. — Senhor Whitmore — ele disse, impassível. — Essa ruiva invadiu o prédio depois de ser impedida de entrar. Ruiva? Ah, ótimo. Eu nem tinha nome agora.
Me acomodei na cadeira de couro macio à frente da mesa dele, tentando ignorar a estranheza de estar ali, naquele escritório amplo e luxuoso. As paredes de vidro revelavam uma vista absurda da cidade, os prédios parecendo peças de um jogo caro que só gente como Ethan Whitmore podia jogar. A mesa de madeira escura era impecável, sem um único papel fora do lugar, apenas um computador elegante e uma caneta de tinteiro ao lado.Passei os olhos pelo ambiente mais uma vez e então me voltei para ele, estreitando os olhos.— Presidente, hm? — provoquei, cruzando os braços. — Eu sempre soube que você era um magnata, mas agora tudo faz sentido…Ethan suspirou, jogando-se contra o encosto da cadeira com um ar cansado, como se já estivesse esperando esse tipo de comentário vindo de mim.— O meu irmão mais velho dividiu os negócios da família entre nós — explicou, girando levemente a caneta entre os dedos. — Cada um ficou responsável por um setor.Levantei uma sobrancelha, cur
Eu era filha única. Meus pais morreram cedo demais, e a única família que me restava era minha avó, Abigail. Eu a amava com todo meu coração, mas cuidar dela sozinha nem sempre era fácil. Havia dias em que o Alzheimer a levava para um lugar onde eu não podia alcançá-la, dias em que ela se esquecia de quem eu era.E não havia ninguém para dividir esse peso comigo.Ninguém para compartilhar as lembranças felizes do passado.Ninguém para rir comigo de histórias da infância ou para segurar a barra quando as coisas ficavam difíceis.Por um momento, desejei que tivesse irmãos. Desejei ter alguém que pudesse carregar essa responsabilidade comigo, que pudesse me lembrar que eu não estava sozinha.Mas eu estava.E sempre estivera.Apertei os lábios e balancei a cabeça, espantando esses pensamentos antes que me afogassem.Foi só então que percebi que Ethan ainda me observava, como se tentasse decifrar algo em meu rosto.Droga.— Bom pra você — murmurei,
Ele assentiu lentamente, os olhos ainda presos às palavras, como se tentasse absorver cada detalhe.— Sim — sua voz era baixa, quase relutante.Minha respiração ficou presa na garganta.— Que idioma?Ethan não respondeu de imediato. Ele continuou encarando o grimório, os dedos passando levemente sobre a tinta escura, como se buscasse as palavras certas.Então, suspirou.Um suspiro carregado.Ele ergueu os olhos para mim, e algo na expressão dele fez minha pele formigar.— É um idioma antigo.Minhas sobrancelhas franziram.— Antigo como o quê? Latim? Grego? Alguma língua morta?Ethan me observou por um momento, e foi aí que notei a hesitação. Ele parecia pesar suas opções, ponderando se deveria ou não me dizer algo.O silêncio que se seguiu foi sufocante.Ele fechou o grimório devagar e se inclinou para frente, apoiando os antebraços sobre a mesa.— Lila — ele começou, e o modo como meu nome saiu da boca dele fez algo estranho d
Eu ainda estava tentando respirar direito.A palavra lobisomem ecoava na minha mente como um sino gigante, reverberando de um jeito que fazia meu peito ficar apertado.Ethan, por outro lado, parecia muito mais tranquilo.Ele me observava com um olhar divertido, os lábios curvando-se num meio sorriso que só me irritava mais.— Está sendo muita coisa para processar? — perguntou, a voz carregada de humor.Pisquei rapidamente, tentando encontrar alguma resposta coerente.— Hã… sim? — foi tudo o que consegui dizer.Ele riu baixinho.— Você está pálida.— E você esperava o quê? — soltei, passando a mão pelo rosto. — Eu acabei de descobrir que criaturas sobrenaturais são reais! Que você é uma delas! Eu devia estar… sei lá… desmaiada!— Por favor, não faça isso — ele disse, fingindo preocupação. — Eu não sou muito bom em reanimar moças em choque.Lancei um olhar irritado para ele.— Você pode parar de se divertir com isso por um segundo?—
Abaixei os olhos para o livro em minhas mãos.— Quando minha avó me entregou isso… naquele dia…Minha voz falhou por um segundo.A lembrança da nossa discussão ainda pesava sobre mim.Eu não queria me lembrar do rosto confuso de Abigail, do olhar perdido e, ao mesmo tempo, cheio de urgência, como se ela precisasse que eu entendesse algo que estava além de suas palavras.Respirei fundo.— Ela me entregou esse livro dizendo que precisava devolvê-lo a George.O nome pairou no ar entre nós.Eu olhei para Ethan.Ele piscou lentamente.— George — repetiu.Sua expressão se fechou levemente, como se um pensamento distante cruzasse sua mente.Passou a mão pelo rosto antes de recostar-se na cadeira, os olhos voltando para mim.— Ela me confundiu com meu pai.Eu assenti.— Sim.O silêncio voltou a nos envolver.Eu sentia meu peito apertado, minha mente rodando com perguntas que eu ainda não sabia como formular.Porque a ve
— Você?— Não sei o porquê de tanta surpresa — ele deu seu tão conhecido sorriso astuto enquanto falava, mas de repente ficou sério. — Então me diz, Lila você ainda quer devolver esse grimório ou quer entender mais sobre o que tem aqui?Fiquei em silêncio, apertando o livro contra o peito. Eu não tinha pensado nisso até agora. Minha avó tinha insistido que ele deveria ser devolvido, mas… a verdade era que eu estava curiosa. Sempre fui.— Eu não sei — admiti, olhando para a capa de couro desgastada. — Minha avó queria devolver, mas acho que nem ela sabe exatamente o que tem aqui.Ethan arqueou uma sobrancelha.— E você?Mordi o lábio, hesitante.— Eu quero saber o que tem dentro — confessei, minha voz saindo mais baixa do que eu esperava.Um pequeno sorriso cruzou os lábios de Ethan, e aquilo me irritou um pouco.— O quê?— Nada — ele disse, balançando a cabeça, mas o brilho satisfeito nos olhos dele denunciava que não era "nada".Franzi a