Senti Ethan ao meu lado prender a respiração por um breve instante.
— Meu pai tentou comprar esta floricultura? — ele perguntou, a incredulidade evidente em sua voz.Minha avó sorriu para ele como se fosse a coisa mais natural do mundo.— Oh, sim. Ele fez uma oferta generosa, mas eu disse a ele: ‘Jovem, esta loja é minha vida. Nenhum dinheiro do mundo pode comprar a dedicação de alguém por algo que ama.’Meu estômago revirou.Jovem.Ela ainda via o pai de Ethan como um rapaz, como alguém da idade de Ethan agora.Ethan notou isso também. Ele soltou um suspiro curto, como se não soubesse se ria ou se tentava entender melhor.— E o que ele disse? — ele perguntou, cruzando os braços, interessado.Minha avó franziu o cenho, parecendo momentaneamente confusa.— Oh… ele sorriu. Sim, sorriu e disse que respeitava isso. Mas eu via nos olhos dele que ainda queria tentar. Ele era persistente. Como você.Ela levantou os olhos para Ethan, estudando-o cA cafeteira soltou um chiado abafado enquanto a bebida escura começava a escorrer para a jarra de vidro. Cruzei os braços, batendo o pé no chão da cozinha, ainda irritada.Eu não podia acreditar que esse dia estava acontecendo.Primeiro, um homem desconhecido invade minha floricultura. Depois, descubro que ele é ninguém menos que Ethan Whitmore, um bilionário que poderia comprar todo o quarteirão sem nem piscar. Agora, ele estava sentado à mesa da minha sala, exigindo café como se fosse um rei esperando ser servido.E, para piorar, eu tive que fechar a loja mais cedo por causa dele.Suspirei, passando as mãos no rosto.Isso significava menos clientes. Menos lucro. Eu já não nadava exatamente em dinheiro, e cada dia de vendas era essencial para manter as contas em dia.— Ótimo, Lila. Só ótimo.Resmunguei para mim mesma enquanto pegava três xícaras no armário. Não era culpa dele exatamente, mas ele não estava ajudando. Ele sequer tentava ajudar!Peguei
A verdade era que, quando aquele homem tentou me pressionar, tudo o que eu consegui pensar foi que ele precisava sair dali. Rápido. E a coisa mais próxima que eu tinha era uma vassoura.Então, peguei o cabo firme e apontei para ele como se fosse uma espada, ameaçando varrê-lo para fora da minha loja.Pelo visto, alguém contou tudo para Ethan.Meus ombros se encolheram levemente, mas eu tentei manter uma postura firme.— Foi o que eu tinha no momento.— Uma vassoura?— Sim.— De todas as armas possíveis…— Sim, Ethan, uma vassoura! — bufei, cruzando os braços.Ele riu novamente, o som grave e inesperadamente agradável.— Você sabe que isso não vai afastar um investidor sério, certo?Me inclinei para frente, estreitando os olhos.— E você sabe que eu não vou vender, certo?Nos encaramos por um momento, e a intensidade no olhar dele me fez prender a respiração.Ethan parecia alguém acostumado a conseguir o que queria, alguém que n
A frase me pegou desprevenida.— O quê?Ele deu de ombros, recostando-se na cadeira.— Cuidar de alguém assim não é fácil. E, mesmo assim, você não hesita nem por um segundo.Fiquei sem saber o que responder.Minha avó pegou a xícara de café e sorriu para Ethan.— George, querido, quando vai me dar netos?Engasguei com meu próprio café.Ethan me olhou, claramente segurando o riso.— Bem…— Vovó! — protestei, vermelha.— O que foi? — Ela piscou. — Ele é bonito, você é bonita… não custa nada considerar.Ethan riu baixinho e deu outro gole no café, me lançando um olhar divertido.Eu apenas suspirei, sentindo que aquela noite ainda ia ser longa.— Vovó, pelo amor de Deus! — soltei, sentindo minhas bochechas queimarem. — Eu e ele não estamos namorando!Minha avó apenas franziu a testa, como se não entendesse minha indignação.— Não? Mas ele é bonito… e parece ter bons modos.Lancei um olhar para Ethan, que agora sorria d
— Lila… — sua voz veio mais baixa, como se escolhesse as palavras com cuidado. — Você sabe que eu preciso construir um shopping ali, certo? Eu soltei uma risada curta, sem humor. — Precisa? — Cruzei os braços. — O que você precisa é de um pouco de humanidade. Não pode simplesmente destruir negócios locais para enfiar mais uma monstruosidade de concreto. Ele franziu o cenho, mas, ao invés de retrucar imediatamente, estudou meu rosto. Seus olhos eram intensos, e por um momento, senti que ele estava tentando entender algo sobre mim. Algo que eu mesma talvez não soubesse explicar. Antes que ele pudesse responder, ouvimos um barulho leve atrás de nós. Minha avó estava de pé novamente, vagando pela casa como se procurasse algo, os dedos passando pelos móveis de forma distraída. Mas ambos ignoramos enquanto ela vagueia pelas estantes resmungando algo sobre um livro. — Monstruosidade? — Ele franziu o cenho. — Si
O silêncio que ficou depois que Ethan saiu foi doloroso. Eu não queria admitir, mas era verdade.Passei a mão pelos cabelos, soltando um suspiro irritado.— Idiota arrogante… — murmurei para mim mesma.Mas, por algum motivo, as palavras soaram vazias.Suspirei de novo e me virei para a pia. Talvez lavar a louça me ajudasse a esquecer tudo isso. Mas, antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, ouvi passos lentos vindo do corredor.— O George já foi embora?Eu me virei e encontrei minha avó parada ali, segurando um livro velho e empoeirado.Franzi a testa.— Vó? O que é isso?Ela sorriu de leve, estendendo o objeto para mim.— Achei que poderia devolver isso a ele.Minha confusão só aumentou.— Devolver isso? — peguei o livro das mãos dela com cuidado. — Para o Ethan?— Para o George — ela corrigiu.Meu peito apertou.— Vó… o George… ele não…Mas eu parei no meio da frase.Tentar explicar que Ethan não era o George Wh
Peguei a caneca e a levei aos lábios, mas fiz uma careta no segundo seguinte. O café estava frio e amargo. Soltei um suspiro e o coloquei de volta na mesa, sentindo um peso estranho no peito. Quanto tempo fiquei aqui sentada, encarando esse maldito livro? Meus dedos deslizaram pela capa desgastada, traçando as letras com cuidado, como se o simples toque pudesse me trazer respostas. Mas nada fazia sentido. E, de alguma forma, não era só o livro que me incomodava. Era ele. Ethan Whitmore. Arrogante. Convencido. Um idiota completo. Eu sabia o tipo dele. Homens como ele estavam acostumados a ter tudo o que queriam, sempre. Eles davam ordens, jogavam dinheiro na mesa e o mundo simplesmente obedecia. Então por que eu não conseguia simplesmente esquecê-lo? Meu corpo ficou tenso quando percebi o que isso significava.<
O sol da tarde já começava a descer no horizonte, tingindo o céu com tons quentes de laranja e dourado. A rua estava relativamente calma, poucos carros passando ao longe, e o som distante de conversas casuais e passos apressados preenchia o silêncio entre um momento e outro. Mas nada disso realmente importava.Porque minha atenção ainda estava voltada para a porta de vidro atrás de mim.Eu deveria simplesmente ir embora. Entrar no carro, seguir com o que quer que fosse minha agenda do dia. Era o que eu deveria fazer.Mas fiquei ali.Meu reflexo no vidro estava distorcido, alongado pelo ângulo da luz do sol, mas meus olhos eram nítidos. E, pela primeira vez em muito tempo, havia algo ali que eu não reconhecia completamente.Eu sentia algo borbulhando sob a superfície.Algo primitivo.Algo que fazia meu sangue correr mais quente, que fazia minha mandíbula se travar e meus músculos se enrijecerem.Uma parte de mim queria entrar naquela loja de novo.
Assenti lentamente.— Sim.— Tipo… como um eremita?Deixei escapar um pequeno sorriso de canto.— Algo assim.A confusão nos olhos deles ainda era evidente, então continuei:— É o ciclo natural para um alfa. Depois de passar tanto tempo rodeado de humanos, chega uma hora em que o chamado instintivo fica mais forte. Não é uma questão de querer ou não. O corpo pede isso. A mente pede isso.Harris ainda parecia meio incrédulo.— E… ele nunca mais vai voltar?Victor soltou um pequeno suspiro.— Alguns voltam. Mas, na maioria dos casos, não.Ryan finalmente falou, sua voz ponderada:— Então ele está lá vivendo apenas como um lobo agora?— Exatamente — respondi.Um silêncio pesado caiu dentro do carro.Pela primeira vez, me permiti pensar nisso de forma real.Meu pai agora estava vivendo da forma mais livre possível.Sem reuniões. Sem preocupações com a empresa. Sem precisar lidar com negociações exaustivas ou com os jogo