Assim que ouvi os passos descendo a escada, senti meu estômago se revirar.
Fechei os olhos por um instante, já imaginando o que viria a seguir.— Ah, ótimo — murmurei, mais para mim mesma do que para Ethan.Virei-me para encarar a figura que descia os degraus com passos cuidadosos, as mãos finas segurando o corrimão pois cada um de seus movimento exigia esforço.Minha avó tinha os cabelos grisalhos presos em um coque frouxo, e vestia um cardigã azul claro sobre um vestido floral desbotado. Seus olhos castanhos passearam pela loja antes de pousarem em mim — e foi ali que meu coração se apertou.Ela sorriu, mas não para mim.— Samantha, querida! — sua voz saiu carregada de ternura, e por um momento, ela parecia radiante.Engoli em seco.Ethan, ao meu lado, ficou em silêncio, mas senti seu olhar pesar sobre mim.— Vovó, sou eu — corrigi com suavidade necessária, descendo um pouco os ombros para conter a onda de tristeza que sempre me atingia nesses mSenti Ethan ao meu lado prender a respiração por um breve instante.— Meu pai tentou comprar esta floricultura? — ele perguntou, a incredulidade evidente em sua voz.Minha avó sorriu para ele como se fosse a coisa mais natural do mundo.— Oh, sim. Ele fez uma oferta generosa, mas eu disse a ele: ‘Jovem, esta loja é minha vida. Nenhum dinheiro do mundo pode comprar a dedicação de alguém por algo que ama.’Meu estômago revirou.Jovem.Ela ainda via o pai de Ethan como um rapaz, como alguém da idade de Ethan agora.Ethan notou isso também. Ele soltou um suspiro curto, como se não soubesse se ria ou se tentava entender melhor.— E o que ele disse? — ele perguntou, cruzando os braços, interessado.Minha avó franziu o cenho, parecendo momentaneamente confusa.— Oh… ele sorriu. Sim, sorriu e disse que respeitava isso. Mas eu via nos olhos dele que ainda queria tentar. Ele era persistente. Como você.Ela levantou os olhos para Ethan, estudando-o c
A cafeteira soltou um chiado abafado enquanto a bebida escura começava a escorrer para a jarra de vidro. Cruzei os braços, batendo o pé no chão da cozinha, ainda irritada.Eu não podia acreditar que esse dia estava acontecendo.Primeiro, um homem desconhecido invade minha floricultura. Depois, descubro que ele é ninguém menos que Ethan Whitmore, um bilionário que poderia comprar todo o quarteirão sem nem piscar. Agora, ele estava sentado à mesa da minha sala, exigindo café como se fosse um rei esperando ser servido.E, para piorar, eu tive que fechar a loja mais cedo por causa dele.Suspirei, passando as mãos no rosto.Isso significava menos clientes. Menos lucro. Eu já não nadava exatamente em dinheiro, e cada dia de vendas era essencial para manter as contas em dia.— Ótimo, Lila. Só ótimo.Resmunguei para mim mesma enquanto pegava três xícaras no armário. Não era culpa dele exatamente, mas ele não estava ajudando. Ele sequer tentava ajudar!Peguei
A verdade era que, quando aquele homem tentou me pressionar, tudo o que eu consegui pensar foi que ele precisava sair dali. Rápido. E a coisa mais próxima que eu tinha era uma vassoura.Então, peguei o cabo firme e apontei para ele como se fosse uma espada, ameaçando varrê-lo para fora da minha loja.Pelo visto, alguém contou tudo para Ethan.Meus ombros se encolheram levemente, mas eu tentei manter uma postura firme.— Foi o que eu tinha no momento.— Uma vassoura?— Sim.— De todas as armas possíveis…— Sim, Ethan, uma vassoura! — bufei, cruzando os braços.Ele riu novamente, o som grave e inesperadamente agradável.— Você sabe que isso não vai afastar um investidor sério, certo?Me inclinei para frente, estreitando os olhos.— E você sabe que eu não vou vender, certo?Nos encaramos por um momento, e a intensidade no olhar dele me fez prender a respiração.Ethan parecia alguém acostumado a conseguir o que queria, alguém que n
A frase me pegou desprevenida.— O quê?Ele deu de ombros, recostando-se na cadeira.— Cuidar de alguém assim não é fácil. E, mesmo assim, você não hesita nem por um segundo.Fiquei sem saber o que responder.Minha avó pegou a xícara de café e sorriu para Ethan.— George, querido, quando vai me dar netos?Engasguei com meu próprio café.Ethan me olhou, claramente segurando o riso.— Bem…— Vovó! — protestei, vermelha.— O que foi? — Ela piscou. — Ele é bonito, você é bonita… não custa nada considerar.Ethan riu baixinho e deu outro gole no café, me lançando um olhar divertido.Eu apenas suspirei, sentindo que aquela noite ainda ia ser longa.— Vovó, pelo amor de Deus! — soltei, sentindo minhas bochechas queimarem. — Eu e ele não estamos namorando!Minha avó apenas franziu a testa, como se não entendesse minha indignação.— Não? Mas ele é bonito… e parece ter bons modos.Lancei um olhar para Ethan, que agora sorria d
— Lila… — sua voz veio mais baixa, como se escolhesse as palavras com cuidado. — Você sabe que eu preciso construir um shopping ali, certo? Eu soltei uma risada curta, sem humor. — Precisa? — Cruzei os braços. — O que você precisa é de um pouco de humanidade. Não pode simplesmente destruir negócios locais para enfiar mais uma monstruosidade de concreto. Ele franziu o cenho, mas, ao invés de retrucar imediatamente, estudou meu rosto. Seus olhos eram intensos, e por um momento, senti que ele estava tentando entender algo sobre mim. Algo que eu mesma talvez não soubesse explicar. Antes que ele pudesse responder, ouvimos um barulho leve atrás de nós. Minha avó estava de pé novamente, vagando pela casa como se procurasse algo, os dedos passando pelos móveis de forma distraída. Mas ambos ignoramos enquanto ela vagueia pelas estantes resmungando algo sobre um livro. — Monstruosidade? — Ele franziu o cenho. — Si
O cheiro de sangue impregnava o ar, aguçando meu olfato e fazendo meus instintos lupinos vir à tona. A floresta ao nosso redor era um santuário intocado pelos humanos, um lugar onde a natureza ainda reinava soberana e nos dava a liberdade de sermos os lobos que éramos. A luz do luar se filtrava por entre as folhas das árvore, criando sombras no solo úmido e coberto de folhas caídas. O ar era carregado com o perfume de pinheiros, terra molhada e a presença distante de um alce, nossa presa. Eu amava o poder que a caçada trazia. Não era a fome que me movia, mas a excitação de sentir minha força, minha conexão com meus irmãos, com a terra e com a fera que habitava dentro de mim. Éramos uma matilha, sempre unidos. Porra, lobos nunca estão sozinhos. Corríamos juntos em movimentos sincronizados. Minhas patas, ainda em meu corpo de lobo, se moviam em silêncio sobre o chão de terra macia. Meu pelo marrom escuro se camuflava entre os troncos e as sombras da floresta, enquanto meus se
Apesar de podermos nos misturar aos humanos, nunca seríamos como eles. Mesmo em nossas formas humanas, éramos altos, rápidos e fortes de uma maneira que chamava atenção. Qualquer humano que nos visse saberia que tem algo diferente em nós. — Relaxe, Colin — falei finalmente, quebrando o silêncio. — Não é como se algum humano tivesse nos visto aqui no meio do nada. — Não importa, Ethan — ele retrucou, cruzando os braços. — É sobre discrição. Precisamos manter nosso disfarce o máximo possível, devemos agir como lobos apenas quando estamos em forma de lobos. Alec riu, ainda em sua forma meio lupina, exibindo os dentes afiados. — Relaxa, chefe. Disciplina ou não, ninguém aqui é mais humano do que você. Colin lançou-lhe um olhar que poderia perfurar um diamante, e eu tive que esconder um sorriso. Todos ali sabiam que ele tinha razão, mas isso não significava que deixaríamos de provocá-lo. Afinal, éramos uma matilha, e isso significava que brigas, e provocações, faziam parte do pac
Alec levantou as mãos em um gesto de rendição, mas o brilho divertido em seus olhos continuava presente. — Tudo bem, tudo bem. Só estou dizendo que Scarlett é uma boa escolha, mesmo sem ser sua destinada. — Scarlett é uma boa escolha porque é conveniente, não porque há sentimentos entre nós — retruquei, cansado daquela conversa. — E antes que qualquer um de vocês diga algo, eu sei o que está em jogo. Colin, que até então permanecera em silêncio, ergueu a mão para interromper a conversa. — Basta. Scarlett é assunto dele, não nosso. E todos sabemos que achar a destinada não é algo que se força. — Mas ainda é nossa responsabilidade garantir que ele esteja fazendo o melhor para a família — insistiu Alec, mas desta vez sua voz tinha menos provocação. — E eu farei — disse, meu tom firme enquanto olhava para cada um deles. — E não hesitarei em fazer, mesmo que seja casar com Scarlett. Por um momento, o silêncio pairou entre nós, cada um digerindo as palavras. Então Cassia sor