Endireitei-me, ajeitando o avental e tentando convocar um sorriso educado para o próximo cliente. Mas, quando meus olhos se fixaram na figura que acabava de entrar, o sorriso vacilou, quase sumindo por completo.
Por um momento, não reconheci quem era, mas algo nele me fez prender a respiração. A forma como se movia, como olhava ao redor com um ar de propriedade, como se medisse cada detalhe da floricultura… tudo parecia carregado de algo que eu não conseguia explicar. "Quem é você?" pensei, estudando seu rosto. Ele ajeitou o paletó com gestos deliberados, como se estivesse se preparando para um discurso. Então, de repente, minha memória conectou os pontos. Meu estômago deu um nó. — Não acredito! — murmurei para mim mesma, sentindo o rosto esquentar de irritação. Era ele. O mesmo homem que aparecia regularmente nos últimos meses, representando a Companhia de Construção Whitmore. Sempre com o mesmo objetivo: me convencer a vender a flo— Apenas uma parte da oferta, senhorita Lila. O suficiente para garantir que sua nova vida comece com conforto.Fechei a boca, tentando recuperar a compostura. Respirei fundo e dei um passo para trás, me apoiando no balcão.— Eu… eu não posso aceitar isso. — A gagueira escapou antes que eu pudesse controlá-la.— Não pode ou não quer?Senti o sangue ferver novamente, expulsando o impacto inicial da visão do dinheiro.— Não quero. E já deixei isso bem claro.— Você está sendo irracional.Foi a gota d’água.Meus olhos se estreitaram, e antes que ele pudesse reagir, peguei a vassoura que estava encostada ao lado do balcão.— Irracional? Quer ver o quão irracional eu posso ser? — rosnei, apontando a vassoura diretamente para ele.Ele arregalou os olhos, claramente não esperando minha reação.— Ei, ei! Calma! — ele começou a recuar, levantando as mãos em sinal de rendição.— Eu já disse para sair da minha loja! — dei um passo à frente, balan
A mansão de Colin se erguia diante de nós, a arquitetura clássica se misturando de modo harmoniosos com detalhes modernos. Mesmo para alguém como eu, acostumado ao luxo, o lugar era impressionante. A imponente fachada de pedra branca, as janelas altas e as colunas ornamentadas eram símbolos de riqueza e tradição.Scarlett, ao meu lado, admirava cada detalhe enquanto subíamos os degraus de mármore que levavam à entrada principal.— Parece que ele quis garantir que ninguém esquecesse quem manda por aqui, hein? — murmurou ela com um sorriso divertido.— Colin sempre teve um gosto particular para essas coisas — respondi, tentando não demonstrar minha irritação. Eu não estava ali para admirar o palácio do meu irmão mais velho. Minha mente estava presa a algo muito mais sombrio.A imagem do corpo de John Abernathy continuava a me assombrar. A brutalidade dos caçadores não era novidade, mas ver um dos nossos mortos daquela forma era algo que não se esquecia facilmente.
— Há coisas que precisam ser discutidas. E não posso fazer isso sem todos presentes.Quase como se fossem convocados por mágica, Liam, Cassia e Caleb apareceram na sala pouco depois. Liam foi o primeiro a entrar, ele cumprimentou Colin com um leve aceno antes de me dirigir um olhar interrogativo e me lançar poucas palavras.— Ethan. Scarlett. Bom ver vocês.Cassia entrou logo em seguida, trazendo um sopro de energia para o ambiente. Seus olhos brilhavam com curiosidade, e ela parecia alheia à tensão no ar.— Ora, ora, uma reunião de família? Não fomos avisados que seria tão formal — e sorriu, mas o seu sorriso desapareceu quando ela percebeu a expressão de Colin.Caleb veio por último, o mais descontraído de todos, como sempre. Ele deu um tapa amigável no ombro de Alec antes de se recostar na parede, os braços cruzados.— Qual é o drama desta vez? — perguntou, sem pressa para entrar no clima de seriedade.Caleb permaneceu encostado na parede, os braços cr
Todos se viraram para ela, alguns surpresos, outros com expressões que variavam entre ceticismo e curiosidade. Colin inclinou a cabeça ligeiramente, avaliando-a. — Isso é... generoso. — Ele escolheu as palavras com cuidado. — Mas este é um assunto interno, Scarlett. Não quero envolver pessoas de fora, mesmo que sejam aliadas. — Colin, acho que deveríamos considerar a oferta. — Liam interveio, sua voz era quase um sussurro, mas ele tinha a autoridade do segundo mais velho. — Os Kingsley são influentes e têm conexões que podem nos ajudar a nos proteger e a descobrir quem está por trás de tudo isso. — Concordo com Liam. — Caleb falou, cruzando os braços enquanto se recostava na parede. — Se estamos lidando com caçadores organizados, precisamos de toda a ajuda possível. Cassia, que até então estava em silêncio, ergueu a mão como se pedisse permissão para falar. — Eu estou preocupada com os funcionários — ela
O silêncio na sala era esmagador, como se todos estivessem prendendo a respiração ao mesmo tempo. Eu podia sentir o peso dos olhares de meus irmãos, todos esperando que eu dissesse algo, qualquer coisa. Minhas mãos começaram a suar, e meu coração batia descompassado.Scarlett estava ao meu lado, imóvel, mas a intensidade em seus olhos me dizia que ela não ia deixar isso passar.— Ethan... — Colin insistiu, seu cenho estava franzido com a preocupação que sentia por mim. — O que está acontecendo?Eu abri a boca para responder, mas as palavras ficaram presas na garganta. Não era só o que tinha acontecido que me incomodava, mas a sensação de vulnerabilidade que viria ao admiti-lo.— Eu... — Comecei, mas a palavra morreu em minha boca.— Ethan. — Scarlett colocou a mão suavemente no meu braço, seus olhos me encorajando de uma forma que eu não sabia precisar. Ela não estava pressionando, apenas me oferecendo apoio.Respirei fundo, fechando os olhos por um momento a
Cassia colocou uma mão sobre o peito, a preocupação evidente em seu rosto. — E ela ajudou você? Mesmo assim? — Sim — respondi, minha voz suavizando. — Era uma humana. Pequena, frágil mas corajosa. Ela não hesitou em me ajudar. — Isso é inusitado. — Liam comentou, sua expressão pensativa. Antes que eu pudesse responder, senti o olhar de Scarlett queimando em mim. Quando me virei ligeiramente para olhar para ela, vi algo em seus olhos, um lampejo de ciúme que ela rapidamente escondeu com um sorriso indiferente. — Pequena e corajosa, hein? — ela murmurou, a voz baixa o suficiente para que só eu ouvisse. Engoli em seco, sentindo uma tensão invisível crescer entre nós, mas Scarlett rapidamente voltou a sua postura habitual, olhando para Colin como se nada tivesse acontecido. — E depois? — Caleb perguntou, quebrando o silêncio desconfortável. — Ela me deixou me esconder em sua floricultura e lidou com os caçad
Eu sabia que Scarlett estava certa, mas isso não tornava a situação mais fácil de aceitar.— Está decidido. — Colin declarou, encerrando a discussão.O ambiente permaneceu em silêncio por um instante.Alec revirou os olhos, claramente contrariado, mas não disse mais nada. Caleb parecia prestes a argumentar novamente, mas um único olhar de Colin o silenciou.— Vou começar agora. — Alec disse finalmente, se levantando com um suspiro e indo em direção à sala de monitoramento.O resto de nós permaneceu ali, com o único som quebrando o silêncio sendo o fogo crepitando na lareira.Passei a mão pelo rosto, soltando um suspiro frustrado.— Isso vai ser um inferno. — murmurei, cruzando os braços enquanto me recostava na poltrona.Scarlett riu suavemente ao meu lado.Virei o rosto para encará-la e, por um instante, observei como a luz da lareira refletia em seu cabelo. Havia algo de absurdamente fascinante em sua postura sempre composta, como se nada no mun
O escritório estava mergulhado em um silêncio opressor, interrompido apenas pelo som do relógio na parede e pelo arranhar da minha caneta contra o papel. Pilhas de documentos estavam espalhadas sobre a mesa de madeira maciça, cada uma exigindo minha atenção imediata. Contratos, relatórios, análises financeiras toda aquela pilha de documentos parecia interminável. Peguei outro documento, mas antes mesmo de começar a lê-lo, um suspiro escapou dos meus lábios. Apoiei as costas na cadeira de couro e esfreguei as têmporas, tentando afastar a tensão que parecia grudada a mim nos últimos dias. Do lado de fora, sabia que os seguranças estavam postados em pontos estratégicos, alertas e prontos para agir. Olhei para a agenda digital no meu computador, cheia de reuniões adiadas ou canceladas, e para o canto do escritório, onde um conjunto de rádios comunicadores permanecia em constante murmúrio. Minha vida agora era uma constante escolta. Carro blindado.