Johnson, em trabalho, era uma figura intimidadora e sombria. Maria não se lembrava daquele homem, tão assustador, quando o via com Helena. — Cabo Bacon. Poderia conversar comigo? - Johnson tinha a voz grave, um verdadeiro tenor. Com Helena, o tom era outro. Aquilo colocava Maria em estado de alerta. Ela apenas assentiu. - Poderíamos ir a um lugar reservado? Por cortesia? — Sim, senhor. - Maria o levava à sala de reunião do andar médico. Era tranquila e bastante discreta. Acomodou-o e o serviu de um café forte. — Obrigado, Cabo. - Ele agradeceu. - Posso gravar está conversa, para memoriais futuros? — Serei exposta ou isso pode me prejudicar, de algum modo? - Maria perguntou, recuava. Johnson tinha a impressão de que aquilo podia ter a ver com Renard. Ela tinha traços parecidos com os de Helena, ainda que fosse mais robusta, mas o ar inocente e sedutor, simultâneos, nos olhos de âmbar, era algo que a tenente também tinha. — Tem medo de alguém, em particular? - Johnson já gravav
Helena silenciou com a pergunta de Gregory. — Desde que mudou para a cobertura, não foi? - Ele adivinhava o início de tudo. O olhar dela murchava. Gregory tinha sua suspeita confirmada. - Foi o que suspeitei. A cobertura é linda, mas não tem nada verdadeiramente seu ali. Entende o que quero dizer? Não há um diploma ou uma fotografia, que seja, de uma paisagem. Helena, você tem toneladas de condecorações e menções honrosas e não há nada que demonstre isso. Eu gostaria de ter memórias suas. — Eu tinha memórias. Elas sumiram. - Ele percebia a voz dela perder o vigor. — Como? - Ele questionou. — Depois que voltei da licença, aquela, de quando matei eles, eu gravava diários, em vídeo. Os cartões de memória que armazenavam isso ficavam num compartimento, no closet do quarto de hóspedes, atrás da gaveta de baixo, do lado da porta do banho. - Ela deu de ombros. - Com toda a confusão que foi com a missão, eu ir para o rancho do Peter, as internações, por algum motivo, em algum momento, a
— O que faz da vida, Helena? É da imigração mesmo? - Martha perguntou.— Migra. Você? - Helena retrucou.— Ultimamente, striper. Prostitut@, às vezes. - Martha respondia. — Vem de onde? - A policial puxava assunto. — Haiti. - Martha sorriu. — Veio pela promessa? - Helena se abraçou às pernas, ajudava a conter a dor latejante. — Não, para achar um lugar longe da dor. - Ela respondeu, conformada.— Perdeu alguém? - Helena a via sonhadora. — Marido, pais e dois filhos. - Ela sorriu. — Lamento. - Helena respondeu. Tinha a nítida e expressão de dor. — Tenta mudar de posição. - Martha aconselhou. - Quando fiz a minha, doeu o inferno. - Ela disse, se aproximando e, com um toque suave, deitando Helena e fazendo movimentos que não eram típicos de alguém ignorante.— Por que fez? - Helena sentia o alívio. — Não foi bem voluntário, era uma condição para vir. - Ela respondeu, serena, massageando o ventre da mulher. - Não me opus e nem desisti, não tinha muita esperança, nem lá e nem aqui.
— O que fez? Matou alguém? - Martha se surpreendia.— Algumas vezes. - Helena respondeu.— Ninguém como nós, Martha. - Eduarda defendeu a militar. - Depois a gente se intera.Helena se levantou e foi até a carcereira. Despedia-se com um aceno tímido. Helena vestiu-se e saiu do prédio. Gregory a esperava. Ao vê-la, abriu um sorriso sincero de alegria, adiantando-se até o portão. As outras policiais a encaravam com desprezo. — Você está bem? - Ele a abraçou. - Deus! Como estou feliz que está aqui. — Estou, mas ficaria mais tempo se não tivessem me colocado para fora. - Ela disse, suavemente. - Encontrei duas boas pessoas ali. E você? — Aliviado. Sem você, a casa parece que morre. Só por avisar, você ganhou outro comandante. - Ele informava, sorridente. — Deus! Que não seja um demônio! - Ela pedia, olhando para o céu, enquanto Gregory lhe abria a porta. — Acredito que não. Parece ser bem gente boa. - É um novo Major, vem do departamento médico. - Ele disse, estupidamente feliz. —
Helena se levantou, recolheu a mesa. Gregory a ajudava com a tarefa. O homem parecia estranhamente atraente. "Será que isso não virou covil e eu sou a loba? Abatendo cordeiros?" Ela o olhou, detidamente, e canto de olhos, peito musculoso, braços fortes, ombros largos, o pescoço bem delineado. Ela percebia que ele estava de calça, apenas de calça. Tinha o abdômen bem marcado que definia um caminho para o prazer. Não percebia pelos nele. Era um tipo finamente cuidado. "Será que se eu virar médica, vou ter um shape desses?" Ela se detinha, um pouco mais abaixo. Ali parecia haver muito entretenimento. — Está me encarando, querida. - Ele sorriu, travesso. "Desde quando este filho da put@ é tão..." Ela arregalou os olhos, encarando a parede, surpresa. "Gostoso?" Helena se repreendia. "Não, doida. Ele é seu amigo, seu médico, seu colega de apartamento. Já te viu tantas vezes no fundo do poço que é seu anjo guardião, lesada! Você não pode estar com tesão no seu BFF. Isso é loucura! Loucura
— Do que está falando, Tenente? - Gregory perguntou a Helena. — Major, tudo o que fazemos ou deixamos de fazer passa pelo senhor, direta ou indiretamente. É por isso que tem um assistente. O Capitão Rhodes irá relatar e aconselhar, mas o poder de decisão é seu: desde se devemos seguir a diante com uma determinada estratégia até se vamos comprar café forte ou descafeinado. As equipes têm uma "listinha" de guloseimas que o departamento paga, quando sobra verba. Lembre de privilegiar os pequenos: recrutas, aspirantes, soldados, cabos e sargentos, nessa ordem. O resto de nós dá seu jeito. - Ela sorriu. — Entendi. Sabe porquê estou aqui? - Gregory perguntou, esperando a curiosidade. — Saberei quando me contar. - Helena era doce, mas tinha uma noção que era, exclusivamente, para controlá-la. — Para liderar vocês de modo mais humanitário, segundo Della Rosa. - Ele sorriu. Helena percebia que teria que treinar seu chefe. — Rhodes vai ter dar sua agenda humana. - Helena deixou um ris
Helena estava surpresa com a confissão, natural, de Gregory. Os três amigos a amaram, isso a colocava em uma zona desconfortável. Na prática, era o segundo casamento que destruía sem querer ou saber. Karen, ex de Peter, também a odiava, não seria novidade se Katrina se juntasse ao clube. — Greg, eu não sei como reagir a isso. - Helena se abria. — Está tudo bem. - Ele sorriu suavemente, como sempre. - Você teve Hebert. Era um grande amigo. Eu não me ofendo, pode ter certeza. Ele, realmente, era alguém para se espelhar. - Gregory se esparramou na cadeira e cruzou as pernas, esperando o pedido. Era um homem muito bonito e atraente. Algo, na postura dele, o entregava: certamente não era passivo quando chamado ao exercício da luxúria. — Greg, querido, escuta. - Ela estendeu a mão para ele, que se aproximou, respondendo aquele mínimo sinal dela. - É uma informação muito grande para eu absorver agora. - Ela era honesta com ele. - Somos melhores amigos há anos, você e Katrina foram nosso
Dario estava nervoso, suava frio. Reencontrar Helena era, de longe, um milagre que os anjos atendiam. Ele jamais amou outra mulher, em anos, desejava guardar seus sentimentos para ela, houvesse o que houvesse. — Chefe. - Um tipo obtuso, de olhar desconfiado e pele vermelha o chamava. — Sim, Martinez. - Dario respondeu, sobressaltado. - Tem um migra lá embaixo, diz que tem algo para penhorar. — Leva no escritório, vou atender ele e sair um pouco. - Dario respondeu. A loja de penhores era uma fachada eficiente para as operações dele, lavava dinheiro com facilidade e raramente era fiscalizado. Em uma cidade de fronteira, era comum girar muitos pequenos valores, o que era ignorado, na maioria das vezes. Dario desceu ao escritório, o tipo esquisito, de óculos escuros e aspecto pouco confiável o aguardava, com uma caixa de jóias e um envelope pardo na mão. — Bem vindo, Roberts. O que quer penhorar desta vez? - Dario o recebeu, educadamente. — Isto aqui. Pagamos vinte por cento.