— Do que está falando, Tenente? - Gregory perguntou a Helena. — Major, tudo o que fazemos ou deixamos de fazer passa pelo senhor, direta ou indiretamente. É por isso que tem um assistente. O Capitão Rhodes irá relatar e aconselhar, mas o poder de decisão é seu: desde se devemos seguir a diante com uma determinada estratégia até se vamos comprar café forte ou descafeinado. As equipes têm uma "listinha" de guloseimas que o departamento paga, quando sobra verba. Lembre de privilegiar os pequenos: recrutas, aspirantes, soldados, cabos e sargentos, nessa ordem. O resto de nós dá seu jeito. - Ela sorriu. — Entendi. Sabe porquê estou aqui? - Gregory perguntou, esperando a curiosidade. — Saberei quando me contar. - Helena era doce, mas tinha uma noção que era, exclusivamente, para controlá-la. — Para liderar vocês de modo mais humanitário, segundo Della Rosa. - Ele sorriu. Helena percebia que teria que treinar seu chefe. — Rhodes vai ter dar sua agenda humana. - Helena deixou um ris
Helena estava surpresa com a confissão, natural, de Gregory. Os três amigos a amaram, isso a colocava em uma zona desconfortável. Na prática, era o segundo casamento que destruía sem querer ou saber. Karen, ex de Peter, também a odiava, não seria novidade se Katrina se juntasse ao clube. — Greg, eu não sei como reagir a isso. - Helena se abria. — Está tudo bem. - Ele sorriu suavemente, como sempre. - Você teve Hebert. Era um grande amigo. Eu não me ofendo, pode ter certeza. Ele, realmente, era alguém para se espelhar. - Gregory se esparramou na cadeira e cruzou as pernas, esperando o pedido. Era um homem muito bonito e atraente. Algo, na postura dele, o entregava: certamente não era passivo quando chamado ao exercício da luxúria. — Greg, querido, escuta. - Ela estendeu a mão para ele, que se aproximou, respondendo aquele mínimo sinal dela. - É uma informação muito grande para eu absorver agora. - Ela era honesta com ele. - Somos melhores amigos há anos, você e Katrina foram nosso
Dario estava nervoso, suava frio. Reencontrar Helena era, de longe, um milagre que os anjos atendiam. Ele jamais amou outra mulher, em anos, desejava guardar seus sentimentos para ela, houvesse o que houvesse. — Chefe. - Um tipo obtuso, de olhar desconfiado e pele vermelha o chamava. — Sim, Martinez. - Dario respondeu, sobressaltado. - Tem um migra lá embaixo, diz que tem algo para penhorar. — Leva no escritório, vou atender ele e sair um pouco. - Dario respondeu. A loja de penhores era uma fachada eficiente para as operações dele, lavava dinheiro com facilidade e raramente era fiscalizado. Em uma cidade de fronteira, era comum girar muitos pequenos valores, o que era ignorado, na maioria das vezes. Dario desceu ao escritório, o tipo esquisito, de óculos escuros e aspecto pouco confiável o aguardava, com uma caixa de jóias e um envelope pardo na mão. — Bem vindo, Roberts. O que quer penhorar desta vez? - Dario o recebeu, educadamente. — Isto aqui. Pagamos vinte por cento.
— Claro! Café! - Dario despertava do transe de ter sua Helena, mais uma vez, ao seu lado. - Podemos ir ao Molly's? Dizem que é ótimo. - Helena deixou uma gargalhada curta e divertida escapar. - Não? — Não é isso. Claro que podemos. Realmente é bom. - Helena respondeu, recompondo-se. Dario ficava cada vez mais nervoso, da mesma forma de quando teve coragem para chamar Helena para sair, pela primeira vez. — Certo. Como está a visão? Voltou? - Ele conduzia, mansamente. — Ah, sim. - Helena respondeu. Apreciava a viagem. Não era tão confortável, mas era bom reviver algumas lembranças doces. Aliviava o coração, carregado pelos anos sombrios. - Eram coágulos. Algo a ver com a exposição do Deserto. Foi uma recuperação difícil, mas consegui. Ainda estou tomando alguns remédios, por garantia. — Fico feliz, Helena. Você me parece tão diferente sem o uniforme. - Ele a levava ao Molly's, o lugar com a maior população de policiais da região. Devia ter mais segurança ali do que em uma base da
Dario levou Helena de volta e lhe entregou o presente, pessoalmente, ela agradeceu e entrou no prédio. Do outro lado da rua, Renard e Carlson a observavam, discretos. Peter desceu da viatura e se emparelhou à portaria. — Poderia dizer a Helena que a polícia está aqui? - Peter disse ao porteiro, pelo interfone. Em pouco tempo, o portão era liberado. Peter conseguia ir ao apartamento. A porta estava entreaberta. — Entre policial. Quer um café? Como posso ajudar? - Ela se virou, encarando Peter. - Como entrou? — Sou da polícia, bebê. Você me mandou entrar. Não lembra? - Ele disse, se aproximando, ameaçador. — Vai embora, Peter. - Ela disse, recuando um passo a cada passo dele. — Temos assuntos pendentes, bebê. Você não acha que foi longe demais com assédio e abuso moral e sexual? - Ele disse, estreitando o espaço entre eles. Helena colidia com a parede em suas costas. Por algum motivo, não conseguia reagir a ele. Estremecia, sentia medo. - Hum? Não foi? — Peter, vai embora
Carlson chegava em casa, num bairro tranquilo da cidade, na periferia. Lugar típico de gente comum, sem sobressaltos. Na garagem, apenas um carro. Dario o observava da van, pelo retrovisor. A casa estava apagada, era um cara sozinho, mas, se tivesse invadido a casa de Helena, ele logo saberia. Dario esperou. O homem tinha hábitos. Horas até que a casa se apagasse. Tipo autoconfiante, não era o tipo que parecia ter alarmes, mas devia dormir com uma arma debaixo do travesseiro. Pensava na melhor forma de pegar ele. O criminoso esperou mais algum tempo. Três horas depois, sorrateiro, se esgueirou pelo jardim, até a porta dos fundos. Nada de cães ou cercas, nem alarmes. Com alguma facilidade, destrancou a porta da cozinha, entrava no lugar como um gato. O melhor era atrair aquele homem para um lugar onde tivesse vantagem e não se ferisse. Pegou uma panela vazia. Via bebida sobre a mesa de centro da sala. As reações estariam lentas, com certeza. Ele jogou a panela na cozinha e es
— Óbvio que queria. Ela não resiste a um bom p@u. Além do que, como ela ia justificar para o corn@ do Gregory que estava tão satiafeita que até desmaiou? Só assim. Típico dela fazer drama. - Peter respondeu a Roberts, sem hesitar, bebendo sua cerveja. - Me avise se algo mudar com o penhor. Vou desligar, amanhã cedo tenho umas coisas para fazer. - Peter disse, se levantando. - Se cuida, irmão. — Se cuida. - Roberts respondeu. Estava atordoado. Peter podia ter cavado a própria cova, não se enterraria com ele. Gregory a observava através do vidro. Desta vez, ele rezava, fervoroso. — Comandante, precisamos de sua atenção em uma questão. - Gregory ouviu a voz de Roselyn. Via Helena sobre a cama, muito ferida. - Se eu pegar quem fez isso a ela... - A militar se revoltava. - Precisamos que autorize essas duas investigações. - Ela entregou pastas ao homem. Rhodes já as havia assinado. Gregory saiu dali. Roselyn o seguia. O homem estava angustiado. Ele lia, cuidadosamente, os documentos.
Dario instalava o sistema de câmeras nas portas, no porteiro eletrônico e o sistema de escuta. Testava-os, ainda sem deixar as gravações se iniciarem. Passeou pela casa. Eles dormiam em quartos separados, não pareciam ser amantes, mas ele parecia ser bom para ela. Via o quarto dela, como ela sonhava: a grande cama, num quarto aconchegante, de grandes janelas para o norte, varanda e a vista da cidade. O celular dela estava ali, mas ele não tinha senha e nem tempo hábil. Seu presente estava intocado, na cabeceira da cama. O cheiro de flores resplandecia. Já era o segundo presente que ele lhe dava. Tomava consciência de que ele demorou demais para começar a lhe presentear, ainda que fosse a troco de nada. Quando eram casados, ele não se lembrava de ter dado nada para ela, nem pequenos mimos e se arrependia, amargamente. Nos vídeos, ainda que fosse lembrado, Hebert era uma constante. Dario invejava-o sob o ponto de vista de que ele soube fazer Helena feliz. Percebia a impessoalidade da