— Ainda me recuperando, Major. Obrigada por perguntar. - Ela recolhia a documentação, sobre a mesa que estava virada em uma imensa bagunça. - O senhor? — Helena. - Ele segurou o pulso dela. Usava o bonito conjunto formal do escritório, com o paletó, o lenço no pescoço, no lugar da gravata. O coque justo, maquiagem leve e o cheiro enlouquecedor de fêmea, que só ela tinha. - Não precisa ser assim. Rosenbauer os via através do vidro, horrorizado. Eram amigos, mas aquilo ultrapassava o que ele considerava amizade. Philip abria o monitoramento da sala, ouvia-os. — Pete, me solta, cara. - Ela assumia uma perigosa postura. Peter não sabia a extensão dos danos e nem quanto ela ainda podia surrá-lo com a própria perna, mas aquele olhar feroz era suficiente para que ele a soltasse. - Somos amigos. Todo o resto vai se acomodar e a gente vai esquecer essa bobagem. - Ela disse, fria, recolhendo os documentos restantes e os alinhando, em batidas suaves e curtas sobre a mesa. — Bobagem, Helena
— Obrigada por tudo, Johnson. - Helena não terminou sua refeição. Deixou a bolsa de gelo sobre o balcão, pôs a mão no ombro do homem e deu um tapinha, sorrindo para ele. Passou por Maria a encarando. Um movimento de olhos para o celular no balcão. A Tenente saiu dali e foi para sua caminhonete. — Brown, seu celular. - Maria saiu da Molly e correu até Helena, que havia deixado do dispositivo, para trás, de propósito. - O que está acontecendo aqui? - Maria a alcançou. Helena levou a arma na cabeça de Maria e estendeu as algemas, sem dizer nada. A Cabo foi raptada, no meio do estacionamento do café, a plena luz do dia e do outro lado do departamento de polícia. A jovem foi guiada até a caminhonete e acomodada. Era amarrada ao banco, em silêncio. Maria foi desarmada, seu celular desligado. O carro entrou em movimento. Helena tinha o espanhol perfeitamente nítido. Trocaram veículos em algum lugar. — Lamento, Maria. - Helena soltou Maria. — Do que se trata isso, sua doida? - Maria a
Helena e Maria voltaram. Philip e Howard foram namorados no passado, Helena explicava. O amigo que Helena defendeu foi Bruce. Maria se chocava. Helena era dona de segredos que garantiam que muita gente vivesse em paz. Ela deixou Maria no prédio dos vistos e voltou ao escritório. Peter a encarou, chegando. — Brown! - Ele bradou. Helena revirou os olhos e mudou o curso de caminhada. — Seu namoradinho esteve aqui. - Ele disse, debochado. - Liga para seu pet. — Desculpe, Major. Quem? - Helena se orientava, obviamente confusa. — Gregory. Já virou a página? Estavam tão alegres ontem à noite. - Peter provocou. - Fico imaginando quanto vale sua paz, Brown. — Major, o senhor precisa de ajuda médica? - Ela ofereceu, já sem paciência para lidar com Peter. — Não, Brown. Você precisa tanto que colocou um na sua cama. - Peter atacou, irritado. — Com licença. - Ela se virou. — Não terminei com você. Vá até o General. Você vai para a detenção. - Ele ordenou, impassível. — Sim, senhor.
Helena se via presa, em uma cela comum, com ilegais, de macacão, a cabeça recostada na parede, sentada no chão, em um canto do salão onde elas eram reunidas, como gado em um curral. Ela refletia sobre o vazamento de informações. Acreditava que podia confiar, cegamente, na sua gente, mas aquilo se mostrava um ledo engano. Apesar de inimigos internos tenderem a se unir quando da existência de uma ameaça externa, tendência não era garantia. Ela suspirou. — Ei, Migra! - Uma das detentas a chamava. - Vamos conversar. - Helena abriu os olhos. Via uma mexicana alta e musculosa, bodybuilder talvez, que estralava os dedos de um punho fechado, com um sorriso caricato e canastrão, que ela deveria supor aterrorizante. — Sim, claro. - Helena se levantou. - Como devo chamá-la, senhora? - Perguntou, humildemente. Não ficaria ali por muito tempo e ir para uma solitária não era seu objetivo, ainda mais, sob uma prisão que deveria ser temporária. — Gonzalez. Sua chefe agora, Migra. - A mulher pego
Devagar, Helena foi para o banho, deixava a água lhe bater no rosto, vencida. Vestiu-se, armou-se e saiu. Apenas foi embora, com um dos veículos. A SUV, preta, blindada, era um bom carro e tinha valor, se quisesse se libertar. Ela observava o movimento, na saída da propriedade. As motos seguiam para o norte, pela estrada. Sem qualquer discrição, Helena os seguiu. Chegavam a um imenso galpão, cargas eram movimentadas, entre contêineres, caixas e sacas. Ela perseguiu aquele complexo por anos. Dario, da janela, frustrado, percebia Helena descer do veículo e encarar a janela. Acendendo um cigarro e se recostando. Das imensas janelas, espelhadas, não conseguia ver, mas se sentia observada. Ela permaneceu, impassível. Queria ver Dario, uma última vez, antes de partir, sem rumo. Ela circulou o carro, era sumariamente ignorada pelos trabalhadores. "Enfim, não sou tão importante quando parece." Ela entrou no veículo.Dario a via partir, tão silenciosa quanto chegou. Foi até a fronteira urbana.
Johnson, em trabalho, era uma figura intimidadora e sombria. Maria não se lembrava daquele homem, tão assustador, quando o via com Helena. — Cabo Bacon. Poderia conversar comigo? - Johnson tinha a voz grave, um verdadeiro tenor. Com Helena, o tom era outro. Aquilo colocava Maria em estado de alerta. Ela apenas assentiu. - Poderíamos ir a um lugar reservado? Por cortesia? — Sim, senhor. - Maria o levava à sala de reunião do andar médico. Era tranquila e bastante discreta. Acomodou-o e o serviu de um café forte. — Obrigado, Cabo. - Ele agradeceu. - Posso gravar está conversa, para memoriais futuros? — Serei exposta ou isso pode me prejudicar, de algum modo? - Maria perguntou, recuava. Johnson tinha a impressão de que aquilo podia ter a ver com Renard. Ela tinha traços parecidos com os de Helena, ainda que fosse mais robusta, mas o ar inocente e sedutor, simultâneos, nos olhos de âmbar, era algo que a tenente também tinha. — Tem medo de alguém, em particular? - Johnson já gravav
Helena silenciou com a pergunta de Gregory. — Desde que mudou para a cobertura, não foi? - Ele adivinhava o início de tudo. O olhar dela murchava. Gregory tinha sua suspeita confirmada. - Foi o que suspeitei. A cobertura é linda, mas não tem nada verdadeiramente seu ali. Entende o que quero dizer? Não há um diploma ou uma fotografia, que seja, de uma paisagem. Helena, você tem toneladas de condecorações e menções honrosas e não há nada que demonstre isso. Eu gostaria de ter memórias suas. — Eu tinha memórias. Elas sumiram. - Ele percebia a voz dela perder o vigor. — Como? - Ele questionou. — Depois que voltei da licença, aquela, de quando matei eles, eu gravava diários, em vídeo. Os cartões de memória que armazenavam isso ficavam num compartimento, no closet do quarto de hóspedes, atrás da gaveta de baixo, do lado da porta do banho. - Ela deu de ombros. - Com toda a confusão que foi com a missão, eu ir para o rancho do Peter, as internações, por algum motivo, em algum momento, a
— O que faz da vida, Helena? É da imigração mesmo? - Martha perguntou.— Migra. Você? - Helena retrucou.— Ultimamente, striper. Prostitut@, às vezes. - Martha respondia. — Vem de onde? - A policial puxava assunto. — Haiti. - Martha sorriu. — Veio pela promessa? - Helena se abraçou às pernas, ajudava a conter a dor latejante. — Não, para achar um lugar longe da dor. - Ela respondeu, conformada.— Perdeu alguém? - Helena a via sonhadora. — Marido, pais e dois filhos. - Ela sorriu. — Lamento. - Helena respondeu. Tinha a nítida e expressão de dor. — Tenta mudar de posição. - Martha aconselhou. - Quando fiz a minha, doeu o inferno. - Ela disse, se aproximando e, com um toque suave, deitando Helena e fazendo movimentos que não eram típicos de alguém ignorante.— Por que fez? - Helena sentia o alívio. — Não foi bem voluntário, era uma condição para vir. - Ela respondeu, serena, massageando o ventre da mulher. - Não me opus e nem desisti, não tinha muita esperança, nem lá e nem aqui.