O álcool no meu organismo estava fraco, não estava bêbada, apenas um pouco alta completamente ciente de todas as minhas ações. Estava em plena consciência de estar em um bar flertando com um desconhecido. Uma mecha do meu cabelo caiu sobre meu rosto enquanto sorria de uma piada que o asiático fez, alguma coisa sem graça, mas que me fez sorrir. Ele levou a mão até meu cabelo e prendeu a mecha solta atrás da minha orelha, meus olhos se prenderam aos seus naquele momento, meu corpo se arrepiou por inteiro. Enrico e eu não tínhamos relações a um tempo, não há tesão meu por ele, e sei que ele também não me deseja, só me procura para falar que quer um filho, esse é seu único interesse. — Dança comigo? — Perguntou o estranho de forma educada. Até parece que ele leu meus pensamentos. Acenei que sim com a cabeça, seus dedos se enlaçaram aos meus e ele nos guiou para a pista de dança. Sempre gostei de dançar, desde que era criança. Na adolescência ensaiava passos com meu pai, adorava assistir
A luz do sol que entra pela janela ofusca minha visão, não sei que horas são, não está cedo. Continuo deitada sem coragem de sair da cama. Hoje fazem quinze dias que passei a noite com aquele estranho, não houve um só dia que eu não me lembra-se dele. Estou confusa, atordoada, mas em momento nenhum senti culpa ou remorso pelo que fiz. Uma batida na porta do quarto me tira de meus pensamentos. — Dona Nina, seu marido acabou de chegar — Diz Carmem ao lado de fora . Saio da cama desanimada, havia me esquecido que Enrico retornava hoje, já que ele não ligou se quer uma vez para dar notícias. Sinto meu estômago se revirar, uma sensação de incapacidade me toma. Agora que ele voltou acabou o pouco de liberdade que experimentei esses dias. Sou a última a chegar na sala, Laura está no sofá ao lado de Enrico eles conversam sobre a viagem, a pele dele está com uma cor dourada, é visível que ele pegou muito sol durante seu tempo fora. — Nina… Amor senti saudades — Enrico se levanta e caminha
— Você tem certeza disso Nina? — Laura me perguntou pela décima vez. Depois da última de Enrico, precisei ser sincera com ela e contar que quero me separar. A tristeza ficou visível no olhar dela. Eu amava Laura como se fosse uma mãe, mas nem isso me faria ficar com Enrico. — Tenho Laura, eu não consigo mais… Enrico tem uma amante, ele vive com ela, trata ela como uma esposa, eu só apenas a esposa para ele sair nas revistas, para se apresentar aos amigos. O amor entre a gente acabou — Ela envolve minha mão com a sua. — Eu te amo como uma filha, e isso não vai mudar. Independente de qualquer coisa. Me senti aliviada por conseguir me abrir com Laura, eu queria falar mais, contar as vezes que Enrico me bateu, me humilhou, dizer a ela o ser humano horrível que o filho se tornou, mas poupei ela disso, aquela doce senhora sempre me tratou bem, não precisava dar esse desgosto a ela. Estava com Laura na área externa quando Carmem anunciou que tinha visitas na sala. Para meu desgosto as vis
A semana foi uma loucura, ajudei Laura em todos os preparativos para o baile, ela queria algo luxuoso e de extremo bom gosto, estava radiante com o retorno do filho. Ela pensou em todos os detalhes para a festa, desde as comidas até a decoração, tudo pensado com muito amor para o filho. Fiquei um pouco preocupada no início pois Laura estava muito agitada, não parava quieta um minuto sequer, meu medo era ela passar mal. Mas, ela estava tão feliz, fazia tempo que eu não via ela assim. Enrico estava de extremo mau humor, nunca gostei de fazer perguntas sobre o que aconteceu entre ele e o irmão, mas era claro que a relação deles não era boa ou simplesmente não existia, Enrico nunca tocou no nome de Matteo, nem no nosso casamento ele esteve presente. Laura experimentava um vestido longo azul marinho, o caimento dele era perfeito. A vendedora levou os melhores vestidos da marca até nossa casa, o que ficava mais prático. — Laura, por que Enrico não parece feliz com o retorno do irmão? — In
Perla não parou de me ligar, o tempo todo querendo conversar sobre minha separação foi obrigada a ser grossa com ela, para que ela me deixasse em paz. Para conseguir o meu sossego enviei para ela uma generosa quantia em dinheiro, deixando bem claro que seria a última vez, que aquele dinheiro era para pagar as dívidas e se acertar até conseguir um emprego. O dia começou agitado, hoje era o grande dia de Laura, Matteo estaria de volta. Seu voo chegaria uma hora antes da festa, ele passaria em um hotel para se arrumar e iria direto para o clube onde seria o baile. Laura estava radiante, seu sorriso era contagiante, assim como sua felicidade. Enrico entrou no meu quarto sem permissão sequer bateu na porta, estava no closet terminando de me vestir. — Você vai chegar comigo, tenho um anúncio importante a fazer, você vai estar ao meu lado — Informou. — Vai anunciar nosso divórcio? — Questione. Ele me olhou de soslaio com um sorriso falso no rosto. — Não querida, você é minha esposa e vai c
Fui embora antes do fim da festa, aquele lugar estava me sufocando, precisava me afastar de Matteo e pôr a cabeça no lugar. Como isso pôde acontecer comigo? Todos esses anos de casamento nunca saí com outro homem e quando faço ele é justamente irmão de Enrico. Tudo aquilo estava me enlouquecendo. Entrei no banheiro deixando as roupas espalhadas pelo chão, caminhei até a banheira vazia e abri a água fria, a sensação de gelo por todo meu corpo me fazia distrair a mente. De uma coisa eu tinha certeza, me mudaria daquela casa no dia seguinte. Despertar naquela manhã não foi fácil, cada fragmento da noite passada estava na minha mente passando como um filme. Precisava desabafar, contar para alguém o que aconteceu, mas o medo dos julgamentos me paralisava. Uma das funcionárias da casa foi até meu quarto, Laura havia pedido a ela que me levasse café da manhã e avisasse que ela não passaria o dia em casa, fiquei aliviada, por mais que apreciasse sua companhia , hoje não era um bom dia para i
Finalmente, saí daquele hospital. O dia de retornar para casa poderia ter sido ótimo, se Enrico não tivesse armado um teatro com a imprensa — a cara dele fazer isso, o marido perfeito e exemplar que busca a esposa no hospital após ela ter sofrido um acidente doméstico ao tropeçar em um tapete. Ele me levou na cadeira de rodas até o carro, enquanto um fotógrafo registrava tudo. O que ele não era capaz de fazer por causa da imagem?Enrico não dirigiu sequer um olhar em minha direção, passou a maior parte do tempo no carro mexendo no celular. Não fiz nenhuma questão de que ele se dirigisse a mim, mas o mínimo que ele poderia fazer era perguntar se estava tudo bem.— Amanhã vamos a um jantar com uns investidores; use sua tarde e arrume uma roupa à altura, são pessoas importantes — disse ele, sem tirar o olho da tela do celular.— Sou mesmo obrigada a ir? — questionei.— Sim.— Eu acabei de sair do hospital, preciso descansar… eu não quero sair de casa.— Você vai e ponto — a minha voz cada
Vejo Enrico se afastando, saindo do saguão. Meus olhos o seguem, discretamente, enquanto ele se esgueira para fora no meio da festa. Não posso deixar de notar a elegância silenciosa de seus movimentos, uma presença que agora se ausenta. Poucos instantes depois, Ursula segue pelo mesmo caminho. Meu coração palpita com uma mistura de surpresa e desconfiança. Será que eles perderam mesmo o medo de serem vistos juntos? A festa ao meu redor continua, mas minha atenção está presa naquele enigma, naquela porta por onde os dois desapareceram.De trás da pilastra, observo Enrico e Ursula. Como ele pode ser tão cara de pau? Nega o divórcio, mas aqui está, beijando-a apaixonadamente, como se ela fosse a única mulher do mundo. Meu coração aperta, e a raiva se mistura com a tristeza. Ele nunca me amou, nunca nos amou de verdade. Por que me prender nesse casamento fracassado? A cena diante de mim é como um soco no estômago. Enrico a toca com adoração, e seu sorriso é sincero quando está com ela. É