A luz do sol que entra pela janela ofusca minha visão, não sei que horas são, não está cedo. Continuo deitada sem coragem de sair da cama. Hoje fazem quinze dias que passei a noite com aquele estranho, não houve um só dia que eu não me lembra-se dele. Estou confusa, atordoada, mas em momento nenhum senti culpa ou remorso pelo que fiz. Uma batida na porta do quarto me tira de meus pensamentos.
— Dona Nina, seu marido acabou de chegar — Diz Carmem ao lado de fora . Saio da cama desanimada, havia me esquecido que Enrico retornava hoje, já que ele não ligou se quer uma vez para dar notícias. Sinto meu estômago se revirar, uma sensação de incapacidade me toma. Agora que ele voltou acabou o pouco de liberdade que experimentei esses dias. Sou a última a chegar na sala, Laura está no sofá ao lado de Enrico eles conversam sobre a viagem, a pele dele está com uma cor dourada, é visível que ele pegou muito sol durante seu tempo fora.— Nina… Amor senti saudades — Enrico se levanta e caminha até mim. Ele me envolve em seus braços em um abraço frouxo, um cheiro de perfume de mulher está impregnado em seu corpo. Sinto náuseas não sei se por causa do cheiro ou de seu abraço.— Como foi de viagem? — Pergunto me afastando.— Cansativo, muitas reuniões, mal saí do escritório — Mente. Com a pele bronzeada daquela forma ele ainda tem a audácia de mentir. Laura me dá um olhar compreensivo, ela sabe tão bem quanto eu que ele está mentindo.— Vou tomar um banho e descansar — Ele passa por mim e beija minha testa, sinto uma enorme vontade de limpar o local só não faço por Laura está ao meu lado. Ainda não disse a ela que vou me separar de Enrico, quero ter essa conversa com calma, agora que ela está melhor não tenho mais que adiar esse momento.Ter Enrico em casa estava me deixando perturbada, a presença dele me fazia mal, só queria sair daquela casa e nunca mais voltar. Passei o dia evitando qualquer contato com ele. Fui para o quarto já passava das onze da noite, minha esperança era que ele já estaria dormindo, assim que abri a porta o vi sentado na cama com as pernas esticadas lendo um livro, o ignorei e passei em direção ao closet.— Esteja pronta amanhã às dez, vou te levar a um lugar — Diz sem tirar os olhos do livro. Me virei para ele com raiva.— Que lugar, Enrico? — Perguntei. Ele continuou lendo, ignorando completamente a minha presença. — Espero que seja para tratar do nosso divórcio.Seus olhos finalmente voltaram para mim.— Você está ficando louca se acha que vamos nos divorciar, sua saúde mental não anda muito bem, você deveria se cuidar Nina — Uma onda de ódio me percorre o corpo, aperto minhas mãos com tanta força que sinto as unhas perfurar as palmas. Por mais que quisesse responder a ele, não o fiz, começar uma discussão agora não resolverá absolutamente nada. Preciso de um bom advogado que me ajude. Passei a noite em claro, a ansiedade de saber onde Enrico queria me levar me deixou agoniada a ponto de não conseguir dormir nem por cinco minutos. Cansei de ficar deitada esperando o dia clarear, sai da cama olhei o relógio eram quatro e meia da manhã, ainda estava escuro lá fora. Fui até a cozinha e coloquei uma cápsula de chá preto na máquina de espresso.Sentei a mesa com a xícara na mão, senti vontade de ligar para minha mãe, pedir conselhos, desabafar, mas se ligasse aquela hora da noite só iria assustá-la e preocupar ela. Fiquei ali perdida em meus pensamentos, não notei a hora passar, o dia clarear.— Dona Nina, a senhora já acordou? — A voz de Carmem me trouxe a realidade. Ela já estava arrumada para começar mais um dia de trabalho.— Bom dia Carmem! Não passei bem a noite, então vim até aqui tomar um chá.— Vou preparar um café fresco para senhora, nada dessa máquina estranha — Ela pegou a caneca e levou em direção a pia. Carmem veio trabalhar conosco logo que me casei com Enrico, não é muito mais velha do que eu, ela foi contratada para ser minha funcionária nessa casa, mas com tempo acabou se tornando só mais uma funcionária como as outras.— A senhora está com aspecto cansado, deveria tomar um banho para começar bem o dia — Falou enquanto preparava o café. Eu sabia disso, só estava buscando coragem dentro de mim para sair dali.Quando Enrico acordou eu já estava pronta, ele dispensou o motorista e foi dirigindo, não entendi muito bem o motivo, mas por via das dúvidas antes de sair mandei uma mensagem para Marina e falei que iria sair com Enrico e não sabia onde estava indo, caso algo acontecesse comigo. Entramos na garagem de um prédio comercial.— O que estamos fazendo aqui? — Perguntei. Ele não respondeu. Saiu caminhando na minha frente. Pegamos o elevador até o décimo andar, assim que saímos ele segurou minha mão, puxei meu braço, seu aperto se manteve firme. Entramos em um consultório li o nome na porta Dr. Otto Marine especialista em reprodução humana. Meus olhos se arregalam, olhei para Enrico sem acreditar. Ele estava louco.A secretária avisou que poderíamos entrar, Enrico me puxou do lugar, me deu um olhar que fez meu corpo se encolher. O médico era um senhor por volta de uns cinquenta e poucos anos, seu rosto era agradável. Ele nos comprimentou com um breve aperto de mãos.— No que posso ajudá-los? — Perguntou educado. Enrico levou a mão até o nó da gravata antes de responder.— Minha esposa está com dificuldades para engravidar, a gente vem tentando a um tempo até agora não conseguimos, queremos muito ser pais — Sua voz estava melancólica, como se estivesse sofrendo de verdade com aquilo. Eu estava tão assustada que meu coração batia como se fosse pular para fora. Senti lágrimas vindo aos meus olhos, tentei contê-las mas não consegui, senti uma escorrer por minha bochecha enquanto olhava para ele.— Vocês vieram ao lugar certo, vou ajudá-los.A consulta durou cerca de uma hora, só Enrico falou, simplesmente não consegui abrir minha boca pra dizer nada. Assim que entramos no carro explodí de tanta raiva.— A gente vai se separar Enrico, porque me trouxe nesse lugar? — Gritei. Sem me importar de estarmos em local público. — Não teremos filho nenhum.— A gente não vai se separar Nina, e você vai sim me dar um filho — A calma dele só estava me deixando com mais raiva.— Peça um filho a sua amante… — Não tive tempo de terminar a frase, sua mão foi ao meu pescoço e ele apertou.— Minha mulher é você, a esposa troféu perfeita, então cala sua boca e me obedeça, entendeu, Nina? — Sua mão saiu do meu pescoço, puxei o ar com força para dentro, sentindo minha garganta queimar. — Você já deveria ter engravidado a muito tempo, mas parece que você é seca, nem para isso prestou, eu preciso ser pai, seremos a família perfeita — Seus olhos estavam vidrados, ele me olhava com ódio.— Por quê acha que o problema sou eu, pode ser você o seco — Ele gargalhou.— O problema é seu meu amor, quando eu era mais novo engravidei uma ex namorada, meu pai cuidou de tudo na época. O médico me passou alguns exames, vou adiar o máximo que eu puder para realizá-los.— Você tem certeza disso Nina? — Laura me perguntou pela décima vez. Depois da última de Enrico, precisei ser sincera com ela e contar que quero me separar. A tristeza ficou visível no olhar dela. Eu amava Laura como se fosse uma mãe, mas nem isso me faria ficar com Enrico. — Tenho Laura, eu não consigo mais… Enrico tem uma amante, ele vive com ela, trata ela como uma esposa, eu só apenas a esposa para ele sair nas revistas, para se apresentar aos amigos. O amor entre a gente acabou — Ela envolve minha mão com a sua. — Eu te amo como uma filha, e isso não vai mudar. Independente de qualquer coisa. Me senti aliviada por conseguir me abrir com Laura, eu queria falar mais, contar as vezes que Enrico me bateu, me humilhou, dizer a ela o ser humano horrível que o filho se tornou, mas poupei ela disso, aquela doce senhora sempre me tratou bem, não precisava dar esse desgosto a ela. Estava com Laura na área externa quando Carmem anunciou que tinha visitas na sala. Para meu desgosto as vis
A semana foi uma loucura, ajudei Laura em todos os preparativos para o baile, ela queria algo luxuoso e de extremo bom gosto, estava radiante com o retorno do filho. Ela pensou em todos os detalhes para a festa, desde as comidas até a decoração, tudo pensado com muito amor para o filho. Fiquei um pouco preocupada no início pois Laura estava muito agitada, não parava quieta um minuto sequer, meu medo era ela passar mal. Mas, ela estava tão feliz, fazia tempo que eu não via ela assim. Enrico estava de extremo mau humor, nunca gostei de fazer perguntas sobre o que aconteceu entre ele e o irmão, mas era claro que a relação deles não era boa ou simplesmente não existia, Enrico nunca tocou no nome de Matteo, nem no nosso casamento ele esteve presente. Laura experimentava um vestido longo azul marinho, o caimento dele era perfeito. A vendedora levou os melhores vestidos da marca até nossa casa, o que ficava mais prático. — Laura, por que Enrico não parece feliz com o retorno do irmão? — In
Perla não parou de me ligar, o tempo todo querendo conversar sobre minha separação foi obrigada a ser grossa com ela, para que ela me deixasse em paz. Para conseguir o meu sossego enviei para ela uma generosa quantia em dinheiro, deixando bem claro que seria a última vez, que aquele dinheiro era para pagar as dívidas e se acertar até conseguir um emprego. O dia começou agitado, hoje era o grande dia de Laura, Matteo estaria de volta. Seu voo chegaria uma hora antes da festa, ele passaria em um hotel para se arrumar e iria direto para o clube onde seria o baile. Laura estava radiante, seu sorriso era contagiante, assim como sua felicidade. Enrico entrou no meu quarto sem permissão sequer bateu na porta, estava no closet terminando de me vestir. — Você vai chegar comigo, tenho um anúncio importante a fazer, você vai estar ao meu lado — Informou. — Vai anunciar nosso divórcio? — Questione. Ele me olhou de soslaio com um sorriso falso no rosto. — Não querida, você é minha esposa e vai c
Fui embora antes do fim da festa, aquele lugar estava me sufocando, precisava me afastar de Matteo e pôr a cabeça no lugar. Como isso pôde acontecer comigo? Todos esses anos de casamento nunca saí com outro homem e quando faço ele é justamente irmão de Enrico. Tudo aquilo estava me enlouquecendo. Entrei no banheiro deixando as roupas espalhadas pelo chão, caminhei até a banheira vazia e abri a água fria, a sensação de gelo por todo meu corpo me fazia distrair a mente. De uma coisa eu tinha certeza, me mudaria daquela casa no dia seguinte. Despertar naquela manhã não foi fácil, cada fragmento da noite passada estava na minha mente passando como um filme. Precisava desabafar, contar para alguém o que aconteceu, mas o medo dos julgamentos me paralisava. Uma das funcionárias da casa foi até meu quarto, Laura havia pedido a ela que me levasse café da manhã e avisasse que ela não passaria o dia em casa, fiquei aliviada, por mais que apreciasse sua companhia , hoje não era um bom dia para i
Finalmente, saí daquele hospital. O dia de retornar para casa poderia ter sido ótimo, se Enrico não tivesse armado um teatro com a imprensa — a cara dele fazer isso, o marido perfeito e exemplar que busca a esposa no hospital após ela ter sofrido um acidente doméstico ao tropeçar em um tapete. Ele me levou na cadeira de rodas até o carro, enquanto um fotógrafo registrava tudo. O que ele não era capaz de fazer por causa da imagem?Enrico não dirigiu sequer um olhar em minha direção, passou a maior parte do tempo no carro mexendo no celular. Não fiz nenhuma questão de que ele se dirigisse a mim, mas o mínimo que ele poderia fazer era perguntar se estava tudo bem.— Amanhã vamos a um jantar com uns investidores; use sua tarde e arrume uma roupa à altura, são pessoas importantes — disse ele, sem tirar o olho da tela do celular.— Sou mesmo obrigada a ir? — questionei.— Sim.— Eu acabei de sair do hospital, preciso descansar… eu não quero sair de casa.— Você vai e ponto — a minha voz cada
Vejo Enrico se afastando, saindo do saguão. Meus olhos o seguem, discretamente, enquanto ele se esgueira para fora no meio da festa. Não posso deixar de notar a elegância silenciosa de seus movimentos, uma presença que agora se ausenta. Poucos instantes depois, Ursula segue pelo mesmo caminho. Meu coração palpita com uma mistura de surpresa e desconfiança. Será que eles perderam mesmo o medo de serem vistos juntos? A festa ao meu redor continua, mas minha atenção está presa naquele enigma, naquela porta por onde os dois desapareceram.De trás da pilastra, observo Enrico e Ursula. Como ele pode ser tão cara de pau? Nega o divórcio, mas aqui está, beijando-a apaixonadamente, como se ela fosse a única mulher do mundo. Meu coração aperta, e a raiva se mistura com a tristeza. Ele nunca me amou, nunca nos amou de verdade. Por que me prender nesse casamento fracassado? A cena diante de mim é como um soco no estômago. Enrico a toca com adoração, e seu sorriso é sincero quando está com ela. É
— Qual o risco de sermos pego aqui? — Perguntei olhando para a porta do elevador. Matteo sorriu. — Nenhum! Esse elevador é privativo da minha suíte — tornei a beijá-lo. A sensação de estar em um lugar diferente estava me deixando cada vez mais excitada. Desci a mão até a calça de Matteo e abri seu cinto, desabotoei sua calça com rispidez e alcancei o interior de sua Boxer segurando em seu membro ereto e quente eu o queria ali mesmo. Ele levantou a cabeça e soltou um gemido excitado, me apertou contra si, tirei minha mão de seu membro e enrosquei-a em seu cabelo. Ele escorregou sua mão pelo meu vestido e alcançou a bainha e levantando meu vestido até a cintura. Colocou a mão por dentro de minha calcinha alcançando minha intimidade que já estava molhada, ele entendeu que eu estava pronta. Ele tirou minha calcinha preta de renda e a jogou, eu o encarava com desejo e sensualidade. Neste momento, Matteo segurou gentilmente o meu rosto e me encarou com o olhar revelando um ardente desejo.
Meus passos ecoam pelo corredor do hotel, cada um pesado com a ressaca emocional da noite passada. A luz do dia parece demasiado brilhante, e eu me encolho dentro do meu casaco, desejando invisibilidade. Mas a invisibilidade é uma benção que me é negada hoje, pois ali está Ursula, um borrão de estampa de onça e arrogância.— Olha, Nina querida, dormiu aqui?— ela pergunta, sua voz gotejando com falsidade.Forço um sorriso, um movimento dos lábios que não chega aos olhos.— Sim. — Minha resposta é curta, uma tentativa de encerrar a conversa antes que comece.Ela ri, um som que me faz franzir a testa em desgosto.— Com seu marido? — Ela debocha, e posso sentir o julgamento em cada sílaba.Escolho a dignidade sobre a discórdia, ignorando-a e continuando meu caminho. Não vou permitir que ela, ou qualquer outra pessoa, manche a doçura secreta daquelas horas roubadas com Matteo. Com cada passo que me afasto, sinto uma determinação crescente. Ursula não vai estragar meu dia. Hoje, eu escolho