— Senhor Romano, como estão as coisas? — pergunto, tentando manter a voz estável enquanto cumprimento o advogado da família.Ele me olha com um peso nos olhos que já antecipa más notícias.— Matteo, temo que a situação seja grave — diz ele, passando-me uma pasta repleta de documentos. — A empresa está à beira da falência.Sinto um aperto no peito ao ouvir suas palavras. Pego os papéis com mãos trêmulas e começo a analisar os números, as transações, os erros... cada página é um golpe, uma prova do quão mal Enrico administrou o legado de nosso pai.— Não é possível... — murmuro, sentindo a frustração crescer dentro de mim. — Como ele pôde deixar chegar a esse ponto?Senhor Romano suspira, um som carregado de anos de lealdade e preocupação.— Ele nunca foi como seu pai, Matteo. Você sabe disso — ele diz, e eu sei que é verdade. Meu irmão nunca teve o tato para os negócios, mas eu nunca imaginei que fosse tão desastroso.— O que vamos fazer? — pergunto, a voz embargada pela frustração e p
Matteo se tornou mais do que um amigo; ele é meu porto seguro em meio à tempestade que se tornou minha vida. Apenas dois funcionários do hotel sabem da minha presença aqui, e confio neles tanto quanto confio em Matteo. Eles me olham com um misto de compaixão e respeito, e isso me dá forças.— Nina, se precisar de qualquer coisa, estamos aqui — diz um deles, e eu aceno em agradecimento, sentindo uma pontada de gratidão.Enrico, por outro lado, não para de me ligar, de mandar mensagens. Cada vibração do telefone é um lembrete do passado que estou tentando deixar para trás. Mas eu apenas ignoro, deslizando cada notificação para longe. Não devo mais satisfações a ele, não depois de tudo.— Você não pode me controlar mais — sussurro para mim mesma, encarando o reflexo no espelho. A mulher que olha de volta para mim é alguém que eu estou apenas começando a reconhecer, alguém que está aprendendo a se levantar novamente.Com Matteo ao meu lado, mesmo que apenas em espírito, sinto que posso en
O som suave da batida na porta interrompe meus pensamentos. Olho pela câmera de segurança e lá está Matteo, com uma garrafa de vinho numa mão e duas taças na outra. Um sorriso involuntário brota em meus lábios ao ver a imagem; ele sempre tem o dom de iluminar meus dias mais sombrios.Abro a porta e ele entra, seu sorriso é como um raio de sol em meio à tempestade que tem sido minha vida.— Trouxe um pouco de vinho para celebrarmos sua nova jornada — diz ele, elevando a garrafa como um troféu.— Você sempre sabe como me animar, Matteo — respondo, sentindo uma onda de calor me envolver, não apenas pelo vinho, mas pela companhia.Uma das coisas que mais me encanta nele é exatamente esse sorriso. Não é apenas um gesto facial; é carregado de afeto, de compreensão, de uma promessa silenciosa de que tudo vai ficar bem. E, de alguma forma, toda vez que o vejo sorrir, sinto-me um pouco mais em casa, um pouco mais eu mesma.A noite desenrola-se suavemente, cada taça de vinho é um convite para d
Quando estou com Nina, o mundo ao redor desvanece, torna-se um borrão distante, irrelevante. Não há problemas, não há empresa, não há família; há apenas ela. A paixão que sinto por Nina é avassaladora, um fogo que me consome de dentro para fora, queimando qualquer resquício de dúvida ou hesitação. Quando estou com ela, nada mais importa, essa é a verdade crua e poderosa.Nossos olhos reflete a intensidade do que compartilhamos, e eu sei que ela sente o mesmo.Tenho consciência dos problemas que nosso relacionamento pode trazer. As complicações são como sombras que se esgueiram nas bordas da nossa bolha de felicidade, mas escolho ignorá-las. Porque, no momento, o que temos é precioso demais para ser ofuscado por "e se".— Vamos resolver isso no futuro, se formos ter um — penso. Com Nina, eu me permito ser vulnerável, permito-me sonhar com um futuro que, até então, não ousava imaginar. E, por agora, isso é tudo que importa. O futuro é uma ponte que cruzaremos juntos, quando chegar a h
A suite já se tornou uma gaiola dourada, e eu não posso mais suportar suas paredes fechadas. Matteo, sempre pensando em tudo, deixou um carro à minha disposição. Visto uma roupa leve, envolvo minha cabeça com um lenço e coloco óculos escuros, uma tentativa de me esconder dos olhares curiosos e da vida que deixei para trás.Ao sair, sinto o sol bater no meu rosto, uma carícia quente que me lembra da liberdade que estou começando a redescobrir. Dirijo pelas ruas, cada curva me afastando da suite e me aproximando do passado que preciso enfrentar.— Preciso ver meus pais, dizer a eles que está tudo bem — murmuro para mim mesma, tentando reunir coragem.O caminho até a casa dos meus pais é um misto de ansiedade e determinação. Não sei como eles vão reagir, não sei o que vão pensar, mas eles precisam saber que estou bem, que estou segura, que estou... livre.Quando finalmente chego, meu coração está acelerado, mas estou pronta. Pronta para enfrentar o que vier, pronta para abraçá-los. Paro
Perguntei à minha mãe se ela avisou alguém que eu estava ali. Estávamos na pequena sala de estar já faz três dias que estou escondida aqui, estava tudo fluindo bem demais pra ser verdade. A tensão era palpável enquanto esperava pela resposta dela.— Sim, falei com a Perla — ela respondeu, com uma expressão preocupada.Meu coração afundou. Como assim a Perla sabia que eu estava aqui? Minha irmã mais velha não estava do meu lado, com certeza ela avisou Enrico que estou aqui, Perla sempre teve o dom de encontrar qualquer informação, não importava o quão bem eu tentasse me esconder dela.— Mãe, você não podia ter feito isso! — minha voz saiu mais alta do que eu pretendia, misturando-se com um misto de desespero e raiva. — Perla vai me entregar de volta para Enrico, aliás já entregou mãe. Minha mãe colocou a mão no meu ombro, tentando me acalmar.— Nina, eu só queria garantir que alguém soubesse onde você estava. Estamos todos preocupados com você.Balancei a cabeça, as lágrimas começand
Quando Matteo me disse que iria me levar para um lugar especial, imaginei que seria uma mansão imponente, com grandes janelas e móveis luxuosos. Mas o que encontrei foi algo totalmente diferente, algo que eu não sabia que precisava até estar lá: uma cabana à beira-mar. A cabana era simples, mas tinha uma beleza rústica que me encantou instantaneamente. Sua estrutura de madeira envelhecida parecia abraçar o entorno natural, e as ondas quebrando suavemente na praia próxima eram a trilha sonora perfeita. Havia algo de mágico na maneira como a luz do sol se filtrava através das janelas de vidro emolduradas por cortinas de linho, criando padrões dançantes no chão de madeira.Sentir o cheiro do mar misturado com o aroma da madeira, sentir o vento fresco que entrava pelas janelas abertas, me fez perceber o quanto esse lugar era especial. Foi como se, ao cruzar a porta da cabana, eu tivesse sido transportada para um refúgio onde o tempo desacelerava e as preocupações se dissipavam como as n
O salão estava cheio era sempre assim, todo ano a mesma palhaçada, gente falsa e hipócrita. Todos se dizem finos, elegantes, a favor da moral e dos bons costumes, mas só quem convive de perto com eles, sabe a podridão que é esse mundo. Estamos todos reunidos hoje para comemorar o aniversário do meu marido, Enrico Bragon. Caminho pelo salão com uma taça de champagne nas mãos, as pessoas sorriem para mim com seus sorrisos falsos aos quais retribuo com a mesma falsidade. Meus olhos passam por todos os rostos, à procura do meu marido, mas ele não está em nenhum lugar.Isso é a cara dele, sumir do nada. Nos primeiros meses de casamento não acontecia, eu sempre sabia onde ele estava, mas de uns tempos para cá, as coisas mudaram. Entramos em crise, mas na frente de todos temos de manter as aparências, pois ele como grande empresário bem sucedido não pode ter seu nome envolvido em escândalos. Cumprimento algumas pessoas que nunca vi na vida, mas todas elas sabem quem eu sou e sorriem para mi