Perguntei à minha mãe se ela avisou alguém que eu estava ali. Estávamos na pequena sala de estar já faz três dias que estou escondida aqui, estava tudo fluindo bem demais pra ser verdade. A tensão era palpável enquanto esperava pela resposta dela.— Sim, falei com a Perla — ela respondeu, com uma expressão preocupada.Meu coração afundou. Como assim a Perla sabia que eu estava aqui? Minha irmã mais velha não estava do meu lado, com certeza ela avisou Enrico que estou aqui, Perla sempre teve o dom de encontrar qualquer informação, não importava o quão bem eu tentasse me esconder dela.— Mãe, você não podia ter feito isso! — minha voz saiu mais alta do que eu pretendia, misturando-se com um misto de desespero e raiva. — Perla vai me entregar de volta para Enrico, aliás já entregou mãe. Minha mãe colocou a mão no meu ombro, tentando me acalmar.— Nina, eu só queria garantir que alguém soubesse onde você estava. Estamos todos preocupados com você.Balancei a cabeça, as lágrimas começand
Quando Matteo me disse que iria me levar para um lugar especial, imaginei que seria uma mansão imponente, com grandes janelas e móveis luxuosos. Mas o que encontrei foi algo totalmente diferente, algo que eu não sabia que precisava até estar lá: uma cabana à beira-mar. A cabana era simples, mas tinha uma beleza rústica que me encantou instantaneamente. Sua estrutura de madeira envelhecida parecia abraçar o entorno natural, e as ondas quebrando suavemente na praia próxima eram a trilha sonora perfeita. Havia algo de mágico na maneira como a luz do sol se filtrava através das janelas de vidro emolduradas por cortinas de linho, criando padrões dançantes no chão de madeira.Sentir o cheiro do mar misturado com o aroma da madeira, sentir o vento fresco que entrava pelas janelas abertas, me fez perceber o quanto esse lugar era especial. Foi como se, ao cruzar a porta da cabana, eu tivesse sido transportada para um refúgio onde o tempo desacelerava e as preocupações se dissipavam como as n
O salão estava cheio era sempre assim, todo ano a mesma palhaçada, gente falsa e hipócrita. Todos se dizem finos, elegantes, a favor da moral e dos bons costumes, mas só quem convive de perto com eles, sabe a podridão que é esse mundo. Estamos todos reunidos hoje para comemorar o aniversário do meu marido, Enrico Bragon. Caminho pelo salão com uma taça de champagne nas mãos, as pessoas sorriem para mim com seus sorrisos falsos aos quais retribuo com a mesma falsidade. Meus olhos passam por todos os rostos, à procura do meu marido, mas ele não está em nenhum lugar.Isso é a cara dele, sumir do nada. Nos primeiros meses de casamento não acontecia, eu sempre sabia onde ele estava, mas de uns tempos para cá, as coisas mudaram. Entramos em crise, mas na frente de todos temos de manter as aparências, pois ele como grande empresário bem sucedido não pode ter seu nome envolvido em escândalos. Cumprimento algumas pessoas que nunca vi na vida, mas todas elas sabem quem eu sou e sorriem para mi
Uma semana depois… Hoje finalmente Laura vai retornar para casa, acordei bem cedo para buscá-la no hospital. A ansiedade está me matando, quero tê-la logo em casa. Todos esses dias sem ela aqui tem sido angustiantes, me esforcei ao máximo para acompanhá-la a todo momento e não deixá-la sequer um minuto sozinha. Essa foi a única noite que não passei no hospital com ela, acabei permitindo que uma enfermeira fosse contratada para acompanhá-la, estava cansada demais. Laura faz um esforço enorme para parecer estar bem, mas sei que ela não está. Ela passou a semana na expectativa da chegada do filho, o que não aconteceu. Quando contei a ela que o filho viria, seu rosto se iluminou em alegria, mas com o passar dos dias a alegria foi substituída por uma enorme frustração. Liguei diversas vezes para Matteo no número que ela me deu e nem as ligações ele atendeu mais. Me senti muito mal com a situação, pois ele me falou que viria e eu passei o recado para Laura, causando nela a esperança de v
Capítulo 3O despertador tocou antes das cinco da manhã, continuei quieta e imóvel na cama, percebi Enrico se levantando e indo em direção ao banheiro. Fingi estar dormindo. Enquanto ele se arrumava no closet seu celular tocou, ele veio até a cama conferir se eu estava mesmo dormindo, quando se deu por convencido atendeu o celular. — Bom dia, meu amor! Já estou pronto, nos vemos no aeroporto — Pude ouvir ele sussurrando. — Não vejo a hora de estarmos juntos!Há algum tempo atrás essas palavras me quebraram, me deixaram para baixo por vários dias, mas agora não sinto absolutamente nada, não sinto tristeza, decepção, simplesmente nada, e como se fosse um estranho falando ao telefone com sua amada esposa ou namorada, não meu marido conversando com a amante. Em algum momento durante todos esses anos de casamento nosso amor acabou, ou eu me cansei de viver com migalhas, nesse momento tenho mais certeza do que nunca de que quero o divórcio. Não consegui mais dormir depois que Enrico saiu,
O álcool no meu organismo estava fraco, não estava bêbada, apenas um pouco alta completamente ciente de todas as minhas ações. Estava em plena consciência de estar em um bar flertando com um desconhecido. Uma mecha do meu cabelo caiu sobre meu rosto enquanto sorria de uma piada que o asiático fez, alguma coisa sem graça, mas que me fez sorrir. Ele levou a mão até meu cabelo e prendeu a mecha solta atrás da minha orelha, meus olhos se prenderam aos seus naquele momento, meu corpo se arrepiou por inteiro. Enrico e eu não tínhamos relações a um tempo, não há tesão meu por ele, e sei que ele também não me deseja, só me procura para falar que quer um filho, esse é seu único interesse. — Dança comigo? — Perguntou o estranho de forma educada. Até parece que ele leu meus pensamentos. Acenei que sim com a cabeça, seus dedos se enlaçaram aos meus e ele nos guiou para a pista de dança. Sempre gostei de dançar, desde que era criança. Na adolescência ensaiava passos com meu pai, adorava assistir
A luz do sol que entra pela janela ofusca minha visão, não sei que horas são, não está cedo. Continuo deitada sem coragem de sair da cama. Hoje fazem quinze dias que passei a noite com aquele estranho, não houve um só dia que eu não me lembra-se dele. Estou confusa, atordoada, mas em momento nenhum senti culpa ou remorso pelo que fiz. Uma batida na porta do quarto me tira de meus pensamentos. — Dona Nina, seu marido acabou de chegar — Diz Carmem ao lado de fora . Saio da cama desanimada, havia me esquecido que Enrico retornava hoje, já que ele não ligou se quer uma vez para dar notícias. Sinto meu estômago se revirar, uma sensação de incapacidade me toma. Agora que ele voltou acabou o pouco de liberdade que experimentei esses dias. Sou a última a chegar na sala, Laura está no sofá ao lado de Enrico eles conversam sobre a viagem, a pele dele está com uma cor dourada, é visível que ele pegou muito sol durante seu tempo fora. — Nina… Amor senti saudades — Enrico se levanta e caminha
— Você tem certeza disso Nina? — Laura me perguntou pela décima vez. Depois da última de Enrico, precisei ser sincera com ela e contar que quero me separar. A tristeza ficou visível no olhar dela. Eu amava Laura como se fosse uma mãe, mas nem isso me faria ficar com Enrico. — Tenho Laura, eu não consigo mais… Enrico tem uma amante, ele vive com ela, trata ela como uma esposa, eu só apenas a esposa para ele sair nas revistas, para se apresentar aos amigos. O amor entre a gente acabou — Ela envolve minha mão com a sua. — Eu te amo como uma filha, e isso não vai mudar. Independente de qualquer coisa. Me senti aliviada por conseguir me abrir com Laura, eu queria falar mais, contar as vezes que Enrico me bateu, me humilhou, dizer a ela o ser humano horrível que o filho se tornou, mas poupei ela disso, aquela doce senhora sempre me tratou bem, não precisava dar esse desgosto a ela. Estava com Laura na área externa quando Carmem anunciou que tinha visitas na sala. Para meu desgosto as vis