Capitulo 2

Uma semana depois…

Hoje finalmente Laura vai retornar para casa, acordei bem cedo para buscá-la no hospital. A ansiedade está me matando, quero tê-la logo em casa. Todos esses dias sem ela aqui tem sido angustiantes, me esforcei ao máximo para acompanhá-la a todo momento e não deixá-la sequer um minuto sozinha. Essa foi a única noite que não passei no hospital com ela, acabei permitindo que uma enfermeira fosse contratada para acompanhá-la, estava cansada demais.

Laura faz um esforço enorme para parecer estar bem, mas sei que ela não está. Ela passou a semana na expectativa da chegada do filho, o que não aconteceu. Quando contei a ela que o filho viria, seu rosto se iluminou em alegria, mas com o passar dos dias a alegria foi substituída por uma enorme frustração. Liguei diversas vezes para Matteo no número que ela me deu e nem as ligações ele atendeu mais. Me senti muito mal com a situação, pois ele me falou que viria e eu passei o recado para Laura, causando nela a esperança de ver o filho.

Terminei meu banho, vesti meu roupão e saí do banheiro. Enrico ainda estava no closet terminando de se vestir, passo por ele e o ignoro completamente. Durante todos esses dias o clima entre a gente só piorou, mal estamos nos falando, nosso casamento está falido e não há mais nada a ser feito.

— Quero o divórcio — Digo as palavras que passei a semana toda pensando em dizer. Preciso sair desse casamento enquanto ainda me resta alguma sanidade mental. Enrico afrouxou o nó de sua gravada e veio em minha direção lentamente, sem que eu esperasse sua mão agarrou-se em meu pescoço em um aperto firme cortando todo o ar do meu pulmão.

— Repete… Eu nunca vou te dar divórcio nenhum — Começou a dizer entre dentes, a expressão em seu rosto era de puro ódio. — Você se esqueceu que quando te conheci não passava de uma caipira? Sua família cheia de dívidas, eu paguei tudo, praticamente comprei você, então desse casamento você só sai o dia que eu morrer.

Me debati em seus braços tentando me livrar de seu aperto, mas foi impossível. Ele me empurrou para o chão com toda força, puxei o ar com força para dentro, passei a mão devagar por meu pescoço que estava ardendo. Não esperava essa reação dele. Enrico sempre foi grosseiro comigo, mas nunca agressivo.

— Levante-se desse chão e se recomponha — Vociferou me olhando de cima. Me levantei devagar sem olhar em sua direção, não queria ter que encarar seu rosto, muito menos queria dar a ele o prazer de me ver chorar. Caminhei em direção ao banheiro novamente, tranquei a porta atrás de mim e me permiti chorar com vontade, mas em total silêncio. Me sentei no chão ali atrás da porta, não sei por quanto tempo fiquei ali. Alguém bateu na porta, me assustei e levantei rapidamente.

— Já estou indo — Gritei.

— Senhora vai se atrasar — A voz de Carmen, nossa governanta, soou de trás da porta. Suspirei fundo e olhei meu reflexo no espelho, minha aparência está horrível, meus olhos estão vermelhos e inchados.

Vesti uma blusa de gola alta, que escondia a marca da mão de Enrico em meu pescoço, coloquei o maior óculos escuro que encontrei. Quem olhasse para mim, pensaria que estou em um dia comum, usando roupas de grife e um enorme óculos para esconder possíveis olheiras de uma noite mal dormida, talvez uma noite quente com meu marido, se eles soubessem a verdade.

Desci até a garagem onde Silas já me esperava com a porta do carro aberta. Passo ao lado da enorme F-250 que está parada ali a anos, o carro pertence a Matteo e Laura nunca permitiu que fosse retirada da garagem, muitas vezes vi ela ali parada, olhando aquele carro que lhe trazia lembranças do filho. Noto que a mesma está fora do lugar de costume, troco um olhar com Silas.

— Seu Enrico ordenou hoje pela manhã que o carro do seu Matteo fosse retirado da garagem — Suspiro fundo sem acreditar, como Enrico pôde ser tão baixo.

— Não retire o carro Silas, deixe para Laura decidir o que fazer — Não iria permitir Enrico dar esse desgosto à mãe que já não está bem. Enrico sempre reclamou daquele carro, dizia que não havia necessidade de o veículo estar ali parado, já que ninguém iria dirigir mesmo, que só ocupava espaço. Laura nunca entrou em detalhes do porquê Matteo foi embora dessa casa, mas eu sei que ele saiu daqui após uma briga com Enrico, o quarto dele segue trancado, às vezes Laura se fecha lá e passa horas, quando ela não passa a noite lá.

Chego ao quarto de Laura no hospital, ela já está vestida para ir embora, com uma roupa elegante, o cabelo preso em um coque no alto da cabeça e no rosto uma maquiagem leve.

— Minha querida… — Diz assim que me vê, o sorriso em seu rosto melhora todo o meu dia. — Estou ótima e pronta para retornar para minha casa, não vejo a hora de poder comer uma boa comida — Vou até ela e lhe dou um abraço apertado.

Diante de tudo que tem acontecido tenho sentido muita saudade da minha mãe, de poder desabafar com ela e ouvir seus conselhos, Laura é minha parceira, amiga, mas não quero contar a ela o que Enrico me fez, ele é filho dela, não vou lhe dar essa preocupação e desgosto com o filho.

— Vou assinar os papéis da alta e já venho te buscar — Digo e saio do quarto em seguida. Caminho pelo corredor do hospital que está vazio, o único barulho ali é o do meu salto no chão. Ando lentamente olhando para a tela do celular em minha mão enquanto respondo algumas mensagens. Sinto meus escorregarem em algo no chão, quando me dou conta já estou caindo, vejo meu celular voar da minha mão, mal tenho tempo de raciocinar, fecho meus olhos só esperando a queda do meu corpo. Sinto algo se agarrar a minha cintura me impedindo de ir ao encontro do chão. Abro meus olhos lentamente e encontro o par de olhos pretos mais lindos que já vi na vida, os olhos dele são levemente puxados, a pele branca como uma porcelana e os lábios rosados.

— Você está bem? — A voz grave me tira dos meus devaneios. Ele me ajuda a ficar de pé novamente. Ajeitei minha roupa e me recomponho. Se não fosse esse rapaz ter me segurado eu teria caído feio, escorreguei porque o piso está molhado, como estava concentrada no celular não vi a placa bem a minha frente.

— Sim… Sim… Obrigada! — Agradeço, sem graça, por ficar encarando-o. Ele se abaixa e pega meu celular e meus óculos no chão, estende o braço e me entrega. Noto seu olhar no meu rosto, ele olha diretamente para onde está o hematoma.

— Tenha mais cuidado na próxima — Diz com um pequeno sorriso nos lábios. Apenas concordo com a cabeça. Ele se afasta indo na direção contrária a minha. Sempre ouvi dizer que os homens asiáticos são lindos, mas nunca parei para reparar em nenhum, até agora esse homem se faz notar, ele tem uma presença tão imponente.

Demorei mais tempo que o esperado para assinar os papéis da alta de Laura, o médico pediu um minuto do meu tempo para passar alguns detalhes sobre o tratamento que ela faria daqui para frente. A saúde da minha sogra é minha prioridade no momento, minha maior preocupação. Pensando nisso decidi esquecer momentaneamente minha separação de Enrico, vou esperar até ter certeza de que Laura esteja preparada para receber a notícia, sei que não vai ser nada fácil para ela.

Laura saiu do hospital radiante, feliz em finalmente estar voltando para casa, o sorriso em seu rosto entregava isso a cada momento. Eu fiquei feliz em ter ela novamente em casa. Quando chegamos) em casa, a mesa do almoço estava posta, Enrico já havia chegado.

— Nossa! Como vocês demoraram, eu preciso retornar para a empresa — Reclamou assim que nos viu passando pela porta. Ele mal olhou na direção da mãe.

— Eu estou bem, meu filho, obrigada por perguntar — Respondeu Laura em tom de deboche. Ela conhecia bem o filho que tinha. Almoçamos em completo silêncio, um clima pesado se instalou à mesa.

— Vou viajar amanhã cedo para Dubai, volto em uma semana — Comunicou Enrico. Olhei em sua direção, sem entender por que dessa viagem repentina. — Antes que alguma de vocês reclame, estou indo a negócios — Se limitou a dizer.

Fingi acreditar. Eu sabia muito bem que a maioria das vezes que Enrico viajava ele levava sua amante, sempre com a desculpa de ser à negócios, quando não era nada disso. Há um tempo atrás isso me fazia sofrer, mas agora soa indiferente.

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