Meus passos ecoam pelo corredor do hotel, cada um pesado com a ressaca emocional da noite passada. A luz do dia parece demasiado brilhante, e eu me encolho dentro do meu casaco, desejando invisibilidade. Mas a invisibilidade é uma benção que me é negada hoje, pois ali está Ursula, um borrão de estampa de onça e arrogância.— Olha, Nina querida, dormiu aqui?— ela pergunta, sua voz gotejando com falsidade.Forço um sorriso, um movimento dos lábios que não chega aos olhos.— Sim. — Minha resposta é curta, uma tentativa de encerrar a conversa antes que comece.Ela ri, um som que me faz franzir a testa em desgosto.— Com seu marido? — Ela debocha, e posso sentir o julgamento em cada sílaba.Escolho a dignidade sobre a discórdia, ignorando-a e continuando meu caminho. Não vou permitir que ela, ou qualquer outra pessoa, manche a doçura secreta daquelas horas roubadas com Matteo. Com cada passo que me afasto, sinto uma determinação crescente. Ursula não vai estragar meu dia. Hoje, eu escolho
Matteo irrompe no quarto, sua presença é como uma tempestade repentina. Ele me examina de cima a baixo, seus olhos percorrendo cada detalhe, cada contusão que não está apenas na pele, mas também na alma.— Você está bem? — ele pergunta, sua voz carregada de preocupação. — Eu estava passando e ouvi o tapa que ele te deu.Apenas balanço a cabeça, incapaz de formular palavras, cada uma delas parece ter sido roubada pelo impacto da mão de Enrico.— Nina, isso não tá certo, saia dessa casa, você não é obrigada a ficar aqui, vai na polícia, — Matteo insiste, sua fala é firme, um farol na escuridão que me envolve.— Já tentei, Matteo, nada deu certo. Ele não me dá o divórcio, ainda insiste que quer um filho, eu não sei o que fazer, — confesso, minha voz um sussurro trêmulo.Matteo se aproxima, sua mão encontra a minha, um gesto de apoio que me faz sentir menos fragmentada. Ele não tem todas as respostas, mas sua presença é um lembrete de que ainda há bondade no mundo, e talvez, apenas talvez
Respiro fundo, reunindo coragem antes de entrar no quarto de Laura. Ela está lá, uma figura serena contra a luz suave da tarde, perdida em memórias que dançam nas páginas de álbuns antigos.— Laura — chamo, minha voz mais firme do que me sinto.Ela se vira, um sorriso caloroso iluminando seu rosto, um contraste gritante com a tempestade dentro de mim.— Venha querida, estou vendo os álbuns de família — ela diz, acenando para que eu me aproxime.Meus passos são hesitantes, mas me forço a caminhar até ela. Laura está olhando uma foto de Enrico com o pai, um momento capturado que parece tanto uma vida atrás quanto um segundo.— Eles eram próximos, sabe — ela murmura, seus dedos acariciando a fotografia com uma delicadeza que me faz querer chorar. — O pai foi muito rígido com ele, mas o amava.As palavras dela são um eco do que sei ser verdade, mas também um lembrete da complexidade das relações humanas. O amor pode ser uma faca de dois gumes, e eu sei disso melhor do que ninguém.— Laura
— Senhor Romano, como estão as coisas? — pergunto, tentando manter a voz estável enquanto cumprimento o advogado da família.Ele me olha com um peso nos olhos que já antecipa más notícias.— Matteo, temo que a situação seja grave — diz ele, passando-me uma pasta repleta de documentos. — A empresa está à beira da falência.Sinto um aperto no peito ao ouvir suas palavras. Pego os papéis com mãos trêmulas e começo a analisar os números, as transações, os erros... cada página é um golpe, uma prova do quão mal Enrico administrou o legado de nosso pai.— Não é possível... — murmuro, sentindo a frustração crescer dentro de mim. — Como ele pôde deixar chegar a esse ponto?Senhor Romano suspira, um som carregado de anos de lealdade e preocupação.— Ele nunca foi como seu pai, Matteo. Você sabe disso — ele diz, e eu sei que é verdade. Meu irmão nunca teve o tato para os negócios, mas eu nunca imaginei que fosse tão desastroso.— O que vamos fazer? — pergunto, a voz embargada pela frustração e p
Matteo se tornou mais do que um amigo; ele é meu porto seguro em meio à tempestade que se tornou minha vida. Apenas dois funcionários do hotel sabem da minha presença aqui, e confio neles tanto quanto confio em Matteo. Eles me olham com um misto de compaixão e respeito, e isso me dá forças.— Nina, se precisar de qualquer coisa, estamos aqui — diz um deles, e eu aceno em agradecimento, sentindo uma pontada de gratidão.Enrico, por outro lado, não para de me ligar, de mandar mensagens. Cada vibração do telefone é um lembrete do passado que estou tentando deixar para trás. Mas eu apenas ignoro, deslizando cada notificação para longe. Não devo mais satisfações a ele, não depois de tudo.— Você não pode me controlar mais — sussurro para mim mesma, encarando o reflexo no espelho. A mulher que olha de volta para mim é alguém que eu estou apenas começando a reconhecer, alguém que está aprendendo a se levantar novamente.Com Matteo ao meu lado, mesmo que apenas em espírito, sinto que posso en
O som suave da batida na porta interrompe meus pensamentos. Olho pela câmera de segurança e lá está Matteo, com uma garrafa de vinho numa mão e duas taças na outra. Um sorriso involuntário brota em meus lábios ao ver a imagem; ele sempre tem o dom de iluminar meus dias mais sombrios.Abro a porta e ele entra, seu sorriso é como um raio de sol em meio à tempestade que tem sido minha vida.— Trouxe um pouco de vinho para celebrarmos sua nova jornada — diz ele, elevando a garrafa como um troféu.— Você sempre sabe como me animar, Matteo — respondo, sentindo uma onda de calor me envolver, não apenas pelo vinho, mas pela companhia.Uma das coisas que mais me encanta nele é exatamente esse sorriso. Não é apenas um gesto facial; é carregado de afeto, de compreensão, de uma promessa silenciosa de que tudo vai ficar bem. E, de alguma forma, toda vez que o vejo sorrir, sinto-me um pouco mais em casa, um pouco mais eu mesma.A noite desenrola-se suavemente, cada taça de vinho é um convite para d
Quando estou com Nina, o mundo ao redor desvanece, torna-se um borrão distante, irrelevante. Não há problemas, não há empresa, não há família; há apenas ela. A paixão que sinto por Nina é avassaladora, um fogo que me consome de dentro para fora, queimando qualquer resquício de dúvida ou hesitação. Quando estou com ela, nada mais importa, essa é a verdade crua e poderosa.Nossos olhos reflete a intensidade do que compartilhamos, e eu sei que ela sente o mesmo.Tenho consciência dos problemas que nosso relacionamento pode trazer. As complicações são como sombras que se esgueiram nas bordas da nossa bolha de felicidade, mas escolho ignorá-las. Porque, no momento, o que temos é precioso demais para ser ofuscado por "e se".— Vamos resolver isso no futuro, se formos ter um — penso. Com Nina, eu me permito ser vulnerável, permito-me sonhar com um futuro que, até então, não ousava imaginar. E, por agora, isso é tudo que importa. O futuro é uma ponte que cruzaremos juntos, quando chegar a h
A suite já se tornou uma gaiola dourada, e eu não posso mais suportar suas paredes fechadas. Matteo, sempre pensando em tudo, deixou um carro à minha disposição. Visto uma roupa leve, envolvo minha cabeça com um lenço e coloco óculos escuros, uma tentativa de me esconder dos olhares curiosos e da vida que deixei para trás.Ao sair, sinto o sol bater no meu rosto, uma carícia quente que me lembra da liberdade que estou começando a redescobrir. Dirijo pelas ruas, cada curva me afastando da suite e me aproximando do passado que preciso enfrentar.— Preciso ver meus pais, dizer a eles que está tudo bem — murmuro para mim mesma, tentando reunir coragem.O caminho até a casa dos meus pais é um misto de ansiedade e determinação. Não sei como eles vão reagir, não sei o que vão pensar, mas eles precisam saber que estou bem, que estou segura, que estou... livre.Quando finalmente chego, meu coração está acelerado, mas estou pronta. Pronta para enfrentar o que vier, pronta para abraçá-los. Paro