ULLY
Parada em cima do pico da montanha, com meus cabelos voando ao redor do rosto, eu conseguia ver, além do mar verde da floresta, um pouco das partes mais altas dos prédios.
- Ficar aqui olhando não vai ajudar em nada. – Dana surgiu ao meu lado.
- Quando vamos atrás dele? – perguntei sem me mover.
- Anton ou Luca? – perguntou com um leve sarcasmo.
Eu me recusava em entrar em assuntos difíceis desde que ela tinha me dito que Anton tinha lhe confidenciado sentimentos por mim e, aparentemente, isso a fazia querer me forçar a fa
ULLY Quatro dias de chuva intensa e eu estava a ponto de enlouquecer, principalmente porque Dana e Lorian pareciam perfeitamente calmas e satisfeitas em passar quase o tempo todo trancadas dentro daquela cabana sem privacidade. Com mais calma, Dana tinha contado que havia uma espécie de prisão não muito longe dali e que Zander sempre monitorava a situação com cuidado, principalmente agora que só tinham sobrado apenas os três ali. O resto das pessoas tinha partido por medo de serem capturadas novamente, mas eles acreditavam que sempre deveria haver alguém para ajudar caso alguém conseguisse escapar. Não era fácil, haviam vários métodos de mant&
ANTON Dor, gritos, chuva e lama. As coisas estavam confusas na minha cabeça, como flashes de um filme que eu tinha assistido, só que era apenas minha mente inconsciente repassando as últimas coisas que eu tinha visto antes de apagar. Pisquei algumas vezes, tentando desembaçar minha vista e entender aquele som constante ecoando ao meu redor. Não havia mais chuva e os cheiros da floresta, nem a voz de Ully me chamando. Estava escuro e eu não estava sozinho, mas estava mole, amordaçado e amarrado fortemente para conseguir descobrir quem mais tinha sido pego. Alguém estava chorando, talvez uma das crianças.
ANTON Alguns dias se passaram sem que eu soubesse como sair daquela situação. Duas vezes por dia alguém aparecia e jogava comida por entre as grades, geralmente um homem com uma expressão raivosa e arrogante. Nós três dividíamos a comida sentados na cama e conversávamos aos sussurros sobre sair dali e voltar para casa. Isso relaxava Anna, mas deixava Sarah meio depressiva, e eu cada vez mais ansioso para me ver do lado de fora, num local aberto e livre. A possibilidade de Ully estar ali era baixa, eu tinha dado uma boa margem para ela escapar. Pelo menos era o que eu tentava me convencer todos os dias, senão acabaria enlouquecendo.&n
ANTON Segui, com Sarah e Anna atrás de mim, pelo corredor onde cabeças estavam surgindo para me observar. Curiosamente o silêncio se instaurou, como se os outros pudessem saber da nossa fuga. A garota ressurgiu na minha frente, muito pálida e com olhos arregalados. - Obrigado. – falei quando passamos por ela, já sem a preocupação do teatro todo. Ela demonstrava um misto de emoções, mas me forcei a não me importar. Ela ficaria bem, era parte do mundo deles. Luzes vermelhas começaram a piscar, junto com um b
ANTON Andei por um longo tempo, sem conseguir dormir quando ficava sentado nos galhos altos das árvores. Escutava sons onde não havia, via vultos que não existiam. A imagem de Anna e Sarah, mortas tão perto da liberdade, me deixava enjoado e com raiva. A única coisa que me impulsionava para a frente era Ully. A possibilidade de vê-la mais uma vez, mesmo que fosse ao lado daquele garoto idiota, me dava a energia para seguir em frente quando sentia vontade de simplesmente sentar e esperar que alguém me encontrasse. Dias depois a chuva veio, insuportavelmente forte, e me sentei num galho alto e esperei que passasse. Depois de um sono assustadoramente longo e sem sonhos, decidi que precis
LUCA A velocidade era boa, me ajudava a afastar todos os pensamentos perturbadores e me concentrar em chegar ao fim dessa maldita floresta. Só músculos funcionando, sem precisar pensar. E eu não tropecei nenhuma vez, nem caí. Mas quando alcancei meu objetivo precisei desacelerar, agir normalmente para me misturar com as outras pessoas. Ninguém parecia verdadeiramente reparar em mim, o que não era exatamente uma novidade, mas eu estava a tanto tempo sem andar nas ruas na luz do dia que sentia uma certa preocupação. A primeira coisa que me atormentava era a última conversa com Ully. Imagens dela e daquele seu amigo idiota dormindo tranquilamente naquele mesmo colchã
LUCA Ainda parecia uma loucura que Adriane, sempre tão submissa, cheia de tremores e olhares assustados, era aquela mesma mulher que andava com o queixo erguido pela rua. Eu me conformava em a seguir seus passos, aonde quer que estivesse indo, já que não saberia o que fazer de qualquer jeito. Não estava disposto a voltar para Ully, não conseguia nem pensar nela sem frustração. Acreditei que o que tínhamos era especial, mas no fundo ela estava mais próxima daquele grandão do que de mim, que chamava de namorado. No momento eu estava mais preocupado com um abrigo para minha mãe e eu. -
LUCA Tudo ia bem, sob controle. Nós comíamos o que era possível encontrar na floresta e seguíamos andando sem muito rumo. Até que a chuva começou, tão forte que era impossível encontrar um lugar seco, e comecei a ficar preocupado. - Precisamos de um abrigo melhor. – falei, sentado num galho alto, encharcado e com frio. - Vamos seguir adiante. – Adriane batia o queixo – Para as montanhas. - O que, diabos, vamos fazer lá? – reclamei. - Cavernas. – ela saltou do galho que estava.